O tempo passou na janela

Publicado em ÍNTEGRA

Desde 1960
colunadoaricunha@gmail.com;
com Circe Cunha e Mamfil

Quem observa com atenção antigas fotos em preto e branco, tiradas há pouco mais de meio século, mostrando cenas das nossas principais capitais, de ruas, avenidas, parques e centros de comércio, nota, logo de saída, uma diferença significativa e que ilustra um fato bem preocupante: como eram bonitas e organizadas nossas metrópoles, com cada coisa em seu lugar. As principais ruas eram limpas, arborizadas, os prédios bem dispostos, bem cuidados. Os parques exibiam estátuas e monumentos intocados, haviam bebedouros, públicos espalhados pela cidade. O trânsito fluía, as pessoas pareciam caber nas ruas. Tudo estava em seu lugar. Nos centros urbanos não se viam lixo, pichações, parecíamos estar vendo uma outra cidade, de um outro país distante.

Ao apreciar essas imagens e olhando em volta para o que temos agora, o sentimento que prevalece é de que, naquela época, havíamos resolvido grande parte de nossos problemas urbanos atuais. Passado tanto tempo, a pergunta que se impõe é: o que teria ocorrido com nossas principais capitais? Comparando esses mesmos sítios ontem e hoje, é visível a deterioração e o envelhecimento precoce de nossos espaços públicos.

Por que esse mesmo fenômeno não afetou cidades como Paris e Roma, bem mais antigas e tão bem conservadas? Nossas principais cidades, simplesmente, envelheceram num ritmo alucinante. É certo que o Brasil de 50 anos atrás tinha problemas, mas o registro em imagens, gravado no papel, mostra as metrópoles brasileiras como um lugar outrora aprazível e seguro. Mesmo Brasília, tão nova e moderna, basta um olhar nas fotos captadas nos anos 1960 para se constatar que o passar do tempo maltratou muito a capital do país. As imagens mostram que a Rodoviária central, o Setor Comercial Sul, a W3 e outros endereços faziam parte de uma cidade que não existe mais e que foi engolida pelo progresso ligeiro e oportunista.

Nos últimos anos, esse processo de deterioração se acelerou com a entrada de novos personagens no comando da cidade, retaliada entre grupos políticos. O que se observa agora é a degradação dos espaços públicos, com os puxadinhos horrendos tomando conta de tudo. O comércio sobre rodas, caracterizado pelos chamados food trucks, uma inovação importada às pressas dos Estados Unidos, não respeitam canteiros centrais, áreas verdes, nada. Vão invadindo cada canto, improvisando um comércio de alimentos que, todos sabemos, não passa pelo crivo da vigilância sanitária.

Leis, feitas sob encomenda e que beneficiam mais aqueles que as confeccionam do que a população em geral, são produzidas em quantidade, favorecendo todo o tipo de empreendimento. Com isso, a cidade que deveria ser modelo para o mundo vai entrando, pouco a pouco, num processo de decadência triste e irreversível, restando apenas lembranças gravadas em fotografias em preto e branco e que nos dão a certeza de que éramos felizes e não sabíamos.

A frase que foi pronunciada

“País subdesenvolvido é aquele que importa, como novidade, o que os países desenvolvidos já abandonaram como obsoletos.”

Jaime Lerner, arquiteto e urbanista

Armas

» Na entrada da Virgínia, nos EUA, uma placa de boas-vindas diz mais ou menos o seguinte: Atenção, criminosos — terroristas. Virgínia é protegida pela milícia cidadã 24 horas por dia, 365 dias por ano. Mais de 200 mil cidadãos e guardiões da paz estão treinados e armados legalmente para defenderem-se e proteger os outros contra crimes e violência. Você foi avisado. Resultado. Com uma população de 8,412 milhões, em 2016, foram registrados 383 assassinatos, 2.340 estupros, 4.441 roubos e 9.235 assaltos.

Mais um

» Na Carolina do Norte, a placa é mais criativa e mais agressiva. Bem-vindo à Carolina do Norte. Nossos habitantes têm armas escondidas. Se você matar alguém, nós mataremos você. Nós temos zero cadeias e 513 cemitérios. Aproveite sua estada! Com 10,15 milhões de habitantes, na Carolina do Norte houve 517 assassinatos, 2.684 estupros, 8.825 roubos e 22.826 assaltos.

Cariocas

» No Rio de Janeiro, com 16,7 milhões de habitantes foram 4.128 casos de estupros, 6.002 assassinatos, 3.965 roubos e 1.038 assaltos. (Fonte: ondefuiroubado)

Juntos e fortes

» Sob o comando do governador do Mato Grosso, Pedro Taques, no Fórum de Governadores foi assinada uma ordem de serviço para a compra de medicamentos de alto custo em conjunto. “Isso vai permitir a compra mais barata desses itens, que são importantes em todo o país”, disse Rollemberg. Os governadores vieram a Brasília, que sediou o evento.

História de Brasília

A alegação é a de que militar nunca é fixo numa cidade, mas isto, pelo menos, seria uma boa oportunidade, para que todos pudessem ter uma casa própria. (Publicado em 10/10/1961)

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