Luís de Camões, Machado de Assis, Eça de Queirós, Clarice Lispector, José Saramago, Jorge Amado (in memoriam), Lígia Fagundes Teles, Rosângela Rocha, Elio Gaspari e os cultores da boa linguagem cumprem o doloroso dever de comunicar a morte do futuro do subjuntivo.
Vítima de abandono e maus-tratos, ele deixa a família verbal enlutada. Os amigos se unem nesse ato de piedade cultural e protestam contra tão prematura e insubstituível partida. Não há escapatória. Sem piedade, jornais, tevês, comentaristas, personagens de novelas confundem a forma nota 10 com o infinitivo.
Até tu, ministro?
O tiro de misericórdia partiu do ministro da Educação. “Entre na internet e veja como foi o último concurso público da Abin. Se você ver, é um concurso que [não] tem praticamente nada de matemática e está lá falando governo estado-unidense. Então você já seleciona pessoas com viés de esquerda nos concursos”, disse Weintraub.
Sua Excelência bobeou. Atirou na Abin e acertou no verbo ver. Ele esqueceu (ou nunca aprendeu) que os tempos verbais têm pai e mãe. O futuro do subjuntivo nasce da 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo sem o –am final. Assim:
Pretérito perfeito: eu vi, se tu viste, ele viu, nós vimos, vós vistes, eles vir(am)
Ops! Parece mágica. Com o truque, nasce a 1ª pessoa do singular do futuro do subjuntivo. Depois, é só seguir a conjugação: se eu vir, se tu vires, se ele vir, se nós virmos, se eles virem.
Moral da opereta
O ministro matava aula. Se tivesse assistido às explicações do professor, teria dito: Se você vir, é um concurso que não tem praticamente nada de matemática.
Nós dizemos: Se eu vir Maria, darei o recado. Quando ele vir o filme, escreverá o comentário. Assim que eu vir o diretor, vou apresentar as reivindicações da turma.