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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Não é surpresa para ninguém que as relações entre o Brasil e Argentina têm sido tensas nos últimos meses, especialmente sob o governo de esquerda de Lula e do presidente direitista e economista argentino, Javier Milei. Depois das catimbas no futebol e das preferências entre o reinado de Pelé e de Maradona, as relações entre os dois países hermanos descambaram para o lado político da baixaria, com xingamentos e ofensas pessoais que não merecem aqui ser repetidas.
Desde as campanhas eleitorais, era visível para todos que, caso Milei viesse a ser eleito, as relações entre esses dois países seriam tensas desde o primeiro dia. Milei não engoliu a interferência do governo brasileiro nas eleições de seu país. Portanto, não por enquanto, há sinais de que esses desentendimentos sejam sanados, satisfatoriamente, a curto prazo.
Do ponto de vista de ambos, há uma antipatia que se estende desde motivos ideológicos a pessoais. Como os dois países têm uma estrutura política presidencial, que é quase uma monarquia, dado o poder de interferência na vida de seus povos, dificilmente haverá uma conciliação amigável. Fosse em tempos passados, essas rusgas facilmente resultariam em confronto armado, dado a animosidade de um e o caudilhismo natural do outro.
Não é à toa que dizem que a política é sempre a fronteira entre a diplomacia e a guerra. Tendo em vista que os dois mandatários não irão estabelecer nenhuma outra relação mais íntima, restam aos países manter apenas conversações no âmbito dos Estados, sobretudo naquilo que interessam a ambos, que é o comércio bilateral.
A Argentina é, atualmente, o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Existe ainda um perigo que precisa ser sanado caso a Argentina, por qualquer motivo, resolva se afastar do Mercosul, como alguns sinais indicam. O Mercosul, sob a coordenação de alguns governos, passou a dar maiores preferências às relações do tipo ideológicas, com a insistência declarada para que países autocráticos tenham os mesmos direitos que outros países filiados ao bloco. Mesmo a entrada da Bolívia no bloco, patrocinada pelo Brasil, desagradou o governo argentino.
No campo dos embates pessoais, o jogo está 1×1. Lula não foi à posse de Milei. Milei veio ao Brasil e não se reuniu com Lula. Nos dois países, as torcidas, tanto da direita quanto da esquerda, são para que essas rusgas continuem e até escalem para um nível mais preocupante. São como duas torcidas em dois países que se tornaram polarizados politicamente.
O Itamaraty chamou o embaixador em Buenos Aires para conversações — talvez, na tentativa de mostrar ao governo argentino que as relações bilaterais estão se degradando. Milei, por sua vez, tem preocupações mais internas e parece não ter dado corda para esse fato. Existe, é claro, a possibilidade de as relações pessoais entre Lula e Milei caírem para segundo plano quando as relações econômicas passarem a pesar mais nessa balança.
Há pressão dos empresários para que nada nem ninguém venha a se pôr como obstáculo nas relações entre os dois Estados. Interessante notar que nem o Brasil nem a Argentina têm, no momento, uma situação econômica confortável. Nesse caso, ambos os países poderiam fazer um esforço conjunto na busca de um melhor entendimento, visando o que é importante nas relações entre eles: uma parceria econômica saudável e vantajosa para ambos.
Observa-se que muitos países que não mantêm relações políticas em alto nível são capazes de comercializar entre si sem maiores problemas. A balança comercial não tem lado político. Tende a ser favorável sempre aos países pragmáticos. Amor e economia não andam de mãos dadas. Se existe amor nesse caso, é sempre um amor interesseiro. Nessa pendenga, ficar de um lado ou de outro, mesmo a despeito de nacionalismos infantis, pouco adianta, embora, a essa altura dos acontecimentos, já se saiba que a diferença fundamental entre o Brasil e a Argentina são que aquele país, com a posse do Milei, segue no caminho certo, com corte de gastos públicos, cortes de mordomias, privatizações, enxugamento rigoroso da máquina do Estado, entre outras medidas corretas.
O Brasil, infelizmente, segue no rumo oposto, com irresponsabilidade fiscal, sem projetos, com altíssima carga tributária e tudo o mais, sinalizando que, em um breve espaço de tempo, estaremos piores que nossos vizinhos. Mais pobres e, não por isso, menos orgulhosos de nossas escolhas erradas. Fosse uma briga de comadres, poderíamos dizer que estamos com inveja dos hermanos.
A frase que foi pronunciada:
“No mundo emergente de conflitos étnicos e choques civilizacionais, a crença ocidental na universalidade da cultura ocidental sofre de três problemas: é falsa, é imoral e é perigosa.”
Samuel P. Huntington
História de Brasília
Diversos empreiteiros estão reclamando contra a generosidade dos médicos do IAPI que estão concedendo licença demais a trabalhadores. A porcentagem de empregados pagos pelo empregador é alarmante, e as licenças quase nunca passam dos 15 dias que devem ser pagos pela firma. (Publicada em 11/4/1962)
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2026 está logo ali. Ano que vem, começa a dança das cadeiras, com os candidatos e partidos armando a cena para as próximas eleições. O cenário político é de polarização extrema, já que a política nesses últimos anos passou a ser o único lugar do país e do mundo onde o vale-tudo vale tudo mesmo.
Diferentemente dos políticos, a população enxerga toda essa movimentação como um ensaio para a reapresentação de uma peça que nunca mudou de enredo. Os candidatos, dentro e fora do poder, aguardam para ver quem será o maior puxador de votos da temporada para alinharem-se a ele. No nosso caso, nem mesmo toda a polarização política é capaz de impedir que os candidatos mudem de ponto cardeal, indo de Norte para Sul ou da esquerda para direita, se isso lhes for favorável.
Lembrando que uma grande bancada parlamentar foi eleita no último pleito sob a sombra da direita, prometendo mundos e fundos aos eleitores. Na hora do vamos ver, a distribuição das emendas, na forma de dinheiro vivo e sem muito controle, falou mais alto, e a maioria votou mesmo contra os interesses da esquerda. Nossos políticos se orientam pelo faro. A questão é saber de que lado estão os recursos. Fossem arrancadas pena por pena de nossos políticos, ainda assim eles iriam ciscar na mão cheia de milho de seu algoz.
O aparecimento de uma nova direita, três décadas depois da redemocratização, acirrou os ânimos eleitorais, não por motivos puramente ideológicos, mas em decorrência de que esse fato gerou, de uma hora para outra, uma extraordinária, aglutinadora e antagônica força política, capaz de fazer frente aos antigos partidos.
A necessidade de novas ideias e de um novo modo de atuação baseado na ética pública continua atraente para quem paga impostos. A partir de 2018, com o surgimento da direita, logo batizada de extrema direita pelos seus oponentes, o restante dos partidos, que antes não tinham de fazer grandes esforços para se alinhar de um lado ou de outro, descobriram que havia no seio da sociedade brasileira uma imensa e vasta região habitada por uma população mais identificada com os ideais direitistas e ferrenhamente antagônica aos princípios da esquerda.
O Brasil conservador, aquele que muitos insistem em manter no silêncio e sob ofensas, finalmente despertou. Somente por esse acontecimento, o candidato que encarnava essa posição, e que se saiu vitorioso naquele pleito, mesmo a despeito de seu governo e da pandemia, que entrou nessa nova equação para atrapalhar, entrou para a História. Fez surgir uma força política há muito adormecida e que era capaz de acabar com o teatro das tesouras. Da mesma forma, independentemente daquele personagem outsider, novo cenário político foi posto à disposição da nação.
No Brasil, essa polarização tem sido evidente desde 2018, depois do segundo governo da presidenta Dilma e dos efeitos da Operação Lava-Jato. As eleições de 2022 foram acirradas, com 50,9% elegendo o candidato da esquerda e 49,1% escolhendo o candidato da direita. Desse modo, o ressurgimento da direita, depois de décadas, foi obra do desastroso governo da ex-presidente Dilma, da Operação Lava-Jato e da visão oportuna de Bolsonaro, que vislumbrou todo aquele cenário.
Junte-se a esses autores, o fato de que a introdução da tecnologia nesses acontecimentos criou uma tremenda onda midiática, em que tudo era mostrado em tempo real e em cores, nas telas de televisão e nos celulares, mantendo o público antenado em tudo o que se passava. De certa forma, a direita em nosso país é filha do caos político. E como uma boa filha rebelde, renega tudo o que é a “gauche”. As eleições municipais de 2026 serão um bom teste para essa nova força, que já surgiu grande.
A frase que foi pronunciada:
“Um comunista nunca deve ser opinativo ou dominador, pensando que ele é bom em tudo enquanto os outros não são bons em nada; ele nunca deve se fechar em seu pequeno quarto, ou se gabar e se gabar e dominar os outros.”
Mao Tse Tung, “Discurso na Assembleia de Representantes da Região da Fronteira ShensiKansu-Ningsia” (21 de novembro de 1941)
História de Brasília
É bom que a NOVACAP saiba que os japoneses da W-4 estão atuando no “Gavião”. O tomate que eles venderam ontem a 96 cruzeiros o quilo custa 43 no mercado. Aliás, o “Gavião” está sem sorte. Deu para faltar água, que é uma coisa horrível. Até isto, que nunca havia acontecido em Brasília. (Publicada em 11.4.1962)
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Um fato que ninguém pode negar, é que a humanidade evoluiu bastante ao longo dos séculos, isso em todas as áreas do conhecimento, principalmente após a chamada Revolução Industrial, quando passou a substituir a força humana, pela força das máquinas. Com isso multiplicou a produção, encurtou distâncias, transferindo boa parte da população do campo para as cidades.
Nenhuma outra revolução foi capaz de trazer tanto dinamismo e transformação no modo como as pessoas se relacionavam com o planeta. Infelizmente o progresso trazido pela introdução das máquinas no cotidiano humano, se mostrou, ao longo dos séculos, incapaz de também de resolver alguns problemas gerados pelo fenômeno da superprodução e do excesso de bens de consumo descartados na forma de lixo. É possível verificar que muitas comunidades rurais, distantes dos centros urbanos, ainda hoje sabem muito bem como lidar com o excesso de produtos e com os resíduos para descarte.
Restos de comida vão para as galinhas, para os porcos ou para as composteiras para virarem adubos. Roupas usadas vão para os menores ou viram pano de chão e assim por diante, nada é desperdiçado. Nesses locais a produção de lixo é ínfima, existindo uma espécie de economia circular, com consumo moderado com um máximo de reaproveitamento dos bens.
O homem urbano atual, no entanto, parece ter esquecido dessas lições, vindas do passado, produzindo cada vez mais e consumindo como nunca. Com isso produz também uma quantidade espantosa de lixo diariamente. Cada brasileiro gera, em média, 1 kg de lixo. Ao final de um ano cada brasileiro terá gerado cerca de 343 quilos de lixo. Multiplicando essa quantidade de resíduos pelo número de habitantes em nosso país que é hoje de 218 milhões, temos que por dia, somente se referindo a produção individual, temos 218 milhões de quilos ou 218 mil toneladas de lixo. Ao fim de um ano a população brasileira terá produzido 74.774.000 toneladas de lixo.
No Brasil, atualmente são cerca de 3 mil lixões e aterros à céu aberto. A promessa de acabar com essas montanhas de lixo, incrivelmente poluentes, conforme estabelecida pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares) ficou no papel. O problema é que elas estão presentes em todas as regiões do país, muitas delas, cerca de 39% depositadas em áreas inadequadas do ponto de vista ecológico. Isso significa que estão poluindo os cursos d’água superficiais e subterrâneos, contaminando o solo e envenenando homens e animais.
Mais de trinta milhões de toneladas de lixo vão parar nesses aterros improvisados que não param de crescer. No mundo a geração atual lixo gira em torno de 2,1 bilhões de toneladas, podendo atingir a marca de 3,8 bilhões de toneladas em 2050, uma marca impossível de ser suportada pelo planeta.
Apesar de todos os problemas gerado pela super produção de resíduos sólido, a quantidade de lixo em todo o planeta continua a aumentar. A questão aqui é que a reciclagem de resíduos sólidos em nosso país e no restante do mundo ainda é muito pequena, e não resolve esse que é uma das maiores dores de cabeça para aqueles que pensam em gestão de cidades.
Em 2050 o Brasil, a continuar sem uma política adequada de coleta e destinação de lixo, estará gerando cerca de 120 milhões de toneladas de resíduos sólidos, o que é uma quantidade bem acima dos padrões mínimos aceitáveis. O problema é tão sério mundo afora, que existem hoje países que exportam boa parte de seu lixo para outros cantos do mundo, em troca de pagamento para cada tonelada aceita. Essa situação escala para a catástrofe quando se verifica que cerca de 2,7 bilhões de pessoas em todo o mundo não possuem acesso aos serviços básicos de limpeza urbana e coleta de lixo.
Em nosso país, uma em cada dez pessoas não possui esses serviços, descartando os resíduos sólidos na beira dos cursos de água ou em áreas impróprias. Quanto mais produção, mais consumo e mais lixo. O que se sabe é que a humanidade está rapidamente alcançando um ponto máximo e extremo na produção de lixo. A partir desse patamar, teremos que passar a viver literalmente sobre o lixo e em função dele.
A frase que foi pronunciada:
“Deve ser o nosso jeito de sobreviver – não comendo lixo concreto, mas engolindo esse lixo moral e fingindo que está tudo bem.”
Lya Luft
História de Brasília
O regime parlamentarista trouxe isto: ontem, foi protestado nesta praça, um título do “Comité Volte JK 65”… (Publicada em 11.04.1962)
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Caso venha a ser aprovada também no Senado com o texto original enviado pela Câmara dos Deputados, a Reforma Tributária irá colocar o contribuinte brasileiro entre duas opções. De um lado, menos burocracia em impostos e contribuições. De outro, uma elevação nas alíquotas sem precedentes na história do país. Quaisquer das duas opções, o contribuinte é quem menos tem poder para fazer sugestões nesta discussão e o que mais será impactado por uma reforma, que visa objetivamente dotar o governo federal de todos os poderes para arrecadar como nunca.
Economistas, que acompanham essa discussão, já sabem de antemão que a soma das alíquotas na Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), mais o Imposto Sobre Bens e Serviços (IBS), resultará no chamado Imposto sobre Valor Agregado (IVA), com uma alíquota unificada de 26,5%, a mais alta do mundo. Ou seja: mais de um quarto de todos os impostos e contribuições gerados no país ficarão à disposição da União, ou mais precisamente nas mãos do governo, para fazer desses recursos o que tem feito até agora, ou gastar como quiser.
Coisas como adquirir casa própria, sonho de nove em cada dez brasileiros, ficará quase impossível, já que a tributação sobre um imóvel, que hoje varia entre 6,4% até 8%, facilmente irá ultrapassar os 22%. Impostos sobre Transmissões de Bens Imóveis (ITBI), que hoje é recolhido após a escritura, será cobrado também no momento da compra e venda. Para aqueles membros do governo que acreditam que ainda é possível extrair mais impostos da população, quando se sabe que a curva de Lafer já aponta para baixo, só resta mesmo fazer chegar ao contribuinte a narrativa de que a Reforma Tributária será benéfica para as classes menos favorecida e que os ricos, finalmente irão pagar impostos. Nada mais irreal.
Na verdade, caso aprovada, vai ocorrer justamente o contrário, com os pobres pagando ainda mais impostos, já que as empresas irão repassar aos consumidores, cada centavo a mais cobrado pelo governo. Sempre que se ouve falar em reforma tributária, o que vem escondido como um sapo na viola, é o aumento de impostos. Somos os campeões mundiais tanto em carga tributária quanto em precariedade no retorno em forma de bens e serviços. Até mesmo os serviços de saneamento público, num país em que 100 milhões de pessoas não possuem tratamento de esgoto, serão altamente majorados.
Também todo esse festival de aumento de alíquotas passou batido, já que as mais de quinhentas páginas, contendo a reforma, foram lidas em minutos. Tudo isso com os deputados fazendo cara de paisagem, olhando seus celulares ou conversando entre si, absortos do que se passava. Muitos desses representantes da população votaram sem saber uma linha contida na reforma. Nem mesmo os motoristas de aplicativo ficaram de fora, sendo obrigados a pagar doravante uma alíquota de 26,5% como microempresários.
Os interesses políticos próprios e a liberação histórica de emendas no Congresso, deram oportunidade de o governo fazer o que queria com a reforma como os aumentos da gasolina, que agora terão uma prévia, assim como o gás de cozinha subirão, ainda mais forçando famílias a voltar a procurar lenha para cozinhar os alimentos.
Na visão do deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança ( ) a votação dessa matéria ocorreu assim: “Poucos minutos antes do voto, os deputados receberam o texto final da lei complementar que irá regulamentar a reforma tributária. Ninguém leu. E mesmo assim vários deputados da esquerda governista subiram ao palanque para defender o texto não lido. Os deputados de “centrão” se calaram e votaram com o governo. Resultado, a lei complementar – não lida – passou com mais de 300 votos.” Nada mais fiel, conhecendo o parlamento que temos, onde o descompromisso com os eleitores já é por demais conhecido.
Caso houvesse uma real discussão dessa reforma, com os deputados inteirados do total teor da matéria, dificilmente a Reforma Tributária teria passado na Câmara dos Deputados. Mesmo assim chega a ser impressionante que os deputados tenham dado um tiro no pé, votado uma lei que vai contra os interesses de seus próprios estados e contra seus eleitores.
Para o citado deputado, os princípios do federalismo, da subsidiariedade e da liberdade econômica foram ignorados em prol de um projeto de arrecadação sem limites, centralização e controle de todas as atividades do país. Não há o que comemorar com essa aprovação.
A frase que foi pronunciada:
“A arte de governar geralmente consiste em espoliar a maior quantidade possível de dinheiro de uma classe de cidadãos para transferir a outra.”
Voltaire (François Marie Arouet) (1694-1778)
Combatente
Fogo consumiu parte do cerrado entre a MI10 e Taquari 2. Tratava-se de uma chácara com difícil acesso para os bombeiros. Os vizinhos ficaram bastante apreensivos, mas tudo se resolveu. Uma observação feita por um combatente é que, entre as medidas contra o fumo, os incêndios à beira das estradas diminuíram visivelmente. Era hábito jogar bituca de cigarro pela janela, o que causava danos terríveis ao cerrado.
História de Brasília
A linha é para o Ceará. Podem dizer que eu estou puxando o facão para o madacaru, mas o que é fato é que a divisão de tráfego de uma empresa não deve desprestigiar as cidades que serve. E o que se vê é isto: quem quiser ir de Brasília a Fortaleza terá que viajar via Rio. Uma passagem de 36 mil cruzeiros passa a custar mais de 60 mil cruzeiros. (Publicada em 11.04.1962)
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É sabido que uma das formas de poluição que mais atentam contra a saúde humana e mais deterioram a qualidade do ambiente das cidades, é a poluição visual. Não por coincidência, as cidades que ostentam elevado índice de poluição visual, são também aquelas que apresentam os indicadores de violência mais altos, de caos urbano e de doenças de todo o tipo.
A poluição visual, sendo um fenômeno eminentemente moderno é hoje considerada como uma praga a adoecer os centros urbanos, principalmente nas cidades do terceiro mundo, e por isso se constituindo numa marca característica de cidades degradadas e sem controle.
As novas tecnologias de painéis eletrônicos, que podem ser vistas nas empenas cegas dos edifícios e em painéis espalhados em áreas de grande trânsito de pessoa e veículos, elevou a poluição visual a um status jamais visto. Hoje é impossível você caminhar pela cidade sem se deparar com essas televisões gigantescas apresentando todo o tipo de propaganda. Trata-se de uma comunicação exacerbada e cada vez mais sem controle, enfeiando as cidades e contribuindo fortemente para a degradação na qualidade de vida de seus habitantes.
Para onde quer que o indivíduo olhe, lá está um anúncio, uma placa, um poster, um banner, cartazes, pichações, fios elétricos emaranhados e todo o tipo de sujeira, lixo, entulhos a anunciar aos quatros pontos cardeais que as cidades assim como seus habitantes estão seriamente doentes. Brasília não está fora dessa praga moderna e a cada dia que passa mais e mais poluição visual é vista em nossas ruas.
No caso da área tombada pela Unesco, essa situação é por demais danosa para a população e para os brasilienses. Caso essa honraria seja revista e anulada, situação que é cada vez mais provável, a tendência é que a poluição visual que hoje já é excessiva, passe a tomar conta de todos os espaços possíveis, para o bem de poucos e para a infelicidade de muitos. De acordo com a Teoria das Janelas Quebradas, quanto mais poluição visual, mais abandono, mais degradação urbana e mais violência. Agora com o chamado Plano Diretor de Publicidade do Plano Piloto, mais uma vez Brasília, com sua área tombada corre o risco de se transformar em mais um exemplo de cidade em rápido processo de decadência. Infelizmente o grupo de trabalho encarregado que apresentar parecer sobre esse Plano é formado apenas por órgãos do GDF, como a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh), pelo Instituto Brasília Ambiental, do Metrô-DF e do Departamento de Estradas e Rodagens (DER-DF).
Caberia nessa discussão também as entidades de defesa do patrimônio, do Iphan, dos arquitetos e urbanistas e do próprio escritório representante de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, além, é claro da população.
Deixar uma questão dessa importância apenas nas mãos dos burocratas do GDF não parece ser uma boa solução. Existe hoje uma unanimidade dos arquitetos e urbanistas de que a área tombada deveria ficar totalmente livre de toda e qualquer poluição visual, seja ela publicitária ou não, seguindo o exemplo de outros sítios tombados pelo mundo afora.
A frase que foi pronunciada:
“O ar quando não é poluído, é condicionado.”
Jô Soares
Valor
Turzó Sándor, da Romênia, nos envia uma foto da cédula romena de 5 RON. Foi feita em homenagem ao músico compositor George Enescu(1881-1995) e traz figuras musicais, imagens nunca vistas antes em papel moeda. Notas de outros valores são homenagens a Nicolae Iorga (escritor e historiador), Nicolae Grigorescu (pintor), Aurel Vlaicu (engenheiro e piloto), Ion Luca Caragiale (dramaturgo), Lucian Blaga (escritor e filósofo) e Mihai Eminescu (poeta).
Tempos inocentes
Por falar em valorizar a cultura, foi em 2009 que o ministério de Juca Ferreira distribuiu panfletos pedindo apoio aos parlamentares que “votam pela cultura”. Na época, a oposição protestou afirmando que era uso indevido de dinheiro público.
Longa jornada
Foram quase 15 anos desde a primeira audiência pública na Comissão de Direitos Humanos na Câmara para chegar à políticas públicas voltadas para os autistas.
História de Brasília
Antigamente havia um “Viscount” da Vasp que saia de S. Paulo e ia até Recife. Depois, aumentara, a linha até Fortaleza. Depois, cortaram. Restabeleceram novamente, e agora cortaram outra vez. A criação de uma linha pela DAC deve ser resultado de estudos de mercado, de possibilidades, com lucro, ou uma linha de prestígio para uma emprêsa. O que passageiro não pode é ficar à mercê das empresas com a criação e os cortes constantes de linhas. (Publicada em 11.04.1962)
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Não passa um dia sequer sem que a polícia florestal e mesmo os bombeiros sejam chamados para capturar capivaras em plantações, hortas, piscinas e até dentro das casas. Os moradores da orla do Lago Paranoá são os que mais vêm sofrendo com a proliferação acelerada desses grandes roedores. E esse não é um problema que vem crescendo e tomando proporções alarmantes apenas no Distrito Federal. Em algumas regiões do país, como no interior de cidades paulistas, mineiras, goianas e de Mato Grosso, a multiplicação desses mamíferos apresenta um sério problema de saúde pública, com implicações diretas também na economia de muitos municípios.
A situação chegou a tal estágio que, em muitas localidades com grande concentração de capivaras, os terrenos, alguns com centenas de hectares, vêm progressivamente perdendo valor no mercado imobiliário. Muita gente tem deixado de comprar e vender terras em que existe a ocorrência desses roedores nas redondezas por medo dos prejuízos causados à lavoura e à criação de pequenos animais, que também são atacados.
A unidade da Embrapa Pantanal produziu um livro com todos os detalhes sobre as doenças transmitidas pelo roedor. Um perigo registrado é a febre maculosa. Os sintomas da enfermidade transmitida pelo carrapato-estrela, que pode ser transportado pelas capivaras, são dores nas articulações, apatia, perda do apetite, anemia, dor de cabeça e manchas avermelhadas na pele, que podem confundir no momento do diagnóstico.
Exames sorológicos podem não diagnosticar a doença no início dos sintomas. Há necessidade de notificação compulsória nas instâncias da vigilância epidemiológica. O atraso no diagnóstico pode trazer graves complicações, que afetam desde o sistema nervoso central até os rins, os pulmões e as lesões vasculares, podendo levar a óbito.
No Distrito Federal, a multiplicação desses animais em toda a orla do Lago preocupa não só os moradores, como todos aqueles que usam esse espelho d’água para o lazer. O problema atinge também os frequentadores dos clubes sociais situados nessa região. Além da transmissão de doenças conhecidas, esses roedores, principalmente as fêmeas com crias novas, são extremamente agressivos quando sentem a aproximação de estranhos. Por isso, é frequente a morte de cães que tentam proteger o território. Trata-se, para quem já teve a triste experiência de ser agredido, de um animal selvagem e que, dependendo da situação, pode até matar suas presas, com o poder de pressão das mordidas e o corte afiadíssimo de sua dentição.
O mais assustador é que esse problema parece crescer no sentido inverso da preocupação das autoridades responsáveis. As medidas adotadas até agora, segundo informam, se limitam à pulverização de venenos contra os carrapatos do tipo estrela e ao mapeamento das populações. Moradores de áreas em que há esses animais confessam, contudo, que nunca presenciaram qualquer dessas ações.
Para alguns biólogos que acompanham esses casos, trata-se, agora, de adotar medidas visando à castração de grande parte desses bichos antes que essa invasão ganhe proporções de uma calamidade pública.
A frase que foi pronunciada:
“O biólogo precisa ter muita cautela nas explicações com abordagens evolutivas. A romantização da complexidade da vida abre brechas para a Teoria do Design Inteligente. É necessário entendermos que as mutações nem sempre são ‘inteligentes’ e que as mesmas podem ter alternativas mais eficazes.”
Gabriel Stive
Não efetiva
Ainda em 2017, o plenário do Senado aprovava uma lei que modificava a Lei da Acessibilidade, criando a obrigação de que pelo menos 5% dos brinquedos de parques públicos fossem destinados a crianças com mobilidade reduzida. Nem as crianças com 100% de mobilidade conseguem ter um parque decente com areia nova, brinquedos inteiros e conservados ou mesmo cerca no parquinho.
Mau cheiro, bons negócios
Cada vez mais avançada, a tecnologia no campo garante que uma propriedade com 800 suínos seja capaz de produzir energia para 25 casas a partir do biogás dos dejetos dos animais. Pedro Colombari foi o primeiro a fazer esse tipo de investimento. O projeto GEF Biogás Brasil foi parar nas Nações Unidas para Desenvolvimento Industrial.
História de Brasília
A carne dos dois supermercados, ontem, foi totalmente devolvida. Chegou estragada, e a população ficou sem abastecimento. (Publicada em 10/4/1962)
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Somente os sábios, por natureza, são capazes de enxergar o óbvio. Não se sabe a razão. Talvez, pelo fato de o óbvio se situar demasiadamente próximo ao nariz, o que faz com que o indivíduo perca a visão do todo e passe a não enxergar o que está à sua frente. Ademais, é preciso entender preliminarmente um conceito muito banal e nem por muito importante. A coisa toda se resume em saber distinguir as noções entre enxergar e ver.
Você pode residir por décadas na mesma rua, vendo o que se passa nesse local, dia após dia e, simplesmente, não conhecer essa rua. Basta uma mudança no ângulo da visão, e tudo muda de figura. Um dia, sem querer, você descobre novos detalhes que nunca tinha reparado. Por isso, ver a rua não significa conhecer a rua.
Por outro lado, aqueles que têm a capacidade de enxergar a rua no seu todo são capazes de conhecê-la com mais exatidão. Não por outra razão, o verbo enxergar traduz o sentido de, pelo uso da visão, prestar atenção e pressentir o que está ali disposto.
Essa capacidade, oferecida pelo cérebro humano, de identificar o que se enxerga deveria ser a mais importante ferramenta utilizada por aqueles que têm a responsabilidade de governar. Infelizmente, é o que tem faltado aos nossos governos. O que se nota é que os governos veem muito, mas enxergam pouco.
Sobre esse ponto, poderíamos preencher uma biblioteca com exemplos. Mas, ficando apenas no que se refere às relações entre o Brasil e China, uma coisa é certa: é preciso aperfeiçoar muito ainda a capacidade de o governo brasileiro enxergar a China para dar prosseguimento mais adequado e prudente a essa relação.
Oficialmente, as relações entre os dois países começaram em 1974, ainda durante a ditadura militar no Brasil, quando o país reconheceu a República Popular da China (RPC) em vez de Taiwan. O governo brasileiro adotou, naquela época, uma política externa baseada no que era chamado de “pragmatismo responsável”, buscando autonomia econômica externa por meio da diversificação de relações internacionais.
Em 2004, o Brasil, então governado pelo atual presidente, reconheceu a China como uma economia de mercado, o que, naquela ocasião, como agora, não corresponde à realidade, dado que aquele país ainda estimula sua economia interna com base em interesses estritamente estratégicos e políticos, com vistas a se tornar não um parceiro econômico fiel, mas um forte controlador dos mercados internacionais.
Todo aquele reconhecimento com base no que não era a realidade visível foi feito sem enxergar devidamente o parceiro extra continental. Pior, essa aproximação também se dava, do lado de cá, apenas por motivos políticos e ideológicos. A diferença a partir do ponto de vista desses dois países é que, enquanto o Brasil via na China uma alternativa ao Irmão do Norte (Estados Unidos), a China enxergava o Brasil não como um parceiro, mas como um trampolim para dominar economicamente também o país.
Falar, como naquela ocasião, em relação estratégica, referindo-se a um país que está do outro lado do mundo, não passou de delírio. Por sua vez, ainda na solenidade que selava a aliança, o então presidente Hu Jintao deixava solto no ar as pretensões quanto à união, ao afirmar que aquela relação estratégica era para valer, sendo o Brasil uma prioridade dentro dos planos chineses de entrar definitivamente no continente americano pelo sul. “Essa postura do Brasil vai, certamente, criar condições para uma relação estratégica muito mais rica”, discursou. Esse “muito mais rico” queria também dizer “muito além do Brasil”.
O Brasil precisa adquirir um papel como parceiro da China mais importante do que o atual, baseado em segurança alimentar e energética para os chineses, se transformando não em uma ponte para que a China atinja os Estados Unidos. É preciso sofisticar essas relações, indo além do comércio de produtos in natura. Mas isso só será possível quando o Brasil enxergar o tipo de parceiro que atraiu para si e quais consequências dessa parceria a longo prazo.
É preciso saber ainda o trivial — ou seja, quais consequências virão. Infelizmente, o pragmatismo utilizado na primeira aproximação com aquele país do Oriente perdeu-se com o tempo, sendo substituído por um voluntarismo político que, como todos sabem, não rende frutos econômicos.
A frase que foi pronunciada:
“Como outros países no mundo, a China deve defender a própria soberania, integridade territorial e interesses de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, estamos dispostos a lidar adequadamente com diferenças e desacordos nas relações de Estado para Estado.”
Hu Jintao
História de Brasília
A Rádio Educadora de Brasília bem que podia dar a hora certa. Seria uma ajuda aos ouvintes, que não são poucos. (Publicada em 10/04/1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Em matéria publicada no Podcast do nosso Correio Braziliense jornal no dia 03/07/2024, sob o título: “PPCUB – Um grande risco à qualidade de vida”, a arquiteta e urbanista Vera Ramos, integrante do Instituto Histórico e Geográfico do DF, alertou para o grande risco de Brasília vir a perder o prestigioso título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) em 1987.
Não é pouca coisa, já que se trata da maior área tombada do mundo, com 112,5 km², talvez, por isso mesmo, tenha sido tornada alvo constante de todo o tipo de especulação imobiliária, por parte de políticos e empreiteiros locais ao longo de toda a sua existência. Dessa vez, e de forma até impetuosa, Brasília volta a sofrer mais uma tentativa de ser desfigurada por conta do controverso e malicioso Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB), aprovado agora pela Câmara Distrital.
De acordo com Vera Ramos, muitas são as cláusulas desse Plano que colocam em risco não só a manutenção do título concedido pela Unesco, mas, sobretudo, diminuem e agridem sensivelmente a qualidade de vida dos brasilienses. De início, a urbanista lembra que o partido da cidade, ou seja, a característica fundamental (personalidade) de Brasília é que ela é uma cidade parque, sendo concebida muito em função das extensas áreas verdes que a cercam. O próprio Lúcio Costa deixou isso patente quando deixou claro em seu projeto a predominância das áreas verdes sobre as áreas construídas. Dessa forma não se pode entender ou aceitar Brasília sem suas áreas verdes.
Esse é, justamente, o ponto que deixa aqueles que nada entendem de urbanismo ou dos aspectos que levaram à concepção da capital sempre animados e prontos para, a todo o instante, propor medidas para alienar essas áreas. “O urbanismo de Brasília, ensina ela, traduz uma referência ética, que significa a predominância do interesse coletivo sobre o privado”.
Na avaliação de Vera Ramos, o PPCUB está propondo exatamente o contrário nas diversas cláusulas aprovadas, beneficiando o interesse privado. “Essa aula de ética que o urbanismo de Brasília dá para todos nós, e para as autoridades, deveria fazer parte, inclusive, de informações para o melhor entendimento desse Plano”, enfatizou a arquiteta, ao ressaltar que os bens inscritos na Unesco, como é o caso da capital, devem possuir um plano de preservação com regras claras, tudo o que o PPCUB não parece possuir.
Outro ponto que também chamou a atenção da urbanista é que, no caso do PPCUB, não houve a participação ativa da sociedade civil o que, de certa forma, torna evidente que a comunidade brasiliense desconhece o que trata o PPCUB. Outra questão destacada por Vera Ramos é quanto ao adensamento populacional trazido pelo plano ao instituir a criação de diversos novos lotes em áreas públicas. Acontece que esses lotes estão justamente situados em áreas não edificantes, ou seja são áreas previstas para ficar vazias, sem construções. É outro conceito trazido por Lúcio Costa de intercalar o cheio e o vazio, dando sentido e harmonia a ambos.
Outro ponto que para não caber na cabeça dos leigos e interesseiros de prontidão. As áreas não edificantes, assinala Vera Ramos, não são áreas ociosas pois integram a escala bucólica, prevista por LC. A arquiteta lembrou ainda que, em qualquer intervenção válida e séria, a abordagem deve ser feita a partir da escala, uma vez que esse é um dos elementos fundamentais do tombamento. Não se pode, pois, misturar setores de uma escala com outra.
Com isso, dá para entender que aqueles que redigiram o PPCUB não conheciam nem mesmo as mais básicas regras do tombamento e mesmo de urbanismo. Além disso, o PPCUB, segundo analisa, peca por falta de transparência em vários dispositivos. A questão da volumetria, que também é uma das exigências contidas no tombamento, foi abordada com maestria. Nesse sentido, o aumento de gabarito em alguns edifícios também vão contra o estabelecido no tombamento e ferem de morte o projeto de Lúcio Costa. Na opinião de Vera Ramos, o principal em toda essa celeuma e o que importa para a sociedade é discutir, de forma honesta, os reais instrumentos de preservação e valorização do patrimônio que é de todos os brasileiros, pois como ela própria ressalta: “a população é a guardiã do patrimônio.” Com essas possibilidades de Brasília vir a perder, ao mesmo tempo, o título de patrimônio cultural da humanidade e a qualidade de vida de seus habitantes é que obriga o PPCUB ser colocado a apreciação da população local por meio de um amplo e claro referendum, que apresente ponto por ponto essa proposta. A aposta dessa coluna, que sempre tomou frente em defesa de Brasília, é que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que a população aceitar esse plano maroto e cheio de más intenções.
A frase que foi pronunciada:
“Sim. A questão é polêmica, complexa e, por vezes, difícil de ser assimilada pela população.”
Leonardo Ávila, presidente do Codese sobre os alertas em relação ao tombamento
História de Brasília
A Rádio Educadora de Brasília bem que podia dar a hora certa. Seria uma ajuda aos ouvintes, que não são poucos. (Publicada em 10.04.1962)
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Em 2023, o déficit da Previdência atingiu a cifra de R$ 306 bilhões. Qualquer outro país com números negativos dessa grandeza já teria declarado falência em seu regime de aposentadorias. Na verdade, o mundo inteiro sofre com esse problema, causado sobretudo pelo envelhecimento da população mundial. No nosso caso, essa situação vem se agravando desde 2006, quando os gastos previdenciários com servidores passaram a crescer uma média de 12,5% ao ano nos mais de 5 mil municípios, 5,9% nos estados e 3,1% na União.
Para piorar essa situação, a taxa de investimentos vem caindo também. Pesquisa feita pela Folha de S. Paulo indica que, nos últimos 30 anos, as despesas previdenciárias da União saltaram de 19,2% para 51,8%. Trata-se de uma situação que já indica uma situação de falência anunciada caso outra reforma da Previdência ou alguma outra fórmula matemática de salvação não seja feita com a máxima urgência.
Esse problema poderia ser amenizado caso houvesse investimento público e privado e uma onda seguida de superavit nas contas do governo. Tudo o que não ocorre atualmente. Os gastos obrigatórios do governo com assistência social, educação e saúde só têm aumentado nesses últimos anos. Não existe conta no governo que esteja dentro de parâmetros positivos.
A fuga de capitais e o retraimento do setor privado interno contribuem, cada um a seu modo, para piorar a situação da Previdência. De 1980 a 2022, a taxa de investimento público em infraestrutura em nosso país despencou de 5,1% para 0,6% do Produto Interno Bruto. Colocada diante das contas públicas, o que se pode verificar é que os R$ 6 trilhões de deficit da Previdência correspondem a mais de 93% da dívida líquida do setor público.
Para aqueles que estão, no dia a dia, envolvidos nessa questão quase insolúvel, uma saída mais sensata, mas nem um pouco indolor, seria acabar com as surreais disparidades de salários pagos pela Previdência, trazendo esses números para um patamar mais condizente não só com a realidade econômica do país, mas com a realidade financeira da própria Previdência. Existem ainda outros problemas a serem resolvidos, como o grande número de novos benefícios, que cresce sem parar todos os anos.
O governo, enredado também em sérios deficits nas contas públicas, pouco pode fazer. Primeiro, porque não conta com uma maioria folgada dentro do Congresso. Depois, porque foi ele mesmo que cuidou, de forma populista, de desmantelar as reformas feitas por governos passados. A essa altura dos acontecimentos, o que todos já sabem e aguardam é que, nas próximas décadas, o rombo da Previdência estará na casa dos trilhões de reais.
Analistas entendem que o rombo da Previdência possa ser ainda maior do que o estimado, já que o governo tem usado sistematicamente projeções para lá de otimistas com relação ao crescimento do PIB. Bastaria ao atual governo reconhecer que as mudanças feitas na Previdência em 2019 estavam no rumo correto. Assim como estavam corretas as intervenções feitas pelo ex-ministro da economia Paulo Guedes, que, naquela ocasião e em decorrência do saneamento das contas públicas, estimava que o rombo na Previdência teria uma redução entre R$ 800 bilhões e R$ 1,07 trilhão no espaço de 10 anos.
Os próprios economistas já apontavam que, no fim de 2022, a economia de recursos com a reforma feita na Previdência entre 2020 e 2022 havia atingido um valor extraordinário, em torno de R$ 156,1 bilhões. O que o atual governo tem feito é seguir a mesma fórmula que faliu a Previdência durante as gestões petistas, deixando esse legado negativo para os próximos mandatários.
A frase que foi pronunciada:
“Quando o establishment perde a decência, a mudança é inevitável.”
Paulo Guedes
Para melhor
Há estudos, no Ministério do Planejamento, para ampliar o plano de saúde de funcionários públicos para a Assefaz. Tem muita gente sorrindo com essa mudança. Principalmente os beneficiários.
Legislativo
O jogo da democracia. Está no forno, um jogo sobre questões políticas e eleitorais que promete esquentar os ânimos.
Começo
Já são várias as linhas de ônibus que não empregam trocadores. Como grande parte do mundo, viagem interurbana apenas com cartão. As opiniões se dividem, mas é o futuro.
História de Brasília
Veja-se que há condições de compras muito melhores do que se fosse construir, e há a vantagem de já receber os apartamentos prontos. A Novacap fez um excelente negócio com o edifício da Sousenge, e o exemplo poderia frutificar, para estimular novas construções. (Publicada em 10/4/1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Um fenômeno dos tempos atuais que tem chamado muito a atenção de psicólogos e mesmo de áreas ligadas à antropologia e à sociologia tem deixado em estado de choque não apenas os pais, mas também muitos setores da sociedade e, sobretudo, dentro do governo e da política. Trata-se da chamada síndrome do imperador.
Diagnosticada nos fins do século 20 por psiquiatras europeus e que, em sua origem, foi observada apenas no comportamento voluntarioso de certas crianças dentro do círculo familiar, essa síndrome decorre, basicamente, do comportamento narcísico dos pais que, por meio de uma postura “neurótica” e, de certa forma, doentia, passam a acreditar na ideia de que têm a obrigação de fazer seus filhos felizes a qualquer custo. Com isso, constroem um mundo em torno da criança em que a frustração ou quaisquer tipos de obstáculos da vida desaparecem como por um passe de mágica. Dessa maneira, os pais vão dando vida aos pequenos tiranos, impedidos de crescer e de sentir as múltiplas contrariedades reais apresentadas pela vida.
Esses pequeninos não são capazes de esperar, criar, negociar, ceder ou se frustrar. Da família, que é a célula da sociedade, esses “adultos mirins” saem e vêm compor muitos setores da vida adulta, inclusive dentro do Estado e do governo. E é aí que o perigo mora. É verdade que ainda são muito incipientes as pesquisas que indicam, dentro de parâmetros científicos, que essas e outras características dessa síndrome estão presentes em indivíduos com relevantes cargos ou funções dentro dos governos. Não só no Brasil, mas em muitos outros países na atualidade.
Ocorre, no entanto, que esse comportamento exótico tem sido observado com frequência cada vez maior nas atitudes e mesmo na condução de assuntos de grande importância para toda a sociedade, e não raro culminam em atitudes que deixam transparecer sinais de que se tratam de adultos com comportamento infantil e birrento, que não admitem contestações, são intransigentes e não cedem a argumentos mesmo quando estão diante de fatos indiscutíveis.
Em alguns casos, quando alçados a posições em que lhes permitem confeccionar ou executar leis, não se intimidam em criá-las ou impô-las, visando, objetivamente, dar proeminência a si e aos seus grupos de apoio.
Tem sido cada vez mais comum associar o comportamento de certos políticos com a síndrome do imperador. Um apanhado mais atento na biografia de algumas dessas destacadas autoridades da atualidade revela que muitas dessas lideranças que estão conduzindo os destinos de nações inteiras apresentavam, desde a infância, características fortes e marcantes que compõem o perfil do indivíduo com a síndrome do imperador.
Isso é um problema evidente dentro do mundo político, embora se saiba, desde a fundação do Estado, que o poder político se baseia na posse dos instrumentos com os quais se exerce não apenas a força física, mas as vontades e os humores dos mandatários.
Não é por outro motivo que muitas prioridades da sociedade passam a ser subordinadas às prioridades do grupo dominante e intransigente. Assim é que esses “imperadores” começam a reivindicar também o monopólio da força, dentro de princípios de relações antagônicas que reduzem o Estado ao choque de amigos contra inimigos, como num jogo de disputa infantil. A política para esses novos imperadores se resume a uma guerra constante.
Com isso, a própria atividade política perde seu mais alto e maduro objetivo: o espírito republicano. O pior é que a ausência de um comportamento equilibrado passa a ter influência negativa sobre a sociedade, já que a ética da vida pessoal passa a se estender à ética do Estado. De fato, parece que estamos vivendo em um mundo cada vez mais infantilizado, e isso é perigoso, já que o bem comum passa a ficar em segundo plano, prevalecendo tão somente o desejo do poder desses imperadores modernos.
A frase que foi pronunciada:
“Leitura, antes de mais nada, é estímulo, é exemplo.”
Ruth Rocha
Estranho
Incompreensível que uma ambulância com placa que não seja do DF seja multada por usar a via BRT. Ambulância leva pacientes de emergência. É preciso revisar esse estatuto.
Condenação
Está a caminho da Presidência, um texto de projeto de lei que condena o agressor sexual a pagar um ressarcimento à vítima, como parte da condenação. O texto passou pela Câmara dos Deputados, segue para o Senado e a última instância para análise é a Presidência da República.
História de Brasília
Não possuírem, até hoje, sequer um lugar comum para morar, é um absurdo. Não há apartamentos, e aqui está uma sugestão para o Cel. Dagoberto. Há diversos prédios particulares construídos, prontos, e que não foram vendidos. Por que não adquirir esses apartamentos de particulares e alugar aos funcionários? (Publicado em 10/4/1962)