Língua de sogra

Publicado em Íntegra

 

Criada por Ari Cunha desde 1960

jornalistacircecunha@gmail.com

com Circe Cunha e Mamfil

Diz com muita propriedade o Salmo 52 que os peixes morrem pela boca e os homens pela língua. Infelizmente esse é um alerta que poucos têm dado ouvidos, sobretudo a classe política de nosso país, historicamente sempre ávida por marcar posições através daquilo que dizem. Servisse de guia e de orientação a ser seguida, muitos contratempos poderiam ser evitados, sobretudo aqueles que acabam gerando crises institucionais.

Não é de hoje que as crises políticas que abalam o país e que de certo modo atrapalham o pleno desenvolvimento da nação, são geradas por falas mal pensadas ou saídas da boca sem passar antes pelo cérebro. A verborragia é a arte dos parlapatões ou dos boquirrotos. Espremidas e peneiradas pela razão e o bom senso, não sobram, senão salivas. Mas pelo mal que, por séculos, têm causado ao país e aos brasileiros, as falas soltas deveriam ser detidas a tempo de não aumentarem nossos infortúnios, que não são poucos.

Para quem se detém em analisar o que nossas lideranças políticas dizem a torto e a direito e de modo despretensioso, o que deixam escapar, sem querer, e o que dizem é aquilo que gostariam de fazer de fato. Para os parlamentares e os que vivem da fala e do discurso, a tarefa de exercitar a mente para educar a língua é sempre um trabalho difícil, mas necessário.

Curioso que temos nesse momento histórico em que vivemos, dois personagens, situados em lados extremos da política, e de tão antagônicos, praticamente se tocam em similitude quando a questão é verborragia e a língua solta. Lula e Bolsonaro são dois grandes parlapatões da atual cena política nacional, e por esse destempero vocal, transformados num misto de vício e mania, já foram muito além do razoável e já causaram diversos danos a si e aos cidadãos desse país. A diferença aqui é que a frouxidão de Lula com a língua parece se estender também para uma lassidão no campo da ética.

Esses personagens falam, como se diz, pelos cotovelos e se mostram também, nas entrelinhas quem são. De Bolsonaro, pode-se dizer, perdeu a eleição em novembro de 2022, em parte pela sua verborragia durante seu mandato, comprando brigas e intrigas desnecessárias, indispondo-se com a Stablishment e outros próceres do sistema, queimando pontes e causando conflitos, que ao final vieram lhe prejudicar, colocando parte da imprensa, do Judiciário e do Parlamento contra seu governo. O problema aqui, aliado a língua solta, era o excesso de franqueza e de sentimentos contraditórios que percebia em seu entorno e que foram potencialmente elevados, depois da tentativa de assassinato e seus efeitos físicos posteriores, que passou a experimentar com esse atentado.

De fato, Bolsonaro foi o personagem mais atacado em toda a história de nossa República e ainda segue colhendo infortúnios e perseguições de todos os lados. Mesmo tendo sobrevivido à uma verdadeira guerra, travada em diversas frentes contra ele, Bolsonaro, conseguiu a proeza de se tornar querido junto a grande parcela da população brasileira, por onde transita com facilidade e sempre cercado de grande multidão.

Lula, Lula, Lula, como dizia José Dirceu, com reticências cheias de histórias mal contadas, tornou-se um personagem folclórico da história política brasileira, justamente por sua língua solta que parece dançar  dentro da boca. Trata-se aqui de um verdadeiro Macunaíma, o herói sem caráter, o encantador de serpentes incautas. Lula vive hoje, por seus malabarismos passados, a contradição de ser, talvez, o único presidente da República que não pode transitar tranquilamente em vias e praças públicas. De tanto que fala, pode-se inferir que nesse personagem ímpar, estão irmanados diversos outros personagens. Sua língua destrambelhada parece comandada por diversas entidades distintas. Foi com essa lábia toda que construiu seu itinerário político e com ela se mantém em pé até hoje. Seu retorno à vida política nacional, não foi obra apenas sua. Foi resgatado do fundo do poço por um Judiciário açoitado pela língua de Bolsonaro.

Hoje a língua solta de Lula causa transtornos na cena nacional e internacional. Diz o que diz e depois se desdiz com a mesma facilidade. Pena que durante os debates políticos transmitidos pela TV, a regras demasiadas estreitas não permitiram que esses dois personagens pudessem duelar livremente, numa batalha de línguas, mais afiadas que espada espartana, mais venenosas que língua de sogra.

A frase que foi pronunciada:

“O problema com ela é que ela tem o poder da fala, não o poder da conversa.”

George Bernard Shaw

 

Lei Distrital

Uma só festa na Torre Digital foi capaz de incomodar Asa Norte, Lago Norte e Paranoá sem que as autoridades tomassem providências para evitar reincidência. Bastava aplicar a lei do Silêncio, já que a festa foi da tarde do dia anterior até 6h da manhã do dia seguinte. Talvez a solução seja uma lei impondo que todo responsável por festa rave, ou similar, seja obrigado a distribuir fones de ouvido para cada convidado, assim como se faz com os óculos em filmes de 3 dimensões. Que curtam a festa com seus próprios ouvidos, sem incomodar quem paga os impostos em dia.

 

História de Brasília

O pessoal de portaria é arrebanhado (há exceções) entre os operários das obras, e é incapaz de dar uma informação, de manter asseada uma entrada, de zelar pelo bloco. (Publicada em 21.03.1962)

It's only fair to share...Share on Facebook
Facebook
Share on Google+
Google+
Tweet about this on Twitter
Twitter
Share on LinkedIn
Linkedin