Mais do mesmo: discurso político

Publicado em português

Sete candidatos. Duas horas de debate. Regras claras e tempo rigorosamente cronometrado. Eleitores atentos na televisão e nas mídias sociais. A expectativa: o confronto de programas de governo. Afinal, os postulantes têm um único objetivo — o assento no Buriti. Precisam do aval das urnas.

De olho no voto, apresentam-se embalados para presente. Blindam-se com palavras. Imperam promessas genéricas, que soam como música aos ouvidos de quem as faz. Problemas complexos como saúde, segurança e transporte ganham soluções simplistas. De tão repetidas, viram chavão.

Chavão, na origem, é chave grande. Também molde de metal. Serve pra imprimir figuras e adornos em bolos e massas. Ou pra marcar gado. Tem a ver com repetição, ausência de frescor, de novidade. Num sentido mais amplo, é o que se faz, se diz ou se escreve por costume. Do mesmo jeitinho. Sem esforço. Como tirado de um molde.

A palavra tem sinônimos. Um é lugar-comum. Outro, clichê. Alguns dizem ladainha. Também vale estribilho e bordão. O povo lhe dá um nome — propaganda eleitoral ou discurso político. O debate de ontem não fugiu à regra. Faltaram propostas concretas, capazes de falar à população, de levá-la a decidir entre este ou aquele. Não só. Quando um candidato fazia pergunta pra outro, o interrogado respondia o que queria. Diálogo de surdos.

Se escassearam novidades, sobraram tropeços linguísticos. Eliana Pedrosa maltratou a concordância. Disse que “os Estados Unidos progrediu”. Alberto Fraga foi atrás. Citou “Recanto das Ema, os trabalhador” & cia. Júlio Maragaya apelou pra redundância do sujeito. “O Aécio Neves, ele fugiu da raia”. Rosso recorreu ao politicamente incorreto ao falar em “denegrir pessoas honestas”.

Etc. Etc. Etc.

Quem mais bateu na língua? Alberto Fraga foi impiedoso com o português nosso de todos os dias. A taça é dele. Mas nem tudo são pancadas. No final, o homem se redimiu. Pronunciou o s de subsídio como o de subsolo. Fez bonito.