Petróleo, alimentos e ilusão

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

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Charge: sergioaperon.com.br

          Notícia recente dando conta de que a Petrobras registrou lucro de R$ 44,5 bilhões apenas nos três primeiros meses deste ano, aponta para uma perspectiva, dentro de uma simples regra de 3, de que, ao final de 2022, essa estatal terá lucrado algo como R$ 200 bilhões. Um sucesso. Tomando apenas os números desse primeiro trimestre, o que se sabe é que a Petrobras teve, no período de janeiro a março, o maior lucro já registrado nos últimos anos, superando petroleiras famosas como Chevron, Shell, ExxonMobil, Equinor, BP e TotalEnergies, ou seja, as maiores empresas do planeta.

          É algo a se comemorar? Depende de que lado do balcão está o indivíduo. Uma ida a qualquer posto de combustível no Brasil, de qualquer bandeira, para o abastecimento do carro, de passeio ou de trabalho, é sempre uma surpresa desagradável, para dizer o mínimo. Praticamente, toda a semana há reajustes, para cima, nos preços de combustível. Essa realidade é mundial. Apenas nos últimos doze meses, o preço do diesel aumentou 55,1% e a gasolina 31,4%, segundo dados da própria Agência Nacional do Petróleo (ANP). Esse lucro da estatal se explica porque ela é a maior vendedora de petróleo no mercado interno brasileiro, dominando praticamente toda a cadeia, da produção à distribuição.

         Para aqueles que estão do lado de dentro desse balcão formidável, os acionistas, nacionais e estrangeiros, esse resultado extraordinário é motivo de grande comemoração. Para o brasileiro médio, que vive a expectativa nebulosa do aumento da inflação para dois dígitos, o aumento semanal nos preços dos combustíveis tem forçado o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para cima em 7,5%, provocando uma série de impactos nos preços em geral, principalmente alimentos.

         Não há o que comemorar. Os lucros dessa empresa, celebrados com grandes alaridos, afetam negativamente a população brasileira. A equação é simples: Sempre que se registram lucros nessa empresa, quem sofre é a população brasileira, já que esses lucros são obtidos, quase sempre, com a venda interna desses produtos a preços dolarizados e, portanto, muito longe do poder aquisitivo do cidadão desse país.

         Temos, a exemplo do que acontece hoje no agrobusiness brasileiro, dois setores, um produzindo petróleo e outro grãos e proteínas, que não contribuem para que esses produtos sejam oferecidos a preços, digamos, honestos e acessíveis. Temos aqui uma equação de soma negativa para os consumidores, Tanto o agrobusiness nacional como a Petrobras, são grandes produtoras de lucros e que, de forma direta e visível, jamais contribuíram para aliviar o bolso do consumidor brasileiro.

         Ir ao supermercado ou ao posto de gasolina, dá, ao cidadão deste país, uma noção exata do que são esses dois setores. Os ufanistas e outros alienados tanto da direita como da esquerda, levantam e agitam a bandeira desses dois setores, ou porque são massa de manobra política, ou porque possuem ligações diretas e indiretas com esses nichos da nossa economia. Lula, quando ameaça os possíveis compradores da estatal de petróleo e mesmo Bolsonaro, que finge enxergar benefícios para a população no agrobusiness, estão cada um no seu lugar. Ambos estão muito longe do anseia o grosso da população que deseja encher o tanque de combustível, sem pagar grandes somas e depois ir ao supermercado, encher o carrinho com comida boa e barata.

         Na antiga questão, envolvendo o Brasil oficial versus o Brasil real, Petrobras e agrobusiness figuram com sujeitos de uma pantomima muito útil aos governos da hora. Para a população em geral, a propaganda oficial insiste que esses são dois ativos muito importantes para o país. A questão é: De que país eles estão falando?

A frase que foi pronunciada:

 

 

Está na hora

Não se viu até hoje um balanço da Anvisa com as denúncias sobre as vacinas. Falta divulgação de quantas pessoas saudáveis faleceram depois de receberem alguma dose, entre adultos e crianças. Já que todos foram obrigados a se vacinar, mesmo contendo na bula a isenção de responsabilidade por qualquer intercorrência, há que se prestar contas.

Foto: correio.rac.com.br

 

Quem aceitará?

Depois da notícia que demos sobre as Veterinárias que saem ilesas depois de cometerem erro médico, levando à óbito animais de estimação, o leitor João Madeira sugere que o cliente fique isento da conta se o bicho morrer.

Foto: petz.com

 

Notícia

Números sobre a violência doméstica durante a pandemia aumentaram muito. Pesquisa divulgada pela Febraban dá conta de que, no setor bancário, foram quase 300 casos de violência doméstica contra funcionários. O número de casos levou à criação de um canal exclusivo para os registros, além da elaboração e aplicação de programas de acolhimento e apoio às vítimas.

 

História de Brasília

As Centrais Elétricas de Goiás estão para aprovar numa concorrência de grande vulto, a proposta de uma firma que não oferece as condições exigidas pela Celg. O governador Mauro Borges não está informado do assunto, mas poderá reivindicar. (Publicada em 01.03.1962)

Estação da Luz

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Charge do Alpino

 

          Para o abade francês Jean Meslier (1664-1729), o homem só se tornaria verdadeiramente livre quando o último monarca fosse enforcado nas tripas do último clérigo. Não é necessário ir tão longe, nem mesmo usar de tanta perspicácia e espirituosidade radical para observarmos que nessa sentença, atribuída erroneamente ao seu conterrâneo Voltaire (1694-1778), há elementos suficientes que podem nos ajudar a começar a desconfiar que existe também, em nosso modelo de governo, um sério e nefasto fenômeno, incrustado dentro da máquina do Estado e de suas instituições, que impede o gozo pleno de uma cidadania universal conforme estabelecem teoricamente a própria Carta Magna.

         Trocando-se os sujeitos dessa sentença, por personagens mais condizentes com nossa realidade política atual, poderíamos dizer, parafraseando Meslier que o brasileiro só se tornará verdadeiramente um cidadão, quando o último oligarca corrupto for enforcado nas tripas do último juiz ou magistrado que ousou colocá-lo em liberdade. Obviamente que nessa sentença, um tanto extremada, para os dias modernos, iríamos substituir o termo “enforcado” por preso ou sentenciado exemplarmente. Tal é a situação em que nos encontramos hoje quando somos obrigados a assistir, todos os dias, em todas as mídias possíveis, a verdadeira aberração que é um notório condenado e chefe de organização criminosa, acusado por desvios de bilhões de reais dos cofres públicos, e recém saído da prisão, por uma decisão afrontosa às leis e à ética, em seu périplo pelo país, em frenética campanha para a reeleição, falar em futuro para os brasileiros. Não há futuro algum para um país e, principalmente, para uma nação, quando aqueles que se auto denominam “homens públicos”, não passam de autênticas ratazanas, prontas para mais uma sessão de rapinagem, dado o alto grau de impunidade em que vivemos.

         A situação de elegibilidade alcançada por esse candidato, depois de centenas de interpelações e outras chicanas, permite-nos concluir que já não há mais justiça, digna do nome, pelo menos contra a elite política e econômica deste país. Há sim um arremedo, que funciona muito bem apenas contra aqueles que, com justiça, a criticam.

          Como diz a deputada, espivitada, dessa mesma legenda que ousa lançar tal candidato: O que é isso? Respondendo a ela, diríamos: Isso é o que nos é empurrado, goela a baixo, e que temos que engolir, mesmo reconhecendo ser venenoso, sob pena de virmos a ser objeto dos olhares da espada dessa justiça, pronta a cortar os sem colarinhos brancos.

         Houvesse não justiça, mas apenas juízo, na cabeça daqueles que mandam, haveria, de imediato a instalação de uma Comissão Popular, digo, Parlamentar de Inquérito (CPI), a investigar o próprio Estado, colocando toda a República no banco dos réus. Não seria surpresa se alguém na plateia gritasse: Parem o Estado Brasileiro, que quero descer. Melhor descer na Estação da Luz, do que prosseguir nesse trem desgovernado e fora dos trilhos.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Os reis são para os seus ministros como os cornudos para as esposas: nunca sabem o que se passa.”

Voltaire

Foto: reprodução da internet

 

Inzoneiro

De um lado, a claque de sempre querendo a privatização dos Correios, Petrobras, Eletrobras. De outro, os Correios, por exemplo, venceram, pela quinta vez, o World Post & Parcel Awards, Oscar da indústria postal. Indo mais a fundo nessa agonia pela privatização, conclui-se que o medo é de que algum candidato desonesto vença as eleições e venha dilapidar o patrimônio dos brasileiros novamente. Assim funciona um país onde não há punição para os desonestos.

Imagem: correios.com

 

Menores

Delta e American Air Lines só se responsabilizam pelos próprios voos quando transportam menores de idade desacompanhados. Se houver conexão e o próximo avião for o da TAM, criança com mais de 12 anos desacompanhada não tem o apoio da companhia aérea para embarcar.

Foto: Divulgação/Delta Air Lines

 

Elogios

Toda a celeuma do concurso da SEDESTMIDH (hoje, dividido em 3 secretarias: Desenvolvimento Social, Mulher, e Justiça e Cidadania) foi resolvida. Candidatos que passaram pelo transtorno de verem o edital modificado, mudando as regras do jogo no meio do caminho, foram chamados e tomaram posse. A Justiça foi feita!

Governador Ibaneis Rocha. Foto: Ed Alves/CB/D.A Press

 

Perigo

Brasilienses são pessimamente servidos pela mão de obra que cuida das piscinas. Sem capacitação, os trabalhadores usam até produtos cancerígenos. Não dosam o PH, não usam equipamentos certos, esvaziam parte da piscina sem necessidade. Veja, a seguir, um vídeo sobre os cuidados necessários.

De olho

Mais uma vez, chega em nossas mãos reclamação sobre serviços oferecidos em clínicas veterinárias. Sem exames prévios para uma cirurgia, o cão da família teve uma parada cardíaca. Medicamentos são aplicados por estagiários que não têm o devido cuidado com os animais. O pior dessa história é que ninguém consegue laudos comprovando as barbeiragens. O corporativismo vence!

Foto: petz.com

 

História de Brasília

Embora não seja ministro, tenho direito ao menos aos meus vôozinhos. Até à volta, quando aqui estaremos novamente. AC. (Publicada em 23.02.1962)

O Grande Irmão

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Cartaz promocional do filme ‘1984’ com a mensagem “O Grande Irmão está te vigiando” (1956)ALAMY (CORDON PRESS)

 

         Por mais espantoso e surrealista que possa parecer, os ainda cidadãos brasileiros estão, de forma lenta e gradual, aplainando, com as próprias mãos, o terreno para a construção do que pode vir a ser o mais eficaz e moderno Estado ditatorial que se tem notícia. Toda essa distopia vai, a cada dia, ganhando forma e conteúdo, por meio de um mega sistema que vai permeando todo o Estado, contaminando suas instituições, ao mesmo tempo em que prepara todo um arcabouço legal para legitimá-lo, em caso de oposição ou questionamentos.

         Trata-se, aqui, não de uma teoria da conspiração, como alegam seus beneficiários, mas de uma realidade que vai se concretizando a olhos vistos, diante de todos. De um lado, vamos assistindo inertes, o enfeixamento de super poderes nas mãos do Judiciário, com juízes e outros operadores desse Poder, ganhando relevância sobrenatural, operando e interferindo em outras instâncias, legislando e interpretando as leis como bem lhes aprazem, investigando, julgando e punindo, tudo num mesmo pacote, intimidando governadores, prefeitos e até o presidente da República abertamente e, enfim, impondo um clima de medo geral, ameaçando inclusive todos aqueles que ousarem antepor dúvidas sobre seu comportamento. Há aqui uma visível hipertrofia do Judiciário, prejudicial ao que ainda acreditamos ser o Estado Democrático de Direito.

         Um termo pomposo, mas que vai perdendo seu significado real, à medida que os dias passam. Por outro lado, existe ainda uma ameaça tão ou mais sobrenatural para a cidadania vinda justamente de onde se esperava haver uma maior proteção e amparo aos cidadãos. Os ditos representantes da população, com assento no Poder Legislativo, estão, todos eles, por conta de uma atuação estratégica, coordenada e controlada pelos partidos, com o controle absoluto sobre um naco significativo do Orçamento da União, na forma de emendas secretas, tanto de relatoria, como de bancadas ou individuais.

          São dezenas de bilhões de reais, que transitam sem controle, indo diretamente para correligionários, redutos ou currais eleitorais ou para as mãos de amigos, parentes, laranjas e outros grupos, que usam essas verbas para abrir veredas livres para esses parlamentares e para perpetuação desses indivíduos no poder. Nada dessa dinheirama toda, sem carimbo e sem auditoria, é destinada para o benefício de projetos para as populações necessitadas.

          O que se tem aqui é um novo tipo de Orçamento da União sujo, em que o dinheiro do pagador de impostos vai para essa união espúria de grupos parlamentares, que dele fazem o que querem. Nesse verdadeiro oceano de dinheiro em que navegam, os parlamentares contam ainda com os recursos bilionários provenientes dos Fundos Partidários e Eleitorais, todo ele destinado ao enriquecimento de legendas privadas e vazias de conteúdo, para a perpetuação de um sistema viciado em que notórios indivíduos, a maioria com processos cabeludos junto à justiça, permanecem se elegendo, pleito após pleito.

         Leis como improbidade, ficha limpa e outros instrumentos legais, que deveriam trazer alguma proteção e ética à coisa pública, são descartados e sequer mencionados. O que a população parece não ter se dado conta ainda é que está, por meio dos impostos que paga ou que são arrancados pela Receita daqueles que não possuem as blindagens do Estado, financiando a consolidação de um governo e principalmente de um Estado ditatorial, onde a elite política, juntamente com a elite da magistratura, está fechando o cerco em torno dos cidadãos, obrigando-os a custear uma gigantesca máquina burocrática e corrupta, a serviço apenas de um pequeno grupo, que vive naquilo que Machado de Assis denominava, ainda no século XIX, como o Brasil Oficial, longe do que é o Brasil real. É a nossa versão piorada e abrasileirada do Grande Irmão, que bancamos com nosso suor.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Esta é a primeira CPI da história que fecha os olhos para a corrupção.”

Senador Girão sobre estados e municípios que não prestaram contas do que fizeram com o dinheiro público

Senador Girão. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

 

Inacreditável

Mais uma vez, o consumidor, completamente desamparado, é feito responsável pelas perdas das empresas de turismo durante a pandemia. Amiga que buscou o judiciário, não só não conseguiu o dinheiro de volta da viagem que marcou antes da pandemia, como não pode remarcar o mesmo percurso e ainda teve que pagar os honorários do advogado da parte contrária. A sugestão dada para a nova viagem é diminuir o percurso e pagar quase o dobro do que já pagou. Se isso é justiça, precisamos trocar de dicionário.

 

É mesmo

Recebemos uma pergunta do leitor Davi Yamim e não sabemos responder. Alguém viu uma nota de R$200 por aí?

Imagem: bcb.gov

 

História de Brasília

Não posso mais falar com minha vizinha aí do lado. Ela foi para outra página, enquanto nós registramos, daqui, nosso protesto ao Elton e Adilson. (Publicada em 23.02.1962)

Elite frívola

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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Agência Brasil

 

         Que possíveis relações poderiam existir para a capital, entre atividade política local, a partir dos anos oitenta, e o sucateamento gradativo dos principais pontos de cultura de Brasília? À primeira vista, pode até não parecer, mas, desde que a capital, por uma iniciativa de grupos de empreendedores interessados em dividir e lotear a capital entre si, tomaram assento na Câmara Distrital e no Palácio do Buriti, os espaços de cultura da cidade, foram, um a um, adentrando num lento e irreversível processo de decadência, com fechamento de galerias, teatros e uma série de projetos de fomento às artes, que foram vetados ou simplesmente esquecidos.

         O empobrecimento cultural da capital do país é a obra prima dessa gente inculta, que não vislumbra retorno político imediato e satisfatório para suas ambições eleitorais. Muito mais chamativo e lucrativo, do ponto de vista político, do que espaços e fomentos para as artes, são as legalizações de áreas  e outras benesses eleitoreiras. Essas sim trazem retorno em forma de votos. São verdadeiros cartazes a esconder propaganda política e partidária.          Ademais, o inchaço populacional trazido pela emancipação política, com a criação, quase que diária, de assentamentos e outros bairros improvisados, passou a requerer, do poder público, o direcionamento dos recursos, tanto para o atendimento dessas populações como para socorrer hospitais, escolas e outros pontos de serviços básicos, tornando itens como a cultura descartáveis ou não urgentes.

         O gasto astronômico com os novos poderes locais que foram criados, ajudou a desviar os preciosos recursos que antes iam para a atividade cultural. Hoje os projetos de arte e, principalmente, os artistas da cidade são obrigados a se humilhar diante dessa classe de políticos, semialfabetizada, implorando para que concedam migalhas de recursos, que são públicos, na forma de emendas. Criou-se, desnecessariamente, uma classe política que, ao fim e ao cabo, são autênticos atravessadores de recursos, cobrando, para isso, o reconhecimento como patrocinadores das artes.

          Nossa elite e, principalmente, nossos políticos são formados por indivíduos cujo entendimento que possuem de cultura se resume a viagens à Disneylândia ou ao Caribe. São frívolos, sem educação e aculturados. Muitos, inclusive, não hesitariam, caso fosse permitido, sacar uma arma ante a presença de uma trupe de artistas mambembes. É disso que se trata, quando se observa que importantes e icônicos espaços como o Teatro Nacional, um marco de cultura da capital, está entregue às baratas por mais de uma década. A insensibilidade às manifestações da arte e da cultura é traço marcante de nossa elite política. Mesmo esbanjando dinheiro público pela Europa ainda não se atentou ao que diferencia um país com tradições e história. Com essa indiferença, que quase beira ao ódio, gerações inteiras de artistas e outros cidadãos de autêntico talento são deixados ao relento, para que desapareçam da paisagem.

         O que temos como produto dessa gente egoísta é a proliferação indefinida de bares e casas de espetáculos com shows pra lá de duvidosos e sem conteúdos artísticos. Uma cidade em que suas lideranças ignoram, e mesmo desprezam as artes, não pode possuir status verossímil de capital do país. A Brasília que, desde a sua emancipação política, foi entregue, de mão beijada, a uma gente tosca e de poucas letras é a que temos hoje, permeada de problemas como o da violência urbana e a do abandono.

          Não há futuro seguro e pacífico por esse caminho. Nem para seus habitantes e muito menos para aqueles que a transformaram nisso. Não há salvação possível fora da cultura e das artes, principalmente quando se fala em comunidade.

 

A frase que foi pronunciada:

“A massificação procura baixar a qualidade artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais prejudicial do que o mau gosto… Nunca vi um gênio com gosto médio.”

Ariano Suassuna

 

Traumatizante

Vai aqui um conselho precioso: você que pretende homenagear sua mãe, levando-a num restaurante para livrá-la das obrigações da cozinha diária da família, faça isso na véspera do Dia das Mães. A receita serve para o Dia dos Pais que vem aí. A razão é que a maioria dos restaurantes da cidade não está preparada para o aumento de público. A qualidade dos serviços cai, os preços sobem, as filas aumentam e o que poderia ser um dia de lazer e alegria acaba se transformando num pesadelo. Que digam as mães que foram “homenageadas” por seus familiares no tal restaurante La Terrasse, no condomínio Life Resort. Um domingo de horror!

Foto do restaurante La Terrasse, unidade Life Resort, publicada em seu perfil oficial no Instagram

 

Para os críticos

Como ex-presidente, Lula tem direito à escolta armada para se proteger. E foi essa a opção que fez. Quem estranha a iniciativa é o deputado Sanderson. Quer saber se a submetralhadora alemã UMP45 é realmente necessária para enfrentar o povo nas ruas.

Deputado Sanderson (PL-RS). Foto: Assessoria de imprensa

 

História de Brasília

Houve falta de controle, e parte daí a dificuldade, criada pelo Conselho Novacap, que doou os terrenos já ocupados. (Publicada em 23.02.1962)

Edifício sem portas ou janelas

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Charge publicada no jornaldamanhamarilia.com

 

        Enquanto a terceira via míngua a olhos vistos, deixando milhões de eleitores literalmente sem chão, pendurados no teto pelo pincel, as duas pinças pontiagudas do venenoso extremismo político seguem preparando o que pode ser o bote final.

        É tudo o que falta para levar à morte toda uma nação, que não se alinha, nem de um lado, nem de outro, encurralada que está, nesse ringue, entre a jararaca e o perigoso escorpião. A inexperiência nas artes de fazer política, sobretudo naquele tipo de política à brasileira, em que a prestidigitação e o embuste são ferramentas essenciais para iludir o eleitor, fizeram do possível candidato, Sérgio Moro, um candidato impossível de se encaixar no gigantesco e preordenado edifício das eleições nacionais. Ciro não é terceira via. É apenas o rebotalho de um velho sistema que teima em não sair de cena.

        Nos infinitos labirintos dessa mega-construção, ardilosamente e pré desenhada por dentro, não há espaços para alternativas ou candidatos desprovidos de peçonha letal. O que temos pela frente não são disputas civilizadas e dentro do que o inocente e vestal eleitor imagina. O que há, de fato, é uma batalha ou um UFC, que apontará o próximo vitorioso, que virá justamente para derrotar a cidadania.

        Pelo o que foi visto até aqui, o menos pior, entre esses lutadores verdugos, é o que está à direita do ringue, embora suas chances de vitória, dentro das quatro cordas do tablado de lona, sejam menores, porque, evidentemente, mais tolhidas por um sistema complexo que parece permear todo Estado. É nessa equação de soma zero que o perdedor já está determinado na figura de uma nação inerte.

        Pobre democracia, que aplaina o terreno para uns, embarreira para outros, deixando, sem saída, dezenas de milhões de cidadãos de bem, num país em que essas antigas virtudes são vistas hoje como escandalosas. Surpreende que um país com mais de cinco séculos de história ainda tenha que conviver com o espetáculo insano da política nacional. Pior ainda é que nesse país parece ter perdido a graça de vez. E agora, nem o rinoceronte Cacareco, nem o chimpanzé Tião poderão nos defender no próximo pleito de outubro.

        No meio dessa loucura, fica a pergunta: por que o viável é inviável? E, da mesma forma, por que o inviável é viável? Num mundo onde a brutalidade e a ignorância triunfam, e rendem apreços de uma parcela de eleitores oportunistas e niilistas, não pode haver espaços para a construção do edifício da civilização. Seguimos amuados, como vaticinava o antropólogo Lévi-Strauss, saindo da barbárie, diretamente rumo à decadência, sem ao menos conhecer os frutos da civilização. Pensar que temos ainda tantos e tantos cidadãos brasileiros, imantados pela ética e pelo saber, mas que não se apresentam, trazendo suas lanternas, porque nesse imenso e escuro edifício, erguido por esse sujeito indefinido, chamado sistema, não há aberturas ou portas para a entrada da luz.

 

A palavra que foi pronunciada:

Nunca dê as costas a um perigo ameaçador ou tente fugir dele. Se você fizer isso, você vai dobrar o perigo. Mas se você o enfrentar prontamente e sem vacilar, reduzirá o perigo pela metade. Nunca fuja de nada. Nunca!”

Winston Churchill

Winston Churchill. Foto: wikipedia.org

Situação real

Dados do Conselho Nacional de Justiça indicam que por volta de 27,5 mil crianças foram incluídas no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento. A destituição do poder familiar é uma medida tomada quando há o esgotamento de ações protetivas para manter a criança no próprio lar.

Imagem: Divulgação

Turismo

Brasília espera, para o mês de junho, abrigar a maior feira náutica que a cidade já teve. Esforços da Secretaria de Turismo do Distrito Federal nesse sentido são fundamentados na excelente condição de navegabilidade no Lago Paranoá e infraestrutura para receber mais de R$100 milhões em negócios.

Foto: jornaldebrasilia.com

Para todos

Na paróquia do Corpo de Bombeiros Militar, no Setor Policial Sul, o capelão tenente-coronel Fernando Rebouças ministra um Curso de Eficiência Pessoal até 9 de junho, apenas às quintas-feiras. Veja os detalhes no Blog do Ari Cunha.

 

Para o bem

Depois da decisão da Câmara dos Deputados que aprova medida provisória que cria sistema eletrônico de registros públicos, o que a população espera é menos burocracia. A medida vai conectar todos os cartórios entre si, por meio eletrônico. A Secretaria de Economia do DF e a Receita Federal poderiam entrar na rede para compartilhar informações.

Com amor e compaixão

Para todas as mulheres que tiveram coragem de exercer a maternidade, fazendo de seu corpo o abrigo mais seguro até o nascimento. Para todas as mulheres que pariram outras mulheres contrárias à soberania da vida e para as mulheres que foram escolhidas para gerar, ser mãe e optaram por matar. Que hoje seja um dia especial.

Ilustração compartilhada no Pinterest

História de Brasília

Surge, agora, o problema, porque p Exército quer construir imediatamente nos terrenos que foram cedidos pelo prefeito Paulo de Tarso. (Publicada em 23.02.1962)

A fumaça das urnas eletrônicas

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Foto: bbc.com

 

       Onde há fumaça, – ecoava o filósofo de Mondubim -, há fogo! O que ninguém pode negar hoje é a existência de uma colossal nuvem de fumaça pairando e encobrindo toda a área que abrange desde o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), passando pelo supremo (STF), englobando parte do Legislativo (Câmara e Senado) e indo lançar suas sombras sobre do Executivo Palácio do Planalto e Ministério da Defesa.

        O denso fumaceiro, com forte cheiro de coisa queimada, não é um fenômeno recente. Há tempos, toda aquela área, onde se concentram as sedes dos Poderes do Estado, vem sendo encoberta por essa espessa cortina branca, que pode ser vista de longe, inclusive do espaço. Para os mais atentos e que não se deixam levar por certezas absolutas, num tempo de incertezas devolutas, há indícios de que qualquer coisa está ardendo e produzindo muita fumaça.

        Os noticiários do país, mesmo aqueles que tecem os fatos sob a diáfana luz das ideologias, não podem ignorar a existência desse fenômeno, sob pena de fecharem os olhos para o que pode estar ocorrendo bem debaixo do nariz de todos. É preciso levar, até as últimas consequências, as acusações, feitas pelos principais próceres da República, tendo à frente ninguém menos do que o próprio chefe do Executivo, sobre a lisura das urnas eletrônicas, sua pretensa inviolabilidade e, pior, quaisquer possibilidades de fraudes na apuração e na contabilidade dos votos nas eleições de outubro deste ano. Bate boca e outras discussões políticas sobre a funcionalidade das urnas eletrônicas de nada adiantam, enquanto todas as informações não forem amplamente disponibilizadas, esclarecidas e transparecidas, tanto para os diversos candidatos, como para os eleitores.

        Não há possibilidade de uma aceitação pacífica sobre o dito modelo eletrônico de votação, apenas com base no que afirmam para a imprensa os ministros do TSE. Mesmo com todas as vênias e o reconhecimento à capacidade e honestidade de cada um no comando desse pleito, é preciso notar que estamos diante de sérias denúncias, feitas inclusive pelo ocupante do mais alto cargo do Executivo.

        Ou se esclarecem essas e outras dúvidas, ou qualquer resultado que venha após o fechamento das urnas poderá gerar conflitos de grandes proporções. A polarização política extremada exige que a luz da verdade ilumine todo o processo. Pensar que toda essa confusão, que pode descambar em lutas fratricidas poderia, muito bem, ser resolvida apenas com a adoção do voto impresso. Não há porque o tribunal negar a solicitação do presidente Bolsonaro para que as Forças Armadas também acompanhem a contagem dos votos em parceria com o TSE para uma apuração compartilhada. Que perigo haveria nisso?

       De nada adianta a presença de observadores internacionais ou mesmo de auditorias contratadas, como quer agora o presidente Bolsonaro, se permanecerem dúvidas e outras interrogações que o pessoal especializado não sabe responder. Ou por falta de conhecimento técnico, ou por falta de acesso ao sistema. O que se sabe é que tecnologia alguma está 100% seguram de invasão hacker. Se existe impossibilidade de conferência e apuração dos votos, paralelamente àquelas feitas pelas urnas eletrônicas, que seja implementada em nome da paz e para a segurança daqueles que irão votar e para os próprios candidatos.

        Até agora, as interrogações feitas pelo pessoal especializado do Exército não foram devidamente respondidas. Eleições dão trabalho. Mais trabalho ainda darão as possíveis consequências que se seguirão, caso as dúvidas não sejam todas sanadas. Na Bíblia, em Jeremias 17:5, está o aviso: Maldito o homem que confia no homem. Em tempos difusos como o nosso, esse trecho poderia ser adaptado para a seguinte sentença: Maldito o homem que confia no voto eletrônico.

 

A frase que foi pronunciada:

“A ignorância de um eleitor em uma democracia prejudica a segurança de todos.”

John F. Kennedy

John Fitzgerald Kennedy. Foto: bbc.com

 

O outro lado

Sobre as questões colocadas pelas Forças Armadas sobre as urnas ao TSE, o tribunal esclarece que “cabe destacar que são apenas pedidos de informações, para compreender o funcionamento do sistema eletrônico de votação, sem qualquer comentário ou juízo de valor sobre segurança ou vulnerabilidades. As declarações que têm sido veiculadas não correspondem aos fatos nem fazem qualquer sentido.” Sendo assim, a população aguarda as respostas.

TSE. Foto: tse.jus

 

Revisão já

Vicente Limongi traduz as palavras dos moradores do DF. O valor do IPTU subiu de forma desigual aos salários. Deve ter havido algum erro no processamento de dados. Limonge protesta quanto ao valor pago: “Como pagador de impostos, não sou beneficiado em rigorosamente nada. A insegurança é brutal. Mesmo com alarme. O asfalto é remendado ou esburacado. A luz costuma falhar. Demora a voltar. As calçadas são sujas e quebradas. O matagal e a sujeira tomam conta dos lotes. O transporte público é tenebroso. A polícia não contém a barulheira das festas intermináveis. Quando chove, transbordam os bueiros da pista principal, alagando os gramados.”

Charge do Arionauro Cartuns

História de Brasília

O pessoal da Cidade Livre que se mudou para a Asa Norte está vivendo momentos difíceis. A Prefeitura localizou as residências numa quadra que, posteriormente, foi vendida ao Exército. (Publicada em 23.02.1962)

Senhores do caos

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

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Foto: agenciabrasilia.df.gov

 

          Não passa um dia sequer sem que as manchetes dos noticiários locais tragam, em letras garrafais, notícias sobre a escalada da criminalidade e da violência na capital do país. Foi-se o tempo em que Brasília era uma cidade pacata, como muitas no interior do país, onde as ocorrências policiais, com raras exceções, eram fatos pitorescos. Esse tempo, perdido no longo corredor da memória, é ainda lembrado por muitos que conheceram a cidade nos seus primeiros anos de existência.

        Os brasilienses observavam o Brasil à distância. A violência era então um problema que parecia afligir apenas outros estados, há centenas de quilômetros. No Plano Piloto, que naquela época era a principal e mais populosa área urbana da capital, era comum os moradores deixarem os brinquedos das crianças e outros objetos debaixo dos blocos ou nos parquinhos próximos, assim como os carros abertos, já que as ocorrências de roubos eram baixas, quase inexistentes. Andar pela cidade a qualquer hora do dia ou da noite era um prazer seguro e comum.

        Essa espécie de paraíso de tranquilidade e paz durou aproximadamente até o início da chamada emancipação política da capital. De lá para cá, o clima citadino mudou de água potável para água contaminada, com a cidade se igualando e até superando muitas capitais do país quando o assunto é insegurança pública. A explosão demográfica e repentina experimentada pela capital não teve paralelo em outras partes do país.

        Do dia para noite, os políticos locais estreantes tomaram posse da cidade, fazendo dela o que seus colegas sempre fizeram em outras partes do país, que é, basicamente, usar a população para alcançar seus objetivos pessoais inconfessáveis. Sem o que oferecer aos seus novos eleitores, esses personagens da política local, muitos de triste memória, passaram a utilizar as áreas públicas, mesmo aquelas dentro de polígonos de preservação como moeda de trocas políticas, dentro da lógica: um voto, um lote.

        Deu no que deu. A cidade, antes meticulosamente planejada para atender às necessidades nacionais de administração, tendo sido, inclusive, por seus méritos arquitetônicos e urbanos, elevada, merecidamente, a patrimônio cultural da humanidade, um status de grande importância internacional, é hoje apenas mais uma cidade brasileira, cercada de miséria e de violência pelos quatro lados.

        Por enquanto, as estatísticas oficiais apontam, a cada dia, mais de quarenta ocorrências de roubos registradas na cidade. O número de quadrilhas, cada uma especializada em determinado nicho do crime, multiplica-se. Integrantes do temido PCC são vistos no Distrito Federal. O tráfico de drogas nunca lucrou tanto. Os casos de assassinatos e de latrocínio aumentaram assustadoramente.

        Todos os dias, os noticiários locais apresentam o retrato de uma cidade em que a criminalidade avança sem parar. Não bastassem essas mazelas, que comumente sempre atingiram outras partes do país, Brasília vai, lentamente, perdendo sua antiga qualidade de vida, substituída por uma modernidade que nada mais é do que o avanço da poeira e da confusão.

        O abandono de superquadras inteiras tomadas pelas invasões de áreas públicas e por um número crescente de barracos de latas, que nascem e se multiplicam como mato, vendendo de tudo, mistura-se ao lixo e ao desmazelo com as áreas verdes.

        Carros estacionam em cima dos gramados. Andar à noite pela cidade é correr sério risco de morte. O barulho, a poluição visual e o desrespeito são regras gerais, tanto no Plano Piloto como nas administrações regionais. Quem manda, de fato, hoje em Brasília são políticos locais. Eles querem exatamente esse caos generalizado, porque é dele justamente que colhem os frutos podres de suas seguidas eleições.

        O centro da cidade, tomado por mendigos e viciados e outros marginalizados, é um retrato acabado da decadência do terceiro mundo. Não se vê policiamento em parte alguma. Mesmo que houvesse, não daria conta do recado, pelo número de arruaceiros que perambulam pelo centro da capital.

        Os governadores, todos eles, só pensam em obras vistosas e caras, capazes de chamar a atenção da população. O desrespeito às regras do tombamento é visto em toda a parte e ameaçam essa honraria. Por toda a parte se vêm a multiplicação de barracos de lonas, abrigando famílias inteiras que vivem nessas áreas públicas sem quaisquer condições humanitárias dignas e sem quaisquer controle dos órgãos de assistência social.

        Também esses serviços, dado o grande número de pessoas em estado de miséria, não dão conta de atender a tanta gente. Vive-se na capital um estado de caos permanente e crescente, com o Plano Piloto tomado por problemas sociais de todo o tipo.

        Essa é a herança, realmente maldita, que vai sendo deixada na soleira da porta das casas de todos os brasilienses, trazida pela invenção da política local. É nisso que se transformou a capital de todos os brasileiros, numa cópia, de um retrato em preto e branco, do que de pior há e havia no restante do país.

        A conhecida Teoria das Janelas Quebradas, na qual o Plano Piloto de Brasília insere-se hoje como um modelo exemplar, mostra, com toda a clareza, que, ao caos urbano e sem cuidados adequados, seguem todos os outros fatores de decadência, no qual a violência e os crimes são as consequências mais vistosas e as mais dramáticas.

 

A frase que foi pronunciada:

Se você for ver Brasília, o importante é o seguinte: você pode gostar ou não dos prédios, mas nunca poderia dizer que já viu algo parecido antes. Aquelas colunas finas, os prédios como penas tocando o chão, tudo isso cria um efeito de surpresa.”

Oscar Niemeyer

 

Sob a batuta de Lúcio Costa, Oscar se diverte grafite e aquarela, 29x21cm, 2010 (evblogaleria.blogspot.com)

História de Brasília

O pessoal da Cidade Livre que se mudou para a Asa Norte está vivendo momentos difíceis. A Prefeitura localizou as residências numa quadra que, posteriormente, foi vendida ao Exército. (Publicada em 23.02.1962)

Vida e morte na balança das polêmicas

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Manifestantes protestam do lado de fora da Suprema Corte dos EUA após vazamento de um rascunho de opinião majoritária da corte contrária à decisão que legalizou o aborto no país – 02/05/2022                  Foto: REUTERS/Moira Warburton

 

         Decisões verdadeiramente polêmicas são aquelas que nem mesmo o tempo, agindo como senhor absoluto da razão, é capaz de esclarecer e apaziguar, retirando-lhes os pontos problemáticos ou nebulosos. Normalmente, essas decisões, tomadas sob a luz de determinado período histórico, pressionada pelo clamor popular ou pelo lobby político e econômico, permanecem se equilibrando num delgado limbo, até que outras razões venham se sobrepor, deixando o dito pelo não dito.

        Entre essas questões polêmicas, cuja validade e razões, volta e meia, forçam sua rediscussão, estão aquelas ligadas à vida, à morte, à dignidade da pessoa humana, sua individualidade e privacidade, entre outras do gênero. Decisões sobre a pena capital ou pena de morte, para todo e qualquer crime, são sempre questões a suscitar polêmicas, afinal dizem respeito à vida humana. Também assuntos relativos à tortura, mesmo em caso de segurança pública, acendem polêmicas de todo o tipo.

        É comum que países revejam casos de pena de morte, depois de anos de sua aplicação, depois de inúmeros sepultamentos, inclusive de inocentes, tendo como justificativa novos enfoques e outras razões que mostram a ineficácia desse método extremo no combate ao crime, ou mesmo por razões ditas humanitárias. Direto à vida ou sua antípoda, a pena de morte, em nossa sociedade moderna, quando colocadas na balança dos direitos, ora pende para um lado, ora pende para outro.

        Os tempos e as vontades mudam. Em guerras, como a que ocorre atualmente na Ucrânia, o governo russo resolveu aplicar a pena de morte, indistintamente e de forma cruel, aos milhões de cidadãos daquele país, por razões que ele aponta como estratégicas. De fato, não há direito absoluto à vida, que em parte alguma do planeta é respeitado. Cidadãos assaltados e mortos a toda hora nas ruas de nossas cidades não tinham o direito à vida assegurado na prática, como mandam, em teoria, as leis.

        Da mesma forma, um feto ou bebê, alojado indefeso no útero materno, mesmo que, em tese, já possua o direito inalienável à vida, pode ou não ter assegurado esse mesmo direito dependendo do que pretende a mãe durante o período de gestação. Sem dúvida alguma, o aborto é e será sempre uma questão polêmica, pois envolve, nessa equação, a vida e existência de um ser humano indefeso.

        Nesse caso específico, um xeque mate poderia, hipoteticamente, ser dado nessa polêmica, bastando que mães, daquelas mulheres que hoje defendem o aborto, fossem adeptas também dessa prática lá no passado. Quem teve direito a viver pode, em algum momento, cassar esse mesmo direito a outrem? Eis-nos diante de uma polêmica. No Brasil, o aborto é permitido legalmente, desde 1940, Lei nº 2.848), em caso de risco de vida da mulher e em caso de estupro.

        Em casos mais modernos, como a constatação de que o feto é anencefálico, passou a ser também permitido a partir de 2012. São, apesar de tudo, situações polêmicas e que, de uma forma ou de outra, acabam levando essas mães a procedimentos de interrupção de gravidez, o que, sem dúvida alguma, acaba acarretando diversos traumas paralelos posteriores.

        Entre aqueles que defendem o direito irrestrito ao aborto, em qualquer mês de gestação, com o argumento do direto absoluto sobre o próprio corpo, curiosamente, temas como a adoção de métodos preventivos e outros, capazes de evitar esse desfecho fatal, jamais são postos sobre a mesa.

        De forma até surpreendente, em todas essas polêmicas em torno do aborto, tanto no Brasil como em outros países, a questão parece ter ganhado ainda mais complexidade e controvérsias, quando o elemento político adentrou nessa discussão, partidarizando e ideologizando um problema que poderia ficar restrito a ambientes como a ética e a dignidade humana. A essas discussões, entram ainda elementos como abusos sexuais, feminicídio, abuso de drogas, gravidez precoce, abandono e outros problemas presentes, tanto no Brasil como e em grande parte dos países subdesenvolvidos.

        De um modo geral, esse é um problema de saúde pública a envolver a delicada questão do direito à vida. Quer os ditos progressistas queiram ou não, essa é uma polêmica que passou a ganhar grande expressão a partir dos anos sessenta, com os movimentos femininos, a emancipação da mulher, a pílula e outros avanços sociais das últimas décadas e ainda está longe de um consenso definitivo.

        Agora, quem volta a entrar nesses debates polêmicos são os Estados Unidos. Depois de meio século de aprovação, pela suprema corte americana, do direito ao aborto (Roe versus Wade de 1973), que foi baseada em uma mentira da grávida, a maioria conservadora dessa alta corte pode reverter essa decisão, com a possibilidade de tornar essa prática ilegal em 22 estados daquele país. Não há como negar a presença de vida no útero com equipamentos de alta resolução em 3D. O circo por lá voltou a pegar fogo com briga feia entre os chamados pro-choise e pro-life, antevendo um revival dessa polêmica que já se acreditava abortada e morta há 50 anos.

        Elementos de todos os lados dessa questão podem se estender por muito tempo, gerando ainda essa polêmica. O que se sabe com segurança é que, no intervalo dessas cinco décadas, enquanto permaneceu a autorização ao aborto nos Estados Unidos, cerca de sessenta e cinco milhões de bebês foram assassinados naquele paós, apenas segundo os números oficiais. Por outras projeções, esses números podem ser ainda expressivamente maiores. Nesse debate, como não poderia ser diferente, estão os democratas, como presidente Joe Biden e sua vice Kamala Harris, à favor do aborto e, do lado contrário, os republicanos, que querem a proibição desses crimes continuados contra a vida.

        Interessante ou até sinistro é registrar que aqui, na vizinha Argentina, onde o aborto foi legalizado, a defensora radical pró-aborto, Maria del Valle González López, de 23 anos, morreu após abortar legalmente naquele país, vítima de infecção generalizada e outras complicações durante esse procedimento.

        Para muitos, essa morte comprova que não é apenas com a legalização do aborto que mulheres estariam seguras. A razão é simples: essa é uma verdadeira questão polêmica a arrastar-se ainda por muito tempo entre nós e que só cessará em definitivo quando o valor à vida for igualado ao valor à morte.

 

A frase que foi pronunciada:

É “de esquerda” ser a favor do aborto e contra a pena de morte, enquanto direitistas defendem o direito do feto à vida, porque é sagrada, e o direito do Estado de matá-lo se ele der errado.

Luis Fernando Veríssimo

Luis Fernando Verissimo. Foto: redebrasilatual.com

História de Brasília

Vamos dar uma volta pela garage do bloco 1 dos ministérios. Dois dedos de pó no chão, não há servente para varrer e conservar limpo o local de trabalho, e, cada vez maior, o número de carros particulares consertados pelos mecânicos do Ministérios da Educação, da Prefeitura e dos TCB. (Publicada em 23.02.1962)

Desmemoriados e sem dignidade

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Foto do Duke

 

            Para Einstein, a diferença entre passado, presente e futuro era apenas uma persistente ilusão, já que o tempo é relativo a grandezas físicas como a velocidade. Uma dessas relações ilusórias do homem com o tempo é dada pela memória e é aí que tudo parece desvanecer como fumaça carregada pelo vento.

        O sentimento conferido pela velocidade e pelo volume dos acontecimentos atuais, que chegam até nós, em torrentes colossais, tanto pela internet, como por outras mídias instantâneas, parece soterrar o ser humano com toneladas de informações, ao mesmo tempo em que insere o indivíduo, de forma isolada, no meio de uma multidão de mais de sete bilhões de pessoas, todas elas borbulhando numa imensa bacia das almas, onde todos buscam explicações para o que seria esse holograma chamado vida.

        Não é por outra razão que atualmente muitos se indagam hoje sobre os mistérios do que parece ser o encurtamento do tempo. Não são poucas as pessoas que atualmente estranham como os dias parecem transcorrer em desabalada velocidade ladeira a baixo. Não há tempo suficiente para nada. No passado, os mais sábios já haviam previsto que chegaria um dia em que tempo passaria em nossa frente, com tamanha velocidade e pressa, que muitos seriam deixados para trás sem fôlego ou mesmo vontade de seguir adiante.

        Hoje se diz que os dias voam como horas e horas como minutos. Impressão ou não, o fato é que toda essa superagitação moderna, onde já não há, sequer, tempo para os outros que estão ao nosso lado, acaba tendo efeito também sobre a memória individual e coletiva. O sentimento que muitos experimentam é de que a memória foi empurrada para os porões do subconsciente, onde o acesso só é feito por meio dos sonhos.

        Estaríamos, de fato, dado ao volume de informação, construindo uma espécie de Torre de Babel para buscar, mais uma vez, refúgio junto ao céu, numa confusão moderna em que a praga da multiplicidade de linguagens foi substituída pela quantidade de conhecimento que temos do mundo à nossa volta? Em excesso, até água morna mata. Um dos problemas dessa aparente rapidez do tempo é que vamos, numa espécie de contramarcha, perdendo a capacidade de reter o cotidiano na memória.

        Ao final do dia, mal sabemos o que fizemos pela manhã. Com isso vamos escrevendo um diário como quem escreve na areia à beira-mar. Ciente dessa perda de memória, nossos algozes, que antes faziam esforços para que esquecêssemos suas fealdades, hoje já nem se dão ao trabalho de escondê-las. Exemplo dessa nossa fragilidade de memória pode ser conferida pela desfaçatez com que um ex-presidente e ex-presidiário se apresenta hoje como candidato, de modo impávido e impoluto, pronto para voltar a governar o mesmo país que, ainda ontem, dilapidou com sua gangue.

        Do mesmo modo, podemos observar a guerra na Ucrânia, que a cada dia vai perdendo espaço nos noticiários ao mesmo tempo em que vão se avolumando o número de jovens mortos. Um dia, quando não restar nada mais do que cadáveres e escombros calcinados, esse conflito covarde irá terminar. Assim como irão terminar as sanções mundiais contra o governo russo.

        A ONU, do alto de sua conhecida indiferença, irá ignorar os crimes de guerra. Ninguém fala mais sobre a origem da Covid-19. Putin voltará ser recebido com pompas e circunstâncias nos salões do poder internacional, como se nada tivesse feito. O mundo reagirá com a mesma indiferença que reagiu ao Holodomor stalinista. Restarão apenas as cruzes fincadas no chão naquele país várias massacrado pelos russos.

        São perigos dessa natureza, facilitados por nossa perda de memória, que estamos condenados a vir a assistir de novo. Até um dia em que essa “desmemorização” nos trará junto a perda definitiva do que nos ainda resta de dignidade.

A frase que foi pronunciada:
O tempo não faz algo apenas com a memória – a memória também faz algo com o tempo.”

Professor Douwe Draaisma

Douwe Draaisma. Foto: Sake Elzinga

 

No reino da Dinamarca

População de Brasília, que paga altos impostos, estranha a censura aos comentários durante audiências públicas transmitidas em tempo real por instituições públicas. Algo está errado se quem paga as contas não pode ser ouvido.

Foto: Divulgação/Semob

Univer Cidade

Por falar em altos impostos, a UnB pode não querer aceitar o projeto da nova ponte? Justificativa da academia: atividades de pesquisa e ensino, biblioteca e atividades em sala necessitam de ambiente adequado para a realização, com níveis sonoros compatíveis. Razão para impedir o livre acesso não parece suficiente nem cientificamente embasada.

Outros tempos

Foi-se o tempo que autoridades estufavam o peito ao sair nas ruas. Faziam questão de usar um broche identificando o alto cargo. Com o advento das mídias sociais o fenômeno caiu por terra. Até quando são esperados para debates e apresentação de plataformas de ação declinam do convite.

Charge: Ivan Cabral

História de Brasília

E enquanto os ministros ficam nessa pasmaceira, fazendo o povo acreditar no dr. Jânio, que correu com mêdo, mas já voltou a ter prestígio, os assuntos nacionais ficam dormindo, e os auxiliares imediatos vão sabotando a transferência da Capital. (Publicada em 23.02.1962)

Fake, fake, fake

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Imagem: migalhas.com

 

        Que decisões tomarão os ministros do Supremo tendo, à frente, o relator das fakenews, quando as investigações, deflagradas por essa egrégia corte, demonstrarem, de forma cabal, que as fontes principais, por onde jorram, em grandes torrentes, a água suja das notícias falsas estão localizadas em terras da esquerda?

        Essa é apenas uma questão que pode definir muito o comportamento desses juízes frente a verdades insólitas. O que se sabe, até o momento, é que essas práticas criminosas compõem hoje um arsenal de ambos os lados ideológicos, embora a patente desta invenção pertença originalmente às esquerdas, sendo, inclusive, um dos itens constantes nas cartilhas políticas dessas facções.

        É preciso observar toda a cena de longe, inclusive as nuances entre verdades e mentiras, inclusive as chamadas pós verdades e mentiras sinceras. De fato, a mentira é um dos componentes fundamentais do ambiente político. Sem esse recurso, encontrado em todo o mundo animal, como mostram as camuflagens e outros mecanismos biológicos para encontrarem alimentos e se protegerem, o que seria da vida sobre a Terra? Sem mentiras não faz política. Muito menos em um país como o nosso, onde as fronteiras entre o certo e o errado são como fumaça.

        O descrédito que tomou conta do supremo é um fenômeno causado pelo próprio comportamento de seus integrantes. Foi essa corte que transformou, em fakenews, toda a exitosa e verídica Operação Lava Jato, ao anular seus efeitos e, principalmente, ao mandar soltar seu maior responsável, lançando um indivíduo, absolutamente ficha suja, goela a baixo na população, com a falsa perspectiva de que, caso reeleito, as urnas e o voto popular sacramentarão sua inocência como quer fazer crer essa corte. Nada mais falso e mentiroso.

        Fôssemos levar ao pé da letra a criminalização das fakenews, seria preciso colocar no xadrez cada político sobre cada palanque. Cada marqueteiro. Cada veículo de propaganda. Cada instituto de pesquisa de opinião. Nada é mais mentiroso do que uma justiça que jamais atinge os poderosos. De todas as centenas de milhares presos agora em nossas penitenciárias, não há um único representante de colarinho branco, nenhum corrupto. Essa não é apenas uma constatação, mas uma farsa e uma demonstração de que vivemos na Terra do Nunca, onde a verdade é sempre o que dizem os poderosos.

         Infelizmente, esse não é um problema apenas nosso, mas que parece atingir todo o mundo, a começar pelo mediático, onde figuras tornam-se celebridades da noite para o dia e do mesmo modo são canceladas. Anita é fake. Pabllo Vittar é fake. Aqui na capital, toda a feira de importados é fake A picanha do Mc Donald’s é fake. A alma mais honesta desse país é fake, os impostos pagos não trazem progresso para a vida da população. Assim como é fake o patriotismo dos eleitores, ao elegerem mentirosos de várias estirpes ideológicas, apenas por sadismo. Não há lugar que se possa olhar nesse mundo, sem que os traços da mentira estejam presentes. As motivações para a Rússia invadir a Ucrânia são fakes. O comportamento da ONU frente a um problema dessa dimensão também é fake. O que não é fake, nesse caso, são as milhares de mortes de jovens dos dois lados. O que não é fake em nosso país é a miséria que aumenta.

       Vivemos tempos estranhos nos quais já não existe certeza alguma. Mesmo o aquecimento global fez do clima, anteriormente funcionando como um relógio suíço, virar uma incerteza e uma fakenews. Se ainda formos olhar pelo ponto de vista do consumidor, verificaremos que a grande maioria das empresas prestadoras de serviços, de luz, água, telefonia e muitas outras são fakes, entregando produtos de má qualidade a preços altos, principalmente as que não têm concorrência. Também são fakes os nossos órgãos de fiscalização da saúde, da aviação, das telecomunicações e muitos outros.

        Estivéssemos em uma monarquia onde o rei fosse um ardente adepto da ética, com certeza ele diria do alto de seu castelo: saiam todos com as mãos para cima! Estão todos presos!

A frase que foi pronunciada:

Ponte é coisa para tempo de gasolina barata. Brasília precisa de metrô decente, por toda a cidade.”

Yuri, turista na Praça dos Três Poderes

Foto: metro.df.gov

 

Peixe Vivo

Vejam, a seguir, uma foto inusitada para os dias de hoje. Na Escola Classe da 308 Sul, as crianças, à espera da abertura do portão, tocam flauta e se divertem fazendo dueto. É uma imagem que dá esperança de um mundo melhor.

 

Comunidade unida

Já acabaram com o complexo aquático do Defer, Claudio Coutinho, agora é preciso que a comunidade lute pelo resgate do Clube de Vizinhança da Asa Norte. Entenda tudo indo à Super Feijoada no clube (vai ter vegana também), que vai acontecer no dia 7 de maio. A venda dos ingressos será feita até o dia 5 de maio.

Cartaz: clubevizinhancanorte.org

 

História de Brasília

Esta, é a situação do regime. Os ministros veem a seu gabinete de trabalho uma vez por semana, e passam o resto dos dias no gabinete político, atendendo aos conterrâneos no Rio, mandando verbas para seus municípios, fazendo cartas para amigos. (Publicada em 23.02.1962)