Bolsonaro: duas armadilhas

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“A língua é um sistema de possibilidades”, dizem os linguistas. Exibe opções. Os usuários escolhem a mais adequada. Falantes discordam. “A língua é um sistema ciladas”, afirmam eles. Grafias, concordâncias, regências, colocações estão cheias de pegadinhas. Exemplos não faltam. Um deles ganhou as manchetes de sexta-feira. O presidente Jair Bolsonaro festejava o Dia Internacional da Mulher. Entre irônico e divertido, disse esta frase:

“Temos 22 ministérios: 20 homens e duas mulheres. Somente um pequeno detalhe: cada uma dessas mulheres que estão aqui equivalem a 10 homens.”

Ops! Ele caiu em duas armadilhas:

Uma joga o time das redundâncias. O mesmo de que participam o entrar pra dentro, sair pra fora, subir pra cima, descer pra baixo, elo de ligação, países do mundo e… pequeno detalhe. Trata-se de baita desperdício. Só se entra pra dentro, só se sai pra fora, só se sobe pra cima, só se desce pra baixo, todo elo é de ligação, todos os países são do mundo, todo detalhe é pequeno. Em época de vacas magras, a economia se impõe. Basta: entrar, sair, subir, descer, elo, todos os países e … detalhe.

A outra pertence à equipe da concordância: “… cada uma dessas mulheres que estão aqui equivalem a 10 homens”. Viu? Cada uma é singular. O verbo, obediente, não tem saída. Vai atrás. Assim: … cada uma dessas mulheres que estão aqui equivale a 10 homens.

Mais exemplos? Ei-los:

Cada um dos alunos disse uma frase.

Cada um dos participantes deu a sua contribuição para o êxito do evento.

Cada uma de nós declamou um poema.