Tag: #AriCunha
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
instagram.com/vistolidoeouvido

Existe um fenômeno profundamente arraigado em nossa cultura que, mais do que um simples hábito danoso, deveria ser objeto de estudo sistemático e tema de uma espécie de terapia coletiva, conduzida com firmeza e objetividade, antes que essa compulsão venha a comprometer de maneira irreversível os laços que nos mantêm como nação. Trata-se da propensão nacional, quase inata, em depredar todo e qualquer bem público que se coloque ao alcance de nossas mãos, como se a destruição do que é comum fosse um gesto natural, inevitável, e por vezes até justificável.
Cidades de todo o país, reflexos imperfeitos de nossa identidade, carregam as marcas dessa mania niilista, dessa psicose urbana que transforma ruas, praças e monumentos em ruínas precoces. O cenário agrava-se à medida que nos afastamos dos grandes centros, onde a presença do poder público se dissolve até se tornar mera lembrança, permitindo que a sanha destruidora encontre campo fértil para manifestar-se sem pudor. É nesse vácuo de vigilância que desaparecem estátuas, bancos de praça, tampas de bueiro, luminárias, chafarizes, ou mesmo jazigos inteiros, a lista é infinita, um inventário melancólico daquilo que se constrói com recursos coletivos e se perde na voragem de uma multidão que parece agir em concerto.
Essa compulsão pela ruína não poupa sequer os instrumentos da vida cotidiana: ônibus, trens, estações de metrô, abrigos de parada, rodoviárias, banheiros públicos, placas de orientação, nada escapa ao olhar corrosivo de uma sociedade que confunde vandalismo com catarse. É como se estivéssemos diante de uma guerra sem inimigos definidos, em que o adversário invisível somos nós mesmos. Hannah Arendt, em sua análise sobre a banalidade do mal, lembrava que os maiores desastres sociais não provêm de monstros excepcionais, mas de comportamentos cotidianos, aceitos sem questionamento. O vandalismo que corrompe o espaço urbano parece ecoar esse mesmo espírito: não se trata de gestos isolados, mas de uma corrosão silenciosa e repetida, que, somada, dá forma a uma paisagem em permanente estado de ruína.
Talvez essa psicose coletiva encontre raízes no ambiente social em que estamos mergulhados. Afinal, um país em que mais de 60 mil pessoas perdem a vida anualmente em atos de violência, índice que supera as baixas de muitos conflitos armados no mundo contemporâneo, não poderia deixar de refletir, também no espaço físico de suas cidades, essa cultura da agressão, da ruptura e da ausência de limites.
Como bem observou o antropólogo Roberto DaMatta, “a violência no Brasil é o avesso da cidadania”; e onde não há cidadania, o espaço comum converte-se em território de disputa, sem regras, onde destruir o que é de todos equivale a afirmar uma espécie de poder efêmero sobre o caos.
Diante desse quadro, duas medidas se apresentam como urgentes e inadiáveis. A primeira é a educação de base, incumbindo-se as escolas não apenas da alfabetização formal, mas da formação de cidadãos conscientes de que o patrimônio coletivo é extensão de si próprios. O sociólogo Émile Durkheim já advertia que a educação é, acima de tudo, “a socialização metódica das novas gerações”. Não se trata, portanto, de mero adestramento para o trabalho, mas de um processo civilizador, em que se aprende, antes de tudo, a respeitar os limites, as normas e os símbolos que nos constituem como sociedade. Ensinar uma criança a zelar por um banco de praça ou por um mural histórico é talvez tão fundamental quanto ensiná-la a decifrar as letras de um alfabeto: sem o senso de pertencimento, todo conhecimento técnico será frágil, sujeito a desmoronar diante da primeira frustração.
A segunda medida, complementar à primeira, é a punição exemplar dos que se dedicam a alimentar esse círculo vicioso da degradação. Não se trata aqui de cultivar um punitivismo cego, mas de aplicar com rigor aquilo que Norberto Bobbio definia como “a sanção necessária à preservação do pacto social”. É preciso que o vândalo, ao ser flagrado em sua ação destrutiva, saiba que a consequência virá rápida, proporcional e inevitável, seja no ressarcimento financeiro, seja na restrição temporária da liberdade. Sem isso, a impunidade continuará a operar como convite aberto para que a insanidade coletiva prossiga seu trabalho de dissolução.
A psicologia urbana já demonstrou que ambientes degradados geram, por si mesmos, mais degradação. No Brasil, esse círculo vicioso está mais do que evidente: cidades mal iluminadas, sujas e deterioradas não apenas fomentam o crime, mas produzem um estado psicológico coletivo de medo e hostilidade, em que até mesmo o estrangeiro enxerga em nossas ruas mais um campo de batalha do que um espaço de convivência. Não é por acaso que a imagem de nossas cidades como feias, violentas e ameaçadoras ecoa nos relatos de turistas e nos relatórios de organismos internacionais, prejudicando também a economia.
Mas há uma dimensão ainda mais profunda e incômoda: o vandalismo não é apenas fruto de uma massa anônima e descontrolada, mas um reflexo do comportamento das elites políticas e administrativas. Quando os exemplos de cima reiteram, ano após ano, a negligência, a apropriação indevida e o desrespeito ao bem público, não surpreende que a população internalize o mesmo padrão, transformando-o em ação direta contra o espaço coletivo. Gustave Le Bon já advertia que “as massas nunca têm sede de verdade; elas se afastam das evidências que não lhes agradam, preferindo deificar o erro, caso este as seduza”.
Em última análise, o vandalismo contra o bem público não é apenas uma questão de segurança ou de urbanismo: é o sintoma de uma doença coletiva que exige tanto médicos quanto juízes, tanto professores quanto líderes exemplares.
A frase que foi pronunciada:
“A propriedade pode ser destruída e o dinheiro pode perder seu poder de compra; mas caráter, saúde, conhecimento e bom senso sempre serão exigidos em todas as condições.”
Roger Babson

História de Brasília:
Movimento justo, mas desorganizado, o dos funcionários da Novacap. Foram reivindicar aumento, mas a falta de um líder fêz com que a massa que ia participar de um movimento sério, fizesse rir aos que serviam como espectadores. (Publicada em 10.05.1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
instagram.com/vistolidoeouvido

Leszek Kołakowski, filósofo polonês que conheceu por dentro e por fora a experiência do socialismo real, deixou um alerta que soa mais atual do que nunca: a abolição do mercado não é apenas um atentado contra a economia, mas contra a própria liberdade humana. Quando o Estado assume o monopólio da produção, inevitavelmente se apropria também da informação, da cultura e da comunicação. O resultado histórico foi sempre o mesmo: ineficiência, racionamento e repressão. Uma “sociedade gulag”.
Hoje, no Brasil e no mundo, assistimos a uma versão sofisticada desse processo. Não há, como no passado, uma declaração explícita contra o mercado ou uma coletivização forçada. Ao contrário, partidos de esquerda falam em “livre mercado” e em “livre pensar”. Mas o discurso não resiste à prática. O que se observa é um gradual cerco à liberdade de escolha econômica e à autonomia da palavra.
No campo econômico, a intervenção estatal cresce sob múltiplas formas: subsídios bilionários a setores amigos do governo, empresas estatais ineficientes mantidas a qualquer custo, tributação sufocante sobre o empreendedor e o trabalhador, além de regulações que criam um labirinto quase intransponível para quem deseja investir.
A retórica da “justiça social” serve de biombo para o aumento da dependência da sociedade em relação ao Estado, com programas de transferência de renda que se transformam em instrumentos de poder político. Elena Ayala resume bem em seu Instagram, onde mostra aos brasileiros a realidade do comunismo em Cuba. O lado que os turistas não veem. A única igualdade que existe por lá é a pobreza. “Quando você recebe tudo de graça do governo é sinal que está perto de perder a sua liberdade.” No campo das ideias, o risco é ainda maior. A liberdade de expressão base de qualquer democracia vem sendo relativizada sob a bandeira do combate à “desinformação”. Termos vagos e elásticos abrem caminho para censura oficializada por agências reguladoras e, mais grave ainda, por parcerias entre governos e Big Techs.
A comunicação digital, que deveria ampliar vozes, é cada vez mais submetida a filtros ideológicos. O pluralismo, essência do livre pensar, vai cedendo espaço a uma uniformização ditada de cima para baixo. É nesse ponto que a advertência de Kołakowski ressurge com força. Ele dizia que sem mercado não há apenas perda de bens materiais, mas também de bens intelectuais. A sociedade passa a viver de racionamentos — não apenas de produtos, mas de ideias.
O novo gulag não tem arame farpado nem torres de vigia, mas hashtags, algoritmos e tribunais de exceção. O medo de perder espaço, reputação ou sustento já funciona como mecanismo disciplinador mais eficiente que a polícia política de outrora. Ao insistirem em um modelo que finge preservar o livre mercado e o livre pensar, mas que na prática submete ambos ao crivo do Estado e de suas alianças, as esquerdas modernas repetem os erros que Kołakowski denunciou.
Não se trata de imaginar tanques nas ruas ou coletivização forçada; trata-se de enxergar como a liberdade pode morrer lentamente, sob discursos sedutores de inclusão, democracia e justiça. Cabe à sociedade, à imprensa e às instituições compreender que a lição do século XX ainda não foi aprendida. A história mostrou que a supressão gradual da liberdade econômica e de expressão nunca termina bem. O Brasil e o mundo precisam decidir se querem viver em uma democracia aberta ou em uma versão digitalizada e branda do velho gulag.
Observem o que disse o filósofo sobre a revolução do proletariado, previsto pelo próprio Marx: “O mais importante, é que a teoria marxiana previu a inevitabilidade da revolução proletária. Revolução que nunca ocorreu em lugar nenhum. A revolução bolchevique na Rússia não guarda relação nenhuma com as profecias de Marx. Não teve como força motriz o conflito entre o proletariado industrial e o capital, mas, sim, a pressão de bordões sem nenhum conteúdo socialista, muito menos marxista, como: paz e terra para os camponeses. Bordões esses que, é desnecessário dizer, posteriormente redundariam em seu oposto. O que talvez mais se aproxime de uma revolução da classe trabalhadora, no século XX, foram os eventos de 1980/1981 na Polónia – movimento revolucionário dos trabalhadores industriais (muito fortemente apoiado pela intelligentsia) contra os seus exploradores, quer dizer, o Estado. E este caso solitário de revolução da classe trabalhadora (se pode, por isso mesmo, ser tido como tal) foi dirigido contra um estado socialista, sob a égide do sinal da cruz e com a bênção do Papa João Paulo II.”
A China moderna parece hoje o exemplo vivo de que as teorias marxistas que pregavam a destruição do livre mercado e do capitalismo estavam erradas. A China hoje empreende um modelo próprio de capitalismo de Estado, que explica muito sobre o desenvolvimento econômico daquele país. A China comunista, por sua vez é aquela baseada em princípios políticos fortemente atrelados ao Partido, onde não há possibilidade alguma de divergência. Mesmo atrelada a dogmas do PCC, a China anteviu que não poderia sair da situação de miséria e fome se não fizesse concessões diversas ao sistema capitalista, gerador de riqueza e não de panfletos vazios.
A frase que foi pronunciada:
“A abolição do mercado significa não apenas que os consumidores — ou seja, todos os membros da sociedade — são privados de praticamente todas as opções de consumo e de toda a influência sobre a produção; significa também que a informação e a comunicação são monopolizadas pelo Estado, visto que também necessitam de uma vasta base material para operar.”
Leszek Kołakowski, Modernidade em Prova Infinita

História de Brasília
A indústria dos cinco cruzeiros nos trocos dos TCB está se propalando demais. Apesar disto, a empresa não se manifesta informando que tem à disposição dos trocadores, todo o troco necessário. Dá assim, uma ideia de que o assunto não é tratado naquela companhia. (Publicada em 09.05.1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
instagram.com/vistolidoeouvido
Tebet, ministra do planejamento, uma pasta que outrora era entregue aos mais privilegiados cérebros em economia, mas que hoje é relegada aos partidários do governo, disse em uma das raras entrevistas que merecem atenção, que em 2027 o Brasil irá quebrar literalmente, pois não terá recursos para fazer movimentar a máquina pública. A razão é por demais sabida e repousa na ideia fixa do governo de gastar sem responsabilidade. “O Brasil vai literalmente quebrar em 2027, disse ela” por falta de recursos para manter a máquina pública o que, em parte, se apoia em projeções orçamentárias e no comportamento recente das contas públicas.
Em tempos de comunicação eletrônica, é impossível esconder os números do olhar digital. Em resumo, o panorama recente das finanças públicas brasileiras diz que há um déficit primário recente preocupante, em 2024, o governo central fechou com déficit primário de R$ 11 bilhões. No acumulado de 12 meses até agosto de 2025, o setor público consolidado registrou déficit primário de ~R$ 27,3 bilhões (≈ 0,22% do PIB), contra um superávit de R$ 17,9 bilhões (~0,15% do PIB) no mesmo período em 2024segundo dados do próprio Banco Central. Com isso, a dívida pública e endividamento seguem em ascensão acentuada. A Dívida Bruta do Governo Geral está em torno de 77,6% do PIB, algo como R$ 9,6 trilhões.
Enquanto isso os juros, levados sobre essa dívida, constituem parcela cada vez mais significativa do orçamento, reduzindo o espaço para outras despesas. Pouco mais ou menos do que 10% é investindo de fato no desenvolvimento, o que é um dado alarmante, pois mostra que o governo, por incapacidade na gestão das contas públicas, leva o país a afundar nas areias movediças do subdesenvolvimento.
No quesito receitas vs despesas, os números apontam para desencontros com receita líquida de aproximadamente R$ 2,162 trilhões mas seguidos de despesas totais R$ 2,205 trilhões. O caixa não fecha. O pior é que em ano eleitoral dança desses números será ainda mais frenética. Isso indica que as despesas já superaram as receitas líquidas, mesmo antes de contar juros da dívida. Ajustes nas despesas discricionárias têm sido previstos como forma de conter os estrangulamentos do orçamento. Pairam no horizonte de 2027 essas projeções de colapso, como alertado em público pela ministra. Pelo visto esse anúncio de mau agouro não teve ainda o condão de sensibilizar o governo, a mídia nem tão pouco os brasileiros, de forma geral. Amanhã vem o “eu avisei” .
A preocupação de que “vai faltar dinheiro em 2027” não é à toa e se sustenta em alguns elementos concretos e centrais, como é o caso das questões relativas aos precatórios. Em 2027 espera-se que R$ 124,3 bilhões em precatórios voltem a contar para o teto de gastos (ou seja, afetem diretamente as metas fiscais). Isso vai reduzir o montante destinado às despesas discricionárias (as de livre gestão) de aproximadamente R$ 208,3 bilhões em 2026 para R$ 122,3 bilhões em 2027, ou seja, uma queda de R$ 86,1 bilhões. As despesas discricionárias seguem muito apertadas. Dentro desse montante reduzido, ainda há que se descontar as emendas parlamentares (R$ 56,5 bilhões previstos). Depois disso, restarão apenas cerca de R$ 65,7 bilhões para outras despesas discricionárias. Economistas estimam que para manter a máquina pública “funcionando minimamente” seriam necessários pelo menos R$ 70 bilhões nessas despesas discricionárias , ou seja, o previsto estará abaixo do mínimo estimado.
Os cenários para 2028–29 podem ainda ser mais críticos. Para 2028, estima-se cerca de R$ 132 bilhões em precatórios, despesas discricionárias teriam que cair para cerca de R$ 59,5 bilhões. E para 2029, R$ 144 bilhões de precatórios, o que deixaria as despesas discricionárias em algo como R$ 8,9 bilhões, praticamente inviável para manutenção de políticas públicas mínimas. Por outro lado os planos políticos do projeto do governo, denominado Arcabouço Fiscal limita o crescimento das despesas públicas com base na receita do ano anterior, com gatilhos de contingência se certas metas não forem cumpridas. Esse gatilho é político. O governo depende de exceções, benefícios legais ou decisões judiciais (como o adiamento ou exclusão temporária de precatórios do cálculo do teto de gastos) para ganhar “fôlego” fiscal. Essas brechas tendem a se fechar em 2026, sinalizando que a partir de 2027 a pressão será maior.
Com base nesses dados, é possível prever a quebra do Brasil em 2027 é uma expressão forte, mas não está fora de contexto. Há riscos reais de haver falta de recursos para despesas discricionárias essenciais (custos de funcionamento, manutenção de serviços públicos, etc.) e que a volta dos precatórios ao cálculo fiscal provoque um estrangulamento orçamentário muito acima do estimado, reduzindo sobremaneira o “espaço” para investimento ou políticas públicas não obrigatórias; que o déficit primário e os juros da dívida consumam parcela cada vez maior da arrecadação, deixando pouco para outras finalidades. Quem sobreviver verá.
A frase que foi pronunciada:
“Centavos não caem do céu. Eles são conquistados pelo trabalho aqui na terra.”
Margareth Tatcher

História de Brasília
A denuncia de que deputados são testas de ferro de grupos estrangeiros não seria geita por um deputado de prestígio da Casa, como o sr. Almino Afonso, que conhece o problema, mas pelo sr. Romano Lossaco, que falaria por “ouvi dizer”. Por isto a Câmara não aceitou o requerimento. (publicada em 09.05.1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
instagram.com/vistolidoeouvido

Há muitos que afirmam que o troar dos canhões já pode ser ouvido ao longe. Esses murmúrios não devem, em tempo, ser desconsiderados. Os relâmpagos e os ventos fortes, contra um céu escurecido por pesadas nuvens, anunciam a tempestade que vem. Vivemos exatamente esse momento. Desde a Guerra Fria, a sensação de que o planeta se aproxima de uma conflagração ampla e generalizada nunca esteve tão presente na vida cotidiana das pessoas, dos mercados e das próprias nações. É só o que predizem os noticiários. Os preparativos para essa festa fúnebre indicam que já foram gastos, até o presente, quase US$ 3 trilhões em armamentos. Não se trata de alarmismo vazio. É observação dos fatos.
Na Ucrânia, a guerra em andamento há mais de três anos, não apenas destrói cidades e ceifa vidas, mas também redesenha o mapa das alianças militares no continente europeu. Países que antes se mantinham neutros, como a Suécia e a Finlândia, agora se apressam a entrar na OTAN, temendo a extensão do conflito. Moscou, por sua vez, não dá sinais de recuo, insistindo em consolidar ganhos territoriais e em mostrar ao mundo sua disposição para resistir às sanções ocidentais. No Oriente Médio, Israel continua sua ofensiva contra a Faixa de Gaza, enquanto grupos armados da região ampliam suas ações, do Líbano ao Iêmen. O Mar Vermelho, corredor vital do comércio internacional, tornou-se palco de ataques a navios, encarecendo fretes e aumentando o risco de desabastecimento global. O petróleo volta a ser arma estratégica, como nos anos 1970. E a diplomacia internacional, ainda que ativa, parece incapaz de deter a lógica da vingança e do terror.
No Leste Asiático, a China intensifica exercícios militares ao redor de Taiwan, enviando aviões e navios numa clara demonstração de força. Pequim não esconde a ambição de “reunificar” a ilha, custe o que custar. Os Estados Unidos, aliados históricos de Taipei, mantêm porta-aviões e bases militares prontos para reagir. Um erro de cálculo, um disparo errado, e o mundo acordará com o anúncio de uma guerra que envolveria diretamente as duas maiores potências globais.
Como se não bastasse, a Coreia do Norte segue a rotina de testes de mísseis de longo alcance, lembrando ao planeta que, mesmo pequeno e isolado, ainda tem capacidade de provocar um terremoto geopolítico. O arsenal nuclear de Pyongyang é a espada de Dâmocles que pende sobre o Pacífico, e a imprevisibilidade de seu regime é combustível para o medo.
Diante desse quadro, pergunta-se: estamos à beira de uma Terceira Guerra Mundial? A resposta honesta é que não há uma resposta definitiva. Não há declarações oficiais de guerra total, tampouco mobilização generalizada de tropas como em 1914 ou 1939. Mas há, sim, uma multiplicidade de conflitos regionais que se entrelaçam em uma teia perigosa, com riscos reais de contágio.
Microguerras se espalham pelo planeta causando impacto macroeconômico e psicológico. O que impressiona é a banalidade com que surgem os motivos. Pequenas disputas territoriais, choques religiosos, rusgas diplomáticas transformam-se, rapidamente, em batalhas campais. E o preço é pago sempre pelo mesmo: o povo.
Refugiados se amontoam nas fronteiras, famílias são despedaçadas, cidades se tornam escombros. Enquanto isso, líderes mundiais se reúnem em cúpulas onde as palavras valem menos que as armas. Para o cidadão comum, resta o dilema entre o medo e a preparação. Ignorar os sinais pode ser cômodo, mas é imprudente. Antecipar-se é sabedoria. O mínimo que se espera é que governos e sociedades civis se organizem para resistir às consequências indiretas dessas guerras: crises alimentares, alta do petróleo, migrações em massa, aumento da insegurança.
É hora de pensar em segurança energética, reservas de alimentos, estratégias de defesa cibernética e proteção civil. Não se trata aqui de criar pânico desnecessário, mas um alerta à lucidez. A humanidade já viveu dois grandes incêndios globais no século XX. O primeiro foi subestimado, o segundo foi mal prevenido. Hoje, temos informação em tempo real, tecnologia capaz de prever desastres e diplomacia multilateral. O que falta é liderança corajosa e compromisso ético com a paz. Se a chuva de fogo vier — e os sinais se acumulam — não será por falta de aviso. Será por falta de prudência. E prudência é o que precisamos cultivar em meio ao barulho ensurdecedor dos tambores de guerra.
Em muitos lugares, os kits de sobrevivência já fazem parte das compras domésticas. Bunkers são construídos aos milhares, utilizando as mais modernas técnicas. Ao menos é esperado que essas populações abrigadas ao fogo, venham a sobreviver. O resto irá compor os escombros e cinzas deixados para trás.
A frase que foi pronunciada:
“É uma das ironias da história que o comunismo, anunciado como uma sociedade sem classes, tenha tendido a gerar uma classe privilegiada de proporções feudais.”
― Henry Kissinger

História de Brasília
Uma nota para os que falam no retorno da Capital; há vagas em todas as escolas do Plano Piloto para qualquer ano do curso primário. (Publicada em 09.05.1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
instagram.com/vistolidoeouvido

Nos últimos anos, duas expressões têm sido repetidas quase como mantras pela mídia, por organismos internacionais e por lideranças políticas: “discurso de ódio” e “fake news”. Em tese, ambas guardam sentido nobre: evitar que a violência verbal se torne ação concreta e impedir que mentiras deliberadas comprometam a saúde pública, a política e a confiança social. Mas, no terreno da política, sobretudo dentro do que se convencionou chamar de nova ordem mundial e de globalismo, esses conceitos deixaram de ser simples categorias éticas ou jornalísticas para se tornarem instrumentos de poder.
De maneira cada vez mais evidente, o que se vê é o uso desses rótulos como mecanismos de censura seletiva. Enquanto qualquer opinião divergente do consenso progressista pode ser tachada de discurso de ódio, agressões físicas e tentativas de assassinato contra líderes de direita não recebem o mesmo enquadramento moral.
O atentado contra Jair Bolsonaro em 2018, por exemplo, não foi amplamente narrado como fruto de uma cultura de ódio político, mas como episódio isolado. Já as críticas duras a figuras ou agendas progressistas, mesmo quando se tratam de argumentos fundamentados, são rapidamente classificadas como intolerância ou desinformação. Essa assimetria não é acidental. Trata-se de uma estratégia calculada de controle narrativo. O globalismo, mais do que um fenômeno econômico, é um projeto cultural e político que busca uniformizar padrões de pensamento, relativizando tradições nacionais e impondo parâmetros ideológicos.
Para isso, precisa reduzir ao silêncio as vozes que se opõem a esse processo, e nada mais eficiente do que aplicar rótulos morais contra quem questiona. É nesse ponto que a frase de Olavo de Carvalho ganha caráter profético: “A esquerda move contra a direita uma crescente e bilionária guerra de extinção enquanto a direita não lhe opõe senão uma polida concorrência democrática. É uma luta de assassinos contra idiotas”.
O que Olavo denunciava não era apenas uma desproporção de forças, mas uma diferença de estratégia. A esquerda global, com acesso a fundos bilionários de fundações, organismos internacionais e governos simpáticos à sua agenda, transformou o combate ideológico em uma verdadeira guerra de eliminação. Já a direita, presa ao ideal da concorrência dentro das regras democráticas, não percebeu que as regras do jogo haviam mudado. O resultado é um embate desigual, onde de um lado se utilizam todos os recursos — censura, cancelamento, perseguição judicial, ataques midiáticos e até violência física, e do outro, predominam respostas tímidas, “polidas”, ancoradas numa fé excessiva na institucionalidade..
É claro que a democracia não pode se converter em guerra aberta, mas ignorar que a disputa política assume contornos de guerra assimétrica é fechar os olhos para a realidade. Quando a censura se torna rotina, quando líderes conservadores sofrem atentados e quando cidadãos comuns têm medo de expressar opiniões por receio de sanções, não se trata mais de uma competição democrática: trata-se de uma luta pela sobrevivência política e cultural.
O uso das categorias “discurso de ódio” e “fake news” pela nova ordem mundial revela exatamente isso: uma arma semântica com poder de deslegitimar adversários, antes mesmo que possam apresentar seus argumentos. Trata-se de um processo de sufocamento lento, mas calculado, que vai desde a exclusão digital até a exclusão física. Nesse contexto, a advertência de Olavo ecoa com força redobrada: ou a direita entende que está diante de uma guerra de extinção ainda que travada sob formas disfarçadas—, ou continuará a desempenhar o papel de “idiota útil”, incapaz de perceber que, enquanto acredita disputar eleições, seu adversário disputa o próprio direito de sua existência.
O desafio está lançado: a direita precisa decidir se continuará a agir como concorrente em um jogo democrático que não existe ou se assumirá a gravidade da guerra que lhe foi imposta. O futuro da liberdade de expressão, da pluralidade política e das
nações que resistem ao globalismo depende dessa escolha. O assassinato cometido, agora, contra o líder da direita americano Charlie Kirk, mostra que não se pode mais tratar com luvas de pelica aqueles que só conhecem o uso de luvas de boxes, reforçados com pregos. Há quem veja que pode, detrás desse nevoeiro escuro, luzes e ventos vindas de longe, lá da região dos Himalaias, ser capaz de inspirar aqueles que entendem de coisas como a liberdade.
A frase que foi pronunciada:
“Não se pode condenar por violência simbólica”.
André Marcília

Escorregador
Veja, a seguir, as fotos do escorregador do parquinho da 214 Norte. Desleixo total com a meninada da região.


História de Brasília
O Correio Braziliense publicou ontem uma nota dizendo que o governo da Alemanha Ocidental proibiu à fábrica Volkswagen aumentar os preços dos seus carros. Mas isto não é nada não, porque no Brasil eles tiram a diferença. (Publicada em 9/5/1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
instagram.com/vistolidoeouvido

Quer alguns queiram ou não, a Previdência Social e o próprio INSS sairão modificados após os trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que estão sendo realizados pelo parlamento. Ou é isso, ou então o caos. Nesse caso, restará aos aposentados de ontem, de hoje ou do futuro, as consequências ruins de um sistema que já dá sinais claros de que entrará em colapso a qualquer momento. Para um sistema de aposentadoria, que já apresentava no primeiro semestre um déficit de R$ 203,6 bilhões e que, em tese, deveria ser o mais seguro e vigiado do mundo, o surrupio de mais de R$ 6,3 bilhões serve como mais um empurrão do INSS ao precipício.
De uma forma até direta, muitos daqueles que participam agora dessa CPMI afirmam que foi a própria Previdência Social que praticou esse crime, ao permitir que entidades das mais diversas tivessem acesso aos abatimentos criminosos contra os aposentados, falsificando, durante um longo período, autorizações para os descontos. A imensa e burocrática máquina previdenciária, com milhares de servidores, utilizando-se dos mais sofisticados equipamentos de rastreio e contabilidade, não foram suficientemente ágeis para blindar os aposentados da sanha golpista. Com isso, fica evidente que o atual sistema não consegue resguardar o que pertence aos aposentados.
Mais do que falhas sistêmicas, o INSS e o Ministério da Previdência deram mostras de que não são confiáveis. A começar pela introdução de gerências políticas dentro do órgão. O ex-ministro e habitué em escândalos de corrupção, Carlos Lupi, da base e aliado do governo, caiu em várias contradições durante seu depoimento na CPMI e teve sorte de não sair dali direto para a prisão.
Não há nada de novo sob o sol opaco da corrupção. Governos vão e vêm, e os escândalos nessa pasta prosseguem incólumes. Soma-se a todo esse caos o fenômeno do envelhecimento rápido da população brasileira, trazendo previsões de que o rombo no INSS irá quadruplicar nas próximas décadas. Quem pode está correndo para viabilizar investindo em previdência privada. Como, atualmente, todo o sistema continua poluído pela gestão de políticos sem escrúpulos, o melhor que muitos podem fazer é correr para fora da aposentadoria oficial.
Não é por outro motivo que muitos bancos já se movimentam para o estabelecimento de sistemas de aposentadorias próprios. O problema desses novos planos bancários de aposentadorias é que muitos idosos desconfiam, e com razão, dos bancos brasileiros. Ainda mais quando se verifica que parte do sistema bancário parece estar também envolvido nesse atual escândalo do INSS. Pelo que consta, os bancos foram oficialmente autorizados a oferecer créditos consignados aos aposentados e pensionistas do INSS, ajudando a formar parte do esquema de fraudes. O próprio governo, em anúncios feitos até pouco tempo nas televisões, incentivava os aposentados a contraírem dívidas junto aos bancos, através dos empréstimos consignados em folha.
Olhando todo esse escândalo de longe, ao alto e sem distinções políticas, fica evidente que é o próprio governo que deve responder por esses fatos. Foi o governo e não outra pessoa ou grupo que abriu as portas para os fraudadores, certo de que esse gesto não viria à tona. A questão agora é saber como irá terminar essa CPMI. Se for prosseguir no ritmo atual, muita gente será indiciada, principalmente os peixes miúdos. O cardume formado pelos grandes bagres poderá ficar de fora.
Caso isso aconteça, é vã a esperança de que todo o sistema de aposentadoria será modificado. E por uma razão simples: nesse sistema tem o que muitos políticos e outros agentes do Estado almejam que é a grande soma de recursos nos cofres. Num país civilizado, toda essa e outras fraudes ficariam a cargo apenas das delegacias de polícia, sem muito falatório e audiências, mas com muitas algemas e embarques em camburões com grades.
A frase que foi pronunciada:
“É importante que todas as pessoas saibam exatamente por que estão sendo descontadas e que elas, obviamente, tenham declarado e manifestado plenamente a vontade de contribuir com esses descontos para as associações”
Vinicius de Carvalho, ministro da CGU

Sol e livro
Gramado para banhos de sol no Parque Olhos D’Água. Com cadeiras confortáveis, pelo menos uma hora do dia sem celular, os leitores curtem o sol e a leitura. Vale conhecer e participar do projeto. Veja, no link Sol e livro, como tudo acontece.
História de Brasília
Aliás, qualquer pessoa nesta cidade deveria se sentir constrangida de comparecer em pleno domingo no Iate Clube de Brasília em carro do governo. (Publicada em 09.05.1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
instagram.com/vistolidoeouvido

Para os que ainda temem a simples menção ao termo conservadorismo, a melhor e mais tranquila definição dessa vertente política mostra que a preocupação primeira dos conservadores não é manter o mundo como ele se encontra, mas manter a disposição de discutir os fatos e entender a realidade como ela é, e não querem apresentar os políticos tradicionais ao mostrar o mundo como que embrulhado num papel de presente vistoso, adornado pelas falácias das ideologias e dos dogmas partidários.
Uma análise sincera da realidade é necessária para que se produza ações assertivas — ou seja, com base no que é, e não no que poderia vir a ser. Nesse sentido, o conservadorismo é o oposto de uma ideologia, pois parte do princípio de que é necessário um diálogo permanente com a realidade, e não uma submissão da realidade e aos ditames petrificados das ideologias. Dessa forma, o conservadorismo busca permanentemente seus fundamentos, não só no passado, mas também no presente.
Um desses fundamentos é a própria questão da soberania do país. Não aquela pregada de última hora por oportunismo político com vistas a reacender apoios, mas aquela que busca preservar o que ensinam as civilizações e a história dos povos ao longo dos milênios. Em resumo, é dito que, para entender o mundo, não devemos nos basear na fácil dicotomia entre esquerda e direita, mas, sim, a partir de três vertentes que seriam a conservadora, a liberal e a totalitária ou marxista. Temos, assim, que a soberania é algo real e holístico, como tem pregado incansavelmente em vários fóruns pelo país o ex-chanceler Ernesto Araújo, pois, para ele, a soberania tem a ver com todo o ser humano e toda a sociedade, em todo o tempo e lugar.
Para o liberalismo, a soberania é algo formal, baseado em leis. Já, para o totalitarismo e o marxismo, o mais exato é não haver qualquer noção de soberania, negando, assim, a estrutura do próprio ser humano. O chamado globalismo, tal como tem se apresentado em discursos progressistas e em práticas políticas supranacionais, busca não apenas integrar economias, mas uniformizar valores e impor padrões de comportamento social, ambiental e até cultural. Sob esse prisma, a soberania deixa de ser um princípio fundamental das nações e dos povos e passa a ser tratada como um obstáculo à “gestão racional” do planeta. Isso se manifesta, por exemplo, na ideia de que decisões cruciais sobre energia, meio ambiente, saúde ou direitos devem ser tomadas em conselhos globais, fóruns multilaterais ou por corporações transnacionais, que não respondem diretamente a nenhum eleitorado nacional.
No caso da COP30, marcada para acontecer no Brasil, esse movimento se evidencia na pressão por agendas supranacionais que extrapolam a cooperação entre países e avançam sobre a autonomia das nações em definir suas políticas energéticas e de desenvolvimento. Sob o pretexto de enfrentar o aquecimento global, busca-se, muitas vezes, impor metas rígidas que podem sufocar a economia local, restringir o uso de recursos naturais e transferir poder decisório para organismos distantes, dominados por grandes potências e corporações invisíveis. A pauta climática, que, em si, poderia ser legítima se tratada com equilíbrio, acaba servindo como instrumento para centralizar o poder, enfraquecer estados soberanos e fortalecer elites globais.
Assim, ao contrário do que defende o conservadorismo — diálogo constante com a realidade concreta e respeito às tradições e à soberania dos povos —, o globalismo contemporâneo se aproxima da lógica totalitária: nega a autonomia das nações e, em última instância, nega também a estrutura do próprio ser humano, que é comunitário, histórico e enraizado em culturas específicas. O risco é que, em nome de uma “gestão planetária”, se implante uma forma disfarçada de governança mundial em que a liberdade e a autodeterminação dos povos sejam substituídas por diretrizes impessoais vindas de cima para baixo.
Nesse ponto, a grande questão é: como conciliar a necessidade de cooperação internacional para enfrentar problemas globais com a preservação da soberania real das nações, sem que os povos se tornem reféns de uma nova ordem tecnocrática e corporativa além-fronteiras. A perda da soberania é um desastre para os seres humanos. O conservadorismo, ao insistir em olhar a realidade como ela é, oferece uma resposta: só há legitimidade em qualquer ação global se ela nascer do reconhecimento e do fortalecimento das soberanias nacionais. Caso contrário, o que se terá é apenas mais uma roupagem sofisticada para o velho impulso totalitário de controlar a humanidade.
É preciso compreender que a soberania não é um detalhe protocolar do Estado, mas um fundamento da própria condição humana em sociedade. Retirá-la em nome de agendas universais é amputar a liberdade dos povos de decidirem seu destino. É reduzir a política a uma administração global centralizada, em que identidades, culturas e experiências históricas se dissolvem no anonimato de decisões corporativas.
A frase que foi pronunciada:
“Discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca. Traidor da Constituição é traidor da Pátria!”
Ulysses Guimarães

História de Brasília
Para os arquivos do automobilismo, aqui estão os números das chapas do desastre do Eixo Monumental: 25-94 e 9-9890. (Publicada em 5/5/1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
instagram.com/vistolidoeouvido

O que antes era murmúrio de rua, agora se converte em transmissões ao vivo, publicações virais e denúncias compartilhadas em escala massiva. As ferramentas digitais concederam ao cidadão comum a possibilidade de atravessar o abismo histórico entre governantes e governados, realizando uma travessia que não depende mais da mediação de jornais, partidos ou lideranças tradicionais.
Talvez não se imaginasse que a chegada das tecnologias digitais de comunicação, sobretudo as redes sociais alimentadas pela internet e pela expansão das chamadas big techs, não alteraria a rotina da política nacional, que até então caminhava em ritmo lento, quase protocolar, como se seguisse uma partitura herdada do século passado. A rede transformou em protagonistas aqueles que antes ocupavam apenas a plateia do espetáculo político. De repente, multidões até então invisíveis puderam atravessar, ainda que virtualmente, as barreiras simbólicas que mantinham intocados os espaços nobres do poder, inundando com sua presença os corredores que se julgavam exclusivos e intocáveis.
Esse movimento, longe de ser mero acidente, é consequência natural do caráter expansivo da comunicação em tempo real: quanto maior a opacidade das decisões, mais irresistível se torna o impulso coletivo de investigar, questionar e expor o que permanece guardado. Se antes a curiosidade popular se restringia às esquinas, janelas e portas entreabertas, hoje encontra recursos muito mais poderosos para observar o cotidiano das elites políticas.
A reação institucional, previsível, veio carregada de desconforto e de justificativas solenes: incomodados com a entrada súbita e desordenada das massas digitais nos domínios do Estado, os detentores do poder passaram a tratar esse movimento como ameaça. O esforço de contenção se traduziu em propostas legislativas, em normas regulatórias e em discursos que evocam a necessidade de proteger a democracia de perigos difusos. As fakenews e os chamados discursos de ódio, problemas reais, mas complexos, surgem nesse cenário mais como pretextos do que como causas; funcionam como máscaras discursivas para justificar medidas cujo objetivo último é restringir a circulação de informações e restaurar a distância confortável entre a população e os núcleos de decisão.
É nesse contexto que se inscreve a discussão em torno do Projeto de Lei 2630, apresentado como marco regulatório das redes sociais e, na prática, transformado em campo de batalha sobre os limites da participação popular. O debate formal se concentra nos aspectos técnicos, mas o que está em jogo é algo mais profundo: trata-se de decidir se os cidadãos terão ou não o direito de atravessar o mar simbólico que separa dois territórios. De um lado, a sociedade, ruidosa, desigual e impaciente; de outro, os palácios, espaços onde o poder se protege e se perpetua. Não é casual que a presença das massas nesses ambientes seja lida como ameaça. Desde a formação da República, elites políticas e econômicas empregam mecanismos legais e informais para resguardar privilégios e neutralizar qualquer forma de intromissão popular.
A insistência em justificar restrições à participação digital em nome da ordem, da segurança ou do combate à desinformação revela, mais do que zelo democrático, uma dificuldade histórica de conviver com a transparência. Ao bloquear a entrada do povo nos bastidores do poder, o que se preserva não é a qualidade da informação, mas a estabilidade de um arranjo que depende justamente da distância entre governantes e governados. O incômodo que a multidão causa não reside em sua desorganização ou em sua linguagem rude, mas no simples fato de existir e se fazer presente em um espaço que, por décadas, pretendeu ser reservado a poucos.
Em última instância, o que se desenha diante dos olhos é uma coreografia de distrações, cuidadosamente elaborada para transferir a responsabilidade da crise. Aponta-se a tecnologia como culpada, quando, na verdade, o verdadeiro problema é a incapacidade das elites de aceitar que o monopólio da informação e da narrativa se rompeu. Demonizam-se as redes sociais não porque falham, mas porque cumprem, ainda que de modo imperfeito, a função de colocar o povo em contato direto com os bastidores do poder. É mais fácil responsabilizar o meio do que admitir a fragilidade de um sistema político que se sustenta no silêncio, nas estratégias veladas e na exclusão.
A frase que foi pronunciada:
“A ciência e a tecnologia revolucionam nossas vidas, mas a memória, a tradição e o mito moldam nossa resposta.”
Arthur Schlesinger

Sempre improvisado
Logo que acidentes naturais acontecem no mundo civilizado, filmagens mostram a reconstrução dos locais em apenas alguns dias. Pontes, prédios, moradias, tudo reconstruído profissionalmente em pouco tempo, com a preocupação de devolver a rotina tranquila aos cidadãos. Em Brasília, a lente mostra semáforos quebrados na altura da 513/313 norte e 515/315 norte, onde os motoristas atravessariam a W3. A solução não foi consertar o equipamento imediatamente. Foi desviar o trânsito do local já por duas semanas.
História de Brasília
O Iate Clube fez um estacionamento mais racional, e pôs um guarda orientando os motoristas. O único que estava errado era um chapa verde e amarelo da Câmara, que não daremos o número para não contrariar a senhora que o estava utilizando no clube. (Publicada em 09.05.1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
instagram.com/vistolidoeouvido

Brasília nasceu para ser a capital do futuro. Projetada por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, tombada como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco em 1987, a cidade modernista se consolidou como símbolo da arquitetura e do urbanismo do século XX. No entanto, o que se vê hoje, sobretudo no coração do Plano Piloto, é um processo lento, porém contínuo, de degradação urbana, que ameaça não apenas a paisagem urbana, mas o próprio título de patrimônio mundial.
Nos últimos anos, a ocupação irregular de áreas públicas, especialmente com barracos de lata e construções improvisadas, vem crescendo de forma quase incontrolável, parece que com a anuência dos órgãos de vigilância sanitária e das administrações. A situação é mais visível em locais de intenso fluxo econômico, como a tradicional avenida W3 Norte e Sul, que já foi o polo mais importante do comércio de rua da capital. Hoje, pontos de ônibus e estacionamentos convivem com trailers de metal mal instalados, que se transformaram em bares improvisados, lanchonetes ou oficinas precárias, alterando a paisagem pensada por Lúcio Costa para ser harmônica, funcional e monumental. “Brasília foi concebida como uma obra de arte coletiva, em que cada detalhe urbanístico dialoga com o conjunto”. O que vemos hoje é a descaracterização desse projeto.
Quando se permite a ocupação irregular, a paisagem perde sua coerência, e a cidade, seu sentido original”, afirma o urbanista Henrique Tavares, professor da Universidade de Brasília. A preocupação não é apenas estética. Especialistas alertam que a crescente desordem urbana pode colocar Brasília sob risco de ser incluída na lista de Patrimônios da Humanidade ameaçados da Unesco — e, no limite, perder a chancela. “O título não é eterno. Ele depende da conservação da integridade do bem tombado. Se a cidade continuar a se deteriorar, a Unesco pode rever a decisão, assim como já aconteceu com outros sítios no mundo”, alerta a arquiteta Marta Campos, pesquisadora de patrimônio cultural. A ocupação irregular de espaços públicos não é um fenômeno isolado. Em diferentes pontos do Plano Piloto surgem feiras improvisadas, estacionamentos clandestinos e até habitações precárias.
O cenário dialoga com a chamada teoria das janelas quebradas, formulada nos anos 1980 por criminólogos norte-americanos. A ideia central é que sinais de abandono e descuido — como pichações, lixo acumulado, prédios depredados ou barracos improvisados — criam um ambiente que favorece mais degradação, estimulando o crime, a desordem e o afastamento das pessoas. “Quando uma cidade começa a dar sinais de abandono, a tendência é de que isso se intensifique em efeito cascata. O que hoje é apenas feio, amanhã pode se tornar perigoso. E, no caso de Brasília, pode se tornar também um prejuízo simbólico, já que a capital pode perder o prestígio internacional que conquistou com o título da Unesco”, explica o sociólogo Paulo Sérgio Almeida. O impacto econômico também preocupa.
Com a degradação visível de áreas centrais, Brasília corre o risco de afastar turistas que buscam justamente a experiência arquitetônica e urbanística única da cidade. Além disso, especialistas em políticas públicas alertam que a deterioração urbana pode até afetar a permanência de órgãos internacionais e nacionais na capital. “Nenhuma instituição de peso deseja estar associada a uma cidade em franco processo de decadência. A perda da vitalidade urbana pode gerar até mesmo desvalorização do Plano Piloto, afastando investimentos e funções administrativas”, acrescenta Almeida. A W3, símbolo maior dessa decadência, ilustra de forma clara o problema. Lojas fechadas, calçadas esburacadas, comércio informal espalhado em trailers metálicos e pontos de ônibus transformados em depósitos improvisados compõem uma paisagem distante do sonho modernista. “A W3 já foi chamada de vitrine de Brasília. Hoje é um espelho partido da capital. Se não houver ação enérgica, será tarde demais para recuperar a avenida”, lamenta o arquiteto Roberto Meireles.
Entre promessas de revitalização e fiscalizações pontuais, o fato é que o avanço da degradação segue um ritmo mais rápido do que as medidas de contenção. O poder público parece incapaz de responder à altura, enquanto a cidade — símbolo de modernidade e racionalidade — vai se tornando refém da ocupação desordenada e da indiferença. Brasília, que um dia nasceu para ser vitrine de um país que olhava para o futuro, hoje se vê às voltas com um presente de improvisos, barracos e trailers de lata. Se a teoria das janelas quebradas se confirmar, a lenta corrosão pode se transformar em colapso — e o que foi um dia patrimônio da humanidade pode se tornar apenas mais um caso de descuido e esquecimento.
A frase que foi pronunciada:
“O orgulho é muito grande para quem nasceu nesta cidade. Esta cidade tem algo de encanto, é a capital de todos os povos, da esperança, da união, de todos os brasileiros.”
Governador Ibaneis no discurso de posse.

História de Brasília
Um registro social: hoje, o Newton Araujo, da Prefeitura faz cinco anos de Brasília. (Publicado em 09.05.1962) icado em 09.05.1962)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
instagram.com/vistolidoeouvido

Com o anúncio dos novos aumentos nas contas de luz e de IPTU, fica fácil demonstrar que, na equação que combina estatismo mais sanha arrecadatória, os números não fecham nem hoje, nem amanhã. Na verdade, tendem a ficar insustentáveis. A ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher já havia resumiu adequadamente esse nosso dilema: “o problema do socialismo é que, cedo ou tarde, você fica sem o dinheiro dos outros”. A frase com o peso de um elefante por sua realidade cruenta era comum nos seus discursos dos anos 1970/80, e era uma crítica direcionada aos Estados inchados, que dependem de tributar cada vez mais para manter gastos crescentes de uma máquina inchada e improdutiva.
Von Mises (1881-1973), economista austríaco, foi mais fundo nessa análise: sem preços de mercado (e com incentivos distorcidos), o planejamento central não consegue alocar recursos com eficiência; a conta aparece como desperdício, estagnação e, por fim, necessidade de arrecadar infinitamente mais.
Depois de cair para 32,44% do PIB em 2023, a nossa carga tributária bruta subiu de forma relevante em 2024: estimativa oficial do Tesouro aponta 32,32% do PIB (metodologia “governo geral”), +2,06 p.p. em relação à métrica comparável do ano anterior nessa série. Ou seja, mais peso de tributos sobre a economia num ciclo curtíssimo.
No plano federal, houve reforço de receita com novas bases e fechamento de brechas, por exemplo, a Lei 14.754/2023, que tributa offshores e fundos exclusivos a 15% a partir de 2024; além de reonerações em combustíveis e outras medidas que elevaram a arrecadação recorde de 2024 e mantêm 2025 em trajetória ascendente. Isso melhora o caixa no curto prazo, mas também pressiona o contribuinte formal. O que o contribuinte enxerga é que, na área de arrecadação, há sempre um mecanismo de aperfeiçoamento no arrocho dos tributos, mas que não é acompanhado por uma melhora na forma como esses recursos são gastos. Pelo contrário: quanto mais se arrecada, piores se tornam a qualidade nos investimentos do governo.
Uma das ideias mais provocativas da economia tributária, a Curva de Laffer, ganhou notoriedade nos anos 1980, quando o então presidente americano Ronald Reagan a usou como justificativa para cortes de impostos. De maneira simples, a curva mostra que existe um ponto ótimo de tributação. Na ponta esquerda, com alíquotas muito baixas, a arrecadação é pequena porque o governo cobra pouco. Já no extremo direito, quando a alíquota se aproxima de 100%, a arrecadação também despenca: se tudo o que alguém ganha vai para o Estado, não há incentivo para trabalhar, investir ou produzir. Entre esses dois extremos, há um ponto de equilíbrio em que a carga tributária é suficiente para garantir receita ao governo sem sufocar a economia.
Quando os impostos ultrapassam esse nível, o efeito é perverso: empresas reduzem investimentos, trabalhadores desistem de formalizar renda, cresce a sonegação e, em casos mais graves, ocorre a fuga de capitais para outros países. O resultado é paradoxal: alíquotas mais altas podem levar a menos dinheiro no caixa do governo.
No Brasil, a discussão sobre a curva de Laffer volta à tona sempre que estados elevam o ICMS ou quando o governo federal busca novas fontes de receita. Economistas lembram que, em um país onde a carga tributária já supera os 32% do PIB, aumentos adicionais podem empurrar mais gente para a informalidade ou estimular a saída de investidores, reduzindo a própria arrecadação no médio prazo. Com isso, fica claro que a arrecadação não cresce indefinidamente junto com os impostos. Existe um ponto em que insistir em mais tributação significa, na prática, cavar o próprio buraco fiscal. É nesse ponto em que estamos agora. E vem aumentos por aí. Na energia, a ANEEL autorizou reajustes tarifários médios em 2025 (ex.: 5,83% na Enel SP, 3,59% na Light RJ, 4,41% na Cemig MG). Mesmo com bandeira verde em agosto/2025, o efeito estrutural dos reajustes pesa na “conta de luz”.
No imóvel, IPTU é municipal e varia por cidade; São Paulo corrigiu 4,3% em 2025 (sem tocar na planta genérica), um exemplo do movimento de atualização que aumenta a conta do contribuinte urbano. A ideia do governo é cobrar o IPTU com base no valor venal ou de mercado do imóvel, numa aritmética que pode elevar esse imposto em quase 50%. Por outro lado, copiando o que faz o governo federal, muitos governos estaduais subiram as alíquotas modais do ICMS em 2024 e 2025 (RJ para 22%; BA 20,5%; PR 19,5%; e novos aumentos em 2025 como MA 23%, PI 22,5%, RN 20%). Isso eleva preços ao consumidor e custos das empresas, mais um canal de “extração” tributária.
Para se ter uma ideia dessa loucura em impor tributos, o chamado impostômetro (ACSP) registrou que, até 20 de agosto de 2025, os brasileiros já haviam pago R$ 2,5 trilhões em impostos no ano, ou seja, um novo patamar simbólico da imensa carga tributária sobre a economia e sobre os brasileiros. A tática parece ser acabar primeiro com a classe média, depois com os mais ricos. Os mais pobres vão de roldão no fim das contas.
A frase que foi pronunciada:
“Uma moeda sólida é condição sine qua non para uma sociedade próspera.”
Arthur Laffer

História de Brasília.
A origem do emprego é interessante. Trata-se de um rapaz da Bahia, residente em Goiás, que não tinha trabalho. O deputado Anísio Rocha recomendou-o a Geraldo, dono do restaurante e foi assim que surgiu o emprego mais original dos últimos tempos. (Publicada em 09.05. 1962)


