País estranho, este Brasil

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com Circe Cunha e MAMFIL

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Entidades que poucos sabem de onde saíram, a quem servem e com qual propósito, adquiriram, não se sabe como, presença diuturna na vida de todos, de onde sorvem silenciosamente até o último centavo de cada brasileiro. Estão nesse rol de fantasmas do além, mas com uma fome concreta por dinheiro, entidades como os cartórios — todos os cartórios, não importando a denominação. Eles são resquícios de um país colonial e obrigados, portanto, a se submeter aos caprichos da burocracia parasitária da metrópole de então. Os cartórios são, ainda hoje, o retrato acabado do atraso e que só trazem benefícios para seus herdeiros diretos, constituindo-se, isso sim, em um elemento a mais para o chamado custo Brasil.

É justamente à sombra da burocracia kafkiana que estamos submetidos desde sempre, que medram esse e outros seres protegidos por uma legislação, confeccionada sob medida para cada um. Essas entidades só sobrevivem graças à boa vontade das autoridades,  à indiferença e ao desconhecimento da maioria dos brasileiros.

Assim também acontece com o Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (Dpvat), estabelecido pela Lei nº 6.194 de 1974 e administrado por uma tal Seguradora Líder dos Consórcios do Seguro DPVAT S.A. Outra verdadeira mina de ouro, instalada justamente num país recordista mundial de acidentes de trânsito. Da montanha de dinheiro recolhida anualmente por esse consórcio, ninguém tem notícia. Uma coisa é certa: nenhum centavo é gasto para manter as estradas e rodovias em condições de segurança e trafegabilidade, já que são elas as principais causadoras de danos pessoais por todo o país.

Outro fantasma onipresente atende pela sigla de Ecad, ou mais precisamente Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, uma instituição privada, regida pela Lei nº 12.853, de 15 de agosto de 2013, que atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais. De saída é preciso verificar que os próprios músicos que seriam, em tese, os beneficiários desse escritório, demonstram simpatia por esse organismo, verdadeiro espectro do parasitismo. Alvo de diversas CPIs inacabadas, sempre por suspeitas de falta de transparência na arrecadação e na distribuição, formação de cartel e abuso na cobrança de direitos autorais, o Ecad vive do talento alheio, do qual retira fortunas.

Outra entidade, que muito bem poderia integrar o mundo do além, mas que se vira contra os vivos, é a “empresa de análises e informações para decisões de crédito e apoio a negócios” e que integra uma multinacional com atuação em vários continentes, sendo a líder mundial em serviços de informação. Uma incógnita de dimensões globais. País estranho, povoado de assombrações ainda mais estranhas.

 

A frase que foi pronunciada

“Nossas crianças são escravas  do CEP e CF dos pais.”

Senador Cristovam Buarque (PPS/DF) sobre federalizar a educação de base, durante reunião da CE, ontem

 

Ocupação

Hoje, o administrador do Park Way, Roosevelt Vilela, conversará com a comunidade sobre a Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos), que vai estipular regras de construção no interior dos lotes. A reunião será às 19h, no Ginásio de Esportes do Núcleo Bandeirante.

 

Festa

No próximo dia 2, das 8h ao meio-dia, o Viveiro Comunitário do Lago Norte, na QL 6, receberá os moradores para celebrar dois anos de atividades. A Associação de Meliponicultores montará um estande com abelhas sem ferrão, degustação de mel e distribuição de mudas. Várias atividades para a criançada, como oficinas de pipas e contos, pintura de rosto. A inauguração do Bosque dos Pioneiros será em outra data.

 

Poluição

Logo na entrada do Lago Norte, ainda na Pontes do Bragueto, há um outdoor que ofusca a visão dos motoristas. Esse tipo de propaganda deveria ficar longe de pistas perigosas, curvas e lugares com engarrafamento. Seria sensato.

 

Release

No Brasil, a GM foi a primeira montadora a instalar sistema fotovoltaico, na sua unidade de Joinville. A unidade tem capacidade de geração de 300 kWh e gerou, apenas em 2015, 195 mil kWh de energia elétrica. Ainda em 2015, além do sistema de geração própria, a GM do Brasil utilizou seu portfólio de energia para suprir as operações em 12.358 Megawatt por hora.

Perigo

Na Câmara dos Deputados, a Comissão de Defesa do Consumidor aprovou a proposta que exige cobertura para celular em rodovias. O deputado Márcio Marinho não faz ideia de como essa iniciativa colocará em risco a vida de milhares de turistas, conduzidos por motoristas de ônibus que teimam em falar ao celular enquanto dirigem.

 

História de Brasília

As pessoas que entendem de trânsito no Batalhão da Guarda Presidencial precisam saber que a Praça dos Três Poderes foi construída de maneira a não necessitar qualquer interrupção de tráfego, por ocasião das solenidades.(Publicado em 29/9/1961)

Amarrando cachorro com linguiça

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Está mais do que atestado, nesses tempos de desnudamento geral, que obras públicas, geradas a partir de decisões políticas, estão, na sua grande maioria, eivadas de suspeitas de superfaturamento e sobrepreços, gerando propinas e alimentando o ciclo da corrupção endêmica. Há anos é sabido que as grandes construções públicas por todo o país, e em todo o tempo, tocadas pela maioria das empreiteiras nacionais a partir de decisões de presidentes da  República, governadores e prefeitos, estão repletas de irregularidades que começam ainda na fase de licitação e vão se estendendo à margem da lei à medida em que as obras avançam.

Na realização da última Copa do Mundo de Futebol no Brasil, 100% das obras de construção dos estádios para receber os jogos apresentaram algum tipo de irregularidade. Algumas delas, como é o caso do estádio Mané Garrincha, simplesmente triplicaram de preço. Se forem feitos levantamentos para averiguar os prejuízos gerados pelas obras públicas aos contribuintes, apenas nos últimos 10 anos, poderemos estar diante de números absolutamente astronômicos, que demonstram que a associação entre políticos e empreiteiros tem sido organizada apenas para dilapidar e saquear o Tesouro.

Torna-se ainda mais sintomático quando se verifica que os tribunais de contas e outros órgãos de fiscalização do dinheiro público nada fizeram para pôr fim à farra delituosa. Na maioria dos casos, as instituições só começam a agir depois dos seguidos alertas feitos pela imprensa ou após a polícia colocar um par de algemas em alguns figurões. Pior é que, a cada mecanismo criado para coibir essas práticas danosas, outras estratégias são preparadas para dar continuidade à ação desses verdadeiros bandoleiros engravatados que desfilam impávidos pelos salões atapetados da corte.

A situação chegou a tal ponto que é muito melhor e mais econômico para o contribuinte proibir, definitivamente, que políticos tomem a frente das obras públicas. Nessa altura dos acontecimentos, muitos brasileiros aprenderam a enxergar aqueles políticos, desfilando em obras públicas com o capacete branco de proteção e mangas arregaçadas, como um sinal de que naquele canteiro de obra brotam flores fáceis e abundantes. Abduzida por uma casta de políticos do mesmo matiz ético dos que pululam pelo resto do país, não é surpresa para ninguém que, também na capital, esse fenômeno tenha sido repetido com a mesma desenvoltura, desfaçatez, pelas empresas e por igual modus operandi.

Obras como o Estádio Mané Garrincha, o Centro Administrativo do GDF (Centrad), o BRT (expresso DF), o Jardim Mangueiral, entre outras construções, como a própria Ponte JK, são exemplos de grandes empreendimentos tocados por políticos de capacete branco e que geraram prejuízos incalculáveis aos brasilienses, que, só agora, tardiamente, são reclamados na Justiça. Se tivessem dado ouvidos ao filósofo de Mondubim, esses políticos, disfarçados de empreiteiros, saberiam que mais cedo ou mais tarde o alheio sempre chora e clama por seu dono legítimo.

 

A frase que foi pronunciada

“Errar é bom, desde que não se torne um hábito”

Michael Eisner, empresário americano

 

De imediato

Chegou a hora de organizar as três pistas da Barragem do Paranoá no sentido Lago Sul no horário de pico pela manhã e no oposto à tarde. Os engarrafamentos são constantes. Seria uma solução até o governo se dar conta de que o que diminui o fluxo de automóveis não são novas pistas, mas sim transporte público decente.

 

Consumidor

Realmente o preço da gasolina diminuiu bastante com o fim dos cartéis. A população está acompanhando e prestigiando o melhor e mais barato combustível.

 

Chega

Salas comerciais pagam pela água que não consomem. Em tempos de racionamento, o mais honesto seria cobrar pelo consumo efetivo e não por 10 mil litros por mês.

 

Assunto sério

Enorme réplica da Folha de S. Paulo, na Clínica Villas Boas, em Brasília, mostra denúncias de que médicos recebem prêmios quanto mais exames de imagem solicitam. Hospitais sérios foram citados repudiando essa prática. Outro absurdo são acordos entre médicos e laboratórios. Viagens e congressos pagos às custas de clientes abarrotados de medicamentos.

 

Competência

Por falar na clínica Villas Boas, que atendimento impressionante. Cada exame explicado em minúcias, funcionários que levam o trabalho a sério. A única reclamação ouvida e unânime foi das mulheres que trabalham por lá. Disseram que o almoço dos funcionários é tão bom que todas  engordaram um pouquinho.

 

História de Brasília

Ontem, no almoço, com o qual foi homenageado o sr. Virgílio Távora, o sr. Israel Pinheiro fugiu ao protocolo, ao apartear o orador, que se referia ao ex-presidente da Novacap como responsável pela construção de Brasília. “Com o auxílio dos presentes”, gritou o sr. Israel Pinheiro, de sua cadeira. (Publicada em 29/9/1961)

Etnocídio: o belo monte de infâmias

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 Em longa entrevista à jornalista Eliane Brum, do jornal El País, a procuradora da República Thais Santi, em Altamira (PA), desde 2012, faz um relato, ao mesmo tempo, revelador e tenebroso das consequências nefastas geradas pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, na Bacia do Rio Xingu. A obra, derivada do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e orçada em torno de R$ 30 bilhões, foi mais uma das heranças deixadas pela dupla Lula-Dilma e poderá, segundo a procuradora “ser julgada pela história como uma operação em que a lei foi suspensa”, e em que houve a mais explosiva mistura entre o público e o privado.

O Consórcio Norte Energia S.A., ao vencer o leilão de forma polêmica, vem provocando naquele estado, além de um processo acelerado de sérios danos ambientais, capaz de pôr em risco o futuro do planeta, um verdadeiro etnocídio, com a destruição da cultura milenar de povos indígenas que sempre viveram em função do Rio Xingu. Estranhamente, as repercussões da obra têm suscitado mais debates  no exterior do que internamente.

O fato é que todo o planeta acompanha com apreensão a construção de Belo Monte e a possibilidade da repetição dessa catástrofe, com a possível construção da hidrelétrica no Rio Tapajós. Neste “mundo em que tudo é possível”, os brasileiros se comportam com indiferença em relação à morte cultural dos indígenas, da mesma forma que a sociedade alemã reagiu ao genocídio judeu.

A sustentação de Belo Monte, diz, não é no direito, mas no fato consumado. Para conseguir seu intento, a Norte Energia tem comprado o silêncio de muitos indígenas, alguns, inclusive, de recentes contatos, com quinquilharias, da mesma forma como agiu Cabral em 1500, dentro de uma estratégia assistencialista e elaborada, denominada Plano Emergencial. Dessa forma. distribui bola de futebol, gasolina, dinheiro, bebidas alcoólicas, refrigerantes e outros artigos do homem branco, destruindo e desestruturando paulatinamente aqueles povos em nome de um progresso incerto e que só tem beneficiados políticos e empreendedores de porte.

A descrição que Thais Santi faz da aldeia dos Arara é chocante. “Era como se fosse um pós-guerra, um holocausto. Os índios não se mexiam. Ficavam parados, esperando, querendo bolacha, pedindo comida, pedindo para construir as casas. Não existia mais medicina tradicional. Eles ficavam pedindo. E eles não conversavam mais entre si, não se reuniam. O único momento em que eles se reuniam era à noite para assistir à novela numa tevê de plasma. Então, foi brutal. E o lixo na aldeia, a quantidade de lixo era impressionante. Era cabeça de boneca, carrinho de brinquedo jogado, pacote de bolacha, garrafa Pet de refrigerante.”

Como consequência dessa obra gigantesca, aumentaram os casos de doenças, como diabetes, hipertensão e alcoolismo, dando início a conflitos de índio contra outro, de tribo contra tribo, provocando um caos na região. Não é sem motivos que muita gente pelo mundo afora tem repetido que os brasileiros não têm condições para cuidar do patrimônio da Amazônia. Com a globalização e a comunicação em tempo real, não há máscara que permaneça por muito tempo.

 

» A frase que não foi pronunciada

“Trabalhar não compensa!”

Faixa dos trabalhadores que trabalham nas obras da Papuda

 

Parceria

» Ana Regina Caminha Braga escreve brilhante texto sobre a responsabilidade docente no acolhimento ao portador de alguma deficiência física. Há que se alertar para a sobrecarga dos professores. A contrapartida é necessária. Pelo nível de dependência do aluno, um auxiliar da confiança da família seria importante.

 

Jurisprudência

» É fato. Em Tribunal do Rio Grande do Sul houve indenização à família porque morte por embriaguez ao volante não exclui indenização de seguro de vida.

 

Terror

» Casos de família nos quais o crack é assunto sempre há desespero. É o caso de Solange, de São Paulo, que acorrentou a filha em casa para que ela não fosse à boca de fumo. Isso mostra o extremo da agonia. O crack transforma as pessoas em monstros. Solange queria a filha de volta. Julgar é fácil. Difícil é fazer justiça.

 

Que será

» Valeria uma enquete nas cidades brasileiras com a pergunta. “O governo deve investir mais em festas como carnaval e Paradas Gays ou em saúde e educação? O povo surpreende.

 

E lágrimas

» Magela transpirava poder à frente da Codhab. Com a condenação do TRT, o suor volta para se defender dos empregados que diziam ser obrigados a fazer campanha política para o PT nas eleições de 2014. Um trabalhador buscou os tribunais e os outros foram pelo mesmo caminho.

 

» História de Brasília

O governador Leonel Brizola, que teve sua bagagem queimada no incêndio do avião que o transportou, não se apertou muito: o seu manequim era o mesmo do presidente da República, e a solução foi vestir roupas do sr. João Goulart. (Publicada em 29/9/1961)

Problemas não se afastaram de Temer

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Quando um presidente viaja, costuma levar consigo, além de membros da equipe ministerial, as crises internas e contradições do governo. Num mundo globalizado, as comunicações, a espionagem industrial e tecnológica, a biopirataria, o monitoramento constante, feito por uma infinidade de satélites que circundam o planeta a cada instante, e outras ações do gênero geram tamanho volume de informações sobre determinada nação que não seria exagero reconhecer que os países do Primeiro Mundo conhecem nossa realidade e mazelas muito mais do que nós próprios. Nesse sentido, quando um chefe de governo viaja ao exterior, seus anfitriões já sabem, de antemão, de quem se trata, o que tem para oferecer e o que, eventualmente, pedirá em troca.

Com a viagem do presidente Michel Temer à Rússia e à Noruega não foi diferente. Obviamente que, em nosso caso atual, dado a conjuntura complicada que vai se formando em torno do presidente, seu desempenho como “caixeiro viajante do Brasil” fica comprometido e delimitado, quer por motivos pessoais de intranquilidade ante o desenrolar dos acontecimentos, quer por motivos políticos, com a perda crescente de apoio interno.

As imagens que foram vistas nas duas visitas a esses países do norte da Europa mostram um presidente extremamente tenso, como se a cabeça pesarosa tivesse ficado por aqui. A Rússia, confundida pelo nosso governo como União Soviética, é integrante do bloco econômico Brics, e é vista com muita ressalva pelos vizinhos próximos desde 2009, quando empreendeu um corte drástico no fornecimento de gás a muitos países europeus, prejudicando centenas de milhares de lares e empresas do continente, e passou a pressionar militarmente a Geórgia e outros antigos satélites.

Além da assinatura de atos bilaterais com vista à intensificação nas relações econômicas, sobretudo exploração de gás e petróleo, a visita de Temer a Putin serviu para estabelecer compromissos genéricos, como a implantação dos acordos de Paris e de combate à corrupção e de  antiterrorismo. Dois assuntos que, para a Rússia e para muitos países em crise econômica e política, ficam mais na retórica, à mercê das circunstâncias geopolíticas do momento.

Ao contrário do que ocorre em nosso país, a crise política na Rússia é facilmente resolvida e debelada com a prisão de opositores e outros métodos do gênero. Do ponto de vista de muitos analistas, a viagem de Temer, neste momento particularmente delicado, serviu mais para passar uma ideia de normalidade nas ações do governo através da intensificação de agendas positivas que, de certa forma, serve também para afastar o presidente das intensas pressões e preocupações internas.

Na Noruega, quase 10 mil km de distância do Brasil, a visita se deu, descontando as gafes (como chamar o monarca daquele país de rei da Suécia), sob protestos de ambientalistas e representantes indígenas e organizações não governamentais. Naquele país nórdico, a questão da destruição contínua das florestas tropicais ganhou maior relevo com a decisão do governo norueguês de cortar em 50% o dinheiro destinado ao Fundo Amazônia, destinado ao monitoramento, ao combate ao desmatamento e à promoção do uso sustentável da floresta.

Desde 2008, a Noruega destinou quase R$ 3 bilhões para essa finalidade, demonstrando conhecer, melhor do que nossos governantes, a importância desse ecossistema para o futuro do planeta e para a humanidade. Na visita àquele país escandinavo, Temer teve que ouvir diretamente da premiê, Erna Solberg, a cobrança de soluções e de “limpeza” para os casos de corrupção revelados pela Operação Lava-Jato. Para quem tentou se afastar da crise interna e buscar algum conforto alhures, Temer deve voltar ao Brasil com a orelha ardendo.

 

A frase que não foi pronunciada

“Joesley estar solto não é um paradoxo. É um mistério que em breve será desvendado.”

Ulysses Guimarães, contando um pedacinho da novela

 

Fita

» Por falar em mistério, foi muito interessante ver a foto dos senadores comemorando a vitória da votação da reforma trabalhista na CAS. Estavam exaltados demais para um treino. Comemoraram a final que nem começou ainda. Mas, pela performance, muitos eleitores acreditaram na força do grupo. Agora é esperar os arranjos para a votação no plenário.

 

Bremmer X Temer

» No início do mês, o presidente da Eurasia, Ian Bremmer, cientista político norte-americano especializado em política de países estrangeiros, avaliou que o impeachment do presidente Michel Temer teria um caminho longo e incerto. Conseguir dois terços de votos da Câmara dos Deputados para começar já é difícil. O pior da história é ter que se defender de uma gravação ininteligível.

 

Como será?

» Uma das parábolas interessantes de Jesus é quando ele chama Pedro para andar sobre as águas. Não deu. Faltou fé. Assim está o PSDB em relação ao PMDB. Pelo interesse, valeria a união, mas, se os escândalos continuarem, adeus, 2018.

 

Com “e”

» Como é perfeccionista, Rosane Garcia evita nossas transgressões vernaculares na coluna. Dad Squarisi também. Mas o excesso de zelo tirou o verdadeiro sentido da frase de ontem que estampava uma parede da Rodoviária: Abaixo o capetalismo!

 

Release

» Brasília sedia hoje o Simpósio  Oncologia Integrada IV, promovido pelo Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês —Unidade Brasília, que discutirá tendências e atualizações da área. Entre os temas que serão discutidos está o uso da computação cognitiva no combate ao câncer, com a participação da dra. Alice Landis-McGrath, membro do grupo IBM Watson Health Oncology e Genomics de São Francisco.

 

História de Brasília

Nós, como cidadãos, não poderíamos polemizar com o presidente da República, mas é hora de esclarecer. O sr. Alencar Araripe agiu parcialmente julgando atos aprovados pela diretoria anterior e provou que não merece continuar no lugar. (Publicada em 29.9.1961)

Tretas e tetas das estatais

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Tudo o que já foi dito nas centenas de milhares de páginas sobre a crise que se abateu sobre a Petrobras e que culminou com a instalação da maior investigação criminal de todos os tempos, reunida na Operação Lava-Jato, caberia completamente numa singela e despretensiosa fotografia tirada à época do anúncio oficial da descoberta do pré-sal.

Não se trata aqui de uma foto extraordinária por suas qualidades técnicas ou artísticas e que ganharia um desses concursos de melhor fotografia do ano, mas o que se tem imprimido para a posteridade é o registro exato de um instante que retrata, como nenhum outro, o momento em que o governo Lula, vergando o uniforme laranja da estatal, parecia ter tocado no mais alto do céu quando contempla extasiado as mãos, cobertas pelo ouro negro, vindo das profundezas abissais do pré-sal.

As falas ufanistas que se seguiram à visita ao campo de petróleo naquela ocasião se perderam confirmando o dito latino “verba volant, scripta manent”. O que está escrito, em forma de imagem, impressa no papel é a quintessência de 500 anos de história do Brasil, mostrando a apropriação parasitária do Estado pelas elites dirigentes e políticas de qualquer matiz ideológico, se é que isto tem algum sentido por aqui.

A cantilena patriótica “o petróleo é nosso” é entoada por políticos, burocratas e sindicalistas e quer dizer exatamente isso mesmo. Agora vem a público o balancete da estatal Correios, registrando um rombo, em 2016, de R$ 2 bilhões, atribuído, pelos dirigentes, ao plano de saúde da empresa, que, por incrível que pareça, detém o monopólio do setor em todo o território nacional.

A solução encontrada pelos políticos que parasitam a estatal é, obviamente, aumentar os preços dos serviços, numa ponta, e eliminar uns 20 mil funcionários, em outra, por meio de um Plano de Demissão Voluntária (PDV), trazendo, para cobrir o caixa arrombado dos Correios, parte significativa dos salários pagos aos pobres carteiros e a outros empregados da base da pirâmide da empresa. Também no caso da estatal dilapidada, ficaram para registro impresso da história, as imagens do então subchefe de Assuntos Parlamentares, Waldomiro Diniz.

Em 2004, esse assessor direto de José Dirceu foi filmado enfiando displicentemente na algibeira do paletó um volumoso maço de dinheiro recebido, como propina de um contraventor conhecido e enrolado com a polícia. Não precisa ir buscar muito longe exemplos dessa razia promovida por políticos e sindicalistas nas estatais para demonstrar que o modelo do tipo capitalismo de Estado ou capitalismo cartorial é danoso para o cidadão e para o país.

A Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), outrora rica e poderosa, detentora da maioria das áreas públicas do DF, depois de sucessivos governos e de seguidos casos de corrupção e de grilagem oficial, apresenta agora aos brasilienses um rombo em suas contas de R$ 1,5 bilhão, ocasionados , em grande parte pelos desvios sofridos durante a construção do Estádio Mané Garrincha.

No caso da Terracap que, segundo o noticiário, bem como Metrô, Caesb e CEB, fez a alegria de muitos políticos na capital, não existem imagens mostrando os gatunos diretamente com a mão na cumbuca. As provas, nesse caso, são bem mais concretas e podem ser vistas na forma de um enorme estádio, que não tem serventia alguma para os brasilienses. É concreto. Cada uma das centenas de colunas é uma homenagem ao descaso e à incúria, perfiladas para a posteridade.

 

A frase que não foi pronunciada

“Eu desencorajo um culto de personalidade.”

Newt Gingrich, ex-membro da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos

 

Cheiro estranho

O pessoal que conhece o Sindilegis aconselha: aceite toda conversa, mas só depois de conferir o passado de quem estiver envolvido no assunto. Enquanto Câmara e Senado compartilham conhecimento e se unem pela economia no gasto público, membros do Sindilegis começam nessa segunda-feira tentativas estranhas para se separarem em dois sindicatos: um da Câmara e outro do Senado.

 

João 15:16

Passando por uma escola vi um rapaz com Jesus estampado em uma camiseta. Curiosa pela desarmonia do visual, perguntei o que o fez ter tanta fé a ponto de usar uma camiseta que ninguém ali usava. Como se nos conhecêssemos há muito tempo, ele disse com honestidade: “Pedi para minha mãe parar de ir à igreja. Ela disse que Deus era mais importante que eu. Daí concluí: então, Ele deve ser bom mesmo. Passei a ir com ela e gostei”.

 

História de Brasília

Para que não haja dúvida em futuro, nem exploração no presente, seria conveniente que a DAC concluísse rapidamente esse inquérito, e desse a público o seu resultado (o que faria pela primeira vez) para que todos ficassem conhecendo os motivos do desastre. (Publicado em 28/9/1961)

Esplanada dos vitupérios

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Pobre Esplanada dos Ministérios. Erguida numa época de grande otimismo em que o futuro do país parecia estar ao alcance da mão, essa praça cívica, na visão de seus construtores, deveria ter a amplidão do Brasil, para, assim, acolher e dar espaço a todos os brasileiros sem distinção. Um sítio de encontro e confraternização de toda a nação. A Esplanada foi concebida para representar, em grande escala, a sala de estar e de visita dos brasileiros.

Durante o auge do regime militar, a praça ficou praticamente vazia e esquecida por quase duas décadas. Com o retorno da democracia, o povo voltou às ruas e a Esplanada passou a ser o ponto central do país para a maioria das grandes manifestações em nome da liberdade. Nos últimos anos, no entanto, o que a população tem assistido é à transformação da Esplanada de todos os brasileiros em uma praça de guerra e de baderna, patrocinada e insuflada pelo Partido dos Trabalhadores e seus satélites, incluídos as centrais sindicais, os movimentos, os proto guerrilheiros dos sem-teto e dos sem-terra e os outros fascistas do gênero.

Agindo ao comando de uma esquerda irresponsável, com o patrocínio de recursos advindos dos impostos compulsórios sindicais, o que essa turma de desocupados busca é a desestabilização completa do país por meio da venezuelização do Brasil, o que levaria a cessar também o grande esforço da Justiça para pôr atrás das grades todos os políticos e empresários que arruinaram econômica e socialmente o país.

A praça que era do povo, como o céu é dos aviões, se transformou em palco constante para a exibição da força e da brutalidade de uma minoria de derrotados politicamente que, por meio do recrutamento de baderneiros mercenários, prosseguem no incitamento ao ódio, com a depredação do patrimônio Público.

O que se viu, na quarta-feira, na Esplanada dos Ministérios, foi a repetição de uma tática que visa sondar até onde eles podem prosseguir com a destruição. A cada investida, virão mais atrevidos. A cada sinal de impunidade pelos prejuízos causados, novas e mais intensas depredações se seguirão. O ar de satisfação com as lideranças desses movimentos de arruaceiros se apresentaram nas redes sociais após os acontecimentos, revelam, de fato, que o exército Bracaleone de Stédile, Boulos, Vagner e outros dessa laia já está em marcha.

O que querem é o confronto a qualquer preço, inclusive, com a fabricação de mártires. A pichação  na parede lateral de um dos ministérios destruídos dizia tudo: “Morte à burguesia”. Nesse caso, burguesia é todo e qualquer brasileiro que não se alinha, prontamente, a essa gente. A inoperância das autoridades de segurança, inclusive, o próprio ministro da Justiça, em nome de uma tolerância sem limites, é tudo o que deseja essa turma para crescer e vir a se transformar num verdadeiro problema. Aí será tarde e o ovo da serpente já terá se rompido. Querem na verdade é o retorno de 1964 para dar-lhes um motivo e um mote para prosseguir na oposição a qualquer preço, uma vez que não encontraram, até hoje, o próprio espaço dentro da democracia.

 

A frase que foi pronunciada

“A manifestação ficou da cor da bandeira do PT.”

Noelen Juliany, na Esplanada

 

Precipitado

» Sancionada a lei dos migrantes. A entrada no país, princípios e metas para políticas públicas são regulamentados.

 

Na prática

» No último dia 4, quando tudo seguia calmamente, José Dirceu deixou a Justiça Federal com um peso na garganta declarado à repórter Vera Rosa, do Estadão: “Temos que nos preparar para a guerra política”, disse. Mesmo que Lula nunca tenha mostrado, publicamente, apoio ao companheiro, ele permanece com a ideia de atrair a juventude, movimentos sociais para enfrentar o governo Temer. O enredo já se conhece. Mesmo que tenha todo o apoio do mundo vai fazer o que com o poder? A mesma coisa?

 

Enquanto isso…

» A situação dos hospitais do país está cada vez pior. Menos médicos, menos material e menos medicamentos. Até oxigênio para atender a demanda das UTIs está faltando. Os últimos a pedirem socorro foram os hospitais filantrópicos. Em Mato Grosso, as unidades começaram a suspender os serviços.

 

Liderança

» Melhor que a Secretaria de Segurança, a Força Nacional e o Exército estejam sempre preparados para as badernas. Se a próxima manifestação for pacífica, terão cumprido a missão da mesma forma.

 

História de Brasília

O medo de explosão dominava a todos. Quando saltavam, procuravam se esconder no mato rasteiro que acompanha a pista e apareciam, depois, mais adiante. (Publicado em 28/9/1961)

Anápolis compra a República

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Como galhos de uma frondosa árvore que vão se ramificando rumo ao céu, diversos subenredos, surgidos com as operações da Polícia Federal e do Ministério Público no combate às quadrilhas compostas por políticos e empresários, vão se formando ao longo dessa trama, compondo o que parecem ser novas histórias repletas de suspense de igual teor. Entre os enredos paralelos que surgiram rápido e naturalmente e que parecem chamar mais atenção do que a trama central estão as delações da empresa JBS dos irmãos Batista.

Depois das confissões dos 77 executivos da Oderbrecht, que todos acreditavam ser a verdadeira delação do fim do mundo, eis que vem à tona o mea-culpa dos donos da maior indústria de carnes do planeta. Essa, até agora, pelo menos é tida como a mais espetacular das confissões e cujas repercussões poderão pôr abaixo definitivamente o edifício já condenado de nossa República.

Caso seja transformada, algum dia, em roteiro de filme, a saga dos dois irmãos Batista, vindos do interior de Goiás, poderia repetir, por outra vertente, a história de sucesso de Dois Filhos de Francisco, baseado na vida da dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano. No caso dos Batista, a história de sucesso parece se repetir, só que com um viés totalmente novo.

Chega a ser surpreendente como pessoas de pouca instrução escolar, donas de um simples açougue em Anápolis, que parecem, em algum momento, ter experimentado o lado duro da vida, tenham vindo para a capital e aqui encontrado terreno fértil para montar, em curto espaço de tempo, o que é hoje a maior empresa processadora de carnes do mundo.

Nesse caso, o terreno propício que lhes permitiu encontrar rapidamente o atalho rumo à riqueza fabulosa foi achado junto aos governos Lula e Dilma, que, por motivos para lá de pragmáticos, escancararam-lhes as portas do maior banco de fomento da América Latina, o BNDES. Com o apoio flagrante desse Banco, segundo notícias veiculadas na imprensa, o faturamento da dupla Joesley e Wesley saltou de R$ 4 bilhões, em 2006, para R$ 170 bilhões em 2016.

Campeões nacionais absolutos em aporte de recursos públicos a particulares, a JBS obviamente pagou com uma mão a ajuda preciosa que recolheu com a outra, passando a financiar milhares de políticos por este país afora. Somente em 2014, doou mais de R$ 300 milhões para campanhas eleitorais, tornando-se, isoladamente, a maior financiadora de políticos. Desse ponto, até vir  a ser o centro das atenções das autoridades judiciais, foi um pulo.

Apanhados de calças curtas, cuidaram de negociar, secretamente, um acordo de delação suspeito, em troca da liberdade total. Quando essas confissões vieram a público, os irmãos estavam longe, fora do alcance da lei. Nessa história nebulosa, o que mais chama a atenção é como dois caipiras puderam comprar, de porteira fechada, toda uma República. Vai ver que é porque nossa velha república não valia grande coisa. Arrematados por uma pechincha e de baciada, nossos políticos comportam-se agora como cupins no qual foram inoculados pesticidas muito potentes: cada um fugindo como pode.

 

A frase que foi pronunciada

“Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da

moral pública.”

Deputado. Ulysses Guimarães, sempre vivo!

 

Só números

» Pesquisa na Internet contabilizou o acesso no Twitter por assunto. As menções feitas durante o impeachment da presidente Dilma provocaram aproximadamente 100 mil mensagens pelo microblog. Empatou com o assunto Aécio Neves. Já o presidente Temer despertou a manifestação de 300 mil internautas.

 

Átimo

» Aconteceu durante aquela sessão da CAE, onde o relatório da reforma trabalhista foi dado como lido. O senador Tasso Jereissati tentava presidir os parlamentares com urbanidade. De repente, depois da fala aplaudida do senador Calheiros, o senador Romero Jucá interrompeu a ordem da fila. Com o protesto do senador Jereissati, Jucá foi rápido no gatilho. “Eu tenho a palavra porque fui citado.” Sem se conformar com o que tinha ouvido, o senador Tasso perguntou à sua volta se o senador Jucá tinha sido citado na fala de Calheiros. Enquanto tentava descobrir, Jucá disse tudo o que tinha a dizer.

 

História de Brasília

No acidente do Caravelle, o pessoal de bordo abriu, imediatamente, a portinhola da comissária e indicou o caminho que todos os passageiros deviam seguir. Atingiam o pequeno corredor da parte dianteira do avião e se jogavam, depois, pela porta de emergência. (Publicado em 28/9/1961)

A vingança do Mané Garrincha

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Com a emancipação política do Distrito Federal, ardilosamente armada por um grupo de pessoas interessadas em inaugurar aqui também um amplo balcão de negócios, como já vinha sendo praticado no restante do país, Brasília passou a integrar também o rol das unidades da Federação dilapidadas por criminosos disfarçados de representantes da população. Desde essa época e, principalmente, a partir da instalação da Câmara Legislativa, os seguidos prejuízos aos brasilienses e à cidade se acumulam ano após ano.

Fossem colocados numa balança os benefícios e prejuízos trazidos com a chamada maioridade política da capital, sem dúvida alguma, a balança penderia para o lado dos enormes malefícios que esse arranjo artificial trouxe à vida da capital. Qualquer pesquisa, a partir do fim dos anos 1980, demonstra que, com a emancipação, praticamente, a cada semestre houve pelo menos um grande escândalo de corrupção e de desvio de dinheiro público, tudo devidamente registrado pela imprensa.

Abduzida por políticos inescrupulosos de todos os matizes políticos, Brasília tem sido, desde então, negociada e retaliada, como mercadoria entre esses grupos, sempre em desfavor da população. A emancipação política foi um grande negócio apenas para os homens de negócio, amasiados no Legislativo local e blindados com a prerrogativa de foro.

A inovação trazida pela arquitetura moderna da capital, infelizmente, não foi estendida ao modo de administrar a cidade. Repetimos, assim, os mesmos erros históricos de outras unidades da Federação de confiar a gestão dos recursos públicos a grupos políticos, cujo o único compromisso é consigo mesmo e com seu entorno imediato.

Sob o falso argumento de que sem eles não pode haver democracia, os políticos da capital têm zombado por anos da credulidade dos eleitores, enquanto cuidam de engordar de forma acelerada o próprio patrimônio. Com a prisão agora de mais nove figurões da política local, por causa do superfaturamento do Estádio Mané Garrincha, o que a sociedade candanga assiste é à continuação de cenas de crimes, cujo os personagens principais continuam sendo os eleitos pela sociedade para cuidar da cidade.

A bem da verdade, qualquer grande obra pública realizada por essa turma, em todo tempo e lugar, não resistirá a nenhuma apuração feita com lentes cristalinas. O problema ganha ainda mais gravidade quando se verifica que órgãos de fiscalização, como o Tribunal de Contas do Distrito Federal, durante todos esses anos, não foram capazes de impedir a repetição dos desmandos perdulários.

Agindo como anexo do Legislativo e do Executivo local, o TCDF foi mais uma criação advinda da emancipação política e, como tal, tem mostrado a que veio. Caso a polícia persista na prisão de tantos políticos, vai chegar um momento em que eles só caberão em estádios gigantes tipo Mané Garrincha. Enfim, encontrarão uma destinação prática para o monstrengo de mil colunas.

A frase que foi pronunciada

“A reforma possível nesse momento do Brasil é a reforma do Mané Garrincha para prender tantos políticos e empresários.”

Dona Marina Quintino Isadora, falando alto no supermercado em perfeita sintonia com a coluna Visto, lido e ouvido

Novamente

» Hoje é dia do movimento Ocupa Brasília. A concentração começa, às 9h, no Mané Garrincha. Trânsito deve deixar marcas. É hora de se pensar em protestos mais inteligentes que tragam resultados. Para isso, o primeiro passo é a união dos brasileiros, coisa que não interessa a quem gosta de corromper.

Futuro

» Alunos da UnB desenvolvem pesquisa sobre os impactos reais do desperdício de alimentos. Essa pesquisa é feita com a produção de um documentário científico e monografia mostrando o custo da perda na produção. O trabalho foi parar no Ministério do Meio Ambiente que vai adotá-lo na mostra Circuito Tela Verde.

Proteção?

» Teor das gravações à parte, a população brasileira gostaria de saber a razão de os diretores da JBS estarem livres, leves e fagueiros. Quanto ao crime cometido, o que será feito?

Vergonha

» Ao ler o relatório, Lindbergh Farias avançou para cima de Ricardo Ferraço. Farias também se desentendeu com Ataídes Oliveira. Um cordão humano foi feito para impedir a leitura da Reforma da Previdência. Dessa vez Ataídes e Randolfe quase chegaram às vias de fato. Otto Alencar segurou os exaltados. O que parece um diário de diretoria de primário é uma descrição do comportamento dos representantes dos brasileiros.

História de Brasília

O fogo, a essa altura, já dominava as duas turbinas e os tanques de querosene. Os passageiros, em pânico, sentiram, entretanto, a gravidade do momento, porque, no instante de tocar o solo, o aparelho caiu pesadamente, dando tremendo baque. Subiu um pouco e caiu, depois, para se arrastar, deixando a labareda iluminando a parte utilizada da pista. (Publicado em 28/9/1961)

Balança, mas não cai

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Num ponto muitos concordam: as múltiplas relações criminosas costuradas nos últimos anos entre políticos e empresários, que vão sendo reveladas em estrepitosos capítulos a cada delação, adquiriram tal volume de enredo e situações inusitadas que ultrapassaram, inclusive, os estilos ficcionais e de realidade fantástica, atingindo uma categoria da literatura que ainda está por ser inventada.

Enquanto o novo estilo não surge para narrar com precisão essa fase extremamente tumultuada da nossa história recente, toda a trama, por sua riqueza de detalhes e mesmo pela forma ridícula com que os personagens são identificados pelos delatores, deixa exposto um vastíssimo material para compor não uma saga, mas um compêndio de sátiras e troças, descrevendo de A a Z as muitas mazelas de nossa República tão vilipendiada, o completo desprezo pelos eleitores.

Somente ao humor, com sua mordacidade e acidez aguda, é dada a faculdade de adentrar a fundo nessa história, retratando e reduzindo esses personagens e situações àquilo que realmente são: seres mesquinhos, que mercadejam a ordem moral, vendilhões, dispostos às mais degradantes tarefas por um punhado de dinheiro.

Não serão com análises formais, acadêmicas e sisudas que poderemos entender o verdadeiro espírito dessa fase, uma vez que os personagens que compõe o enredo, em nenhum momento, demonstraram seriedade em suas ações. Na maioria das situações, tanto nas negações como nas confissões, o que se tem é o burlesco e a zombaria. Todos têm estampado nas expressões que o crime valeu a pena. Milhões de reais e de dólares ficarão escondidos e à disposição para retorno da cadeia.

Tudo é tragicamente cômico. A começar pelos apelidos dados aos políticos pelos empresários campeões. Para descrever, com riqueza de detalhes, toda essa extravagância de casos, faz muita falta a argúcia de escritores como Max Nunes, Paulo Gracindo, Millôr Fernandes, Carlos Manga, Lauro Borges, Guimarães Rosa, Castro Barbosa e muitos outros de saudosa memória. Somente filósofos dessa vertente do saber poderiam, agora, decifrar o momento brasileiro.

O “Edifício Balança, Mas Não Cai” de nossa República se mostra tão impressionantemente atual nas suas diversas situaçõesque a reedição desse sucesso dos anos 1950 pareceria a continuidade de um Brasil que nunca aprendeu o que é ser sério. A PRK-30, que ia ao ar nos anos 1940 pela Rádio Nacional, poderia muito bem compor a Hora do Brasil, que ninguém sentiria a menor diferença. Não à toa que sempre fomos ridicularizados como país pouco sério pelo restante do planeta. País onde o auge do protesto é bater panelas na janela de casa.

Mesmo o povo, que diz não ver graça alguma nessas situações, vota, a cada eleição, para ter de volta ao palco esses mesmos personagens. O Brasil é uma grande chanchada. Só que no atual caso, a risada final parece vir de algum ponto no Sul do país. É uma risada que mostra todos os dentes de uma boca enorme, mas, se observada mais de perto, é formada por grades de uma prisão à espera de engolir esses bufões.

 

A frase que não foi pronunciada

“O Brasil é uma Ferrari dirigida por macacos.”

Na Internet

 

Mais essa

» Na França investigações sobre pagamentos ocultos de contratos de armamentos entre França e Brasil em 2009. O traçado das investigações está pronto. Apontam o fornecimento de cinco submarinos, inclusive, um nuclear. O contrato assinado por Lula e Sarkosy foi faraônico: 6,7 bilhões de euros (quase R$ 22,9 bilhões) entre a fabricante naval francesa DCNS e o Brasil.

 

Adiante

» Enquanto as questões políticas aquecem nos bastidores, o Senado discute na Comissão de Relações Exteriores o livre comércio entre os países. Os debates quinzenais gravitam sobre a ordem internacional, “Erguer ou Estender pontes?

 

Inclusão

» Até 26 de maio, os eleitores, numa parceria entre o Instituto dos Cegos e o Tribunal Eleitoral, participam do recadastramento biométrico durante a Semana de Inclusão. Até agora, 1.600 eleitores deficientes foram registrados no Cadastro da Justiça Eleitoral.

 

Sem solução

» A JBS pagou propina a 1.829 candidatos de 28 partidos, segundo o diretor Ricardo Saud. As doações ilícitas foram de quase R$ 600 milhões. O espectro da corrupção é de largo alcance. Só uma reforma política para resolver. Mas, sem o apoio de 1.829 candidatos de 28 partidos, será difícil aprovar.

 

História de Brasília

O “Caravelle” deslizou mais ou menos uns duzentos metros e, antes de atingir a curva de conversão para o pátio de manobras, parou fora da pista. (Publicado em 28/9/1961)

Desculpas insinceras

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Na selva inóspita em que se encontram embrenhados empresários e políticos, o verdadeiro valor ético de uma desculpa vai depender diretamente do tamanho da punição que se anuncia à frente. Neste caso, os pedidos de desculpas divulgados em nota pela imprensa, tanto da Odebrecht como da JBS , possuem um valor, digamos, de cunho empresarial, já que, por uma questão de garantia e preservação de espaços no mercado, é preciso se render a certos ritos formais de praxe.

É, mais ou menos, como os cartões de Natal enviados por políticos, em que até a assinatura do missivista é reproduzida mecanicamente por carimbo. Por trás das formalidades e dos textos recheados de frases até tocantes como: “Assumimos aqui um compromisso público de sermos intolerantes e intransigentes com a corrupção” ou, “o que mais importa é que reconhecemos nosso envolvimento, fomos coniventes com tais práticas e não as combatemos como deveríamos”. Assim, anunciam apenas um vasto e desolado deserto de boas intenções.

Nesse caso, as desculpas soam como propaganda das empresas, em que o reconhecimento da culpa é usado como pedestal para proclamar falsos sentimentos de pesar pelos erros. Desculpas insinceras funcionam assim como verniz que mantém polida, entre o público, a imagem de bom mocismo dessas empresas. Ao fim e ao cabo, empresários desse calibre e políticos desse matiz se merecem e nasceram um para o outro.

O propalado presidencialismo de coalizão que, à primeira vista, parecia ser formado por uma composição natural e ocasional de forças políticas para o bem do país não passa de uma espécie de supermercado do Estado, onde os representantes do povo e os donos das empresas discutem o valor de cada mercadoria disposta nas estantes.

Para os eleitores traídos, fica a mágoa de que os políticos nem ao menos tiveram a consideração de pedir desculpas. Fica absolutamente patente que, com os atuais Legislativo, Executivo e Judiciário que o Brasil vai adentrar o século 21, trajando as vestes e os trejeitos do século retrasado. No capitalismo do tipo cartorial, em que a riqueza das empresas é construída à sombra do Estado, o que mais chama a atenção são os vetores em sentidos opostos: ao crescimento exponencial da riqueza e do patrimônio de empresários e políticos, corresponde o empobrecimento progressivo de largas parcelas da sociedade, prejudicadas com a subtração de oportunidades e de recursos. É graças à miséria de muitos que essa dupla de embusteiros vem, há décadas, fazendo seu pé-de-meia. Desculpem-me as exceções, mas os números que provam essa realidade estão aí para confirmar essa história da infâmia.

A frase que não foi pronunciada

“Sim! Prevarico e faço parte de uma organização que corrói o país. Mas nós não invadimos o Congresso Nacional. Chegamos aqui com o seu voto. Continuamos a contar com sua memória curta. Muito obrigado.”

Alguém anotou para pregar no espelho do banheiro até o dia das eleições

Homenagem

» Dib Francis foi laureado pela Academia Brasileira de Ciências, Artes, História e Literatura, em parceria com o Instituto Biográfico do Brasil. Auditório Honestino Guimarães do Museu Nacional, Brasília-DF.“Dedico essa honraria a todos os meus colegas, músicos, sobretudo os músicos eruditos, uma categoria nem sempre reverenciada na real medida de sua augusta dedicação”, disse o professor e pianista homenageando a classe.

Copabacana

» Por falar em piano, a Editora Multifoco lança o livro Falando de piano com Linda Bustani e Luiz Eça. Assinado pela nossa Moema Craveiro Campos. Dia 24, às 18h. Pena que dessa vez será na Av. Atlântica 3744, no Bar Garota de Copacabana.

Lembranças

» Clarisse Rocha Ribeiro deu uma declaração pelo Facebook sobre o colégio Indi que converge com a opinião de pais que tiveram filhos estudando por lá várias décadas atrás. A diferença do Indi para as outras escolas é que a criançada se sente em casa enquanto estuda. Quando os pais buscam, sempre tem o que fazer para aproveitar mais um pouquinho dos amigos e dos professores.

Pela Paraíba

» Pelas linhas de Josué Sylvestre, no livro Meio século de vida pública sem mandato ou com?, o tempo passa sem que se perceba. As histórias de Campina Grande e da Paraíba, entre 1950-1985, o volume 1, conta o escriba que Alouízio Afonso Campos, era advogado, economista, administrador, político e milionário. No início da jornada pela disputa de voto, Aluízio delineou um discurso certeiro que agradava toda a gente. Repetia de cidade em cidade. Os aplausos eram sempre efusivos. João Agripino, também na lida, quando chegou com Josué em Guarabira, pediu para falar primeiro. Depois do discurso reaproveitado pelo amigo Aluízio, saiu-se com essa: Mas mago do Catolé, você não quer gastar nem ideias?

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

O avião apenas tocara no solo (18:27 horas) e uma enorme explosão se ouviu. A seguir, uma labareda vermelha dominou a cauda do aparelho, por onde deveriam descer os passageiros. (Publicado em 28/09/1961)