Troca-se violência por arte

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com Circe Cunha  e Mamfil

Quando se fala em arte-educação no Brasil, o nome da carioca Ana Mae Barbosa brilha como uma estrela de primeira grandeza. Trata-se da mais importante referência no país para o ensino da arte nas escolas, disciplina, até alguns anos atrás, pouco conhecida e valorizada entre nós.

Nos anos 1970, teve seu pedido de bolsa para fazer mestrado em Connecticut nos EUA negado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), sob o argumento de que o Ministério daEducação não reconhecia a arte-educação como área de pesquisa. Para contornar o obstáculo, custeou os estudos dando aulas de cultura brasileira na prestigiosa Universidade de Yale, se transformando na única brasileira com doutorado em arte-educação no país, condição que fez dela a maior autoridade e a mais ferrenha defensora da disciplina no Brasil.

Autora de diversos livros sobre o assunto, ganhadora do Prêmio Jabuti na categoria Educação e Pedagogia, desenvolveu, a partir de 1987, a chamada Abordagem Triangular, o primeiro sistema educativo no ensino da arte que ainda hoje é referência nos programas em arte-educação no Brasil. Seu método enfoca o ensino das artes pelo tripé da contextualização histórica, pelo fazer artístico e pela apreciação da obra de arte. Ainda hoje, aos 81 anos de idade, Ana Mae continua a batalha pelo reconhecimento da importância da arte-educação no Brasil, sobretudo agora que se anuncia a retirada da disciplina de artes proposta pela reforma do ensino médio.

Para a educadora, a retirada dessa disciplina dos currículos escolares terá como consequência a formação de toda uma geração de brasileiros “facilmente manipulável”. O ensino das artes nas escolas é, na sua avaliação, importante para o ser humano. Por isso existe e acompanha a humanidade desde o tempo das cavernas. Além disso, está provado que o ensino das artes é transferível para o aprendizado de outras disciplinas, como ficou atestado em estudos realizados nos EUA nos anos 1990, quando se comprovou que os melhores alunos e as melhores notas eram dos estudantes que tiveram a oportunidade de estudar artes.

A partir desse estudo, os pesquisadores passaram a dar atenção ao ensino das artes como importante referência à transferência cognitiva e afetiva. Ficou provado que o desenvolvimento mental que o estudo das artes proporciona é aplicável ao modo como se aprendem as outras disciplinas. “Essas pesquisas, dizem, demonstraram que o estudo de desenho aumenta a qualidade de organização da escrita; raciocinar sobre arte desenvolve a capacidade de raciocinar sobre imagens científicas; a análise de imagens da arte propicia a capacidade de leitura mais sofisticada, interpretação de textos e inter-relacionamento de diferentes textos. Enfim, a instrução em artes visuais, como fator de desenvolvimento da prontidão para a leitura compreensiva, foi uma das conclusões das quatro pesquisas realizadas por James Catterrall, PhD em educação pela Stanford University.

No caso de disciplinas como teatro e interpretação, a transferência de cognição foi ainda maior. Para o pesquisador, nos alunos que tiveram a oportunidade de estudar teatro foram identificados maior compreensão da leitura oral de textos, maior compreensão do discurso oral em geral, aumento da interação entre pares, capacidade de escrever com eficiência e prolixidade, habilidades de resolução de conflitos, concentração de pensamento e habilidades para compreender as relações sociais. Também aparece a capacidade para compreender problemas complexos e emoções, além de estímulo ao engajamento.

Outro aspecto verificado com o ensino das artes é a redução da evasão escolar, elevação das aspirações educacionais dos alunos e o desenvolvimento de habilidades de pensamento de ordem superior. No caso do estudo da música, a transferência cognitiva ajuda no aprendizado da matemática, na percepção espacial e temporal. Não é por outra razão que muitos cientistas têm bom ouvido para música, sendo que grande parte deles toca um instrumento. Infelizmente as autoridades brasileiras ainda não avaliaram adequadamente a importância do ensino das artes em nossas escolas públicas, e o resultado é o que se vê hoje, inclusive com muitos professores sendo agredidos de forma brutal num país que parece caminhar para trás rumo ao mundo primitivo, de volta para as cavernas, só que, agora, sem pinturas rupestres.

 

A frase que não foi pronunciada

“Às vezes, a vida é colocada de cabeça para baixo para que possamos aprender a viver de cabeça para cima.”

Max Weber, sociólogo alemão

 

Antes do Fórum

» O Ministério das Cidades abriu inscrições até o dia 19 de janeiro para o curso presencial nacional sobre regulação e fiscalização dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário. Com a coordenação de Frederico Araújo Turolla, os painéis tratarão dos títulos: O papel das agências reguladoras, a regulação econômica, a regulação da qualidade dos servidores, aplicação de penalidades e análise do impacto regulatório (AIR)

 

Solidariedade

» Apesar do excesso de estrangeirismo no nome, o evento é solidário. The Street Store DF arrecada doações para a primeira edição no Nordeste. Pontos de coleta espalhados por Brasília estão recebendo roupas, sapatos e brinquedos. Vai até o dia 21. A ONG promete levar as doações para as comunidades de Agrovila, Pavão e Cana Brava, no interior da Bahia. Duas mil pessoas serão beneficiadas com as doações. Outros pontos de coleta pela cidade entre os dias 11 e 30 de dezembro serão a SelfStok, as lojas Bio Mundo, Living Fit e a empresa Centro Peças.

 

História de Brasília

Sabe-se, agora, que não havia imposição do PSD de Goiás, mas sim a promessa do governo, o compromisso de “dar-lhe” a Prefeitura de Brasília. (Publicado em 10.10.1961)

O tempo passou na janela

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Quem observa com atenção antigas fotos em preto e branco, tiradas há pouco mais de meio século, mostrando cenas das nossas principais capitais, de ruas, avenidas, parques e centros de comércio, nota, logo de saída, uma diferença significativa e que ilustra um fato bem preocupante: como eram bonitas e organizadas nossas metrópoles, com cada coisa em seu lugar. As principais ruas eram limpas, arborizadas, os prédios bem dispostos, bem cuidados. Os parques exibiam estátuas e monumentos intocados, haviam bebedouros, públicos espalhados pela cidade. O trânsito fluía, as pessoas pareciam caber nas ruas. Tudo estava em seu lugar. Nos centros urbanos não se viam lixo, pichações, parecíamos estar vendo uma outra cidade, de um outro país distante.

Ao apreciar essas imagens e olhando em volta para o que temos agora, o sentimento que prevalece é de que, naquela época, havíamos resolvido grande parte de nossos problemas urbanos atuais. Passado tanto tempo, a pergunta que se impõe é: o que teria ocorrido com nossas principais capitais? Comparando esses mesmos sítios ontem e hoje, é visível a deterioração e o envelhecimento precoce de nossos espaços públicos.

Por que esse mesmo fenômeno não afetou cidades como Paris e Roma, bem mais antigas e tão bem conservadas? Nossas principais cidades, simplesmente, envelheceram num ritmo alucinante. É certo que o Brasil de 50 anos atrás tinha problemas, mas o registro em imagens, gravado no papel, mostra as metrópoles brasileiras como um lugar outrora aprazível e seguro. Mesmo Brasília, tão nova e moderna, basta um olhar nas fotos captadas nos anos 1960 para se constatar que o passar do tempo maltratou muito a capital do país. As imagens mostram que a Rodoviária central, o Setor Comercial Sul, a W3 e outros endereços faziam parte de uma cidade que não existe mais e que foi engolida pelo progresso ligeiro e oportunista.

Nos últimos anos, esse processo de deterioração se acelerou com a entrada de novos personagens no comando da cidade, retaliada entre grupos políticos. O que se observa agora é a degradação dos espaços públicos, com os puxadinhos horrendos tomando conta de tudo. O comércio sobre rodas, caracterizado pelos chamados food trucks, uma inovação importada às pressas dos Estados Unidos, não respeitam canteiros centrais, áreas verdes, nada. Vão invadindo cada canto, improvisando um comércio de alimentos que, todos sabemos, não passa pelo crivo da vigilância sanitária.

Leis, feitas sob encomenda e que beneficiam mais aqueles que as confeccionam do que a população em geral, são produzidas em quantidade, favorecendo todo o tipo de empreendimento. Com isso, a cidade que deveria ser modelo para o mundo vai entrando, pouco a pouco, num processo de decadência triste e irreversível, restando apenas lembranças gravadas em fotografias em preto e branco e que nos dão a certeza de que éramos felizes e não sabíamos.

A frase que foi pronunciada

“País subdesenvolvido é aquele que importa, como novidade, o que os países desenvolvidos já abandonaram como obsoletos.”

Jaime Lerner, arquiteto e urbanista

Armas

» Na entrada da Virgínia, nos EUA, uma placa de boas-vindas diz mais ou menos o seguinte: Atenção, criminosos — terroristas. Virgínia é protegida pela milícia cidadã 24 horas por dia, 365 dias por ano. Mais de 200 mil cidadãos e guardiões da paz estão treinados e armados legalmente para defenderem-se e proteger os outros contra crimes e violência. Você foi avisado. Resultado. Com uma população de 8,412 milhões, em 2016, foram registrados 383 assassinatos, 2.340 estupros, 4.441 roubos e 9.235 assaltos.

Mais um

» Na Carolina do Norte, a placa é mais criativa e mais agressiva. Bem-vindo à Carolina do Norte. Nossos habitantes têm armas escondidas. Se você matar alguém, nós mataremos você. Nós temos zero cadeias e 513 cemitérios. Aproveite sua estada! Com 10,15 milhões de habitantes, na Carolina do Norte houve 517 assassinatos, 2.684 estupros, 8.825 roubos e 22.826 assaltos.

Cariocas

» No Rio de Janeiro, com 16,7 milhões de habitantes foram 4.128 casos de estupros, 6.002 assassinatos, 3.965 roubos e 1.038 assaltos. (Fonte: ondefuiroubado)

Juntos e fortes

» Sob o comando do governador do Mato Grosso, Pedro Taques, no Fórum de Governadores foi assinada uma ordem de serviço para a compra de medicamentos de alto custo em conjunto. “Isso vai permitir a compra mais barata desses itens, que são importantes em todo o país”, disse Rollemberg. Os governadores vieram a Brasília, que sediou o evento.

História de Brasília

A alegação é a de que militar nunca é fixo numa cidade, mas isto, pelo menos, seria uma boa oportunidade, para que todos pudessem ter uma casa própria. (Publicado em 10/10/1961)

Receita amarga do Banco Mundial

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Relatório econômico, elaborado pelos técnicos do Banco Mundial, a pedido do governo brasileiro, ao analisar, em 160 páginas, a questão do gasto público, fez recomendações tão óbvias sobre a eficiência desses gastos que o melhor e o mais prudente seria ao Palácio do Planalto ter encomendado o receituário diretamente às donas de casa do país, que mais bem do que qualquer especialista conhecem a realidade nacional e onde estão os verdadeiros gargalos de nossa economia.

Dizer que o governo gasta muito e mal os recursos que arrecada, é chover no molhado. Intitulado Um ajuste justo: Análise da eficiência e equidade do gasto público no Brasil, o relatório do Banco Mundial afirma que é possível realizar ajuste fiscal, aliado com maior igualdade social, e política maior de inclusão. Obviamente, tal receituário acaba por interessar mais ao mercado do que à população que assiste, há décadas, à escalada da carga tributária, sem a devida contrapartida.

O balizamento necessário das contas públicas, diz o Banco Mundial, representa grande desafio para o país. “É preciso prepará-lo para assegurar um ajuste socialmente justo. Identificamos vários programas do Estado brasileiro que são bastante ineficientes e que, em vez de reduzir a desigualdade, contribuem para aumentá-la.” O chamado “motor do desequilíbrio fiscal” está, segundo os técnicos, centrado no sistema previdenciário, altamente injusto, em que os altos salários dos servidores públicos federais acabam por contribuir para essa diferença. Por isso, recomendam uma reforma profunda no sistema e é aí que a questão empaca de vez. Para o brasileiro comum, e isso é evidenciado em várias pesquisas, a reforma da Previdência, pretendida pelo atual governo, sem voto e sem credibilidade política, em tempo algum, atenderá aos reclamos da nação por justiça social. Em vez disso, representará , unicamente, um aceno ao mercado e aos investidores internos e externos de que o país ainda é um porto seguro para o investimento de recursos, principalmente aqueles do tipo especulativo, e que não geram riquezas internas e duradouras.

Para os críticos desse receituário, em momento algum, o relatório do Banco Mundial faz recomendações no sentido de realizar auditoria profunda e verdadeira tanto da dívida pública quanto da situação atual da Previdência. A população que não entende do linguajar técnico da economia compreende, no entanto, que, a cada governo, vão se ensaiando e implementando reformas sobre reformas, cujos resultados terminam sempre por emparedar os brasileiros num arrocho sem fim. Nem receitas neoliberais, nem receitas do tipo socialistas terão o condão de equilibrar as enormes disparidades existentes hoje no Brasil. Muito menos qualquer medida proposta por governantes em fim de linha.

Recomendar a cobrança de mensalidade em universidades públicas não resolve o problema central da educação no país, que, como muitos sabem, é uma questão de base e tem início nos primeiros anos de vida do cidadão. A disparidade salarial, foco do relatório, poderia ser equacionada, com a adoção de teto salarial que teria como referência o que é pago a um professor universitário, fim de carreira e dedicação integral. Isso até a avó da gente sabia. Recomendações como essas só fazem confirmar o prêmio Nobel de economia deste ano, que conferiu a comenda a Richard Thaler.

A frase que foi pronunciada

“Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza.”

Boaventura de Souza Santos, pensador do direito

Datanada

» Pesquisadores contratados para levantamento das preferências eleitorais no DF ouviram poucas e boas na padaria do Lago Norte. Ao ler o nome dos candidatos, era um rosário de perguntas dos transeuntes: “Ué, esse cara está solto?” “Mas esse outro vai se candidatar da cadeia?” “A Polícia Federal sabe que ele quer ser candidato?” “Mas a tornozeleira vai permitir chegar ao Buritinga?” “Minha filha, votar pra que se todos vão estar presos?” E por aí foi. A pesquisadora saiu depois desse bombardeio e ninguém conseguiu ler o que ela escreveu no formulário da prancheta.

Maciel

» Lançado na Biblioteca do Senado o livro Marco Maciel – o artífice do entendimento, de autoria de Ângelo Castelo Branco, publicado pela Companhia Editora de Pernambuco. Quem deu total apoio ao evento foi o senador Garibaldi Alves Filho.

Novidade

» Projeto do senador Cassio Cunha Lima, que altera Estatuto da Advocacia, foi aprovado pela CCJC da Câmara. O deputado maranhense Rubens Pereira Júnior, vice-líder do PCdoB, votou a favor da matéria e informou que o projeto também estabelece novas infrações disciplinares e dispõe sobre a notificação para atos processuais no âmbito da OAB.

Capacitação

» Uma pesquisa feita pelo Instituto DataSenado — Violência doméstica e familiar contra a mulher — mostrou que cerca de 19% das vítimas de agressão procuram apoio de líderes religiosos. Esse dado mostra a importância da Igreja no aconselhamento para as mulheres que são agredidas. O deputado Jutay Meneses defende o preparo de religiosos para o atendimento de casos de violência doméstica.

História de Brasília

A informação não contém detalhes, mas os ministérios militares estão fazendo uma exposição de motivos ao presidente, para que os próprios ministérios adquiram os apartamentos, para sublocá-los aos funcionários que sirvam no Distrito Federal. (Publicado em 10/10/1961)

Marcha ao caos

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“Enquanto o Rio definha no caos social, esses sujeitos se empapuçam com o dinheiro da corrupção”. A frase foi dita pelo procurador Carlos Alberto Gomes em entrevista coletiva após a deflagração da Operação Cadeia Velha. Retrata um Brasil velho e conhecido da gente e que não se limita apenas à ex-Cidade Maravilhosa, mas que medra por todo o território nacional como um câncer em metástase avançada.

A continuar nessa toada, logo será necessário a criação de um ministério, exclusivo, de combate à corrupção, sob a chefia da Polícia Federal. Agora se entende porque a intervenção federal, há muito tempo necessária naquele estado, ainda não foi decretada. A questão é que aqueles que deveriam se preocupar com esse assunto urgente são os mais interessados em manter o status quo do caos, já que é daí que retiram a fortuna criminosa.

O noticiário do Distrito Federal demonstra também casos preocupantes de corrupção. Basta encarar o monumento mais vistoso desde a Copa, o Estádio Nacional. Hoje, sabe-se que o mastodonte foi erguido com a finalidade de render propinas para as campanhas e para o enriquecimento fácil de parte da classe política local.

A Operação Mamon, iniciada pelo Ministério Público daqui, revelou que a compra e a manutenção de centenas de viaturas da PMDF estão eivadas de suspeitas de corrupção, com licitações direcionadas, pagamento de propinas e outras modalidades de crime que estariam acontecendo nos últimos 5 anos, envolvendo figuras de alta patente da Polícia Militar.

Na sanha de embolsar o alheio, nem mesmo pessoas portadoras de necessidades especiais e com doenças graves escapam da ação desses malfeitores, como vem sendo noticiado sobre os casos de fraudes dentro do sistema de passe livre, no transporte coletivo do DF.

Além dos vivos, também os mortos, na figura de seus familiares, são alvos das ações das máfias das funerárias que cobravam, segundo revelou a Operação Caronte, da Polícia Federal, milhares de reais por um sepultamento, no que ficou conhecido por “mercado da morte”. Levantamento realizado agora mostra que os contratos entre o GDF e as empresas prestadoras de serviços de segurança e limpeza, pertencentes a deputados distritais e seus familiares, foram extremamente turbinadas, tão logo seus controladores foram eleitos para a Câmara Legislativa. Somente o caso da Brasfort, ligada ao distrital Robério Negreiros, dá uma mostra desse escândalo. Em apenas cinco anos, essa empresa saltou de um faturamento de R$ 8,4 milhões, com o Executivo local, para R$ 213,2 milhões, um crescimento espantoso de 2.408%.

O mesmo se deu com a empresa Ipanema, pertencente à família do distrital Cristiano Araújo (PSD), que pulou de um faturamento de R$ 32 milhões em 2010, para R$ 96,8 em 2017.

Num país sério, político algum com assento no parlamento pode possuir empresa lucrando com o Estado.

Operação feita ontem pela Polícia Federal começou a desbaratar uma quadrilha que agia dentro da Caixa Econômica no Distrito Federal. A suspeita da PF é de que mais de R$ 400 milhões foram desviados da instituição, dentro das áreas de tecnologia do banco, envolvendo funcionários da Caixa, empresários da área de TI e empresas de consultoria.

Tantos casos escabrosos de desvios de dinheiro público, nas mais diversas áreas, acontecendo num ritmo alucinante, dão-nos a certeza de que vamos também em acelerada marcha rumo ao caos que elegemos para nós mesmos.

A frase que foi pronunciada

“As mentiras sempre foram consideradas instrumentos necessários e legítimos, não somente do ofício do político ou do demagogo, mas também do estadista.”

Hannah Arendt

Pai&Filho

» Com a venda de pastéis na parada do Palácio do Planalto, Claudiney está quase chegando ao total dos recursos para lançar o filho no esporte. Convidado por um time, o garoto promete.

História de Brasília

Os dois grandes nomes da política brasileira estão ausentes do país. Um, por força da renúncia, sr. Jânio Quadros, outro, por tendências par ao turismo, sr. Juscelino Kubitschek. (Publicado em 08.10.1961)

Aos mestres com carinho?

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Talvez por ter caído num domingo, o 15 de outubro, Dia do Professor, passou em brancas nuvens para muita gente. Passou, assim despercebido, como de costume tem passado a profissão de professor ao longo de toda a história brasileira. Para uma sociedade que, havia menos de um século, era, majoritariamente, formada por pessoas iletradas, o exercício do magistério, à semelhança da catequese dos índios, empreendido séculos antes, sempre foi visto com um misto de admiração por uns e de ressalvas por outros. A tarefa de educar, embora reconhecida como de grande importância para a modernização do país, nunca teve, por parte das autoridades, o tratamento devido. Portanto, não chega a ser surpresa que os professores brasileiros estejam entre os profissionais com os menores salários do mundo.

Segundo dados divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os professores brasileiros ganham menos da metade da média salarial para docentes em 46 países, embora trabalhem mais que a grande maioria deles. Um professor de educação básica recebe, no Brasil, cerca de US$ 12.337 por ano, enquanto, em outros países da OCDE, a média é de US$ 28.700. Essa situação se agrava ainda mais quando se verifica que nem o piso salarial de aproximadamente R$ 2.000 é pago em muitos estados brasileiros.

Na maioria dos países da OCDE, os professores passam , em média, 40 semanas em sala de aula. No Brasil essa média é de 42 semanas e em algumas localidades chegam a 44, sem contar o tempo gasto na preparação de aulas e na correção de exercícios e provas, que são realizados em casa. A evidência de que esse é um processo histórico e enraizado em nossa cultura traz repercussões negativas até para a continuidade do magistério.

Estudos da OCDE demonstram ainda que a maioria dos jovens brasileiros hoje não pretende se tornar um futuro profissional de ensino. As razões são muitas e vão desde as péssimas condições de trabalho, com baixos salários e salas superlotadas, até a violência escolar e as múltiplas enfermidades que esses profissionais sofrem ao longo dos anos. Mesmo os cursos de licenciatura, por razões óbvias, atraem cada vez menos alunos.

De acordo com números apresentados pelo MEC, apenas 16% dos alunos de formação de professores concluem o curso. Estudos da OCDE mostram ainda que o Brasil é, entre todas as nações desse grupo, um dos mais hostis com os professores de escolas públicas. Também o gasto do Brasil com aluno do ensino fundamental ou médio é de cerca de US$ 3,8 mil ao ano, menos da metade da média da OCDE, que é de US$ 8,5 mil, no ensino fundamental e de US$ 9,8 mil no ensino médio.

Não bastassem esses números, o Brasil ainda é considerado o líder no ranking da violência escolar. Em 2014, a OCDE apontou que 12,5% dos educadores sofreram agressões verbais ou intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana. A média entre outros membros foi de 3,4%. Em países como a Coreia do Sul, esse índice foi zero.

Os constituintes da Carta de 1988 erraram ao não fixar como teto salarial para o funcionalismo, o salário de professor de universidade pública, com dedicação integral e no fim de carreira. Quem sabe, assim, os parâmetros de ganhos teriam um referencial mais justo e ético, servindo de base para o futuro.

 

A frase que foi pronunciada:

“ Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor.”

Paulo Freire

 

Atenção educadores

Mobilização produtiva. Hoje começa o V ENTEC – Encontro Nacional dos Trabalhadores em Educação e Cultura realizado pela CNTEEC. Com os temas: Desmonte Sindical, Reformas, Crise Social E Moral; o CNTEEC está em busca de novos caminhos.O encontro será na sede da organização que fica no SCS quadra 4 , bloco B. Mais informações pelo telefone 3321-4140.

 

Outro lado

Em relação a nota publicada na coluna “Ari Cunha” sobre a insalubridade a que estão sujeitos os pacientes por conta da proximidade com o Centro de Controle de Zoonoses, o Hospital da Criança de Brasília Jose Alencar (HCB) esclarece que não há qualquer evidência que indique algum risco à saúde dos pacientes do Hospital por conta da proximidade com o referido Centro. As edificações onde ficam os pacientes imunosuprimidos estão a uma distância de quase 300 metros do Centro, a água do Hospital é fornecida pela Caesb e a limpeza e manutenção dos reservatórios são realizadas a cada três meses. O HCB também mantém um controle de pragas realizado a cada 21 dias, no Hospital e em seu entorno, de acordo com a RDC 52 da Anvisa.

 

Do bem

Daniéll Zukko promove, no dia 21 de outubro, a partir das 10h, o Mutirão de Doação #minhabrasilia. O ponto de encontro é no Hemocentro de Brasília na W 1 Sul e a ideia é juntar a força e a boa vontade dos brasilienses, ou quem estiver por aqui, para ajudar quem precisa. “Brasília é uma cidade espetacular! Com gente espetacular! O meu objetivo é juntar 50 doadores nessa manhã. Para participar é só comparecer ao local, no horário marcado, claro que preenchendo os pré-requisitos da Fundação: para saber se você está apto ou não para doar sangue, basta entrar no site do Hemocentro (http://www.fhb.df.gov.br/). É preciso, mais do que nunca, criar o hábito da doação”, explica Daniéll. A VW Brasília, o estúdio móvel que é palco das entrevistas mais bacanas da web (#minhabsb), também estará por lá.

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Vem governo, sai governo, e as duas casas dos funcionários da Novacap continuam interrompendo a avenida que liga o Trevo do Presidente ao Iate Clube de Brasília. (Publicado em 06.10.1961)

A água é nosso maior patrimônio

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Reportagem apresentada, na sexta-feira, alerta para a qualidade da água no Distrito Federal e reforça o que os especialistas vêm afirmando há algum tempo: a ocupação irregular e ainda persistente de terras em Brasília prejudica a qualidade da água, por ação da poluição constante, bem como a quantidade desse produto essencial, por ação do desmatamento e do assoreamento de importantes nascentes. Ou seja, o loteamento urbano desordenado e criminoso vai deixando sequelas que, aos poucos, vão comprometendo a própria existência futura da capital.

Tomadas dessa forma, muita gente considera um exagero que a capital venha a ser inviabilizada por uma questão de crise hídrica. Menos de duas décadas atrás, soaria também como exagero sem propósito se alguém afirmasse que, em poucos anos, Brasília seria submetida aos rigores dos rodízios no abastecimento de água. Hoje, a escassez e o racionamento são parte de nossa realidade – e, acreditem, vieram para ficar. O pior, e já se sabe disso, se não forem adotadas medidas drásticas para pôr fim ao criminoso parcelamento irregular de terras públicas, nem todo o dinheiro do mundo salva a capital dos brasileiros.

Dos 23 mananciais que abastecem a cidade, a maioria, segundo os técnicos da Caesb, apresenta algum sinal de poluição, sendo que o Ribeirão Engenho das Lajes, próximo ao Gama, é o que está em pior situação. As ocupações irregulares ganham maior gravidade quando ocorrem nas bordas da bacias hidrográficas. Até as áreas agrícolas, não devidamente fiscalizadas, contribuem para a redução do Índice de Qualidade da Água (IQA).

Especialistas asseguram que, com toda a tecnologia disponível, a captação de água bruta poluída exige mais gastos com tratamento e os resultados finais jamais serão iguais à captação de água de boa qualidade. A captação de águas do Lago Paranoá, criticada por uns e apoiada por outros, devido ao problema da escassez, foi, no passado, considerada opção totalmente exótica e absurda, mas, hoje, por desleixo nosso, virou realidade que teremos que engolir.

A crise hídrica e sem precedentes na história de Brasília provocada pelos parcelamentos irregulares de terras, por período prolongado de seca, pelo aumento considerável do consumo, devido à elevação da temperatura e à baixa umidade, tende a recrudescer nos próximos anos. Essa é uma realidade que obrigatoriamente nos conduzirá à conscientização do problema que criamos para nós mesmos. Quer queiramos ou não.

 

A frase que não foi pronunciada

“Enquanto a educação estiver voltada para a competição, haverá guerra. A paz é fruto do aprendizado da solidariedade e cooperação.”

Maria Montessori, educadora, médica e pedagoga

 

Mestre Woo

» Hoje é dia de café da manhã para comemorar os 43 anos de Tai Chi Being Tão. Café compartilhado, apresentações musicais, rodas de conversa sobre saúde e bem-estar, cerimônia de gratidão aos antepassados, oficinas de Tai Chi e cultura chinesa, dança circular, origami, atividades para a criançada. Local: Praça da Harmonia Universal, na EQN 104/105.

 

Auditoria Cidadã

» Começará, em 7 de novembro, no Senado Federal, às 9h, audiência pública em que a Auditoria Cidadã já confirmou presença. O mote é Esquema Financeiro Fraudulento e Sistema da Dívida. A discussão recairá sobre a criação de “estatais não dependentes”, em que o grupo afirma que é para securitizar dívida ativa e lesar a sociedade.

 

Fraco

» Algumas representações brasileiras no exterior vão de mal a pior. No Consulado brasileiro, em Frankfurt, o atendimento ao público pode ser feito a qualquer momento, bastando que o interessado indique um telefone fixo por e-mail para contato posterior. Na Embaixada do Brasil, em Berlim, o atendimento por telefone é restrito a uma hora e meia de segunda a quinta- feira.

 

E mais

» Nosso leitor conta que o prazo de atendimento estabelecido pelo consulado para solicitação de expedição de documento feita pelos Correios é de 10 dias úteis. A Embaixada em Berlim, estabelece prazo de sete dias úteis. Mas a pontualidade é bem diferente da adotada pelo país germânico. Por enquanto, para uma procuração enviada para Berlim, remetida por instrumento particular, já somam 17 dias sem retorno.

 

História de Brasília

A nomeação do dr. Laranja para a presidência da Novacap foi recebida na Companhia Urbanizadora não como a de um técnico em organização, mas como a nomeação do médico do presidente da República. (Publicado em 5/10/1961)

Desigualdade à brasileira

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Relatório intitulado A distância que nos une. Um retrato das desigualdades brasileiras, apresentado agora pela Oxfan, organização não governamental especializada em encontrar soluções para problemas como pobreza e injustiça e que atua em mais de 100 países, mostra claramente por que nosso país prossegue sendo o campeão mundial da desigualdade.

Para muitos especialistas, esse é um dos principais gargalos a ser resolvido pelo Brasil ao longo do século 21 caso nosso país pleiteie algum lugar entre as nações desenvolvidas. Para se ter uma ideia desse problema, em nosso país, apenas seis pessoas têm riqueza  equivalente ao patrimônio de mais de 100 milhões de brasileiros mais pobres. Outra comparação mostra que 5% dos brasileiros mais ricos detêm a mesma fatia de renda que os demais 95% da população.

O problema toma ainda uma dimensão mais preocupante quando se verifica que a desigualdade em nosso país não só tem aumentado ao longo dos anos, mas apresentado uma característica de persistência, mesmo em face dos tímidos projetos adotados pelo governo nas últimas três décadas. Thomas Pikkety, do Instituto World Welth & Income Database, recentemente, apresentou dados mostrando que mais de a metade da renda nacional está concentrada nas mãos dos 10% mais ricos. Para Zeina Latif, economista-chefe da XP investimentos, a desigualdade no Brasil decorre do mau funcionamento do Estado, que produz injustiça social e baixo crescimento da renda. “Forçar a mão na tributação da elite pode incentivar a fuga de capitais e a queda do investimento, enquanto o paternalismo estimula a evasão escolar e desincentiva a procura de trabalho e o empreendedorismo”, avalia a economista.

A Oxfan enxerga o problema como tendo sua origem no sistema tributário regressivo, que pesa muito sobre os mais pobres e a classe média. A discriminação de raça e gênero que promove a violência cotidiana contra mulheres e negros, negando a eles direitos básicos, além da falta de espírito democrático e republicano do nosso sistema político, que concentra poder e é altamente propenso à corrupção. Para a diretora da Oxfan Brasil, Katia Maia, não existe solução mágica. A saída, diz ela, é trazer a sociedade civil organizada para participar mais ativamente dos processos de reforma tributária e política, pressionando o Executivo e o Legislativo para que façam reformas que beneficiem a sociedade.

Para o economista Naercio Aquino Menezes, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, a educação é o maior redutor da desigualdade. “Se você aumenta a educação, os anos de estudo, você reduz a desigualdade. Isso é bem claro. Se você aumenta a quantidade de pessoas com ensino médio, a diferença salarial entre quem tem ensino médio e quem tem ensino fundamental cai. Se você aumenta o ensino superior, mais do que o médio, a diferença entre o superior e o médio cai. Então, quanto mais você aumenta a oferta para o nível de cima, com relação ao de baixo, a desigualdade diminui. Esse é um meio bom de distribuir renda, porque você aumenta a educação das pessoas, elas se tornam mais produtivas e, ao mesmo tempo, você reduz a desigualdade e a pobreza. Acho que esse é o melhor caminho”, avalia.

 

A frase que foi pronunciada

“Todo sistema de educação é uma maneira política de manter ou de modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes que eles trazem consigo.”

Michel Foucault, filósofo

 

Mobilidade

» Persiste ainda no Congresso a intenção de muitos parlamentares em mutilar o projeto que estabelece o serviço de Uber, 99 e Cabify, na contramão do que tem manifestado a população, aliviada com o fim da exploração longeva praticada pelo cartel dos taxistas, que tinha no serviço não a melhora e a eficiência no transporte urbano de passageiros, mas um meio de extrair do usuário até o último centavo. PLC 28 desperta mobilização nacional via mídia social para barrar o projeto.

 

Release

» Produtos genuinamente brasileiros serão apresentados aos participantes da Expoalimentaria, até 29 de setembro, em Lima, no Peru. Com apoio da Secretaria Especial de Agricultura e do Desenvolvimento Agrário (Sead), oito cooperativas nacionais vão compor o estande Brazil — Family Farming. O menu inclui iguarias da Amazônia, como o bacuri, açaí, buriti, jambo e muruci. Além do café feminino de Minas Gerais e sabores do Pará, como geleias e licores.

 

Manobra

» “Eis que, de repente, depois de um maremoto nos gabinetes, com direito a reviravolta de filme, na relatoria, o projeto surge das profundezas do oceano, não como um peixe grande que já era, mas como um verdadeiro monstro marinho, enorme e cheio de dentes. Esse é o substitutivo atualmente em discussão” protestou o senador Telmário Mota,  sobre a tramitação a  jato do projeto que rege o financiamento de campanha.

 

História de Brasília

Um baiano foi visitar o gabinete do primeiro-ministro Tancredo Neves  e saiu horrorizado. Diz que, na feira do Jequié, há muito menos gente. (Publicado em 5/10/1961)

 

Quando mimar mata

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com Circe Cunha  e Mamfil

É comum observar que, em tempos de crise, não só no Brasil, mas em grande parte do mundo, aumenta sensivelmente o número de pessoas que buscam no ato derradeiro do suicídio uma solução para pôr termo {as suas incertezas com relação ao futuro e ao desalento com o presente. A atual crise experimentada, há anos, pelos brasileiros e considerada, por muitos, como a maior, mais duradoura e profunda de toda a nossa história, tem papel importante e influência direta no aumento de casos de suicídio que vêm sendo registrados em todo o país. De acordo com dados divulgados agora pelo Ministério da Saúde, nos últimos 4 anos, o número de suicídios no Brasil cresceu 12%. Trata-se de problema extremamente grave e que requer a adoção de medidas urgentes para que não se torne, como no restante do planeta, uma epidemia mundial.

Em Brasília, ano passado, foram registrados 191 casos de suicídio, sendo que esse número não reflete a realidade da capital, uma vez que muitos desses casos  sequer são registrados. O tabu sobre o assunto é norma geral. As ocorrências são comuns tanto nas áreas centrais da capital quanto nas regiões administrativas ao redor do Plano Piloto.

A Secretaria de Segurança Pública e o Corpo de Bombeiros não costumam divulgar os dados por diversas razões, a principal é que esse tipo de notícia acaba servindo de incentivo para pessoas em crise. No entanto, é consenso entre os profissionais de psicologia que encobrir assunto de tamanha gravidade, ou o deixando de lado, não s’ao a melhor forma de tratá-lo, pois é, sem dúvida, um problema de saúde pública nacional e mundial.

Para alguns especialistas na questão, o melhor é tratar o suicídio como um problema de enfermidade que deve ser encarado, sem medos ou receios. No entanto, é preciso salientar que a divulgação dos casos não é o que mais interessa. O mais importante é tornar público os locais de apoio, como os chamados Centros de Valorização da Vida (CVV). O CVV, que completa 55 anos, realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail, chat e voip 24 horas. O número do telefone é 144.

No Senado, o papel das mídias sociais em relação ao bullying e ao suicídio é tema de debate em CPI. Como representante do CVV, Antonio Carlos Braga contou que agora é possível a comunicação também por chat, por meio do computador ou do celular. Essa modalidade de comunicação teve a busca de 30 mil pessoas no ano passado. Em todo o país, são mais de 2 mil voluntários. Por ano, eles recebem mais de um milhão de ligações por ano. A função dessas pessoas é ouvir e apoiar quem está predisposto ao gesto extremo. Um dado interessante trazido por pesquisas é a depressão infantojuvenil. Mais da metade dos contatos foram feitos por jovens entre 13 e 19 anos. Um terço deles falando em suicídio. Alerta aos pais que não impõem limites. Filhos gostam de ser cuidados, e não comprados.

* Com dados do Jornal do Senado

 

A frase que não foi pronunciada

“Quantas pessoas que se quiseram suicidar se contentaram em rasgar a própria fotografia!”

Renard Jules

 

Vai que cola

» Sem cerimônia, na Vargem Bonita, em frente à padaria, um aventureiro, certo da impunidade, começou um quiosque com jeitinho e, agora, achou melhor alvenaria. Está lá a invasão para quem quiser ver.

 

Futuro macabro

» O professor Nagib Nassar nos envia um texto com profunda preocupação em relação aos transgênicos Bt. A presença desse transgênico coincide com o sumiço das abelhas, que se alimentam do pólen da florada. A produção não só do mel está comprometida, mas a cultura alimentícia de forma geral, como maior produtor mundial que é o nosso país. “Estamos olhando silenciosamente à destruição do nosso meio ambiente e ecossistemas, e andando como cegos para uma catástrofe que nos levará ao fim.”

 

Turista

» De volta a Brasília, Marta Peña suspira, lembrando o tempo em que o Palácio do Planalto tinha as janelas sem cortinas. Não havia medo ou culpa. Todo governo honesto deveria se descortinar.

 

Segredos

» Marcos Vinícius Melo nos conta que desistiu dos livros eletrônicos. Soube que é possível para a editora saber quanto tempo passou em cada página, quantas vezes acessou o livro, de onde lia e outras informações que o fiel livro de papel mantém secretas.

 

Fortaleza

» Ao ser questionada quando saiu do carro em uma vaga para deficientes, Lilian Lima explicou com paciência. Tem fibromialgia, usa carro adaptado e tem autorização do Detran.

 

Sem audição

» Por falar em deficiência, a jurisprudência entende que as pessoas surdas podem, sim, marcar a alternativa de deficiente físico ao preencher as inscrições de concursos.

 

Primeiro passo

» Lisieux Nidimar Dias Borges, mestre em direito privado pela PUC mineira, defende o testamento particular em Braile. Em seu artigo, a advogada lembra que a pessoa com deficiência visual, capaz, alfabetizada e que tenha conhecimento na escrita Braile tem todo o direito de produzir seu testamento de modo particular. Tecnologia e ações de inclusão do Estado não faltam.

 

História de Brasília

Os telefones de Brasília estão dando linha cruzada com a maior facilidade. Do equipamento, não é, que bem o sabemos. É dos melhores. Quando a ligação é interurbana, então, as linhas cruzadas aumentam assustadoramente. (Publicado em 5/10/1961)

Repórteres à antiga

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No próximo 11 de novembro, completará 33 anos o assassinato do jornalista investigativo do Correio Braziliense e da Rádio Planalto Mário Eugênio. Na época do crime, o país vivia seus últimos momentos sob o governo militar e a abertura política, anunciada havia tempo, despontava como certeza no horizonte. O sentimento corrente era de que havia chegado ao fim o período em que a verdade dos fatos era apresentada de acordo com os interesses de grupos poderosos.

Como repórter responsável pela cobertura policial, Mário Eugênio testemunhou, bem de perto, a tênue fronteira que separa os maus policiais dos criminosos em geral. Era justamente nesse limbo que garimpava as melhores reportagens investigativas da época, fazendo da própria profissão um ideal de vida, e onde angariou, além de uma legião de admiradores, um sem-número de inimigos de morte. Era, literalmente, na corda bamba que Mário Eugênio exercia seu trabalho, oscilando entre agentes da lei e bandidos da mais alta periculosidade.

Quem o conheceu de perto fala de um profissional vaidoso e muito seguro de si, mas que apresentava interiormente uma angústia disfarçada, própria daqueles que por conhecer a realidade cruenta de perto e os personagens que desfilam de cada lado da história, pressentiam que também poderiam vir a se transformar em personagem dos noticiários e crônicas policiais.

Naqueles tempos, o trabalho de repórter policial exigia do profissional, dedicação e disposição integrais. Correr atrás da notícia significava justamente isto: sair da zona de conforto e ir em busca das notícias. Para um trabalho dessa natureza, as fontes de informações seguiam os mesmos modelos empregados pelos policiais, ouvindo testemunhas e informantes, perseguindo suspeitos, fazendo campanas, espreitando e observando.

Seguindo os mesmos procedimentos da polícia, os repórteres investigativos buscavam também, entre os criminosos, indivíduos dispostos a relatar fatos vistos e ouvidos em troca de algumas vantagens. Era do contato com esses chamados X9 que muitas pistas relevantes eram levantadas. A diferença entre o policial e o repórter estava apenas no tipo de arma usada. Em último caso, um gravador e a máquina fotográfica. Mas, aconselhado por pessoas próximas, Mário Eugênio comprou uma arma de fogo que passou a trazer sempre consigo e cujo o único tiro foi disparado acidentalmente dentro da redação do Correio.

Era um trabalho de risco que muitas vezes colocava o profissional diante das piores situações. Quem se aventurava em ser repórter investigativo aprendia logo cedo que o pior tipo de bandido, que poderia aparecer pela frente era aquele que, usando da própria farda e do distintivo de policial, cometia todo o tipo de crime. Para tipos dessa natureza, sabia-se: não há limites ou ilicitudes que não possam ser praticadas para atingir determinados objetivos.

Foi justamente nessa área de penumbra que separa a lei da ilegalidade que Mário Eugênio topou de frente, quando estava perto de concluir uma reportagem que mostrava a existência de um poderoso grupo de extermínio instalado dentro dos órgãos de segurança da capital e que reunia policiais civis e militares.

Foram sete tiros de uma arma de caça, própria para abater elefantes, que atingiram a cabeça do repórter por trás, calando a voz do jornalista que apresentava o programa de rádio Gogó das Sete, famoso e popular naquela ocasião. Calaram a voz do repórter, mas não da opinião pública e de outros órgãos de imprensa, que passaram a acompanhar o caso de perto até chegarem ao mandante do crime, identificado como sendo o então secretário de Segurança, Lauro Rieth, e o delegado Ary Sardella, que coordenava a Polícia especializada à época. Foi graças às investigações paralelas efetuadas pelos profissionais do Correio Braziliense que os autores desse crime foram revelados, o que rendeu ao jornal o Prêmio Esso de Jornalismo em 1985.

 

A frase que foi pronunciada

“Se você deve, tome cuidado bicho. Vai virar notícia.”

Mário Eugênio, apoiado pelo Correio Braziliense

 

Vai que cola

» Sem cerimônia, na Vargem Bonita, em frente à padaria, um aventureiro, certo da impunidade, começou um quiosque com jeitinho e, agora, achou melhor alvenaria. Está lá a invasão para quem quiser ver.

 

Terras

» Nota da Comunicação Social da Terracap esclarece que a Operação Sacerdote trata de um ex-diretor e que a solicitação de investigação foi feita pela própria agência. A Operação Sacerdote começou quando um cidadão protocolou um questionamento sobre o Lote n.º 8 , Conjunto 6, do Setor de Mansões Dom Bosco, na região do Lago Sul. A dúvida era se havia o direito de compra. Como o lote não existia, a Dema foi comunicada. Forma simples de desmascarar os grileiros.

 

Estranho

» O que não deu para entender da nota é o aviso de que, no próprio site da Terracap, qualquer cidadão pode consultar sobre as ocupações irregulares ou presencialmente na área do atendimento. E essa informação veio no mesmo parágrafo de que a empresa adota uma postura rígida de combate ao parcelamento irregular do solo. Seria mais coerente mapear as áreas com invasões impedidas pela Terracap.

 

História de Brasília

O Departamento de Promoções dos Diários Associados de Brasília vai começar a campanha pelo ajardinamento das quadras de Brasília. Ajude como puder. Faça o seu jardim. (Publicado em 5/10/1961)

Quando o que está em jogo é o trabalho

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Não fosse pela atuação destemida da Agefis, praticamente todo o quadrilátero do Distrito Federal estaria tomado de invasões e de construções irregulares, o que tornaria inviável o próprio funcionamento da capital. Sabotada e pressionada por todos os lados, a Agefis tem sido, desde a sua criação, praticamente a única instância pública a empreender um combate sem tréguas à indústria das invasões que tomou de assalto o Planalto Central tão logo foi proclamada a duvidosa maioridade política da capital, transformando, de uma hora para outra, as terras e os espaços públicos em capital político para aventureiros de toda a ordem.

A partir dos anos 90, teve início o maior processo de ocupação irregular de terras públicas de todos os tempos, encabeçado pela dobradinha formada por espertos dirigentes políticos em conluio com empreiteiros gananciosos e dispostos a tudo pelo lucro fácil. Graças à ação da dupla de oportunistas, o Distrito Federal começou a conhecer de perto o flagelo urbano, antes restrito a outras cidades brasileiras. A despeito dos inimigos poderosos que angariou contra si, a Agefis, somente nos últimos dois anos, conseguiu a façanha de reincorporar ao patrimônio público mais de 21 milhões de metros quadrados que haviam sido ocupados de forma irregular.

“O fato de ter um parcelamento irregular do solo bagunça qualquer cidade, tira a qualidade de vida dos moradores. Cidade não é só casa. É hospital, é escola, é transporte, é delegacia. A gente precisa desses serviços. E, quando há grilagem, a população não tem acesso a isso porque não foi planejado”, avalia Bruna Pinheiro, diretora-presidente da Agefis. Por incrível que pareça, é junto a outros órgãos públicos que a Agefis tem encontrado os maiores obstáculos à realização de seu trabalho.

Liminares concedidas em grande quantidade por parte de alguns membros da Justiça descompromissados com o futuro da capital têm facilitado a vida dos invasores. Também é na Câmara Legislativa que estão alguns dos detratores da Agência de Fiscalização.

Depois da tentativa frustrada da deputada Telma Rufino (PROS) de diminuir os poderes da Agefis, impedindo as derrubadas de invasões, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) teve negado, na Vara de Meio Ambiente, pedido para a suspensão de operações da Agefis para demolir construções em áreas irregulares. Sabiamente o magistrado Carlos Frederico Maroja de Medeiros indeferiu a tentativa populista de negociar terras por votos, ressaltando que “a decisão de aceitar o pedido do PTB implicaria, além da revogação da necessidade de prévio licenciamento para o erguimento de edificações no DF,  assunção de riscos de danos severos à ordem e à segurança de toda a sociedade, o que não pode ser sequer cogitado por um magistrado responsável e consciente de seu papel social, principalmente quando Brasília vive uma crise hídrica e um preocupante deficit ambiental por causa da expansão urbana desordenada e predatória .

Com a aproximação das eleições, os políticos locais que tinham no modelo consolidado “um lote, um voto” vão ter que encontrar outro chamariz para atrair eleitores. Quem sabe inovando com propostas de respeito ao bem público, ou de maior consideração com as futuras gerações de brasilienses. Apesar de não ser o hábito, pode ser boa ideia.

 

A frase que foi pronunciada

“ Mais vale escrever errado o que é certo do que escrever certo o que é errado.”

Patativa do Assaré

 

Temor

» Mais uma nota sugerida pelo amigo Álvaro Costa. O troféu da Copa do Mundo está viajando pelos países até chegar a Moscou ano que vem. Só há um país na América Latina em que o troféu não passará. Adivinhou qual? Pois é: o Brasil. O motivo, não declarado pela Fifa: medo de o troféu ser roubado, como o foi a Taça Jules Rimmet, que foi derretida e nunca mais se falou nada sobre o assunto.

 

IBDfam

» Hoje, às 19 horas, na QL 10, Conj8, Casa 20, no Lago Sul, o IBDfam promove a palestra Convenções sobre o procedimento nas ações de família, com Rafael Calmon. R$ 10 a entrada.

 

História de Brasília

Quando me refiro aos mineiros, vai a propósito do fato de dizerem que eu fiz campanha contra os goianos. Estão cometendo uma injustiça. Fiz campanha contra a solução barganha para a Prefeitura de Brasília. (Publicado em 5.10.1961)