Troca-se violência por arte

Publicado em ÍNTEGRA

Desde 1960

colunadoaricunha@gmail.com;

com Circe Cunha  e Mamfil

Quando se fala em arte-educação no Brasil, o nome da carioca Ana Mae Barbosa brilha como uma estrela de primeira grandeza. Trata-se da mais importante referência no país para o ensino da arte nas escolas, disciplina, até alguns anos atrás, pouco conhecida e valorizada entre nós.

Nos anos 1970, teve seu pedido de bolsa para fazer mestrado em Connecticut nos EUA negado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), sob o argumento de que o Ministério daEducação não reconhecia a arte-educação como área de pesquisa. Para contornar o obstáculo, custeou os estudos dando aulas de cultura brasileira na prestigiosa Universidade de Yale, se transformando na única brasileira com doutorado em arte-educação no país, condição que fez dela a maior autoridade e a mais ferrenha defensora da disciplina no Brasil.

Autora de diversos livros sobre o assunto, ganhadora do Prêmio Jabuti na categoria Educação e Pedagogia, desenvolveu, a partir de 1987, a chamada Abordagem Triangular, o primeiro sistema educativo no ensino da arte que ainda hoje é referência nos programas em arte-educação no Brasil. Seu método enfoca o ensino das artes pelo tripé da contextualização histórica, pelo fazer artístico e pela apreciação da obra de arte. Ainda hoje, aos 81 anos de idade, Ana Mae continua a batalha pelo reconhecimento da importância da arte-educação no Brasil, sobretudo agora que se anuncia a retirada da disciplina de artes proposta pela reforma do ensino médio.

Para a educadora, a retirada dessa disciplina dos currículos escolares terá como consequência a formação de toda uma geração de brasileiros “facilmente manipulável”. O ensino das artes nas escolas é, na sua avaliação, importante para o ser humano. Por isso existe e acompanha a humanidade desde o tempo das cavernas. Além disso, está provado que o ensino das artes é transferível para o aprendizado de outras disciplinas, como ficou atestado em estudos realizados nos EUA nos anos 1990, quando se comprovou que os melhores alunos e as melhores notas eram dos estudantes que tiveram a oportunidade de estudar artes.

A partir desse estudo, os pesquisadores passaram a dar atenção ao ensino das artes como importante referência à transferência cognitiva e afetiva. Ficou provado que o desenvolvimento mental que o estudo das artes proporciona é aplicável ao modo como se aprendem as outras disciplinas. “Essas pesquisas, dizem, demonstraram que o estudo de desenho aumenta a qualidade de organização da escrita; raciocinar sobre arte desenvolve a capacidade de raciocinar sobre imagens científicas; a análise de imagens da arte propicia a capacidade de leitura mais sofisticada, interpretação de textos e inter-relacionamento de diferentes textos. Enfim, a instrução em artes visuais, como fator de desenvolvimento da prontidão para a leitura compreensiva, foi uma das conclusões das quatro pesquisas realizadas por James Catterrall, PhD em educação pela Stanford University.

No caso de disciplinas como teatro e interpretação, a transferência de cognição foi ainda maior. Para o pesquisador, nos alunos que tiveram a oportunidade de estudar teatro foram identificados maior compreensão da leitura oral de textos, maior compreensão do discurso oral em geral, aumento da interação entre pares, capacidade de escrever com eficiência e prolixidade, habilidades de resolução de conflitos, concentração de pensamento e habilidades para compreender as relações sociais. Também aparece a capacidade para compreender problemas complexos e emoções, além de estímulo ao engajamento.

Outro aspecto verificado com o ensino das artes é a redução da evasão escolar, elevação das aspirações educacionais dos alunos e o desenvolvimento de habilidades de pensamento de ordem superior. No caso do estudo da música, a transferência cognitiva ajuda no aprendizado da matemática, na percepção espacial e temporal. Não é por outra razão que muitos cientistas têm bom ouvido para música, sendo que grande parte deles toca um instrumento. Infelizmente as autoridades brasileiras ainda não avaliaram adequadamente a importância do ensino das artes em nossas escolas públicas, e o resultado é o que se vê hoje, inclusive com muitos professores sendo agredidos de forma brutal num país que parece caminhar para trás rumo ao mundo primitivo, de volta para as cavernas, só que, agora, sem pinturas rupestres.

 

A frase que não foi pronunciada

“Às vezes, a vida é colocada de cabeça para baixo para que possamos aprender a viver de cabeça para cima.”

Max Weber, sociólogo alemão

 

Antes do Fórum

» O Ministério das Cidades abriu inscrições até o dia 19 de janeiro para o curso presencial nacional sobre regulação e fiscalização dos serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário. Com a coordenação de Frederico Araújo Turolla, os painéis tratarão dos títulos: O papel das agências reguladoras, a regulação econômica, a regulação da qualidade dos servidores, aplicação de penalidades e análise do impacto regulatório (AIR)

 

Solidariedade

» Apesar do excesso de estrangeirismo no nome, o evento é solidário. The Street Store DF arrecada doações para a primeira edição no Nordeste. Pontos de coleta espalhados por Brasília estão recebendo roupas, sapatos e brinquedos. Vai até o dia 21. A ONG promete levar as doações para as comunidades de Agrovila, Pavão e Cana Brava, no interior da Bahia. Duas mil pessoas serão beneficiadas com as doações. Outros pontos de coleta pela cidade entre os dias 11 e 30 de dezembro serão a SelfStok, as lojas Bio Mundo, Living Fit e a empresa Centro Peças.

 

História de Brasília

Sabe-se, agora, que não havia imposição do PSD de Goiás, mas sim a promessa do governo, o compromisso de “dar-lhe” a Prefeitura de Brasília. (Publicado em 10.10.1961)

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