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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Para um país que não consegue, sequer, debelar o crime organizado, que cresce a cada ano se infiltrando na máquina do Estado, a liberação dos jogos de azar vem para complicar enormemente o problema da criminalidade, facilitando a lavagem de dinheiro e favorecendo a práticas delituosas. Como é de conhecimento da população brasileira, que está cada vez mais desprotegida e entregue à própria sorte. A expansão das organizações do crime dentro do Estado vai sendo revelada dia a dia, como é o caso da exploração de postos de combustível, transporte urbano e outras modalidades, todas voltadas para dar aparência legal ao dinheiro dessas organizações. Pior é que o crime organizado não se contenta apenas com esses negócios aparentes e já investem pesado no financiamento de candidatos a cargos eletivos por todo o país.
A ideia era revogar importantes trechos da Lei de 1946 para liberar bingos, cassinos, jogo do bicho e apostas em corridas. A votação do PL 2.234/2022, do ex-deputado Renato Vianna, que já passou pela Câmara e agora aguarda conclusão no Senado, já recebeu diversas emendas. Parece que a meta é tornar a população, já endividada refém da jogatina, apesar das falsas promessas de fiscalização dessas atividades. O fato é que o Brasil é um país vulnerável, em todos os sentidos, ao crime organizado e à violência dele decorrente.
Embora parte da população diz apoiar a legalização dos jogos de azar, iludida com a possibilidade na criação de mais empregos e sob as promessas de condições regulatórias eficazes, o temor é grande em relação ao uso dessas atividades para lavagem de dinheiro e expansão do crime organizado. Lembremos que, recentemente, foi revelado que, ao menos, 941 postos de combustíveis em 22 estados estão sob suspeita de controle por facções como o PCC, Comando Vermelho e Família do Norte, que operam esses nichos sob o olhar displicente das autoridades, movimentando milhões de reais por dia. A verdade é que o crime organizado tem lucrado mais com combustíveis (R$ 61,5 bi/ano) do que propriamente com tráfico de cocaína, que gira em torno de (R$ 15 bi/ano).
Em operações denominadas “Rei do Crime” e “Boyle”, descobriram-se esquemas sofisticados do PCC para lavagem de dinheiro via postos e distribuidoras de derivados de petróleo. A situação não é nova e desperta grande preocupação da sociedade. Por outro lado, há confirmações de que as redes criminosas têm se infiltrado em empresas de transporte, creches, asilos, lojas etc., criando uma fachada legal para lavagem, e movimentam milhões em eleições e financiamento de candidaturas. A Operação Lava Jato, iniciada pelo “Posto da Torre” em Brasília, mostrou como o crime se valeu do setor de combustíveis para lavar dinheiro e financiar campanhas, envolvendo corrupção em níveis altíssimos. A fórmula é simples: Crime organizado + negócios lícitos = poder institucional.
Estima-se que cerca de R$ 6 bilhões/ano são lavados formalmente no país, o que enfraquece a própria integridade do Estado. Vemos ainda que o financiamento de políticos e campanhas são cada vez mais comuns. A influência financeira no processo eleitoral é realidade: mafiosos financiam candidaturas, aproximam-se do poder e expandem seu alcance. Com isso, a população não tem a quem recorrer. Ao legalizar jogos de azar sem estrutura robusta de controle eficaz, o que se tem é o uso dos recursos do Bolsa Família direcionados para apostas, agravando o problema da pobreza. Nada menos do que R$ 3 bilhões em agosto de 2024 foram utilizados para esse fim, o que, por sua vez, estimula o crescimento de uso de cassinos clandestinos e sem lei.
Paralelamente, o SUS já enfrenta custos altíssimos com tratamento de dependência de jogos, sem nenhum preparo, nem recursos adequados para isso. A liberação irrefletida dos jogos de azar pode se transformar num acelerador da corrupção e da lavagem de dinheiro. Nenhuma arrecadação fiscal e geração de empregos serão suficientes para a empreitada dos jogos valer à pena.
A frase que foi pronunciada:
“Cuida de evitar os crimes, para que não sejas obrigado a puni-los.”

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Mesa para dois. Brasília, nosso patrimônio, com Bárbara Lins. As entrevistas com Liliane Cardoso despertam, nos candanguinhos que aqui nasceram, uma saudade dos tempos em que a capital crescia ao mesmo tempo que aquelas crianças. Numa conversa descontraída, Liliane traz, aos internautas, memórias embrulhadas na história da cidade. É uma viagem no tempo, revigorante. Veja a seguir.
História de Brasília
O panorama napolitano de roupas ao vento nas janelas e nos corredores, outrora privilégio das quadras 409-10 já se estendeu à Asa Norte. O Bloco 42 comanda o espetáculo. (Publicada em 05.05.1962)
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Ao observar os dados divulgados tanto por parte da imprensa como em estudos elaborados da Receita Federal e do Ministério da Fazenda, já é possível tecer uma análise mais profunda e sombria do cenário atual e do que pode estar por vir no caso da liberação recente dos jogos de azar, cassinos e bets em nosso país. E não foi por falta de aviso. Logo de cara, vemos que nada menos do que R$ 68,2 bilhões foram gastos em apostas online em 2023, com R$ 23,9 bilhões de prejuízo líquido para os apostadores. Isso indica que, para cada real apostado, uma parte considerável é sistematicamente perdida, configurando um mecanismo de drenagem financeira da população.
Enquanto isso, o governo, que nada perde, prevê arrecadar cerca de R$ 12 bilhões/ano com a tributação do setor, um valor que pode parecer significativo, mas representa apenas uma fração do dinheiro movimentado e que, obviamente, não compensa os danos sociais causados. O crescimento de 71% em relação a 2020 é alarmante, mostrando que o setor se expande rapidamente, sem ainda haver estrutura legal, institucional ou tecnológica robusta para controlá-lo adequadamente, ao mesmo tempo em que o monstro vai crescendo.
Crimes financeiros e lavagem de dinheiro já são realidades nesse setor. Criminosos usam os sites de apostas como meio de esquentar dinheiro ilícito, utilizando dados falsos ou de “laranjas” para apostar e resgatar valores que passam a ter aparência legal. Dado suficiente para tornar fácil a previsão dos malefícios que ainda estão por vir sobre a sociedade brasileira. Se a operação dos cassinos online continuar como está, sem uma regulação firme e fiscalização efetiva, é possível prever um aumento significativo de vários impactos negativos como é o caso da explosão do endividamento pessoal e das famílias, sobretudo as mais pobres. Pessoas de baixa renda são, especialmente, vulneráveis à promessa de lucro fácil. A tendência é que o número de endividados, inadimplentes e até suicídios ligados ao vício em jogos cresça exponencialmente. O vício em jogos (ludomania) já é classificado como transtorno psiquiátrico e sua prevalência tende a subir com a facilidade de acesso aos aplicativos de apostas.
Ao aumentar a lavagem de dinheiro e crimes cibernéticos, outras consequências surgem em seguida. As plataformas de apostas se tornam canais eficazes para movimentações financeiras ilegais, sobretudo em um país onde o combate a crimes digitais ainda é precário, para dizer o mínimo. Além disso a criminalidade organizada pode se infiltrar ainda mais nesses sistemas, financiando outras atividades como tráfico, corrupção e fraudes, fortalecendo sobremaneira o crime organizado. Também a evasão de capitais surge como um grande problema. A maioria dos sites de apostas online tem sede fora do Brasil. Mesmo com tributação, boa parte do dinheiro apostado é enviada ao exterior, fugindo do controle do Estado e reduzindo o impacto positivo na economia nacional.
A desestruturação de núcleos familiares e o aumento da desigualdade se elevam na mesma proporção em que avançam os jogos online. Não é preciso lembrar que o vício em apostas afeta, diretamente, o convívio familiar, com casos de desintegração doméstica, violência, abandono e negligência. O jogo transforma o desespero em lucro para as plataformas, pois, quanto mais vulnerável o cidadão, maior a exploração. Estamos presenciando a formação de uma nova geração de apostadores, já que a publicidade de jogos é altamente direcionada aos jovens, utilizando influenciadores digitais e esportistas. A cultura do “apostar para ganhar fácil” já está sendo normalizada em nosso país. A longo prazo, podemos dizer que essa prática poderá criar uma geração de brasileiros que não confia no trabalho formal, mas sim na sorte e na especulação.
A continuidade da operação de cassinos online no Brasil, sem um marco regulatório firme e medidas rigorosas de controle, tende a beneficiar apenas as empresas de apostas, em grande parte, sediadas no exterior, e o próprio Estado, por meio da arrecadação, mas sem necessariamente resolver os danos sociais gerados. A sociedade, por outro lado, absorve o pior: vício, ruína financeira, violência, evasão de recursos e degradação de valores sociais. O jogo, legalizado ou não, precisa deixar de ser tratado como entretenimento inofensivo e passar a ser encarado como uma questão de saúde pública e de segurança nacional.
A CPI das Apostas Esportivas (CPI das Bets) foi criada com o objetivo de investigar manipulações de resultados em jogos de futebol brasileiro e o envolvimento de casas de apostas online nesse processo. No entanto, seu desfecho foi decepcionante, e isso revela um sintoma ainda mais grave: o poder de influência do dinheiro do jogo sobre as instituições democráticas. Ou seja: azar de quem acredita.
A frase que foi pronunciada:
“Indução ao erro dos seguidores, que acreditam que estão sendo feitas apostas reais – e não meras simulações”.
No relatório final da CPI das Bets

História de Brasília
Sobre essas faixas de travessia, há uma observação. Se as linhas fossem em diagonal seriam vistas a maior distância. (Publicada em 05.05.1962)
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Você parece estar perguntando se organizações criminosas brasileiras como o PCC (Primeiro Comando da Capital), o CV (Comando Vermelho) e outras poderiam vir a se constituir, um dia, como organizações paramilitares ou até políticas — talvez nos moldes de grupos armados ou milícias que, em outros contextos, assumiram papéis de poder institucional ou regional. De fato, isso já ocorre. Organizações como o PCC e o CV, embora não sejam paramilitares no sentido clássico (com ideologia política explícita ou objetivo de tomada formal do poder), possuem, como é sabido, estrutura hierárquica, armamento e controle territorial em favelas e periferias urbanas, tudo muito similar às milícias ou grupos insurgentes em outros países. Afinal, já controlam comunidades inteiras, impõem regras, aplicam “justiça”, cobram impostos (“arrego”) e negociam com políticos e policiais. Em alguns casos, como em partes da Amazônia ou do Nordeste, já há controle de rotas logísticas e até pactos locais de governança informal com elites corruptas ou agentes do Estado. Pior é: e se um dia vierem a se transformar em partidos ou forças políticas oficiais? Financiar candidatos, isso eles já fazem. Mas tudo isso vai depender do grau de deterioração do Estado democrático e do pacto social.
Diferente das FARC na Colômbia ou do Hezbollah no Líbano (que têm discursos ideológicos e legitimidade entre parte da população), o PCC e o CV não possuem, por enquanto, um discurso político claro. São essencialmente organizações voltadas ao lucro, por meio do narcotráfico, extorsão, roubo e outras modalidades de crime. No entanto, não se pode negar que há um histórico antigo de alianças com políticos locais, especialmente em regiões onde o Estado é ausente, e isso, obviamente, pode se intensificar com o tempo. Agora, caso o Estado brasileiro entre em um processo de colapso institucional severo (sendo a corrupção a indutora desse colapso), ou haja um processo extremo de fragmentação federativa, é possível que esses grupos venham a se institucionalizar, como máfias que se tornaram partidos ou milícias que viraram governos locais. Tudo vai depender da saúde institucional e ética dos poderes. Mas em relação às milícias do Rio, vários indícios e evidências mostram que já têm um pé no mundo político, com vereadores, deputados e até governadores ligados a essas redes. O avanço delas dentro do Estado é mais claro do que o das facções tradicionais.
Nesse sentido, as milícias são, por enquanto, o elo mais visível entre o crime organizado e o poder político institucional no Brasil. Verdade seja dita, o PCC e CV já operam como Proto-Estados paralelos em algumas áreas. A transformação em uma força paramilitar explícita ou política organizada pode ser improvável a curto prazo, mas não inconcebível a longo prazo, especialmente se o que assistimos no dia levar-nos ao colapso institucional do Estado. No entanto, é preciso aceitar que o futuro urbano de grandes metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo diante do fortalecimento do crime organizado é, para dizer o mínimo, nebuloso.
Em São Paulo, o PCC atua com baixa visibilidade e alta organização, quase como uma empresa clandestina com cadeia logística e disciplina interna. O Estado, praticamente “coexiste” com ele. No Grande Rio, há três forças paralelas disputando território: CV, TCP (Terceiro Comando Puro) e milícias armadas ligadas a ex-policiais, que cobram taxa de segurança, vendem gás, internet e fazem justiça à margem da lei. Caso o crime organizado consiga penetrar nas estruturas políticas locais, como vereadores, prefeituras, associações de bairro, a coisa está feita. Pois eles podem facilmente influenciar decisões de urbanização, como transporte, serviços públicos. Além, é claro, de controlar o “voto de cabresto” nas favelas e periferias. O cenário futuro promete o aumento da favelização e de “zonas autônomas” de fato, que são áreas onde a polícia não entra ou entra apenas com operações de guerra.
Entra, ainda nesse rol de infortúnios, a questão da liberação dos jogos de azar, que pode facilitar ao máximo a lavagem de dinheiro. Mas isso depende também do enforcement do Estado ou sua capacidade de ações e procedimentos legais para garantia das leis. Facções e milícias já atuam em bicheiros, caça-níqueis, máquinas ilegais e apostas online. E com a legalização dos jogos físicos, passaram a criar casas de apostas como “fachadas”, onde declaram lucros fictícios em jogos de baixa fiscalização. Com isso, misturam dinheiro limpo e sujo, dificultando rastreamento. Além disso, se utilizam de “laranjas” e empresas de fachada para abrir cassinos, bingos e plataformas online. É preciso evitar a todo custo a transformação do crime em uma espécie de “capitalismo criminoso sofisticado”. Na questão dos jogos de azar, onde os lucros são bilionários, a corrupção na máquina do Estado favorece, ainda mais o crime. A verdade é que foi dada liberação dos jogos de azar sem uma devida regulação forte. Seria necessário empreender uma colaboração direta entre Receita Federal, COAF, Polícia Federal, MPF e bancos. O que não podemos negar é que cidades como Rio de Janeiro e São Paulo enfrentam uma erosão progressiva da autoridade estatal em muitos territórios populares.
A frase que foi pronunciada:
“Uns venceram por seus crimes, outros fracassaram por suas virtudes.”
William Shakespeare

HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Os pontos de taxis na W-3 estão tomando espaço demais, além do necessário. É um abuso, porque enquanto sobram 10 vagas em cada posto, os carros particulares têm que estacionar longe demais, e às vêzes não há local. (Publicada 04.05.1962)
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Um ladrão de banco, ao fugir da perseguição policial, teve que escolher, de imediato, entre se esconder dentro de um bar cheio de fregueses ou se abrigar debaixo da batina de um padre parado na esquina. Escolheu se esconder debaixo da batina. O padre, surpreendido com a coragem do fugitivo, transformou-se numa estátua pálida, de tanto medo. A polícia vasculhou o bar e nada encontrou. Viu o padre e seguiu adiante sem suspeitar de nada. Essa pequena fábula — do ladrão que, fugindo da polícia, escolhe se esconder debaixo da batina de um padre ao invés de se misturar à multidão em um bar — serve como metáfora poderosa e crítica ao papel que o Instituto para as Obras de Religião (IOR), o chamado banco do Vaticano, desempenhou, historicamente, no sistema financeiro global.
A batina, como metáfora do refúgio perfeito, revela a astúcia do ladrão, pois ele não escolhe o óbvio (um bar cheio de gente), mas o lugar onde ninguém ousaria procurar — o símbolo da moralidade, da fé, da retidão.
Assim, também, durante décadas, corruptos, ditadores e mafiosos enxergaram o banco do Vaticano como o esconderijo ideal para seu dinheiro ilícito. Três seriam os motivos dessa preferência: primeiro, a imunidade jurídica e a soberania do Vaticano, como Estado independente, seu banco não está sujeito às mesmas exigências de transparência impostas a instituições financeiras internacionais. Não há obrigação de divulgar beneficiários de contas ou de cooperar prontamente com investigações estrangeiras. Tem ainda a reputação de santidade e da imagem pública da Igreja, historicamente, associada à caridade, moralidade e neutralidade.
Graças a esse prestígio, pode oferecer uma “capa de invisibilidade”. Assim, como a polícia passou pelo padre sem desconfiar, autoridades fiscais e investigadores, dificilmente, olhavam para o Vaticano como cúmplice financeiro perfeito para o crime. Há ainda o uso de ordens religiosas e fundações como fachada. Assim, como o ladrão esconde-se sob o símbolo da fé, dinheiro sujo foi camuflado sob o disfarce de obras religiosas, ONGs missionárias e fundações de caridade. Muitas dessas eram, na prática, estruturas de fachada para lavar recursos provenientes de corrupção, tráfico ou desvios estatais.
O Banco do Vaticano possuía assim uma espécie de cofre intocado. Durante o século XX — sobretudo nos anos 1970 a 1990 —, o IOR acolheu contas secretas, blindadas por nomes de congregações ou intermediários que movimentavam, além de dinheiro vindo de regimes militares na América Latina, os fundos desviados por políticos corruptos na Itália e Europa Oriental, bem como riquezas acumuladas por mafias sicilianas e bancos privados falidos (casos Roberto Calvi e Michele Sindona). Com isso, a fábula do ladrão mostra que a batina protege. Até recentemente, essa proteção era real e eficaz — nenhuma polícia internacional ousava levantar a batina de São Pedro.
O padre, ao se transformar numa estátua de tanto medo, mostra um retrato do desconforto institucional, ante uma situação que mais cedo ou mais tarde prejudicaria o Estado do Vaticano e a própria Igreja Católica. Quando, nos últimos anos, vieram, à tona, escândalos financeiros e pressões externas por transparência, setores do Vaticano se paralisaram: chantageados por arquivos internos, expostos por vazamentos (como VatiLeaks), e divididos entre reformas e autoproteção. Mas eis que o Papa resolve levantar a batina. Com a eleição do Papa Francisco, houve um esforço concreto e inédito de limpar esse esconderijo. Para tanto, ele empreendeu o fechamento de centenas de contas fantasmas no IOR; fez reformas estruturais no sistema financeiro do vaticano, com a criação da Autoridade de Informação Financeira (AIF); também pediu ajuda e cooperação com o Moneyval (FMI europeu de combate à lavagem). Por fim, levou, ao cabo, uma perseguição judicial interna, como no caso do Cardeal Becciu. Francisco fez o que a polícia da fábula não fez: olhou sob a batina.
A reforma iniciada por Francisco foi, e ainda é, uma tentativa corajosa de transformar uma estátua de pedra em um corpo vivo e transparente — mas enfrenta resistência, inércia e a herança de décadas de silêncio. Ao levantar a batina de São Pedro, a Igreja pode, enfim, olhar para dentro de si.
A frase que foi pronunciada:
“Mister ressaltar que o crime de branqueamento de capitais é de tipo misto ou conteúdo variado, de modo que a prática de qualquer das condutas (ocultação, dissimulação ou integração) configura o crime.”
Badaró e Bottini

Bem feito
Um sinal mais inteligente na L2 Norte, altura da 16, sentido norte/sul. Agora, se o caminho estiver livre para a L2, basta pegar a pista da direita. Quem for seguir para a Avenida das Nações aguarda o sinal.
Manutenção
Depois de tantos transtornos para recuperar o asfalto na ponte do Bragueto, é possível ver caminhões enormes passando por ali. Falta fiscalização!
História de Brasília
Esta nota vem a propósito de telefonemas que temos recebido sobre a greve dos professôres. A invasão foi uma lição ao BNDE mas a greve foi uma lástima. A cidade tôda comoveu-se com a situação dos professôres, mas recebeu com muita reserva o movimento grevista. (Publicada em 04.05.1962)
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Até as próximas eleições, o Brasil e o mundo irão presenciar e sentir os efeitos dos acontecimentos que, por hora, vão sendo delineados no horizonte. Há um longo percurso a ser vencido até 2 de outubro, tanto no ambiente interno como no resto do planeta. Não adianta fechar os olhos para fatos que vão se materializando diante de nós. A possibilidade da eclosão de uma guerra entre a aliança militar do Ocidente, representada pela Otan, a Rússia, que ameaça invadir a vizinha Ucrânia, põe o mundo em sobressalto, desviando a atenção e as preocupações da humanidade para um conflito que possui tudo para incendiar o resto do planeta, com consequências que certamente irão afetar o Brasil e todo o continente sul-americano.
Centenas de milhares de soldados, de ambos os lados, já posicionados naquelas fronteiras, e a grande concentração de armas letais, naquele cenário de pré-guerra, parecem confirmar que, mais uma vez, estamos diante de um conflito de grandes proporções, que ameaça se alastrar para o resto do mundo.
Diante desses jogos de guerra, onde as indústrias de armamentos, em aliança com as forças militares, dão as cartas, pouco espaço resta para a racionalidade. Em vista de um cenário dessa natureza, onde as incertezas e a morte prematura da verdade são evidências certas, as eleições gerais no Brasil perdem muito de sua importância, podendo todo o pleito desse ano ser obscurecido por questões mais prementes.
Por outro lado, a possibilidade de um conflito dessas proporções, somado ao avanço espetacular de mais uma variante da Covid, no qual os índices de mortalidade podem atingir picos extremos, dentro e fora do país, sinaliza para grandes e perturbadores acontecimentos. Obviamente que os oportunistas, sempre de plantão e prontos para tirarem proveitos desses fatos, irão aproveitar o momento de distração e apreensão geral para fazer passar projetos de interesses flagrantemente contrários ao bom senso e à ética. Nesse caso, podem ser incluídos aqui as propostas que acenam para a volta dos cassinos ao país, conforme tem prometido e se empenhado, pessoalmente, o próprio presidente da Câmara dos Deputados.
Pode ser que, em meio aos obuses e às fumaças do tiroteio que ocorre lá fora, tal proposta, que benefício algum trará aos homens de bem desse país, passa sem ser vista. Na torcida por esse retorno ao inferno dos cassinos, estão os próceres do crime organizado, que encontrarão nessa atividade uma espécie de banco oficial onde lavar os rendimentos de seus crimes.
Também a bancada do jogo, que por hora se organiza no Legislativo, empenhada nessa cruzada de morte, vislumbra, nessa aprovação, apenas ganhos imediatos e financeiros, pouco ou nada preocupada com o dia seguinte a essa aprovação.
Surpreende que, em tempos tão adversos como esse que agora vivemos, quando a classe política deveria estar buscando caminhos seguros para preservar algum futuro digno para as próximas gerações, estejam elas empenhadas na aprovação de jogos de azar para o enriquecimento de clãs do crime.
A população que mal encontra dinheiro para se alimentar, por certo, não tem recursos para serem lançados nas mesas de bacarat ou de roletas. A nossa guerra é contra o crime e a violência que consome o país. Dar mais munição para essas forças do mal é apostar no aumento de mortos. “Tomem tenência, suas excelências, já que vergonha parece não mais fazer efeito sobre vós!”
A frase que foi pronunciada:
“Onde quer que homens civilizados tenham pela primeira vez aparecido, eles foram vistos pelos nativos como demônios, fantasmas, espectros. Nunca como homens vivos! Eis aí uma intuição inigualável, um insight profético, se é que algum já chegou a ser feito.”
E.M. Cioran

Jubileu de Prata
Com 25 anos de idade completados no dia 9 desse mês, a Rádio Senado foi um motor conduzido por Fernando César Mesquita, inaugurando uma nova era da Comunicação Social do Legislativo no país. Logo depois, vieram as emissoras da Câmara dos Deputados, da Justiça, das Forças Armadas e das Assembleias Legislativas.

Nota
Candidatos que querem usar o nome da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, CNA, estimularam o envio de nota esclarecedora para a imprensa. A CNA não se reuniu com pré-candidatos à Presidência da República e não envia representantes ou realiza encontros paralelos com candidatos à presidência. O que acontece em ano eleitoral é um evento público, com cobertura da imprensa, onde a CNA e outras entidades ligadas ao agronegócio apresentam propostas, sugestões e prioridades aos candidatos.
História de Brasília
Duas firmas, entretanto, Motornei e Alvorada, ganharam lotes em Taguatinga mas nunca deles tomaram posse. Agora, que a Prefeitura determinará um gabarito que valorizará em muito os terrenos, já começam os movimentos para a posse dos mesmos. (Publicada em 17.02.1962)
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