Autor: Denise Rothenburg
A poucos dias de assumir a presidência da República, o vice presidente Michel Temer passou uma descompostura (bem ao seu estilo, quase imperceptível) no grupo mais próximo e desautorizou todos a falar sobre economia. Com o jeito educado que o caracteriza, Michel abriu a reunião do chamado “núcleo duro” anunciando que a única pessoa autorizada a falar sobre política econômica é o quase ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e, além dele, o futuro presidente da República. aos demais, resta apenas reforçar o que Temer e Meirelles disserem.
A “bronca” tem um objetivo claro: evitar que a presidente Dilma Rousseff, sempre de olho nos passos do vice, tente se antecipar a ele, de forma a boicotar ou se antecipar a ações que estão em planejamento no Palácio do Jaburu. O reajuste do Bolsa Família, dizem aliados de Temer, foi um desses projetos que veio sob encomenda para evitar que o vice pudesse elevar os valores pagos aos mais pobres.
Ayres, o nome
O vice-presidente Michel Temer não desistiu de nomear um ex-ministro do Supremo Tribunal Federal para comandar a Justiça ou a Defesa. Ontem, jantou com o ex-ministro Carlos Ayres Britto, de quem é amigo. Sinal de que vai insistir.
Cunha contra Maia
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), passou a trabalhar contra a indicação de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para líder do governo Michel Temer na Câmara. São dois problemas: primeiro, Cunha prefere alguém que responda mais ao seu comando. Em segundo, Rodrigo é do Rio, onde o presidente da Câmara não pretende ver ninguém brilhando acima do PMDB.
Dúvida cruel
A presidente Dilma Rousseff foi alertada por alguns amigos que, em caso de impeachment, ela perderá a aposentadoria presidencial e os seguranças a que tem direito. Se renunciar, não perde esses benefícios. É algo a pensar. Porém, no momento, ela não cogita.
Realidade cruel
Apenas no final da semana passada a presidente passou a ter ciência de que seus dias no poder estão contados e que um governo Michel Temer, depois de ganhar fôlego, só terminará em 01 de janeiro de 2019.
CURTIDAS
Aproveita, querida/ Dilma vai aproveitar esses últimos dias para inaugurar casas populares e dar entrevistas. Hoje é a vez da BBC. Em sua equipe, há quem desconfie que, passada a posse de Temer, as falas da presidente afastada vão virar nota de rodapé.
Terra de Murici/ A ausência de Lula no 1 de maio foi lida por muitos como o gesto de “adeus, querida”. Ontem, a ida do ex-presidente a Brasília foi vista mais como uma ação para cuidar de si, depois da denúncia ao STF! Do que uma ajuda à presidente Dilma. Não é de hoje que alguns petistas de peso afirmam que Lula só pensa em si.
Ensaio geral/ O ex-deputado Geddel Vieira Lima acompanhou a reunião de Michel Temer com o presidente do PSDB, Aécio Neves. Já exercia ali o papel de articulador político do futuro governo Michel Temer.
Vem aí/ O vice-presidente Michel Temer vai mandar colocar uma tenda, com banheiro, café e água para os repórteres que fazem plantão no Palácio do Jaburu. Ufa!
Enviado do meu iPad
Uma febre levou o ministro da AGU, José Eduardo Cardozo, ao posto médico da Presidência da República esta tarde. Diante da epidemia de H1N1, todo o cuidado é pouco.
A exposição do procurador Júlio Marcelo de Oliveira, ontem, na comissão especial do impeachment no Senado, praticamente sepultou as esperanças do governo em relação às “pedaladas” fiscais de 2015. Enterrou ainda as apostas numa recomendação favorável à aprovação das contas do ano passado por parte do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU). Essa era uma das estratégias do PT para tentar obter alguma chance de evitar os 54 votos pró-impeachment na fase posterior. Agora, comentam alguns petistas, a hora será de preparar o partido e a presidente Dilma Rousseff para o afastamento definitivo.
Quanto à proposta de novas eleições, até os petistas consideram que a presidente demorou demais para decidir sobre o tema. Se o fizer agora, avaliam representantes do PT, soará como um golpe contra o vice-presidente Michel Temer, que está a poucos dias de assumir o poder.
DEM na Educação
Depois de figurar entre as apostas para assumir o Ministério de Minas e Energia e Comunicações, o DEM ficou com Educação. O nome para o cargo é o do deputado Mendonça Filho, de Pernambuco (foto). A Bahia terá apenas um ministério, a Secretaria-Geral da Presidência da República, com Geddel Vieira Lima.
GSI e orçamento
Os militares não veem a hora da recriação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) com status de Ministério. Em conversas reservadas, eles fazem chegar ao vice-presidente Michel Temer que essa pasta não representaria aumento de despesa, uma vez que é composta por pessoal das Forças Armadas da ativa.
Denúncia em Minas I
Prestes a ser denunciado por corrupção com o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), o empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, iniciou as conversas preliminares com os responsáveis pela Operação Acrônimo para uma delação premiada. Independentemente do resultado, a denúncia contra os dois e contra executivos da Hyundai já está sendo digitada nos computadores dos investigadores.
Denúncia em Minas II
O governador responde por causa de uma portaria, que teria beneficiado a Hyundai. O advogado dele, Eugênio Pacceli, disse que a venda de portaria é absurda, porque a medida atendeu um setor inteiro e não apenas uma empresa. “Em relação a esse fato, não há crime algum”, disse. É por aí que a defesa pretende seguir.
CURTIDAS
Há vagas/ Com a transferência de presos da carceragem da Polícia Federal em Curitiba para São José dos Pinhais, há espaço para novas prisões. É a Lava-Jato voltando a assombrar aqueles que até agora ficaram na penumbra.
Apelos a Michel I/ Assim como os tucanos, os deputados do PMDB têm reunião hoje para conversar sobre o governo Michel Temer. O grupo que apostou no vice quando o impeachment era um projeto incerto quer ser ouvido na escolha dos ministros.
Apelos a Michel II/ Jornalistas que fazem plantão na porta do Palácio do Jaburu têm passado maus bocados. Não há sequer um banheiro. No Alvorada, a estrutura foi montada nos tempos de Fernando Henrique Cardoso, depois que os profissionais credenciados apelaram para a secretária de imprensa, Ana Tavares, e o então vice-presidente, Marco Maciel.
Apelos a Michel III/ Num belo dia de plantão, os jornalistas pararam o carro do então vice-presidente na saída do Alvorada e explicaram a situação. Ele ouviu e, pouco tempo depois, lá estava o “comitê de imprensa”, com banheiro e telefone público. Fica a dica.
Enquanto isso, no Planalto…/ A recepção da tocha olímpica deve ser a última solenidade da presidente Dilma quanto às Olimpíadas do Rio. Será algo mais discreto do que o planejado lá atrás. Apesar dos apelos no comitê olímpico para que os movimentos pró e contra o impeachment evitem manifestações, neste momento do país, todo cuidado é pouco.
A entrevista da força-tarefa responsável pela operação Lava Jato afundou ainda mais o PT ao apresentar novas denúncias contra João Vaccari Neto e os marqueteiros João Santana e Mônica Moura. Mas não ficou só aí. As declarações do procurador Deltan Dallagnol, que intercalaram a apresentação dos dados das acusações que pesam contra JOão Santana, Mônica e Vaccari Neto, representam um recado claro ao PMDB e seus aliados. “Mudança de governo não é caminho andado contra a corrupção”, afirmou Dallagnol. Ele reforçou ainda que “se não aproveitarmos esse momento, talvez passemos o resto das nossas vidas reclamando que o Brasil é um país corrupto”.
Dallagnol lembrou ainda que atualmente tanto as “pessoas vinculadas a partidos que querem o impeachment, quanto aquelas que não querem alegam perseguição política”. Para bons entendedores, o recado está dado: a Lava Jato permanecerá como um grande imponderável sobre o governo, seja Dilma, seja Temer. O contribuinte agradece.
Enquanto o vice-presidente Michel Temer prepara a largada de seu governo para meados de maio, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva trata de colar suas ações aos movimentos sociais ligados ao partido. A ordem é não perder a base com a qual ele tentará erguer uma oposição ferrenha ao futuro presidente. Até nas conversas sobre antecipação das eleições, Lula foi evasivo e disse que antes de adotar qualquer posição, precisaria conversar com os movimentos sociais.
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Para alguns lulistas de carteirinha, o sinal está dado: o petista prefere hoje entregar o governo a Michel Temer por dois anos e meio e usar esse período para tentar reconstruir o PT, de forma a assegurar uma maior competitividade eleitoral. E Dilma nisso tudo? Manterá a cena da mulher injustiçada. Cada qual no seu papel.
Em gestação
Uma das medidas que Michel Temer pretende adotar logo nos primeiros dias é um recadastramento dos beneficiários do Bolsa Família. Nada que afete o objetivo do programa. Apenas para identificar quem recebe o benefício fora dos critérios legais. Muitos já levaram ao vice informações de que, em alguns pontos do país, o projeto tinha um jeitão de “bolsa voto”.
Daniele e Mônica
Daniele Fontelles, sócia da agência de comunicação Pepper que fez delação premiada dentro da operação Acrônimo, teve muito mais a dizer do que Mônica Santana, presa pela Lava-Jato. Há quem diga que a lupa da Acrônimo sobre desvios de recursos do Ministério do Desenvolvimento para a campanha de Fernando Pimentel envolverá
outras agências.
Continhas
Muitos senadores que aparecem como indecisos nos levantamentos dos jornais sobre o placar do impeachment na Casa comentam à boca pequena que são favoráveis à continuidade do processo. Diante disso, a aposta é a de que os dois terços, 54 votos, já estarão garantidos na primeira fase.
Cunha, o necessário?
Nas coxias da Câmara, muitos dizem que o futuro presidente Michel Temer precisará do estilo Eduardo Cunha em seus primeiros dias de governo para fazer tramitar rapidamente medidas econômicas. A ideia é aprovar tudo antes do desfecho do processo contra o presidente da Casa chegar ao plenário.
CURTIDAS
E as vaias não param/ O deputado José Rocha ouviu duas sonoras reprimendas dia desses. Uma no aeroporto Luís Eduardo Magalhães e outra no Iate Clube de Salvador. Ele foi um voto a favor do governo no processo de impeachment de Dilma na Câmara.
Por falar em governo…/ Está cada vez mais comum os parlamentares conversarem sobre governo sempre com a ressalva: “Peraí, de qual governo você está falando, do que está de saída ou do que vai entrar?”
Sintomático/ Os ministros palacianos de Dilma, Jaques Wagner (foto) e Ricardo Berzoini, não fizeram qualquer investida no Senado para a busca de votos pró-Dilma. Os de Michel Temer estão a mil por hora.
Teatro/ Nos bastidores, os aliados da presidente Dilma Rousseff não escondem mais a angústia. Dizem que lutam no Senado a batalha perdida, mas não podem perder a pose.
Se até a semana passada o Diário Oficial da União vinha recheado de nomeações, a onda agora no governo é exonerar. Em ministérios como Fazenda, Cultura, Desenvolvimento Social e até Agricultura, a ideia é demitir técnicos nomeados para tocar o barco da administração. Está tudo em fase de preparação para que, quando o vice-presidente Michel Temer assumir no papel de interino, em meados de maio, os novos ministros indicados por ele cheguem para trabalhar e não tenham equipe. Assim, levará um tempo para conseguir as informações e colocar a casa em ordem. Para quem precisa chegar já mostrando serviço e não pode queimar a largada, será um problema a mais.
Em tempo: Na Agricultura, não se vive só de exonerações. Uma das nomeações foi a de Arno Jerke Júnior para a diretoria da Conab. Júnior é padrasto da neta da ministra Kátia Abreu.
A bola é de Temer I
O PSDB planeja devolver ao vice-presidente Michel Temer a prerrogativa de dizer se o partido deve ou não participar do governo. Para isso, vem aí um documento de princípios e valores em que os tucanos pregarão a decência e a eficiência, colocando-se a favor de ajudar o Brasil. Se com cargos ou sem, caberá a Temer definir. “Não há como o PSDB fugir das suas responsabilidades. Precisamos estar disponíveis para auxiliar o país, se formos chamados. Onde e quem? Caber ao Temer definir”, afirma o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES).
A bola é de Temer II
Os tucanos, entretanto, não deixarão de dar seus pitacos. O senador Paulo Bauer (PSDB-SC), por exemplo, pediu que constasse entre os princípios algo mais geral, como redução de ministérios e o não aumento da carga tributária.
.Salário-minimo intacto
O vice-presidente Michel Temer foi aconselhado a não mexer na atual regra de correção do valor do salário mínimo. A legislação atual determina a correção pela variação do PIB de dois anos anteriores (no caso deste ano, 2014) mais a inflação. No ano que vem, a correção será apenas pela inflação, porque o PIB foi negativo. Se alguém reclamar, Temer pode mandar falar com o PT, que propôs essa fórmula.
Baiano combustível
As afirmações do lobista Fernando Baiano ontem ao Conselho de Ética, sobre acordo para pagamento de propina a Eduardo Cunha, podem até não ser usadas no processo em curso. Mas vão enfraquecer perante a Câmara a perspectiva de transformar o relatório que pede a cassação de mandato em suspensão e ou advertência, como planejam aliados do presidente da Casa.
CURTIDAS
Foi combinado I/ Organizadores do seminário do Instituto de Direito Público (IDP) descobriram essa semana que a manifestação na porta da Faculdade de Direito foi promovida a pedido de militantes petistas no Brasil e, a pedido dos estudantes, contou com o apoio do professor Boaventura de Souza Santos, diretor do centro de estudos sociais da Universidade de Coimbra e coordenador de diversos programas de doutorado, inclusive Democracia no Século XXI.
Foi combinado II/ Eles tiveram acesso à troca de e-mails entre estudantes do Porto e da Universidade de Coimbra que fizeram reuniões com petistas brasileiros interessados em fretar um ônibus do Porto para Lisboa e pediram apoio do professor. Boaventura lembra que o seminário estava programado há tempos, mas presta solidariedade aos estudantes.
O que vale para a Supremo…/ … O governo tentou de tudo para evitar que Antonio Anastasia assumisse a relatoria do processo de impeachment na comissão especial, por ser do PSDB. Terminou desistindo quando o senador Magno Malta lembrou que o ministro Antonio Dias Toffoli tinha sido da Advocacia Geral da União no governo Lula e ainda assim não teve qualquer impedimento para julgar o processo do mensalão.
Começou/ No plenário do Senado, os aliados de Dilma Rousseff já falam em antecipação das eleições. Para muitos é a senha para dizer que a presidente já está ciente de que o período agora é de contagem regressiva.
Enquanto Michel Temer se dedica a escolher o futuro ministro da Fazenda e afunila para o nome de Henrique Meirelles, os deputados do PP sonham em ver o partido como o segundo aliado na hora de ocupar espaços no futuro governo. Ocorre que, para realizar o sonho dos pepistas, Temer terá que manter a lógica do toma-lá-dá-cá que terminou responsável por parte da derrocada do governo Dilma Rousseff. Até aqui, a situação recomenda que não siga por esse caminho.
Os pepistas, entretanto, recorrem ao pragmatismo: Embora uma parte esteja enroscada na Lava Jato, eles lembram que Temer precisará é de votos no plenário. Pelo andar da carruagem, será difícil Temer se livrar de ter que oferecer cargos em troca de apoio no Congresso.
O “arriar das malas” I
Em 1992, o vice-presidente Itamar Franco teve três ministros da Fazenda, antes de chegar a Fernando Henrique Cardoso, uma espécie de pai do Plano Real. FHC foi nomeado em maio de 1993, cinco meses depois de Itamar assumir o poder. Michel Temer, comentam deputados e senadores, não poderá dispor desse período, porque terá oposição. Itamar praticamente não tinha oposicionistas no início de seu governo.
O “arriar das malas” II
Michel Temer já foi aconselhado a tomar cuidado com o espaço a designar aos amigos que sempre estiveram ao seu lado. Não pode, daqui a alguns dias, “queimar a largada” com um governo que seja como um jantar no clube com os mais próximos. O momento é de ampliar.
PMDB e PSDB têm a força
Seja na comissão especial, seja no plenário, o governo Dilma já jogou o a tolha em relação a essa análise preliminar no Senado. A esperança é o processo em si. Nem a escolha do relator os petistas vislumbram alguma chance de alterar.
Manobra à frente
O deputado Carlos Marun (PMDB-MS) vai jogar nos próximos dias para tentar transformar o pedido de cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, numa pena mais branda. Se conseguir, terá cumprido o objetivo de fazer com que o plenário só tenha a opção intermediária na hora de julgar o presidente da Casa.
CURTIDAS
Atração turística/ Fez sucesso nas redes sociais as fotos de Milena Teixeira, mulher do novo ministro do Turismo, Alessandro Teixeira. Miss bumbum Estados Unidos em 2013, ela posou no gabinete do marido e comentou: “Meu primeiro dia como primeira dama do Turismo do Brasil”. É… Aproveita, porque serão poucos, Milena..
Castigo/ Assim como Waldir Maranhão, o deputado Beto Salame, do PP do Pará, perdeu o comando do partido em seu estado. O único que sobreviveu nessa história entre aqueles que prometeram dar um voto em favor da presidente Dilma Rousseff foi o deputado Dudu da Fonte, de Pernambuco.
Salvo pelo alfabeto/ Dudu teve a sorte do 342º voto ter caído para um deputado Bruno Araújo, do PSDB, dois antes dele na lista de chamada. Assim, com o resultado definido, voltou a favor do impeachment.
Hoje tem/ O Poder Judiciário tem encontro marcado hoje no Supremo Tribunal Federal (STF), no lançamento do Anuário da Justiça de 2016, as 18h30.
O vice-presidente, Michel Temer, fez chegar aos partidos que ajudaram a aprovar o impeachment na Câmara que eles deverão participar do governo. Ocorre que quem tem candidato a presidente com chances reais não quer se comprometer a esse ponto. Isso porque muitos estão convictos de que, se o governo der certo, Temer não terá como deixar de concorrer a um “mandato cheio”.
Temer tem dito a vários parlamentares que não é candidato, mas, nos partidos, há quem defenda uma manifestação mais clara dessa decisão, que não deixe dúvidas. Por enquanto, os aliados terão que se contentar com as declarações de potenciais ministros, como Eliseu Padilha. Questionado sobre a disposição de Temer, ele respondeu: “Todos temos que pensar nas próximas gerações e não nas próximas eleições”.
Decisão tucana
O PSDB pretende fechar uma posição sobre participação ou não num governo Michel Temer em 3 de maio. Até lá, ou Temer terá escolhido um nome para ministro da Fazenda ou José Serra ficará ciente de que, se for candidato a presidente, estará fora de um futuro governo.
“Não foi um ‘era um garoto que, como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones’. Foi um ‘London, London’. Está tudo bem”
Do ex-deputado Paulo Delgado, referindo-se ao discurso de Dilma na ONU
Largaram cedo
Pré-candidatos a presidente da Câmara já estão em pleno movimento nos bastidores. O líder do PSC, André Moura (SE), fez questão de ciceronear o ex-ministro Eliseu Padilha no périplo aos gabinetes no dia da votação da impeachment da Câmara. Jovair Arantes (PTB-GO), relator do processo, conversa com partidos de centro. E Rogério Rosso (PSD-DF), que presidiu a comissão do impeachment, corre por fora.
Questão de tempo
A avaliação de muitos é a de que, se Eduardo Cunha (PMDB-RJ) for obrigado a deixar o cargo antes da hora, insuflará os três para quem chegar a um segundo turno receber o apoio dos demais. Se o presidente da Casa conseguir concluir o mandato no período regulamentar, aí, só o tempo dirá quem terá fôlego para essa corrida.
CURTIDAS
Me dê motivo I/ Muita gente se perguntava dia desses por que a ex-governadora Roseana Sarney (PMDB) (foto), que apoiou a reeleição de Dilma Rousseff, foi uma das líderes da busca de votos a favor do impeachment. Simples: o Maranhão foi o estado onde Dilma obteve mais votos. E a presidente sequer telefonou para Roseana, a fim de agradecer o empenho.
Me dê motivo II/ Dilma tratou de se reaproximar de Flávio Dino, que, embora seja do PCdoB, não fez campanha para a presidente porque o PSDB fazia parte da coligação. Roseana não gostou.
Me dê motivo III/ Se tem uma coisa que o ex-presidente José Sarney (PMDB) tem como um tesouro na sua vida são os filhos, em especial, Roseana. Portanto, não será dele que Dilma obterá aquele apoio capaz de conquistar votos. Sarney tem conversado com muita gente, mas se diz “fora do circuito”.
Deslumbrou/ Antes de anunciar o voto em homenagem à memória do torturador Carlos Brilhante Ustra, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) comentava com uma equipe que filmava os bastidores da votação. “Se o Datafolha me deu 8%, é sinal de que estou com 24%”, dizia.
O senador Valdir Raupp, do PMDB de Rondônia, discursará hoje à tarde para anunciar que não assinará a proposta de emenda constitucional sobre antecipação das eleições. Ele havia lançado essa ideia há duas semanas, antes da aprovação do impeachment pela Câmara. Agora, entretanto, na avaliação dele, o cenário mudou. Ele dirá que eleições não vão resolver o problema é que o PMDB conseguirá tirar o país da crise.
Se perceber a impossibiidade de arregimentar 27 votos no Senado contra o impeachment, a presidente Dilma tentará tirar votos da oposição jogando na proposta de antecipação das eleições. O tema já começou a ser discutido reservadamente entre os aliados dela, como uma forma de se vingar do vice Michel Temer, dentro da linha, “se Dilma cair, ele também cai”. Aliás, quem prestou atenção na fala da presidente mais cedo percebeu que, daqui para frente, o alvo principal de Dilma deixa de ser o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e passa a ser Temer. Por que? Temer agora ficará mais em evidência, diante da maioria para lá de absoluta que o processo de impeachment conquistou na Câmara e tentar desgastá-lo, na avaliação de alguns governistas pode levar o eleitorado a considerar o “ruim com ela, pior sem ela” ou partir para o movimento “nem-nem”, ou seja, nem Dilma, nem Temer.
A estretégia dos aliados de Dilma, entretanto, tem um problema: No momento em que ela entrar de cabeça na antecipação das eleições é sinal de que desistiu do próprio mandato e jogou a toalha. Portanto, avaliam alguns, o timing dessa operação será fundamental. Até aqui, a presidente pecou por tomar decisões atrasadas. Desta vez, se for cedo demais, corre o risco de colocar o governo em liquidação antes da hora. Se for tarde, pode parecer um desespero. É um dilema para ninguém botar defeito.