A língua faz pactos. Um deles: a concordância. Para conviver com harmonia, estabeleceu hierarquias. O sujeito e o predicado são os mandachuvas. Na flexão do verbo, o sujeito dita as regras. Mas muitos ignoram o trato. Resultado: tropeçam. Aiiiiiiiiiiiiii… Nos textos do Millôr, “sobrava” alfinetadas. O português é flexível. Permite que os termos passeiem na frase. Mas o vaivém não muda as regras. O verbo […]
“As pessoas que falam muito mentem sempre porque acabam esgotando seu estoque de verdades.”
Estou morando em Manaus. Aqui, cachorro-quente é conhecido como kikão – escrito assim, segundo os manauaras. Os colegas jornalistas ficaram em dúvida sobre o plural da delícia. Pode nos ajudar? (Mônica Harada) O plural das palavras terminadas em ão castigam os miolos. Alguns aceitam três plurais. O mais comum é ões. Delicie-se com os kikões da terra.
Todo corpo mergulhado numa banheira faz tocar o telefone. A informação mais necessária é sempre a menos disponível. O pessimista se queixa do vento; o otimista espera que ele mude; o realista ajusta as velas. Quem conhece Murphy não faz nada. A fila do lado sempre anda mais rápido. Se você está se sentindo bem, não se preocupe: isso passa. […]
“A parlamentar pediu que fosse acrescentado a extinção dos chamados `jetons´”, escrevemos na pág. 2. Nossa! Um período, três escorregões. O primeiro pisou a concordância. O segundo recorreu a modismo. O último pôs aspas onde a dupla não tem vez. Melhor aprumar-se. Assim: A parlamentar pediu que fosse acrescentada a extinção dos jetons.
“Quando os eruditos descobriram a língua, ela já estava completamente pronta pelo povo. Os eruditos tiveram apenas que proibir o povo de falar errado.”
“Viver é desenhar sem borracha.”
Quando uma pessoa está em iminência de morte, qual a maneira correta de dizer: risco de vida ou risco de morte?(Marcel BH) A questão mereceu debates calorosos. Uns defendiam risco de vida porque subentendiam o verbo perder (risco de perder a vida). Outros interpretavam o que estava escrito. Risco é perigo. Perigo de vida? Que bom! Consultada, a Academia Brasileira de Letras bancou o rei Salomão. […]
Atenção, navegantes. Suicidar-se é sempre pronominal. Quem conhece a origem do verbo acha estranho. O caprichoso vem do latim. É formado de sui (de si, a si) + cídio (matar). Significa matar a si mesmo. No duro, não precisaria do se. Mas o teimoso bate pé. Exige o pronome e não abre. Manda quem pode. Obedece quem tem juízo: eu me suicido, ele se suicida, […]
Ferreira Gullar Desconfio que, depois de desfrutar durante quase toda a vida da fama de rebelde, estou sendo tido, por certa gente, como conservador e reacionário. Não ligo para isso e até me divirto, lembrando a célebre frase de Millôr Fernandes, segundo o qual “todo mundo começa Rimbaud e acaba Olegário Mariano”. Divirto-me porque sei que a coisa é mais complicada do que parece e, […]