Hífen: sempre, sem exceção

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“O que é certo na vida?”, perguntaram certa vez a Confúcio. “A única certeza é que tudo passa”, respondeu o sábio. Porque tudo passa, alguns preferem ver a vida rolar de longe. Não fazem amigos pra não se decepcionarem. Não namoram pra não serem traídos. Não se casam pra não se separarem. Não têm filhos pra não perdê-los mais tarde. Não viajam pra não enfrentar atrasos em aeroportos e rodoviárias. Não mudam de emprego pra não precisar se adaptar a novos chefes, novos colegas, novo ambiente. Em suma: “Afasta de mim esse cálice”, repetem ao longo das décadas.

Na língua também existem criaturas que se mantêm distantes. Não aceitam apenas o espaço para separá-las das demais. Querem algo mais. O hífen, então, entra na jogada. Ele funciona como placas encontradas aqui e ali pra afugentar aventureiros e indesejados. “Área de segurança nacional”, dizem umas. “Cão feroz”, outras. “Cerca eletrificada”, mais umas. Por trás das ameaças estão os sufixos ou falsos sufixos que não abrem mão do tracinho nem a pedido dos orixás.

Muitos são pra lá de conhecidos. Intolerantes desde sempre, ficam imunes a reformas ortográficas. É o caso do ex. As duas letrinhas dão recado claro. Dizem que o ser antecedido por elas foi, mas deixou de ser. É o caso do ex-marido. Ele dividiu o leito nupcial com a mulher. Não divide mais. É o caso também de ex-presidente. Sua Excelência se sentou na cadeira-mor do Palácio do Planalto. Não se senta mais. E os outros? Eis a lista dos senhores chega pra lá:

Além, aquém, ex, pós, pré, pró, recém, sem, vice, soto, soto, vizo: além-mar, aquém-muros, ex-presidente, pós-graduação, pré-primário, pró-reitor, recém-chegado, sem-terra, vice-presidente, sota-piloto, soto-mestre, vizo-rei.