“Caloteira prepara um novo golpe”, escrevemos na pág. 19. Reparou na obesidade do período? O artigo sobra. Não só. Se ela prepara, só pode ser novo. Melhor recorrer à lipoaspiração. Assim: Caloteira prepara golpe.
O deputado presidiário Natan Donadon não deixou por menos. Ao escapar da cassação, entrou com requerimento na Câmara. Queria reaver salário e vantagens recebidas pelos colegas. Não… ops! Reaveu? Reouve? Eta verbinho traiçoeiro. Ele dá a impressão de ser filhote de ver. Não é. O paizão da criatura é haver. Reaver significa nada mais, nada menos que isto: haver de novo. Conjugar ser tão ardiloso […]
As duas manchetes a seguir me soaram estranhas. Uma: “Brasileira é assassinada dentro de escritório que trabalhava”. A outra: “Neymarzetes já estão a postos no hotel que o time ficará hospedado”. Não está faltando algo? (Cristina Euza) O emprego do pronome relativo é o maior calo da língua. Se for antecedido de preposição, o quadro se agrava. É o caso. A pessoa trabalha em algum […]
“Técnica criada no Reino Unido pode beneficiar pacientes hipertensos que não respondem aos tratamentos já existentes”, escrevemos na pág. 17. Reparou? Se são existentes, o já sobra. Xô! Melhor: … pacientes hipertensos que não respondem aos tratamentos existentes.
“Só valoriza a primavera quem conhece o inverno”, dizem os moradores dos países gelados. “Só valoriza o Hino Nacional quem está no exterior”, comentam os patriotas. Na terra dos outros, ver hasteada a bandeira verde-amarela mexe com o coração. Ouvir o hino liquefaz a alma. Aqui muitos torcem o nariz na hora de se pôr em posição de sentido para ouvir ou cantar o símbolo nacional. […]
Com o julgamento do mensalão próximo do fim, uma palavra ocupa manchetes. É semiaberto. Trata-se do regime de cumprimento da pena em que o condenado bate pernas de dia e dorme no xadrez. A questão: a grafia de semiaberto. Com hífen? Tudo colado? Tudo solto? Semi- joga no time dos prefixos vira-latas. Pede o tracinho quando seguido de h ou de i (letras iguais se rejeitam). […]
“Agora, o quê fará o governo Obama?” A frase se exibiu no jornal com altivez e soberba. Como quem não quer nada, o acento apareceu em posição privilegiada. Leitores estranharam. “O circunflexo tem vez?” A resposta: não. O cara é penetra. Com o monossílabo, o chapeuzinho é bem-vindo em duas ocasiões: 1. quando aparece no fim da frase — no fim mesmo, coladas no ponto. […]
“O Brasil cumpre fielmente com suas obrigações e espera que seus parceiros a cumprissem e respeitassem aquilo que é muito caro para um país que é sua soberania”, escrevemos na pág. 13. Você entendeu? O leitor tampouco captou o sentido do enunciado. Talvez seja este: O Brasil cumpre fielmente as obrigações e espera que os parceiros também o façam e respeitem o que é muito caro […]
Palavras mágicas As palavras são como as pessoas. Adoram brincar. Correm, pulam, brigam, se escondem. As mais divertidas parecem artistas de circo. Algumas fazem até mágicas. Tanto faz lê-las da frente pra trás e de trás pra frente. Elas não estão nem aí. Ficam do mesmo jeitinho. Quer ver? Leia as palavras de dois jeitos. Um: da primeira à última sílaba. O outro: da última […]
“O historiador e o poeta não se distinguem um do outro pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso (pois, se a obra de Heródoto houvesse sido composta em verso, nem por isso deixaria de ser obra de história, figurando ou não o metro nela). Diferem entre si porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que poderia […]