Alguém disse que a língua é um sistema de ciladas. Pensava, com certeza, no haver. O verbo ora é pessoal. Conjuga-se em todas as pessoas. Ora, impessoal. Só se flexiona na 3ª pessoa do singular. Lidar com ele parece difícil. Mas não é. Basta entender-lhe as manhas. Uma vez conhecidas, fica a certeza: o leão é manso como o gatinho lá de casa.
Pessoal
O pessoal tem sujeito e dois empregos. Um: nas locuções verbais (hei de ver, hás de ver, há de ver, havemos de ver, heis de ver, hão de ver). O outro: nos tempos compostos (havia visto, havias visto, havia visto, havíamos visto, havíeis visto, haviam visto; (que) eu haja visto, tu hajas visto, ele haja visto, nós hajamos visto, vós hajais visto, eles hajam visto).
Impessoal
O impessoal, sem sujeito, só se emprega na 3ª pessoa do singular. Aparece nas acepções de: ocorrer, existir e na contagem de tempo passado. Veja exemplos:
Ocorrer: Houve distúrbios durante a festa.Havia manifestações na Esplanada quando o ministro chegou. Haverá confusões durante a votação?
Existir: Há 20 pessoas nesta sala. Havia 20 deputados no plenário. Haverá mais inscrições que vagas.
Contagem de tempo passado: Moro aqui há 20 anos. Foi ao Rio há duas semanas. Chegamos há pouco. Caminhava pelas ruas havia três horas. Saíamos e entrávamos havia mais de cinco minutos.
haja visto x haja vista
Haja visto é tempo composto. Conjuga-se em todas as pessoas: É importante que eu haja visto o filme para comentá-lo. É importante que ele haja visto o filme para comentá-lo. É importante que nós hajamos visto o filme para comentá-lo.
Haja vista quer dizer “veja-se”. Invariável, não se flexiona nem a pedido do Senhor:
Ele viu o filme, haja vista o comentário feito.
Há x atrás
A duplinha forma pleonasmo. Há indica tempo passado. Atrás, também. Fique com um ou outro:
- Cheguei há cinco minutos.
- Cheguei cinco minutos atrás.
Exemplo dos diferentes empregos
Costumo chegar aos encontros pontualmente. Mas hoje houve vários problemas. O trânsito não andava. Havia mais de 20 carros na minha frente. O sinal fechava a cada minuto. O relógio avançava sem pena. Dali a pouco a aula ia começar. Os alunos já haviam chegado havia alguns minutos. E o congestionamento continuava. Vão longe os tempos em que o trânsito fluía sem problemas em Brasília. Há dois anos o número de carros explodiu nas ruas. Hoje a média é de 2,5 passageiros por veículo. Sem transporte público, a situação tende a piorar. Haja vista as grandes cidades. Daqui a pouco, ficaremos parecidos com São Paulo.