Psicologia das massas e eleições

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

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Ilustração: reprodução da internet

 

          Afirmam, alguns historiadores, que o povo é, no lento movimentar da roda humana no vale do tempo, uma porção de ninguém, semelhante às areias de um imenso e árido deserto. Levado ao sabor dos ventos, vai de um lado para outro sem resistências. A constatação, um tanto cruel, não pode, por seu realismo factual, ser contraposta.

          De fato, as massas, ao longo da história humana, sempre demonstraram não possuir o sentimento genuíno ou sede pela verdade. Apenas alguns pouco indivíduos parecem movidos pelo desejo da verdade. Mas, de tão poucos, quase nunca são notados. Essa movimentação das massas pelos ventos da ilusão se dá, talvez, pelo fato de que a realidade é sempre inóspita e sempre pronta a desmanchar sonhos e fantasias.

        Talvez pela própria condição humana de idealizar o futuro como um tempo melhor que o presente, as massas seguem em sonhos. Com isso, as massas tendem a fugir léguas, de tudo que não lhes traga satisfação e gozo. Cortejam as mentiras cômodas, pois são elas que fornecem os alicerces para as ilusões. Seguem cegas àqueles que recitam fantasias. Adoram, por isso, as artes, as drogas, as bebidas, os saltimbancos e circos e tudo que possa trazer distração e alheamento do cotidiano. Talvez, por isso, os vendedores de ilusões se dão tão bem junto às massas. Com eles, as gentes hipnotizadas, como estátuas de orelhas moucas, seguem mansas como ovelhas, rumo ao incerto jardim. Por isso mesmo, todos aqueles que ousam sacudir as massas, para que acordem e saiam do transe e do feitiço ilusório, é logo apontado como um inimigo a ser posto de lado imediatamente.

          Nossos políticos, à semelhança do flautista de Hamelin, dos irmãos Grimm, hipnotizam as massas com suas melodias encantatórias, para depois lançá-las, sem remorsos, direto ao abismo. Mesmo lá, aqueles que sobrevivem ainda aguardam e sonham com o retorno do flautista. Esse transe coletivo é fruto da vida em sociedade e sua principal característica. Os políticos e os prestidigitadores da realidade conhecem essa fraqueza das massas e exploram-na como ninguém. De outra forma, como entender o fato de que, nessas eleições, dezenas de milhões de votos sejam dados a determinados candidatos que, sequer, deram-se ao trabalho de apresentar programas de governo? Candidatos, inclusive, que, em outras oportunidades, lançaram a nação, sem remorsos, direto ao abismo.

         A explicação para fatos psicológicos dessa natureza reside muito além da simples junção da alienação com uma espécie de masoquismo coletivo. O prazer de ser ludibriado é sempre maior do que a dor e o sofrimento que vêm como consequência. Submetidas aos encantamentos da retórica política e ao prazer que ela parece provocar em todos, o melhor destino para as massas é sempre se prostrar aos pés de seus ídolos, mesmo que eles se revelem os verdadeiros lobos. É da psicologia das massas.

A frase que foi pronunciada:

“Uma das características mais constantes das crenças é a sua intolerância. Quanto mais forte a crença, maior sua intolerância. Homens dominados por uma certeza não podem tolerar aqueles que não a aceitam.”

Gustave Le Bon

Retrato de Gustave Le Bon (1881). Foto: Morphart Creation / Shutterstock.com

 

Finanças

Ao pagar uma conta de água ou de luz, o detalhe descriminando, no comprovante de pagamento, como Caesb ou Neoenergia, ajuda o contribuinte a se organizar. Já no caso de IPTU, ITCD, IPVA e outros, não há discriminação, apenas a indicação “GDF CONTA ARRECADAÇÂO”, o que deixa o contribuinte confuso sem saber ao certo o que pagou. Hora de mudar.

 

 

Científico

Análises sobre os institutos de pesquisas sugerem que possa existir um padrão científico desconhecido da comunidade acadêmica. No sábado (1º), um dia antes do primeiro turno, Lula tinha 50% das intenções de votos válidos, enquanto Bolsonaro aparecia com 36%, segundo pesquisa Datafolha. No mesmo dia, pesquisa Globo/Ipec mostrou o petista com 51%, e o presidente, com 37%. O resultado foi bem diferente e extrapolou a margem de erro de 2%.

Charge do Thiago Rechia

 

Mais leis

A cada ação, uma reação. O deputado federal Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, vai propor um Projeto de Lei para criminalizar institutos de pesquisa que divulgarem levantamentos que sejam diferentes do resultado das urnas — considerando a margem de erro estipulada pela própria entidade. Ele propõe no projeto que a pesquisa publicada, na véspera da eleição, que extrapolar a margem de erro será considerada criminosa e o responsável pelo instituto será punido com cadeia e multa.

Imagem: cnnbrasil.com

 

História de Brasília

As professôras de Brasília estão sofrendo terrível perseguição da maioria dos membros da Fundação Educacional. Aumentaram as horas de trabalho, e os vencimentos poderão sofrer redução. (Publicada em 11.03.1962)

Soma igual a zero

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Charge do Ivan Cabral

 

          Se as eleições de hoje estão, de fato, por serem sacramentadas pela parcela da população que, até a undécima hora, não decidiu seu voto ou, pelo menos, não externou publicamente sua opção, o que temos é bem significativo para afirmarmos, com todas as letras, que nenhum instituto de pesquisa de opinião sabe, ao certo, quem será o novo chefe do Executivo. Nem ao menos se haverá segundo turno.
         Caso se confirme essa teoria, de que a indecisão coletiva é o fator determinante para a escolha de um candidato ou a realização de mais de um turno, fica subentendido, entre outras premissas, que nenhum dos dois principais pleiteantes é do agrado da população. Estamos imersos então numa espécie de incerteza de Heisenberg, um dos pilares da física quântica. Quando se conhece a posição aproximada de um candidato, medido por um determinado instituto de pesquisa, simultaneamente, outro instituto mostra uma posição totalmente diferente, sendo impossível avaliar, com precisão, qual a real posição de cada um nessa disputa.
          A incerteza sobre um possível vencedor, pelo menos ao cargo de presidente, abre também uma possibilidade física para que ele seja qualquer um dos que estão nessa disputa, inclusive o próprio padre Kelmon. Lembrem-se que, em outros tempos, candidatos totalmente fora de propósito e de razoabilidade, sagraram-se vencedores em pleitos em que a população fez questão de externar sua contrariedade com a qualidade dos políticos em disputa.
         Dessa forma, animais como o cavalo Invictus, o burro Boston Curtis, o macaco Tião, o cachorro e até um rinoceronte de nome Cacareco obtiveram significativo número de votos, numa demonstração de que o eleitor não sabe e parece não querer saber de eleições, ainda mais quando o pleito é marcado pelo baixo nível dos candidatos e de propostas.
          Eleição é coisa séria e, portanto, deveria ser disputada apenas por indivíduos de igual índole. Aqui e mais uma vez, caímos de volta na seara da ética pública, de onde deveriam partir os candidatos severamente aprovados pelo pente fino da Ficha Limpa. Na ausência desse requisito básico, destruído por vontade expressa dos políticos com assento no Congresso, o que temos é o que temos e que leva uma boa parcela da população a decidir em quem votar, contrariada e obrigada, apenas em cima do laço, quando as esperanças já se transformam em conformismo.
          De qualquer forma, a sorte ou o azar estão lançados pelos próximos quatro anos, ao menos. O mais cruel, em todo esse movimento em torno das próximas eleições, é trazido pelo fato de que os candidatos que aí estão em disputa, bem ou mal, representam a cara da nação. Não há necessidade de ser nenhum estudioso em antropologia ou sociologia para certificar que estamos ali representados por indivíduos que carregam nossos defeitos e virtudes e que, para o bem ou para o mal, irão conduzir a nação nesse próximo quadriênio. São nossos vícios e virtudes que estão em disputa. Qualidades e defeitos de uma soma igual a zero.
A frase que foi pronunciada:
“Não é a votação que é democracia; é a contagem.”
Sir Tom Stoppard, dramaturgo e roteirista britânico nascido na República Tcheca.
Tom Stoppard. Scott Gries – Hulton Archive/Getty Images
Progresso
Com mais estradas transitáveis, a 29ª Agrinordeste terá uma ampliação na área de 50% e vai durar 4 dias, de 1º  a 4 de novembro, em Pernambuco. Quem comemora o avanço é o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Pernambuco, Pio Guerra.
Postagem na página oficial do Agrinordeste no Instagram
US
Ainda repercute a frase de Thomas Shannon, que foi embaixador dos Estados Unidos em Brasília. O diplomata declarou que o seu país gostaria de ter o Brasil mais engajado nas parcerias e espera que isso aconteça depois das eleições.
Thomas Shannon. Divulgação/US Department of State
Made in Japan
Só até hoje, o brasiliense terá oportunidade de aproveitar a culinária japonesa no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade. Organizados como sempre, a logística e o carinho em atender, além da qualidade do serviço, são o que mais atrai a população.
Foto: Divulgação
Local do voto
Mal sabia o candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que, quando se esqueceu onde votaria, cairia na graça de todos. É bom que você e sua família vejam, com antecedência, o local de votação. A maior parte dos Tribunais regionais eleitorais alertam para as alterações feitas nos locais de votação, lembrando que cada um deve conferir o local no portal do TSE
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
História de Brasília
Nota: A tôrre que encobre, presentemente, o Cruzeiro, foi levantada pelo Conselho Nacional de Geografia, sem autorização da Novacap nem da Prefeitura, e se destina à medição angular ao longo do meridiano 48, que passa em cima de Brasília. Durará mais uma semana, ainda. (Publicada em 10.03.1962)

Governo virtual

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Ilustração: jus.com

 

         Em um mundo onde as mídias sociais, conjuntamente com boa parte da imprensa, parecem pautar o cotidiano das pessoas, os chamados “influencers”, ganham destaque pela capacidade que exibem em formar seguidores nas diversas plataformas da Internet. Alguns desses novos pastores midiáticos chegam a aglutinar, em suas páginas, milhões de seguidores, que observam tudo o que eles fazem ou deixam de fazer.

         Não surpreende, pois, que muitos políticos procurem esses novos “Faróis” da humanidade em busca de cooptar esse público virtual para si. Não bastasse o sumiço dos políticos das ruas, onde facadas, tiros e lançamento de fezes podem ocorrer a todo o momento, agora, esses candidatos, que já eram distantes do público, vão agora se esconder por detrás da mídia eletrônica, onde o faz de conta e a realidade podem ser facilmente manipuladas ao gosto da freguesia.

         Assim, o que era falso, torna-se agora fácil, mas igualmente falso. A persistir nessa fórmula via internet, chegará um tempo em que os candidatos farão campanhas deitados na cama, sem sequer saírem do quarto de dormir e de pijama. Hoje essa realidade já é feita por muitos ministros e desembargadores ao se reunirem em sessão remota. Da cintura para cima estão usando terno e gravata. Da cintura para baixo estão de pijama, se muito. É o tal do mundo informal.

          Esse tempo parece ter sido inaugurado por alguns apresentadores dos telejornais. Chegavam de bermuda e tênis. Colocavam o paletó e a gravata e, da mesa do estúdio, apresentavam o jornal sentados. Quem via essa transmissão diretamente do estúdio tinha uma visão bem próxima ao que ocorre hoje no mundo das mídias sociais. É tudo um cenário fake, que acaba se estendendo também para o que dizem e prometem, sem qualquer sinal de pudor.

         Nas redes de televisão, os debates entre os candidatos pouco ou nada ajudam a esclarecer os espectadores, que permanecem ligados nesses programas apenas em busca de alguma adrenalina, que possa levar um candidato a pular no pescoço do outro. Os programas de governo permanecem assim em segundo plano. O eleitor bem sabe que programas de governo anunciados pelos candidatos são mais virtuais que tudo, e independem da vontade do governante.

         Programas de governo, pelos atuais mecanismos de Estado, têm que ser submetidos ao Congresso, seguindo as regras antirrepublicanas estipuladas pelo toma lá dá cá. Programas de governo são feitos pelo Legislativo, que é quem governa hoje de fato. Pelo Congresso e também pelo Judiciário, dentro do modelo esdrúxulo de judicialismo político. Da mistura do primeiro com o segundo, é que se tem, de fato, o que o Executivo pode fazer. O resto é estória da Carochinha.

         O que esperam os eleitores é que os candidatos digam nos debates que meios legais irão buscar para verem aprovados seus programas de governo. Sem uma reforma política séria e levada em frente por gente também séria, ficamos nesse falso jogo, onde a população já não reconhece quem de fato está à frente do governo, quem comanda o quê. Dessa forma, para candidatos virtuais, um governo também de características virtuais.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Quando as portas da cultura se fecham, fecham-se também as portas da democracia.”

Fala de Rudolfo Lago na peça “Trenodia para um teatro fechado”, de Jorge Antunes, pronta para apresentação, 20 de novembro.

País do futuro

Tudo certo para as votações na Papuda. O , que encaminhou uma comitiva para a cadeia, cumpriu a missão de preparar os presos provisórios que estão aptos a votar. O que causa confusão no entendimento é que, nas unidades de internação de adolescentes, as urnas também estão prontas.

Foto: tre-df.jus

 

Eleições 2022

Em decorrência da extrema polarização política, existente hoje na disputa para Presidente da República, as eleições estaduais e mesmo a eleição no Distrito Federal foram empurradas para um segundo plano, com os eleitores mais interessados nos acontecimentos envolvendo os dois principais candidatos em disputa ao comando do Executivo Nacional.

Foto: Globo/João Miguel Júnior

 

Petulância

Padre Kelmon, que entrou na última hora na disputa a Presidente da República, em substituição a Roberto Jeferson (PTB-RJ), tem se mostrado muito mais ativo nos debates do que candidatos mais experientes e mais escolados. Na figura de um estreante, o padre ortodoxo colocou o ex-presidente Lula contra as cordas, ao dizer, na cara do adversário, que esse não deveria, sequer, estar nessa disputa por seu passado comprometedor. Em resposta, Lula quase perdeu as estribeiras. Debochando do padre, por sua aparição recente, Lula não escondia seu ódio ao atrevimento e coragem do novato.

 

História de Brasília

Deram uma volta de arame nas vigas e prenderam-no com pregos, na parede da entrada. Chuva é sinal de castigo, e qualquer vento tem as proporções de um tufão. Os barracos de madeira não caem, mas casas se descobrem. (Publicada em 10.03.1962)

Mamon

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Mamon de Collin de Plancy

         Novos atores se juntam agora aos protagonistas de sempre, todos eles pregando o voto em seus candidatos prediletos. No fundo o que se tem é o mais do mesmo, com essas personalidades, catadas a laço, fazendo propaganda para seus políticos de estimação, como se o povo, fosse atrás de conversa de artista ou de pastor. Falatório de artistas, já se sabe, não traz voto para nenhum candidato e nem ao menos retira.

         Na verdade, o grande público mantém sua fidelidade aos artistas, na medida em que seus talentos permanecem em alta. A fidelidade do povão é como fidelidade de político: dura enquanto for necessária e satisfatória. Cantor que perde a voz e desafina, perde o fã. Obviamente que os marqueteiros, que sempre formam a turma que realmente ganha com as eleições, não confessa essa crua verdade. Nem essa nem outra, aquela que diz que, passadas as eleições todos esses artistas, que se expuseram, fazendo campanha política para determinado candidato, mais tarde irão cobrar do vencedor o labor e as benesses que acreditam ter direito.

         Nada no mundo é de graça.  Por isso mesmo a Receita Federal, essa mesma que terá que engolir o perdão fiscal, dado por um ministro do supremo a dívida de R$ 18 milhões do Instituto Lula, deveria ficar de olhos bem abertos e acompanhar o modo e quanto cada um desses marqueteiros irão lucrar com as campanhas milionárias, feitas, na sua maioria com o dinheiro sacado do contribuinte.

          O que se tem de parcialmente novo nessas eleições é a entrada em peso do fator religioso nessa disputa. Ao contrário dos artistas, cuja a soma é igual a zero, os pastores, dependendo do credo, possuem certa ascendência sobre a plateia de fiéis que escuta sua pregação diária. Nesse sentido, a pregação de pastor é semelhante aos discursos proferidos por políticos. Há um certo conteúdo, mas há também, e em quantidade, um vazio de ideias e muita distorção da realidade.

         Para o teólogo consciente, Deus parece não confiar em políticos, sejam eles Césares, ou fariseus. Quem é amigo do mundo é inimigo de Deus, já ensinava Tiago 4:4. Ainda assim, alguns crentes na Palavra costumam ouvir o que falam seus pastores dentro de suas igrejas, principalmente quando esses dirigentes, na sua eloquência, alertam para os malefícios em votar em determinados candidatos. Criticar e condenar certos candidatos, lançando-os direto ao fogo do inferno, por seu passado nebuloso e até criminoso, resulta muito mais eficaz do que tecer elogios.

         É o que se tem se ouvido com mais frequência nos cultos e missas pelo país afora. De olho nesse eleitorado, que se soma às dezenas de milhões, muitos políticos têm aparecido com assiduidade nas igrejas, numa mostra falaciosa de sua devoção e fé. Comungam, tomam passe, johrei e outros ritos na tentativa de se apresentar como cidadãos rumo ao céu. Tudo fantasia, facilmente vista por todos.

         Políticos são o que são: camaleões miméticos ou uma espécie renovada de Zelig, de Wood Allen. Fingem tão fielmente ser o que não são, que até chegam a fingir uma fé que não possuem ou sequer entendem. A entrada e o protagonismo marcante das religiões nessa campanha são também, e simplesmente, uma jogada de marketing político, sem qualquer dom ou marca de espiritualidade. Usam a religião e mesmo a fé das pessoas com objetivos pragmáticos e muito longe do Deus verdadeiro. Acreditam, isso sim, no deus Mamon (dinheiro), ao qual seguem cegos e sedentos.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Não há necessidade de o capitalismo ser monstruoso. O mundo permitiu que esse demônio, essa criatura de Mamon, surgisse como uma murcha Medusa em seu meio, porque se recusou a enfrentar os problemas perenes da herança e das elites dinásticas servindo seus próprios interesses em todos os momentos, contrariamente às necessidades do povo. pessoas.”

Mark Romel

 

Pauta

Moradores da 208 Sul estão se mobilizando contra a obra de um restaurante mal localizado na quadra. Depois da extinção da Casa D’Italia, só faltava essa. Vamos acompanhar o desenrolar dos fatos.

 

Pediatras

Pediatras e medicamentos para crianças sumiram das prateleiras das farmácias. As mães tomaram a decisão de recrutar pelo menos 4 profissionais da saúde para a prole. Na falta de um, outros 3 são a possibilidade. Hospital público, nem pensar! Não há profissionais para atender a demanda. Um absurdo que já poderia ter sido resolvido.

 

Fim do mundo

Um botijão de gás, o recipiente mais o GLP, está custando R$ 350. Na Alemanha, o valor da energia elétrica é um terço do salário mínimo.

Foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press

 

História de Brasília

As casas foram destelhadas, outro dia, por uma ventania. Agora, a humilhação. Quem não foi vítima, dorme, hoje, com a casa amarrada com arame. Arame, sim! (Publicada em 10.03.1962)

Feliz ano velho

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Reprodução: divulgação

 

         Dentre os muitos problemas que essas eleições irão gerar, pelo seu alto poder de apartação, talvez, o principal seja mesmo a catalisação do sentimento de antagonismo e de fracionamento da sociedade. Por seus efeitos profundos e duradouros, a atual disputa eleitoral, polarizada e até açulada por seus próprios candidatos e partidários, poderá se revelar, num curto espaço de tempo, numa verdadeira vitória de Pirro, pelos prejuízos irreparáveis que essas posições extremadas trarão para os dois lados e, por consequência, para todos os brasileiros.

         Ganhar um país extremamente dividido significa, em outras linhas, vencer pela metade e tendo que governar sob o olhar crítico e até inamistoso de boa parte da população. Num cenário de desunião como esse, de nada irão adiantar as encenações marqueteiras de pactos e de reconciliações propostos, uma vez que, por seus efeitos nefastos, o que se tem dessa vez é um nítido sentimento de ódio mútuo, que político nenhum, desses que aí estão presentes, conseguirá aplacar.

         Vença quem vencer, o pódio de campeão estará no mesmo nível baixo do segundo colocado. Entender como todo esse movimento nos conduziu a essa estação de crise, talvez seja necessário apenas como exercício de retomada do caminho, analisando cada ação, para entendermos em que ponto do mapa nos desviamos da rota civilizatória.

         De certo que, seguir por mais quatro anos sob a sombra da polarização, irá custar ainda mais a todo país, adiando, mais uma vez, o tão esperado dia em que o gigante, deitado em berço esplêndido, irá acordar e encarar seu destino. É a tal da reforma ou remendo em pano velho, em que as mudanças estruturais nunca são realizadas, resumindo cada gestão em remendar pontos soltos da estrutura do Estado. O essencial, num país politicamente polarizado, jamais será feito, ficando as reformas que o país necessita, como a política, administrativa, tributária e outras, mais uma vez, lançadas para um futuro incerto e não sabido. O preço da polarização é alto e será cobrado do governo. O pior é se a saída para esse impasse do novo governo vir fantasiada de falsas reformas ou reforma de fancaria, como temos visto até aqui.

         No caso de vitória da oposição, o que virá já é conhecido e reprovado por sua ineficácia, O reaparelhamento da máquina do Estado e o fim do teto de gastos é só o começo. As estatais, que até aqui sempre foram usadas como moeda de troca, desvirtuando suas funções e tornando-as um peso para o próprio contribuinte, voltarão a representar mais um ponto de preocupação. O retorno calibrado da política do tomá lá dá cá e do presidencialismo de cooptação também.

         A restauração do grande balcão de negócios dentro do Legislativo, por certo, irá renascer das cinzas, mais fortalecido, mesmo que medidas, como o fim do orçamento secreto, prevaleçam. A partir de 2023, o Brasil poderá comemorar mais um feliz ano velho, renovado com os votos de ampla anistia judicial, concedida pelas altas cortes a toda a turma que agora ensaia voltar à cena.

 

A frase que foi pronunciada:

“Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados.”

Mahatma Gandhi

Foto: Rühe/ullstein bild/Getty Images

 

Silêncio e morte

Parece que governantes de Brasília não se preocupam com a tradição da cidade. Escola de Música de Brasília, Aruc, Defer, Teatro Nacional, Biblioteca Demonstrativa, entre diversos outros exemplos. A última facada foi na Aruc. Mesmo reconhecida como patrimônio cultural imaterial do DF, é ameaçada de perder o terreno há muitos anos e, agora, foi interditada. Motivo: mais decibéis que o permitido.

 

Voz por eles

Mais de 60 países participarão da campanha “40 Dias pela Vida”, rezando pelo fim do aborto. No Brasil, a iniciativa acontecerá em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Campina Grande. “Esta campanha é baseada na fé e acreditamos que a batalha contra o aborto é espiritual e só a venceremos de joelhos”, disse a coordenadora no Rio de Janeiro, Fátima Mattos, em entrevista à imprensa.

Foto: 40diaspelavida.com

 

Aberta

Ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, Valdemar da Costa Neto do PL, advogados de vários partidos e representantes de entidades fiscalizadores e missões internacionais visitaram a sala de totalização de votos do TSE.

Foto: Alejandro Zambrana / Secom / TSE – 28.09.2022

 

Enclausuradas

Em passeio pela 305 Sul, 50 anos depois, o que mais impressiona é o silêncio. No início de Brasília, a criançada brincava na quadra sem que os pais tivessem qualquer preocupação. A algazarra era ouvida de longe. Hoje, Brasília, outras capitais e até as cidades do interior estão tomadas com o perigo que tirou o ar livre das crianças.

Inauguração da praça 21 de_Abril, na Asa Sul DF 1993.                                                    (Foto: Arquivo Público do Distrito Federal/Fundo Novacap)

 

História de Brasília

Tôda a cidade recebeu plantas. As cidades satélites, também. Mas o “avião” não recebeu uma única muda. Nenhum pé de grama foi plantado até agora. E, por coincidência, a terra é boa. É um dos poucos lugares de Brasília onde há árvores de grande porte! (Publicada em 10.03.1962)

Deep state

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Ilustração: defato.com

 

         Nessa altura dos acontecimentos, vai ficando cada vez mais nítido o fato de que o ex-presidente, que volta a concorrer às eleições, é, sem dúvidas, o candidato do sistema ou, se quiserem, o preferido e ungido pelas forças do chamado “deep state”.

         Primeiramente, é preciso entender o que vem a ser essa forma disforme de poder. Trata-se, na visão de estudiosos, de uma estrutura global e local, responsável tanto por pautas econômicas como sociais e políticas, e que, em certo sentido, priva os cidadãos de decisões vitais, enquanto exaure e dilapida todas as riquezas do país, transferindo esses bens diretamente para as mãos de um seleto grupo, formado, em sua maioria, por grandes corporações e entidades políticas com controle, incrustadas tanto nos Três Poderes de um Estado como em grandes corporações.

          É, em um sentido mais acurado, um governo invisível, composto por pessoas que devem fidelidade apenas a si próprios, descartando o povo, que, em tese, deveria ser o objeto da ação do Estado. A saída desse candidato, diretamente da prisão para a volta aos palanques políticos e eleitorais, não foi como se quer fazer acreditar, uma anistia do tipo política, concedida a um opositor, cujos crimes são especificamente de ordem política e ideológica.

         A recolocação desse verdadeiro peão, no tabuleiro do xadrez político, obedece a um conjunto de esquemas muito bem engendrados por essa espécie nova e nefasta de governo, que age com desenvoltura nos bastidores, usando luvas de pelica e indisfarçado talento de persuasão.

          O povo, em geral, não faz a mínima ideia do que vem ocorrendo nesses bastidores do poder, em que a política, em seu sentido literal, foi exilada para uma ilha distante. Talvez, nem mesmo o próprio candidato, incensado e tratado com todos os mimos, que o dinheiro possibilita, sabe o que ocorre atrás de si.

         Estão nesse jogo como marionetes à mercê dos marionetistas, esses sim, cientes do que fazem. Não chega a ser surpresa, diante de um personagem que, apanhado em diversas situações de corrupção, sempre afirmou nada saber o que estava acontecendo à sua volta. Até mesmo a bem estruturada desconstrução de toda exitosa Operação Lava Jato, uma possibilidade que, à época, parecia impossível, dado ao gigantesco conjunto de provas e delações, foi obra desse “deep state” ou Estado profundo, cuja sede de poder ninguém sabe, ao certo, onde está localizada.

          Infelizmente, o único personagem que por uns segundos pode agir para modificar essa verdadeira trama diabólica é o eleitor, ou aqueles que ainda não foram iludidos por parte das mídias sociais de informação ou que, de certa forma, ainda acreditam que a paralisação de todos os processos que respondia o citado candidato foi conduzida por instância inapropriada e sob o comando de um juiz parcial, que tinha como objetivo perseguir maldosamente essa alma pura e honesta, cuja as “prerrogativas” ou direitos especiais, por sua posição, o coloca acima das leis, com regalias, que somente o deep state pode conferir ao seus agentes.

A frase que foi pronunciada:

“Somos todos fantoches, Laurie. Eu sou apenas um fantoche que pode ver as cordas.”

Alan Moura

 

Comércio exterior

Robson Braga de Andrade, presidente da CNI, está animado com a participação na Missão Comercial SIAL Paris 2022, feira onde alimentos e bebidas brasileiras serão apresentados ao mundo. Em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a expectativa é que o evento possa render mais de R$200 milhões em exportações em um ano. O evento começa no dia 14 e vai até 19 de outubro.

Robson Braga de Andrade. Foto: Ruy Baron/Valor

 

Consignado absurdo

Veja a imagem a seguir. Tão logo o processo de aposentadoria esteja marcado no INSS, misteriosamente, o idoso recebe mensagem do número 62(821) 82571720, dando os parabéns e mostrando o montante disponível para a linha de crédito “mais barata do Brasil”. Invasão de privacidade. O número disponível é o 08000001710 e o whatsapp https://bit.ly/3BriAdt.

 

Até quando?

Água Mineral e teatros de Brasília. Lugares de deleite estão constantemente ameaçados. Ou pela privatização, ou por reformas eternas. A Capital do Brasil não ter seu teatro disponível por mais de 5 anos é impensável! Nem as viagens internacionais convenceram nossos governantes sobre a importância do lazer e cultura para uma nação.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Agência Brasil

 

História de Brasília

A iluminação é a única diferente de Brasília. Em tôda a cidade os postes são lindos, e as luminárias, importadas. No “avião”, são pequenas lâmpadas presas aos postes que lembram Caucaia. (Publicada em 10.03.1962)

Olhos vesgos

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Charge do Cazo

 

          Insensibilidade e indiferença profundas, diante da dura realidade nacional, talvez seja o traço mais forte e negativo a caracterizar a personalidade de nossas elites políticas, desde sempre. De fato, esses senhores veem o país com os únicos olhos que possuem e que traduzem o mundo exterior, de acordo com a alma mesquinha que abrigam em seus corpos. De outra forma, como entender o comportamento perdulário que apresentam, mesmo frente a tantos problemas econômicos vividos pela população, que, em última análise, representam também seus fiéis eleitores?

          A explicação pode estar justamente bem debaixo de nossos olhos. O dinheiro que torram e que lhe foi confiado pelos cidadãos é recurso público, que escorre, em grande quantidade, por entre os dedos como areia fina. Na verdade, esse dinheiro, retirado a fórceps dos contribuintes, graças a uma das maiores e mais escorchantes cargas tributárias do planeta, faz falta onde devia ser empregado de fato, mas, ainda assim, é retirado de quem menos pode para ser entregue aqueles que tudo podem.

          Detalhes como esses e que dizem respeito às agruras experimentadas pela maioria da população não parecem comover ninguém. Foto recente, retratando um desses muitos eventos em que os áulicos comemoram suas vitórias pessoais na capital do país, chama a atenção para aqueles que querem enxergar a sinistra troca de olhares que esses personagens parecem estabelecer entre si, e que os fazem irmanados num mesmo grupo, o Centrão, empenhados nos mesmos projetos e propósitos, que nada dizem respeito ao resto da população.

         Apenas em posse dessa foto e sabedor do que fazem no Congresso, como é o caso aqui do chamado orçamento secreto, já seria possível, a qualquer juiz justo, condenar a todos, sem perdão. Criado por volta de 2020, o orçamento secreto, ou emendas do relator, cujos critérios de transparência e de prestação de contas simplesmente inexistem, vieram se somar a outras verbas bilionárias ou emendas ao orçamento da União já existentes, como os casos das emendas individuais, de bancada e de comissões.

         São justamente essas emendas de relator ou secretas, e que passam muito longe do faro das instituições de controle, que possibilitam os mais esdrúxulos acordos políticos, em sua maioria até antirrepublicanos. Mas é esse o preço a ser pago pelo chamado presidencialismo de coalizão, que, nesse caso, está mais próximo de um presidencialismo de cooptação. Trata-se aqui de uma versão modernizada do famigerado mensalão, que consistia na compra de votos pelo governo. A situação chegou a um tal paroxismo que impedir esse tipo de emenda inviabilizaria todo o governo. Para alguns, trata-se de uma chantagem pura e simples e que tem as bençãos e o apoio do Centrão.

         Mesmo com um orçamento da União curto, o governo acabou pressionado a cortar dotações, por exemplo, do Programa Farmácia Popular, para suplementar o orçamento secreto e assim não contrariar o Centrão. É esse o jeito que as nossas elites no poder conseguem enxergar as políticas públicas, olhando-as a partir dos olhos vesgos que possuem.

 

A frase que não foi pronunciada:

“Por onde o secreto anda, o diabo dança.”

Ariano Suassuna, enquanto dá uma olhadinha para o planeta Brasil

 

Inacreditável

São tantos impostos que chegava a ser brincadeira dizer que, daqui a pouco, seria cobrado o ar que você respira. O ar, ainda não. Mas a luz do sol, sim. Quem instalar painéis fotovoltaicos, para ter uma redução na conta de luz, vai ser abraçado pela “Taxação do Sol”, que entrará em vigor a partir do próximo ano.

Queima

De Goiás, diretamente para o Rio Grande do Sul. Minas de carvão tomam espaço, justificadas pelo Projeto na Mina Guaíba, que se espalha em 5 mil hectares a céu aberto. Senador Paulo Paim está fazendo o que pode para evitar esse desastre. A Justiça Federal não aceitou o processo de licenciamento.

Foto: Reprodução/RBS TV

 

Futuro

Pela liturgia católica, os noivos devem entrar na igreja de braços dados com os pais. O noivo com o pai e a mãe e a noiva com o pai e a mãe. Em algum tempo, não haverá noivos, nem pai e mãe e, tampouco, Igreja Católica. Esse é o desabafo de um padre em excursão a Lourdes.

Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, França. Foto: AFP/Arquivos

 

Solução nacional

Mais uma vez, a Embrapa avança com estudos que reduzem a dependência de fertilizantes na agropecuária nacional. Balanço das ações da Caravana Embrapa, que leva soluções para uso eficiente de fertilizantes e insumos, será apresentado no XXXIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo.

Foto: embrapa.br

 

História de Brasília

Abriram valetas para colocação de esgotos. Fecharam as valetas. Não fecharam. Jogaram terra. Nenhuma placa indica o perigo, e a todo instante, um carro atola perigosamente. Ponham alguma indicação, por favor. (Publicada em 10.03.1962)

Muito $inceros

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Charge do Nicolielo

 

Canalizados sob as mais diversas rubricas, sob as mais inventivas nomenclaturas, e de forma absolutamente compulsória, nenhuma legenda política, das mais de trinta que orbitam os legislativos do país, sobreviveria por mais de quatro anos ou por mais de uma eleição, não fossem os recursos públicos empreendidos.

Apenas por esse aspecto sui generis, podemos inferir que a representação política, tão necessária para a manutenção do chamado Estado Democrático de Direito, realizada por meio de partidos sustentados exclusivamente com verbas públicas, resultam, na verdade, numa espécie de democracia do tipo estatal. Em outro sentido, pode-se entender que, por essa fórmula, o que os brasileiros tem em mãos para representá-los junto ao parlamento, em todos os níveis, municipal, estadual e federal, são empresas típicas do Estado, que, ao contrário de muitas, espantosamente, não necessitam adotar regras de compliance ou mesmo prestar contas, aos contribuintes, dos recursos que arrecadam e dos gastos que empreendem.

A questão nesse caso é como alcançar uma verdadeira democracia, com igualdade de oportunidade, sabendo-se que a ponte que liga o cidadão ao Estado é inteiramente construída e alicerçada com a vontade e os recursos estatais, administrados nesse caso por indivíduos ou grupos instalados dentro da máquina pública.

Quando surgiu como uma força nova dentro do cenário político do final dos anos setenta, o Partido dos Trabalhadores empolgava as oposições ao regime pelo fato de obter seus recursos diretamente da população, por meio de vaquinhas, venda de camisetas e churrascos, festas, outros meios originais e absolutamente transparentes. Essa era a força que mantinha esse partido bem ao gosto popular. Esse tempo amador, mas autêntico, já vai longe.

Hoje as legendas vivem à sombra do Estado, devidamente azeitados com verbas bilionárias, fechados em si mesmos, distantes da população, hoje chamada apenas de base. Fenômeno semelhante parece ter ocorrido também com os clubes de futebol. Antigamente, era comum falar-se em amor à camisa. Eram tempos de inocência dentro do futebol. Os times viviam praticamente dos recursos obtidos das bilheterias dos jogos. Por esse critério, o desempenho no campeonato e a boa performance contavam muito para atrair o público. Só os bons times, bem armados e treinados, sobreviviam aos torneios. Esses também são tempos que já vão bem longe. Atualmente, os times são empresas e, quem parece brilhar, mais do que os jogadores, são os cartolas. Guardadas as proporções e a importância de cada um para a vida dos brasileiros, os recursos fáceis e abundantes acabaram por roubar a paixão de eleitores e torcedores.

Fundos partidários, eleitorais e para campanhas arrancam bilhões dos cidadãos, a cada ano, transformando as legendas em empresas de grande porte, capaz de fazer inveja aos países do primeiro mundo. Não é por outro motivo que existem atualmente tantos partidos, com a expectativa de criação de muitos outros. Ainda assim, com tanta fartura material, os partidos, e mesmo os políticos, nunca estiveram tão em baixa na confiança do cidadão.

Seguidas pesquisas mostram que, dentre as instituições do país, aquelas que menos gozam da simpatia e da confiança dos brasileiros são justamente os partidos e os respectivos políticos. Por aí se pode ver que não é o dinheiro que torna pessoas, empresas e instituições em algo respeitável e aceito pela população.

Se o financiamento público, como afirmam muitos, é necessário para afastar a influência das empresas privadas, por outro lado, a abundância de recursos e a sede como os políticos se atiram ao pote dos financiamentos públicos têm trazido mais prejuízos do que benefícios para os próprios políticos e por tabela para o processo de aperfeiçoamento da democracia brasileira.

Nem todo o dinheiro do mundo em propaganda seria capaz de reverter a perda de credibilidade. Um sinal de que o dinheiro não pode tudo é que, a cada eleição, aumenta o número de eleitores que simplesmente deixam de comparecer às urnas. Há, inclusive, estudos que mostram que, não fosse a obrigatoriedade do voto, inscrito na lei, muitos eleitores só saberiam que é eleição por se tratar de um feriado.

Do ponto de vista do cidadão comum, os partidos vivem numa espécie de divórcio litigioso com a população. Transformados em clubes fechados e insistindo em manter interlocução apenas entre si e com aqueles instalados no poder e na máquina pública, os partidos políticos já não empolgam a população. Esse efeito é ruim para a democracia.

De acordo com o Instituto Internacional pela Democracia e Assistência Eleitoral (Idea), 118 países adotam algum tipo de financiamento público para apoiar partidos ou campanhas, mas nenhum deles possui tantos recursos e facilidades como o sistema brasileiro. Ao deixar de sobreviver com as contribuições diretas dos filiados e simpatizantes, os partidos políticos começaram a cortar o cordão umbilical com a sociedade que afirmavam representar.

Ao adquirir a independência econômica, muito acima das necessidades, essas mesmas legendas se apartaram de vez da população, de quem só depende efetivamente a cada quatro ano. Apoio efetivo só se compra daqueles que trabalham diretamente nas campanhas. Há uma crise dos partidos que parece só ser vista por aqueles que estão do lado de fora e que é formada pelo grosso da população.

É justamente esse ponto que foi percebido, com a lupa da ganância, pelos mais caros e criativos marqueteiros de campanhas políticas de todo o país. Capazes de transformar água em vinho, essas expertises da propaganda tiravam leite de pedra, mas, ainda assim, não foram capazes de solucionar a crise de identidade das legendas e seu desgaste perante a opinião pública.

Impressionante como ainda muitas legendas são capazes de vender a alma para garantir um tempo maior em rádio e televisão. Mais impressionante verificar que, mesmo de posse de grandes somas de dinheiro, capaz de comprar os serviços dos mais renomados bruxos do marketing político, ainda assim os partidos políticos não contam com a simpatia sincera da sociedade.

 

História de Brasília

Saia da escola, por favor. Vá ao Posto de Saude. Não há. Procure o mercado. Está em obras. Funciona, precariamente, em uma casa, vendendo o que é possível, sem dar para o abastecimento de tôdas as casas. O leite cega cedo, e não é conservado em geladeiras, porque não há frigoríficos. (Publicada em 10.03.1962)

O remédio para a memória

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Charge do Duke

 

          Um dos atores principais nessa e em outras eleições, tanto no Brasil como no resto mundo, tem sido a mídia jornalística. Ela atua, de modo ativo, trazendo o mundo político à tona, com informações aos leitores e eleitores sobre as andanças e até as estripulias de cada candidato ao longo de seus mandatos.

         Seria de grande proveito para a população se, às vésperas das eleições de outubro, essa mesma mídia jornalística voltasse sua atenção para a realização de um modelo especial de retrospectiva, como os que são feitos, a cada final de ano, só que desta vez apresentando ao grande público a performance de cada político na legislatura que finda, mostrando sua atuação quer no parlamento ou em qualquer atividade pública.

         Ao reviver a performance desses personagens, os eleitores seriam naturalmente levados a um despertar de consciência e mesmo de clarividência, capaz de possibilitar a reavaliação, com muito mais critério e racionalidade, de seus votos. De certo que, ao refrescar a memória do distinto público que vota, muitos dos atuais candidatos à reeleição seriam descartados de imediato. É com a falta de memória dos eleitores que esses eternos candidatos contam para se reelegerem ano após ano. O pior é que a cada nova legislatura, eles voltam ainda mais escolados e sabidos nas artimanhas da engabelação. Para fugirem a perseguição dos eleitores por suas atuações contra a vontade popular, esses verdadeiros especialistas em política com p minúsculo, misturam-se a bancadas mais numerosas, onde a defesa mútua de interesses dificulta punições individuais.

          Eis aí a roda viva das agruras do cidadão. O eleitor desmemoriado é um perigo para si e para o país. Essa amnésia coletiva transforma nossa democracia num jogo em que o lado perdedor nem ao menos percebe que foi novamente enganado. Por isso é preciso rever, com toda a atenção, a atuação desses candidatos em cada matéria de interesse para o cidadão que foi votada no Legislativo. Importante é também rever o comportamento ético desses políticos dentro dos quadros do governo.

          Ao rememorar como se portou em votações como a prisão em segunda instância, a nova Lei de Improbidade Administrativa, o aumento de verbas para o Fundo Partidário, Fundo eleitoral e outros projetos, como as suspeitíssimas emendas secretas, o eleitor poderia ter uma visão menos embaçada pelo tempo, decidindo com mais firmeza e justiça na hora do voto. É na cabine de votação que os destinos comuns a todos são traçados em questão de segundos. A questão aqui é entender os mistérios que levam um simples gesto de apertar um botão, mudar o destino de toda uma nação.

          No caso específico das chamadas emendas secretas, é preciso refrescar a memória do eleitor, mostrando, com todas as letras, quais políticos votaram favorável a essa matéria. A razão é simples: quando o cidadão e eleitor for buscar na Farmácia Popular os remédios para as crises asmáticas, hipertensão ou diabetes, ou até a fralda geriátrica, e lá for informado de que esses medicamentos estão em falta na prateleira, ficará sabendo que o governo cortou 60% do orçamento desse programa para atender prioritariamente às emendas secretas e sem controle externo. Aí, nesse caso, melhor pedir ao balconista um remédio para a memória. Se tiver…

 

 

A frase que foi pronunciada:   

“Os mais perigosos inimigos não são aqueles que te odiaram desde sempre. Quem mais deves temer são os que, durante um tempo, estiveram próximos e por ti se sentiram fascinados”

Mia Couto

Mia Couto. Foto: AFP PHOTO/FRANCOIS GUILLOT

 

Proativo

Em pouco menos de um mês, as chuvas vão chegar e as faixas de pedestres ainda não receberam reforço de tinta. Nem as linhas de asfaltos e sinalizações necessárias. Agora é o momento para limpar as bocas de lobo, recolher lixos em áreas abertas.

Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

 

É sério?

Se, em vários países sérios, que honram o direito à privacidade, o compartilhamento de dados entre órgãos públicos é fato, não há como compreender que essa prática não seja adotada no Brasil.

Na real

Com tanta verba destinada à Secretaria de Educação, parece impossível imaginar que alguém carimbe a mão de um aluno para não repetir a alimentação. Caso a Secretaria de Educação não entenda, uma das razões para se frequentar as escolas é justamente o lanche e o jantar. Certamente não é o excelente nível de instrução dispensado.

Foto: Reprodução

 

Pressa

As comissões do Senado estão com um tempero diferente. Os parlamentares se ouvem mais nervosamente porque muitos estão em campanha. Foi o caso do senador Romário, quando tentou driblar o senador Omar Aziz. Mas não deu certo. Teve que aguardar a vez para o pronunciamento.

Senador Romário. Foto: senado.leg.br

 

História de Brasília

Já começaram a retirar as cadeiras novinhas, de formica, para colocar no barracão imundo. Dentro em pouco, nem mel nem cabaça. Ninguém é responsável, e a escola continua funcionando num barraco horrível. (Publicada em 10.03.1962)

Arte e verdade no mundo falso da política

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Reprodução/Multishow 11.09.2022

 

Quem quer viver às custas da aprovação popular incorre num antigo erro de estratégia, quando torna pública sua preferência por um lado do espectro político, desprezando e descartando, assim, parte dos seus seguidores e fãs, que não se enquadram em suas posições. Fica a meio caminho. Pior ainda quando essas preferências políticas são exacerbadas e radicais. Aí mesmo que o racha em seus seguidores se acentua. Parte daqueles que se achavam fãs viram opositores e passam a desprezar tanto a obra como o autor. É da condição humana.

Há aqueles que nunca se deixam confundir, separando o que é a obra e o que é seu autor. Fossem conhecidas todas as facetas humanas de cada um dos ídolos que desfilam na vida artística, pelo menos metade deles seria banida da preferência popular. É nessa condição, e até por um instinto de marketing e de preservação da fidelidade de seus seguidores, que muitos artistas declinam da condição de se fazerem propagandistas e defensores de políticos, sejam eles quem forem.

Quem quer viver às custas da aceitação popular e com isso angariar clientes fiéis, dentro do espírito capitalista, deve antes de tudo escolher o caminho do meio, aceitando tanto quem é contra como quem é a favor. Acostumados a viver da bajulação do público, muitos artistas acabam adentrando para o mundo do faz de conta e da ilusão passageira da fama. Os que optam por caminhos radicais, conhecem o ostracismo mais cedo.

Vivessem todos de acordo apenas com suas preferências, fazendo, dessas opções, um dogma, não haveria harmonia humana, e sim um eterno embate e divisões insanas. Deixar-se contaminar por critérios momentâneos e ocasionais é a receita certa para o fracasso. Ainda mais quando esses critérios dizem respeito apenas a escolhas pessoais e subjetivas, algumas delas, como é o caso das eleições, reguladas por lei, obrigando o sigilo absoluto do voto.

Houve um tempo em que, nas redações de jornais, a regra era simples: Jogador de futebol, joga bola. Cantor, canta. Artista plástico pinta ou borda. Nenhum deles fala ou transmite opiniões, sobretudo de cunho político. Mesmo assim, era comum ouvir absurdos vindos desses personagens. Insistir para que artistas, que conhecem e exercem muito bem seus ofícios, falem sobre suas preferências políticas e sobre sua visão do país é, por outros meios, fazer com que parte de seu público o abandone no meio do caminho.

Quer afundar um cantor ou compositor, peça que ele externe sua visão e posição política. O fã ou fanático, que a tudo endeusa, não quer enxergar o lado humano de seus ídolos e muito menos suas fraquezas. Ao conhecer seu artista de perto, sem as lentes filtradas da propaganda, muitos fãs se decepcionam com o que passam a conhecer.

Calados e focados em suas obras, todos os produtores de arte e entretenimento se aproximam de Deus e assim são vistos pelo pessoal que o aplaude. Forçar os artistas para que desçam à terra e se posicionem sobre o momento é uma forma de transformá-los em ídolos de barro fino, que serão facilmente despedaçados.

Quem quer fazer proselitismo do tipo político que o faça pelo conteúdo e expressões de sua arte e nunca por declarações do tipo “palanqueira”, enredado pelo ilusório discurso político, que muda como se muda de roupa.

Antigamente, o sentido de beleza se confundia com a verdade e a verdade era o que os artistas perseguiam. Nessa condição, os artistas passam a representar as primeiras vítimas da política. Arte e verdade, mesmo cada uma pertencendo aos distintos mundos da estética e da ética, são, portanto, antagônicas dos conceitos da política e da mentira.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“O assunto mais importante do mundo pode ser simplificado até ao ponto em que todos possam apreciá-lo e compreendê-lo. Isso é – ou deveria ser – a mais elevada forma de arte.”

Charles Chaplin

Jackie Coogan e Charles Chaplin em ‘O Garoto’. Em vídeo, trailer da versão restaurada.

 

Morte natural

Na Alemanha, a NTV deu a matéria da morte do índio Tanaru ou “Índio do buraco” quase da mesma forma que a imprensa brasileira. Não fosse o último parágrafo com a fala de Fiona Watson, da Survival Internacional, que afirma ser aquela região considerada o Oeste Selvagem do Brasil, onde as disputas por terras são resolvidas com armas. “Simbolizou tanto a terrível violência e crueldade feita aos povos tribais em nome da colonização e ganho econômico, quanto sua resistência.”

 

Celebração

Coordenadas pela ex-chefe do cerimonial do Senado, Mônica Freitas, que ciceroneou o príncipe Charles quando conheceu o parlamento brasileiro, 8 amigas vão fazer uma homenagem póstuma à rainha Elizabeth com um chá das 17h no dia da Coroação. A turma se reunirá um pouco mais cedo (16h), para ver as fotos do príncipe em Brasília.

Rainha Elizabeth II em seu casamento. Foto: Topical Press Agency/Getty Images

 

História de Brasília

Quando uma criança deseja ir ao sanitário, vai em casa, porque a escola não dispões de instalações, nem água corrente. Vivem como pacaás velhos, em plena Capital da República. (Publicada em 10.03.1962)