Autor: Denise Rothenburg
Corre nos bastidores do Supremo Tribunal Federal uma queda-de-braço que agora deságua no colo do ex-presidente Lula. De um lado, uma maioria na 2a Turma do STF que tendem a dar liberdade a presos em segunda instância. De outro, o grupo que não pretende soltar quem quer que seja, ainda que responder o processo em liberdade faça parte do arcabouço jurídico. No meio campo, há alguns, como o decano Celso de Mello.
Essa disputa sobre o que deve prevalecer para presos em segunda instância levou Edson Fachin a desistir de remeter os novos recursosLula à Segunda Turma. E com o caso seguindo direto para o plenário, o resultado não mudará. Nem tampouco a prisão domiciliar. E tudo só será pautado em agosto, quando a campanha oficial estiver nas ruas.
O PT agora vai refazer seu jogo. Com a certeza de que Lula solto é uma miragem no deserto. Enquanto os senhores do destino, os ministros do STF, não tiverem um rito único, será assim. Ora, plenário, ora Segunda Turma, que, aliás, mudará sua composição a partir de setembro: Sai Dias Toffoli, entra Carmen Lúcia. Aí, Fachin voltará a encaminhar os recursos para a Segunda Turma, com a certeza de que seus votos serão acolhidos. Até lá, o plenário quem cuidará de Lula. Se fosse outro, estava com tudo para ser analisado na Segunda Turma. É o vai-e-vem do Judiciário. Pior para Lula.
Fachin arquiva pedido de liberdade de Lula. PT vai refazer o jogo
Nao tem mais julgamento de Lula na próxima terça-feira pela segunda turma do Supremo Tribunal Federal. O ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, acaba de mandar arquivar o pedido de liberdade da defesa do ex-presidente Lula, que seria julgado na próxima terça-feira. A decisão do ministro está relacionada ao fato de a vice-presidente do TRF-4, Maria de Fátima Labarrère, para que a corte analisasse a condenação do ex-presidente. Fachin considerou que, depois da decisão do TRF-4, o pedido ao STF ficou prejudicado.
A decisão pegou o PT de surpresa. O partido preparava uma vigília para esta terça-feira, em frente ao STF. E, nos bastidores, dizia ter esperanças em contar com os votos de Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Dias Toffoli. Agora, o PT tentará apresentar um novo pedido, para ver o que acontece. Nem que seja a prisão domiciliar.
Politicamente, o PT ainda não definiu seu plano B para as eleições e insiste que registrará a candidatura de Lula, ainda que ele esteja preso. Afinal, até a campanha o PT será tempo de ver quem tem mais condições de substituir o ex-presidente como candidato.
Além do arquivamento do pedido de liberdade, o PT também vai dormir preocupado com o que virá na delação de Antonio Palocci, homologada pela Justiça. Os petistas, que na hora do almoço comentavam a vitória do Brasil e a perspectiva de liberdade de Lula, agora vão dormir preocupados. Afinal, a decisão de Fachin zerou novamente as esperanças de vitória na Justiça. Resta agora refazer o jogo.
O PT prepara uma vigília em frente ao Supremo Tribunal Federal para esta terça-feira, quando a 2ª Turma julgará um novo pedido de liberdade do ex-presidente Lula, com suspensão dos efeitos da sentença, ou seja, a inelegibilidade. A ansiedade impera porque, até dentro do Supremo, há ministros preocupados com a possibilidade de a 2ª Turma optar por um meio-termo: deixar Lula aguardar fora da prisão o julgamento nas demais instâncias, mas não acolher o pedido de suspensão dos efeitos da pena, ou seja, a inelegibilidade. Afinal, uma coisa é suspender a execução da pena, algo possível. Porém, não dá para o Supremo dizer desde já que o presidente pode ser candidato, uma vez que essa questão tem que passar primeiro pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
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Enquanto alguns ministros deixam transparecer suas preocupações, outros consideram que o PT pode fazer barulho, mas não conseguirá soltar Lula. É que, na prática, conforme avaliam juristas, não há diferença entre esse pedido de medida cautelar e os habeas corpus já julgados pelo STF, como aquele de 10 de maio, quando a 2ª Turma optou pela manutenção da prisão do ex-presidente. Na dúvida, os petistas vão fazer coro para dizer que o caso de Gleisi Hoffmann, absolvida num dos processos de corrupção, e o de Lula, já condenado, são iguais — mas não são. Gleisi é senadora e seu processo se baseava apenas em uma delação premiada. O caso do tríplex no Guarujá não ficou apenas na palavra do delator contra a do ex-presidente Na avaliação da Justiça, havia provas. É nesse clima de confronto que a 2ª turma analisará mais uma vez o destino de Lula.
Onde mora o perigo
Os partidos à esquerda não querem nem cogitar a hipótese de o STF soltar Lula, mas não lhe garantir a candidatura. É que, nesse caso, o petista prontamente percorreria o país nessa fase “apagando” os adversários de esquerda. Porém, não passaria a garantia da candidatura, considerada condição primordial para atrair aliados. Logo, o debate continuará travado e com o não-candidato no papel de favorito.
Onde mora a tática
Lula não está nem aí para a preocupação dos partidos de esquerda. Ele sabe que apenas um milagre fará dele candidato, mas vai jogar com o tempo. Como a campanha só começa em agosto, ele tem até lá para ver qual o melhor nome do PT para substituí-lo.
França na lida
O governador de São Paulo, Márcio França, vem aí com uma medida pra lá de polêmica: obrigar a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos a arcar com as despesas de transportes de seus usuários quando houver paradas no meio do trajeto, por falta de manutenção. “As pessoas pagam por um serviço e a Companhia vai precisar entregar. Seja de táxi, de Uber, Cabify ou que for”. Se a moda pega, muitas empresas terão que cumprir a entrega do transporte de qualidade ou ficar no prejuízo, pagando táxis para os usuários chegarem ao trabalho na hora.
E o Geraldo, hein?
A nova operação envolvendo investigações sobre o Rodoanel de São Paulo deixou mais uma vez Geraldo Alckmin na defensiva. E, justamente, no momento em que ele começava a quebrar resistências dos aliados e se aproximava de João Dória. No PSDB, há quem esteja convicto de que nada é por acaso. Embora o ex-governador negue qualquer envolvimento, nenhuma campanha presidencial consegue decolar quando fadada a passar horas explicando temas espinhosos. Vislumbra-se mais uma rajada de vento para tentar trocar o candidato tucano. Haja vista a romaria de partidos rumo à pré-candidatura de João Dória em São Paulo.
Quem vem lá/ O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero (foto), que terminou por derrubar Geddel Vieira Lima (MDB-BA) do governo Temer, veio ao auditório do Correio Braziliense ontem cumprimentar o idealizador do RenovaBR, Eduardo Mufarej. Calero resistiu às pressões de Geddel para liberar a construção de um prédio, em Salvador, que havia sido embargada pelo Iphan. “O tempo, realmente, é o senhor da razão”, comentavam aqueles que reconheceram o ex-ministro.
Menos, Ana Amélia…/ Ao discursar logo depois do ministro Luiz Roberto Barroso (STF) no evento do RenovaBR, a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) comentou que era um avanço ver um ministro do Supremo celebrado como um pop star. Da plateia, um jovem que frequentou a escola de formação política RenovaBR comentava com o colega ao lado: “Pode ser, mas é um perigo. Um juiz não pode fazer coisas populares ao arrepio da lei, e, às vezes, faz”.
Enrubesceu/ Num dado momento, Ana Amélia ainda deixou o senador Cristovam Buarque todo constrangido, quando perguntou a ele qual era o número do PPS, partido do senador. “Não pode, se não é propaganda antecipada”, disse Cristovam. Ana Amélia sorriu, lembrou que estavam num ambiente fechado e que ninguém estava pedindo votos, e a plateia soprou 23.! Risada geral.
Juiz & futebol/ Ministros dos tribunais superiores estavam em sessão durante o jogo da Argentina contra a Croácia. Restou a muitos colocar o aparelho celular no silencioso e dar aquela consultada básica, de vez em quando, para verificar o resultado. Não foram poucos que arregalaram os olhos, descrentes nas informações da internet. Hoje não tem sessão. Vamos Lá! Brasiiiiiillllll!
Políticos enroscados na Lava-Jato que pretendiam conquistar um mandato eletivo para ter prerrogativa de foro começam a rever os planos. É que, com o novo entendimento do STF — de que o foro só vale para crimes cometidos no exercício do mandato e relacionados com a atividade parlamentar ou executiva —, muitos não veem mais vantagens em concorrer. É gastar dinheiro sem a certeza do sucesso e, de quebra, ficar exposto a ataques da oposição, prejudicando o grupo.
Muitos têm pensado seriamente em “mergulhar”, esquecer a campanha e trabalhar em silêncio ao longo do segundo semestre pelo julgamento rápido enquanto o processo ainda está no STF. Afinal, se Gleisi Hoffmann conseguiu ser absolvida em um processo, por que outros não podem ter a mesma sorte?
Bolsonaro torce por Lula
Entre os aliados do pré-candidato Jair Bolsonaro, do PSL, há quem diga que o melhor dos mundos é Lula conseguir a liberdade no próximo dia 26. Assim, o ex-capitão, que já é identificado como o anti-Lula, terá mais chances de manter a polarização. Sem Lula na grande área, as chances de Bolsonaro diminuem.
Chances remotas
Quem conhece o andar da carruagem no Supremo Tribunal Federal pondera que é melhor o PT não ter tantas esperanças de ver Lula solto na semana que vem. É que a tendência é de os ministros tratarem Lula como trataram José Dirceu. O ex-ministro teve um pedido de habeas corpus negado pela Segunda Turma. Dias Toffoli, por exemplo, considerou, no caso de Zé Dirceu, que a Segunda Turma não poderia ter um posicionamento diferente do pleno. E o plenário do STF não mudou o entendimento a respeito da prisão em segunda instância.
Calma, Gleisi, calma
A absolvição de Gleisi Hoffmann e de seu marido, Paulo Bernardo, do crime de corrupção passiva não será suficiente para lhe dar um ingresso de candidata a voos políticos mais altos. É que até o PT deseja ter segurança a respeito de outra investigação sobre o casal, aquela que envolve a empresa Consist, em que há suspeita de pagamento de despesas pessoais. Se o caso não tiver um desfecho antes da eleição — e não terá — a senadora não será a opção dos petistas, na hipótese de Lula não conseguir ser candidato.
Esquerda ou centro-direita?
O PDT prefere um viés de esquerda com o PSB. Se os socialistas fecharem logo o apoio a Ciro Gomes, esfriam ainda mais as conversas com o DEM, que hoje mais dividem do que unem o Democratas. Na semana que vem, passado o julgamento do habeas corpus de Lula, as conversas tendem a se acelerar.
Adelmir Santana candidato a presidente/ Sim, o ex-senador Adelmir Santana (foto) vai concorrer à Presidência. Da Confederação Nacional do Comércio. Fará dobradinha com o deputado Laércio Oliveira (PP-SE), que deve assumir a vaga de primeiro vice na chapa de Santana. O ex-senador apresentou um plano de renovação com cinco eixos e 41 metas para a Confederação. Vai disputar contra José Roberto Tadros, do Amazonas. O atual presidente da entidade, Antônio Oliveira Santos, 91, comanda a CNC há 37 anos.
Depois daquele jantar…/ O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que jantou com o pré-candidato a presidente da República pelo PDT, Ciro Gomes, lembrou a muitos o jeitão do pedetista, na sessão de ontem da Casa. Não usou palavras de baixo calão, mas a rispidez imperou. Por várias vezes reclamou de deputados. “Para de gritar! Eu vou lhe dar a palavra daqui a pouco, tenha paciência!”
Adoça aí/ O humor de Rodrigo já não ia muito bem na véspera. Ele presidia a sessão quando o primeiro vice-presidente, Fábio Ramalho (MDB-MG), aproximou-se e lhe deu de presente um queijo artesanal da Serra da Canastra! Hummmm… Rodrigo colocou o queijo sobre a mesa, fez cara de desentendido. Soltou rapidamente um “obrigado”. Estava concentrado na sessão, ávido por mostrar que a Casa está trabalhando durante a Copa.
É hoje/ A turma formada pelo movimento RenovaBR, do empresário paulista Eduardo Mufarej, estará hoje no auditório do Correio. A ideia do movimento é dar um selo de qualidade a esse grupo de pré-candidatos a deputado federal, com vistas a mudanças no sistema político. Diante de uma legislação eleitoral que tende a favorecer os antigos, o desafio é grande e válido. Falta combinar com o eleitor.
Senadores de todos os partidos já esperavam e comemoraram a absolvição da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) do crime de corrupção. É que o resultado favorável à petista representa a renovação de esperanças de muitos sob investigação, um grupo que, aliás, começa a sair da toca. Alguns pretendiam se unir a Fernando Collor que, em 12 de junho, apresentou uma nova reclamação contra o ex-procurador Rodrigo Janot. Nos tempos em que Janot comandava a PGR, todas as reclamações eram arquivadas sem discussão. Agora, depois do indiciamento do ex-procurador Marcelo Miller, há quem tenha esperanças de mostrar que nem todos os políticos investigados são bandidos. Falta, entretanto, combinar com o STF, com o Ministério Público, com a Polícia Federal e, lá em outubro, com o eleitor.
Atualização: Depois de Gleisi, agora, o PT espera soltar Lula dia 26 de junho. Espera contar com, pelo menos, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli e Gilmar Mendes nessa empreitada.
Rádios na lida
O maior lobby em ação no Congresso ontem foi o das rádios comunitárias. Em pauta, a possibilidade de aumentar a potência de 1km para 50km e, de quebra, poder fazer publicidade. Só tem um probleminha: não dá para ter o mesmo espaço das rádios comerciais sem pagar, por exemplo, o Ecad. O embate está feroz nos bastidores.
“Vou trabalhar para não homologar a candidatura. Eu e vários”
Renan Calheiros
(MDB-AL), senador, sobre a convenção do MDB que decidirá sobre o nome de Henrique Meirelles como candidato a presidente da República
Por falar em Renan…
O senador calcula que o debate eleitoral continuará travado até haver uma definição se Lula poderá ser candidato ou o PT lançará outro nome. Mas não acredita que Meirelles tenha qualquer chance sequer de emplacar dentro do partido, uma vez que a chapa Dilma-Temer passou por 63 votos de diferença.“O Meirelles é uma ficção. A esta altura, empurrar goela abaixo um representante dos bancos é muito difícil”, diz o alagoano.
Reforma na grande área
A reforma trabalhista faz seu primeiro aniversário em 13 de julho e o governo vai aproveitar o embalo para explicar as novas regras país afora. Quem fará o périplo é o novo ministro da Secretaria-geral da Presidência da República, Ronaldo Fonseca. Ele percorrerá 13 capitais, seis do Sul/ Sudeste, três do Nordeste, uma do Norte e três do Centro-Oeste: Brasília, Goiânia e Campo Grande.
Arrumou um lado…
Ao colocar os dois pés na candidatura de João Doria ao governo de São Paulo, Geraldo Alckmin espera atrair o DEM, que ensaia uma aproximação maior com o senador Alvaro Dias, do Podemos. O DEM já fechou com Doria e conseguiu reservar a vaga de vice na chapa do PSDB paulista. Alckmin ainda está com a vice em aberto.
…Desarrumou outro
A aposta de quem observa a distância os movimentos em São Paulo é a de que o governador Márcio França (PSB), pré-candidato à reeleição, fará algum tipo de represália. Geraldo Alckmin que se cuide.
Te cuida, Biu de Lira/ Renan Calheiros (MDB-AL) conversava reservadamente no fundo do cafezinho do Senado com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira. Trocavam impressões sobre a eleição nacional e alagoana. Renan citava todos os municípios que devem votar com a chapa do governador Renan Filho (MDB). Deixou claro que vai sobrar pouco espaço para os pepistas no estado, entre eles o senador Benedito de Lira.
Dinheiro para Cunha/ Mesmo na cadeia, Eduardo Cunha (foto) ainda consegue algum. O advogado Renato Ramos conseguiu dia desses que o ex-deputado obtivesse R$ 5 mil de um jornal por difamação. O valor, entretanto, não paga uma bolsa daquelas que a mulher do ex-presidente da Câmara costumava desfilar nas redes sociais nos tempos de fartura.
Vai ser assim I/ Deputados ficaram estarrecidos com o discurso do deputado Sóstenes Cavalcanti (DEM-RJ), em defesa do vereador Fernando Holiday, aquele que Ciro Gomes (PDT) chamou de “capitão do Mato”. Sóstenes repetiu pelo menos 10 vezes seguidas a expressão “Ciro caloteiro” e rechaçou qualquer conversa do partido com o pré-candidato pedetista.
Vai ser assim II/ O deputado Adilton Sachetti (PRB-MT), que assistia ao discurso do fundo do plenário, saiu-se com esta: “Essa campanha vai ser assim: do pescoço para baixo virou canela”. Faz sentido.
A decisão tomada há pouco pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de acabar com a condução coercitiva de réus da Lava Jato vai expor muita gente à prisão temporária. A prisão foi adotada, por exemplo, na Operação Skala. Ali, foram presos o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi; o dono da Rodrimar, Antonio Celso Greco; o coronel João Baptista Lima Filho e o advogado José Yunes, além de uma empresária Celina Torrealba, do grupo Libra. A operação faz parte das investigações sobre o caso envolvendo suspeita de pagamento de propina no caso dos portos, que jogou luz sobre amigos do presidente Michel Temer.
A ideia do Ministério Público e da Polícia Federal naquele final de março, quando essas pessoas foram presas, era apenas levá-los a prestar depoimento,. ocorre que, as conduções coercitivas já estavam suspensas por uma liminar do ministro Gilmar Mendes. Quem deu entrada em ações contra as conduções coercitivas foi o Partido dos Trabalhadores e a Ordem dos Advogados do Brasil, que consideram a medida uma afronta ao direito do cidadão. O PT alega ainda que, em muitos casos, as pessoas sequer foram chamadas a prestar depoimento antes de serem levadas de forma coercitiva.
Nos bastidores da política, entretanto, tem muita gente achando que a emenda do STF pode piorar a vida de quem está na mira da Lava Jato, porque agora não há mais o meio-termo entre a liberdade e a prisão. Portanto, cenas como a do final de março, quando os amigos de Temer foram presos, devem se repetir. Mais um ingrediente para movimentar o ano eleitoral.
Brasília-DF
por Denise Rothenburg » deniserothenburg.df@dabr.com.br
A contar pelo que dizem os líderes partidários da oposição, o MDB terá dificuldades em se livrar do papel de responsável pelo governo Michel Temer ao longo da campanha eleitoral. É que, em todos os ensaios pré-eleitorais, os adversários do governo avisam que a proximidade de alguns com o Planalto será explorada. Em Pernambuco, por exemplo, o PSB já tem tudo engatilhado para mostrar que o MDB, o DEM e o PTB apoiaram o governo Temer.
O presidente Michel Temer sabe que será assim e tem plena certeza de que as denúncias serão exploradas. Ele tem dito a amigos que nunca passou por tantos dissabores em sua carreira política. “Trabalhei a minha vida inteira, não mereço isso”, diz, em desabafo com amigos em relação às denúncias envolvendo seus familiares. Ninguém, entretanto, teve coragem de dizer diretamente a ele que negocie um cargo de embaixador para tentar ter algum sossego quando deixar a Presidência da República. Esse tema será tratado mais à frente, quando chegar a hora. Se tem algo que o MDB não perdeu foi o pragmatismo.
A inclinação é pró-Ciro
Os socialistas que assistiram a entrevista do líder do PSB na Câmara, Tadeu Alencar, ao programa CB.Poder ontem não tiveram dúvidas de que a inclinação do partido hoje é Ciro Gomes, do PDT. Ciro já foi do PSB e não abandonou os governos estaduais do PSB. A Rede, de Marina Silva, largou tanto Rodrigo Rollemberg, no DF, quanto Paulo Câmara, em Pernambuco. E o PT, bem, se acha o caudatário da centro-esquerda e quer que o PSB assine um cheque em branco, uma vez que Lula terá dificuldades em ser candidato. Logo, Ciro está com mais força.
O vice de Doria
O líder do DEM na Câmara, Rodrigo Garcia, era saudado ontem na Câmara como o candidato a vice-governador na chapa de João Doria ao governo de São Paulo. Ex-secretário do governo Geraldo Alckmin, Garcia jogará para levar seu partido a uma aliança com o PSDB.
Sensações
A amigos, Geraldo Alckmin tem dito que sentiu uma certa frieza do prefeito ACM Neto durante a recente visita a Salvador. Há quem diga que ACM Neto jogará contra a aliança com os tucanos, para livrar o partido da pecha de apêndice do PSDB.
A bandeira que resta
Quem acompanha o dia a dia da economia acredita que a situação vai ficar no mesmo patamar de hoje até o fim do ano, ou seja, sem o espetáculo do crescimento, mas sem uma derrocada geral. Isso porque a inflação está baixa. Aliás, a inflação baixa é vista hoje como o grande feito do governo de Michel Temer.
Enquanto isso, na Câmara…/ Os petistas aproveitaram a sessão de ontem, com votações na Câmara, para puxar um debate sobre as reclamações do advogado Rodrigo Tacla Duran em relação à existência de uma indústria das delações premiadas. Silêncio sepulcral nos outros partidos.
Olho vivo/ O senador Ivo Cassol quer levar o projeto antitabagista de José Serra para discussão na Comissão de Agricultura. O pedido é visto como uma manobra a fim de adiar indefinidamente a votação. Os tucanos estão de olho.
Recesso ameaçado/ Com os parlamentares hoje mais ligados na eleição do que na Copa e no dia a dia da Câmara, o governo não conseguiu mobilizar a base para votar o relatório preliminar da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), a única que impede o recesso parlamentar. Isso, porém, não será empecilho para os congressistas. Eles ficam no recesso branco sem o menor constrangimento.
Aeroporto, por favor/ O presidente do Senado, Eunício Oliveira (foto), marcou a sessão extraordinária de ontem para as 13h. Todas as vezes que ele faz isso, os senadores já sabem. É a senha para avisar que o expediente terminará mais cedo.
O presidente do DEM paulista, deputado Jorge Tadeu Mudalen, avisou aos tucanos que, amanhã, seu partido anuncia oficialmente o apoio ao candidato do PSDB ao governo de São Paulo, João Dória. O movimento reforça a candidatura de Dória, mas não alivia as incertezas no plano nacional. Os democratas estão em franca conversação com Ciro Gomes e Álvaro Dias.
Em conversas reservadas, há quem diga que o DEM cansou de ser apêndice do PSDB e apoiar a candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin à Presidência da República deixaria o partido novamente nessa condição de coadjuvante. Porém, se Alckmin for o nome mais competitivo do centro e Ciro Gomes soltar alguns impropérios contra o partido, como já fez no passado, o Democratas não terá outro caminho, a não ser apoiar o tucano. O pré-candidato do PSDB chega no início da noite a Brasília para uma conversa com a bancada. Até aqui, nesse dia de Santo Antônio, parece que quem arrumou um casamento sólido foi Dória.
Datafolha: A (correta) estratégia do PT, o “tchau Temer” e um centro inseguro
Quem achar que o ciclo do PT na política se encerrou ou desprezar Jair Bolsonaro, vai errar feio nessa eleição de 2018. A contar pela pesquisa do Datafolha divulgada hoje, o PT ainda tem poder de fogo e Bolsonaro começa a galvanizar parte de suas intenções de voto, haja vista a pesquisa espontânea, aquela em que o eleitor diz em quem votará sem que lhe seja apresentada uma lista de pré-candidatos. Bolsonaro nesse levantamento aparece com 12%. Lula, com 10%. Ou seja, está caindo o número de pessoas que diziam abertamente votar no petista, sinal de que a população começa a considerar que o ex-presidente não conseguirá ser candidato.
O problema é que essas que deixam Lula, de acordo com a pesquisa, não sabem em quem votar. Aqueles que dizem votar em branco, nulo ou em nenhum chegam a 23% na pesquisa espontânea, o mais alto da série de pesquisas do Datafolha, desde julho do ano passado. Aqueles que não sabem em quem votar somam 46%. Ou seja, na cabeça do eleitor, a raiva e o medo continuam imperando e a eleição ainda não começou. E o eleitor está certo: Não começou mesmo. Campanha nas ruas e na tevê só em agosto. Por enquanto, só em ambientes fechados, como a sabatina do Correio Braziliense a 11 pré-candidatos. Portanto, pesquisa agora só para efeito de consumo e movimento dos partidos. Portanto, vamos a ele, a começar pelo PT.
Não são poucos os políticos até do próprio PT que dizem estar errada a estratégia do partido de manter Lula como candidato. Porém, a contar pelos números do Datafolha divulgados hoje, o movimento do PT faz todo o sentido. Os números:
Lula continua liderando no cenário em que é colocado como candidato. Lula tem 30%, Bolsonaro, 17%, Marina Silva (Rede), 10%; Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin,6%; Álvaro Dias (Podemos), 4%. Manuela D’Ávila e Rodrigo Maia oscilam entre 1% e 2%; e os demais entre 0 e 1%. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. No cenário sem Lula, Bolsonaro lidera, mas teria dificuldades num segundo turno contra qualquer candidato. Só venceria Fernando Haddad (PT) e aparece empatado com Geraldo Alckmin.
Mas, continuemos falando das estratégias, como a do PT. O partido não têm um sucessor natural de Lula e o petista é o maior eleitor e garoto-propaganda do PT, não por acaso o PT explora os ganhos do brasileiro no governo Lula. Por outro lado, as opções que têm alguma chance no campo mais á esquerda, Marina Silva e Ciro Gomes, querem os votos de Lula, mas não o símbolo do PT estampado na própria campanha. Marina, por exemplo, na sabatina do Correio, acusou Dilma e o marqueteiro João Santana de terem inventado as “fake news”. Portanto, o PT tem hoje uma situação que ainda lhe é favorável: Lìdera as pesquisa, não tem um nome exposto, para desgaste e, enquanto isso, vê quem pode ser o sucessor de Lula.
OK, o PT pode até ficar com Lula. Mas os partidos de esquerda começam a cuidar da vida, o que faz crescer o risco de isolamento do PT no quesito alianças políticas. Até aqui, os aliados tradicionais que têm pré-candidato a presidente, caso do PCdoB e do PSol, vão aos encontros do PT, deixam aquele abraço, dão uma força, mas, na hora de apresentar candidato cuidam é dos seus. Quem não tem, começa a ficar impaciente. O Datafolha pode servir, por exemplo, para estimular um movimento do PSB em direção a Ciro Gomes, que se mostra viável do ponto de vista eleitoral e, em comparação com os demais, tem uma rejeição relativamente baixa. Ciro Gomes é o rejeitado por 23% dos entrevistados, enquanto Fernando Collor aparece com 39%, Lula com 36%, Bolsonaro com 32%. No segundo pelotão, está Alckmin, com 27%; Marina, 24%; e Ciro, com 23%. Na última sexta-feira, os socialistas conversaram e concluíram que não dá para ficar esperando o PT se decidir em Pernambuco, onde tudo foi adiado para final de julho. O PT quer trocar o apoio ao governador Paulo Câmara por apoio a Lula e o PSB resiste em fechar um acordo regional usando como moeda a sustentação nacional aos petistas.
E o centro?
O centro da politica sai da pesquisa com duas certezas: Primeiro, é “tchau, Michel Temer”. A impopularidade do governo está em 82% (ruim e péssimo), 14% consideram a gestão regular e 3% ótima ou boa. O pré-candidato do MDB, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, oscila entre 0% e 1% das intenções de voto. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), está na mesma batida. Há quem diga que o deputado precisa aproveitar a semana do santo casamenteiro pra ver se arruma outro jogo eleitoral. Ou seja, aumentará a pressão para que saia de cena. Só tem um probleminha: Para onde ir? O nome que aparece melhor no Datafolha é o do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, porém, não chega aos dois dígitos e até o PSDB está indócil. Portanto, Geraldo Alckmin precisa aproveitar esse período para se mostrar mais competitivo e passar firmeza aos potenciais aliados. E só o fará se jogar bem na política o que até aqui não aconteceu. Ele não tem sequer um coordenador politico de fora de São Paulo, que possa dar um caráter mais nacional e menos provinciano à pré-campanha. Quanto a Álvaro Dias, o senador é pouco conhecido e se firma como um nome também mais regional, do Sul, sem capilaridade no Nordeste e em outras regiões. E dada a pequena estrutura de seu partido, será difícil conseguir essa visibilidade na campanha eleitoral.
Com o centro indefinido e inseguro sobre que caminho seguir, restam Ciro Gomes e Marina Silva, que tentam se apresentar como o anti-Bolsonaro. Ambos abateriam o ex-capitão num segundo turno e Alckmin empataria com ele. Ou seja: Bolsonaro pode ser grande hoje, mas a contar pela pouca estrutura de seu partido, não terá fôlego para chegar ao segundo turno muito competitivo e talvez nem esteja lá. Afinal, como disse no começo dessa análise, o eleitor, por enquanto, o eleitor não atentou para a eleição de outubro. que venha a Copa do Mundo e as festas juninas e os movimentos partidários. O cidadão comum só vai cuidar da eleição no momento certo. E tem razão. O cenário recomenda muita calma nessa hora.
Depois das isenções de impostos do óleo diesel, chega nesta segunda-feira mais um risco para as contas públicas e, desta vez, nada a ver com os caminhoneiros. É que o Tribunal Superior do Trabalho (TST) marcou o julgamento do reajuste de quase 4% aos funcionários da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), da Valec, da Companhia Desenvolvimento do Vale São Francisco (Codevasf) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
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O gasto estimado para honrar o pagamento dos aumentos de 3,98% na Valec e na Codevasf é de R$ 140 milhões, conforme cálculo apresentado aos ministros do TST. O impacto pode ser maior, por causa do pedido de pagamento retroativo referente a 13 meses de salário, mais benefícios. O dinheiro sairá dos cofres do governo federal, responsável pela manutenção da folha de pagamento das estatais em questão.
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O julgamento é dado como ganho pelos servidores, uma vez que o próprio governo, nos bastidores, se mostra disposto a bancar o reajuste para evitar novas crises como a greve dos caminhoneiros. Tentou-se até fechar um acordo oficial entre a equipe de Michel Temer e os sindicatos, que rejeitaram a proposta. A orientação é julgar o caso com a máxima rapidez e discrição. Auxiliares de ministros afirmaram ao repórter do Correio Bernardo Bittar que o TST considera o reajuste justo e devido, independentemente das condições econômicas do país. Entre os argumentos está o clichê usado pelos servidores públicos que pleiteiam aumento: “É direito do trabalhador.”
Os bancos que se cuidem
Equipes de pré-candidatos a presidente da República de todos os matizes ideológicos falam de uma concentração bancária muito grande no Brasil, e é preciso concorrência para baixar juros de cartões de crédito e cheque especial. A turma que nunca perdeu, em governo algum, começa a se remexer na cadeira.
Tempo esgotado
O PSB cansou e não vai esperar até julho pela definição dos petistas. O partido não aguenta mais a ampliação de condições do PT para apoiar a reeleição de Paulo Câmara em Pernambuco. Agora, vai começar á a tratar o PT pernambucano como adversário. E, no plano nacional, se voltar para Ciro Gomes.
Pagar para ver
Os socialistas consideram que eram procurados pelo PT, mais para tentar tirar o partido de Lula do isolamento. Hoje, ninguém mais aposta numa união das esquerdas. A ordem é cada um testar a
própria força.
Bem assim/ Tudo o que o governo deseja é uma bola de cristal para saber se a procuradora-geral, Raquel Dodge, vai apresentar uma nova denúncia contra o presidente Michel Temer. Até aqui, dizem os amigos do presidente, não se “pescou” nada a respeito na Procuradoria. O jeito é ir vivendo o dia a dia, sem esperar o dia de amanhã.
Codinomes I/ Não foram apenas os receptores de propinas que receberam apelidos do pessoal das empreiteiras. Empresários presos na Lava-Jato que já deixaram a cadeia começam a espalhar como chamavam os procuradores e juízes. Sérgio Moro era “Mazzaropi” (foto).
Codinomes II/ Os delegados da Polícia Federal também não escaparam. Rosalvo Ferreira Franco, que chefiou o início da Lava-Jato no Paraná, era “Maguila”. E Márcio Adriano Anselmo, “Freddy Mercury”.
Codinomes III/ Os apelidos sobraram para todos, inclusive para o então procurador-geral, Rodrigo Janot: “Cavalo Branco”. O procurador Deltan Dallagnol era o “Bispo”. E o ex-procurador Marcelo Miller, “Maçaranduba”. Não é a cidade de Massaranduba e, sim, o personagem do antigo programa humorístico Casseta & Planeta, que saía distribuindo sopapos para todos os lados.