“Acorda gigante brasileiro”, escreveu o Correio Braziliense. Ops! Cadê a vírgula antes do vocativo? O vocativo não faz parte dos termos essenciais, integrantes ou acessórios. Por isso vem sempre – sempre mesmo – separado por vírgula. Gigante brasileiro é vocativo. Pede o sinalzinho: Acorda, gigante brasileiro. Deus, ó Deus, onde estás que não me escutas? Alô, Sílvio, tudo bem? Entre, Maria, que vai chover.
O que é
A palavra vocativo vem do latim vocare (chamar). Pertence à família de vocação (chamamento da alma). Seguir a vocação é atender a voz interior. Sempre que você se dirigir a alguém, não duvide. Estará usando o vocativo. “Paulo, tome banho”, manda a mãe. Paulo é o vocativo. Alô, Carlos, tudo bem? Diz Maria ao telefone. Carlos é o vocativo. “Senhor Diretor”, começa o ofício com o vocativo.
Truque
Há um truque pra identificar o vocativo – antecedê-lo de ó. Se soar bem, sem forçar a barra, não duvide. Separe o termo por vírgula: Acorda, (ó) gigante brasileiro. Bem-vinda, ó Maria. (ó) Maria, bem-vinda. Ó Paulo, tome banho logo. Alô, (ó) Carlos, tudo bem? O que houve com você, ó criatura insensata? Acorda, (ó) Brasil. Até tu, (ó) Brutus.
Literatura
A literatura usa e abusa do vocativo. “Deus, ó Deus, onde estás que não me escutas?”, pergunta Castro Alves em Vozes d´África. “Tu choraste em presença da morte,/ Em presença de estranhos choraste? / Não descende o covarde do forte. / Tu, covarde, meu filho não és”, escreve Gonçalves Dias em I´Juca Pirama. “Entra, minha filha, senão vais virar prostituta”, ameaça a experiente senhora. “Deus te ouça, minha mãe, Deus te ouça”, responde a moça assanhada do poema de Ascenso Ferreira.