Pra é forma preguiçosa da preposição para. Uma e outra se usam do mesmo jeitinho: Vou para São Paulo.Vou pra São Paulo.Vai para lá e para cá.Vai pra lá e pra cá. Pra frente, Brasil.Vou me embora pra Pasárgada.Vou me embora para Pasárgada. Viu? As duas são átonas. Não aceitam grampinho nem com reza braba. Xô! Xô! Xô!
Lúcia Faria leu “semi-analfabeto”. Achou esquisito. “No meu entender”, disse ela, “ou se é analfabeto ou alfabetizado. Talvez semi-alfabetizado. Certo?” Certíssimo. Semi-analfabeto joga no time do “mais ou menos grávida”. A pessoa pode ter sido mal-alfabetizada. Daí o semi-alfabetizada.
Rafael adora ler ler faixas e cartazes. Mas eles não se entendem. A grande vítima é a locução a partir. Ora as duas palavras aparecem escritas juntas. Ora separadas. Qual é a delas? Guarde isto, Rafael: a partir quer dizer a começar. Ninguém escreve a começar junto. A partir vai atrás. O a pra cá, o partir pra lá: Compre e pague a partir de […]
“A indústria alimentícia recruta uma legião de de consumidores com base em publicidade massiva”, escrevemos na pág. 12. Bobeamos. Massiva é ilustre desconhecida dos dicionários. Não existe em português. Na língua nossa de todos os dias, a forma é maciça.
Volta e meia pinta a expressão não obstante. Ela impressiona, mas confunde. Quer usar a duplinha? Então vale a pena ganhar intimidade com ela. Não obstante tem idéia adversativa. Joga no time do mas, porém, todavia, contudo, apesar de, no entanto: Não obstante a proibição, motoristas continuam a dirigir embriagados. Não obstante o atraso, o público aplaudiu o cantor. Não obstante o cansaço, […]
Rubem Braga escreveu muitas crônicas. Uma ficou famosa. É “Nascer no Cairo, ser fêmea de cupim”. Ao longo do texto, ele faz várias perguntas. Uma delas: como se chama quem nasce no Cairo? A resposta quebrou a cabeça de muita gente. Ei-la: é cairota.
Diana faz salgadinhos. Pra vender mais, pensou entregar o produto na casa do cliente. Resolveu, então, escrever uma faixa com a novidade. Mas pintou a dúvida. O texto seria ‘‘entrego a domicílio’’ ou ‘‘entrego em domicílio’’? A gente entrega em escola, em hospital, em supermercado. Por que domicílio fugiria à regra? Não foge. Ele é temente à lei. Na Constituição brasileira, discriminação é […]
A pé tem crase? Olho vivo! O sinalzinho indica o casamento da preposição a com outro a. Em geral, é o artigo a. Ora, pé é ilustre senhor machinho da silva. Só se faz acompanhar do artigo o (o pé). Sem o a, nem Deus consegue pôr o acento no solitário.
Um texto limpo não cai do céu, nem salta do inferno. Nasce de trabalho, humildade, desapego e muita, muita faxina. Como diz o outro, 10% de inspiração e 90% de transpiração. A escrita enxuta tem segredos. Um deles: livrar-se do artigo indefinido. Um, uma, uns, umas fazem senhores estragos. Tornam o substantivo impreciso e molengão — mais ou menos como Sansão sem cabelo. […]