Categoria: ÍNTEGRA
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
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Observando o mundo ocidental hoje, um fenômeno vem chamando a atenção de muitos: a democracia, como a conhecemos, parece começar a exibir sinais de esgotamento do modelo tradicional, levando as pessoas a se assustarem com os possíveis modelos de representação popular que poderá vir a substituir a velha, boa e tradicional democracia, conforme idealizada nos anos pós-revolução francesa de 1789. Há uma fronteira tênue entre democracia e ditadura na medida em que se assiste ao crescimento de um poder, no caso, o Judiciário, cujos membros não são eleitos pela população, mas cujas medidas passam a ter caráter de decisão final e irrecorrível.
Diante desse aparente esgotamento do modelo de democracia ocidental, que outro modelo poderá ser criado, sem que ele afete a liberdade individual? Haveria, nesse caso, também uma relação entre a superpopulação mundial e os antigos direitos individuais impostos pela democracia? O homem mudou ou teria mudado o próprio conceito de democracia? O que o século XXI prepara em termos de democracia num mundo populoso e onde as mídias sociais parecem dominar, unindo e desunindo as massas? Essa reflexão é profunda e extremamente pertinente. O século XXI está, de fato, colocando, em xeque, não apenas os mecanismos de funcionamento da democracia, mas também seu sentido mais essencial: a representação da vontade popular com respeito às liberdades individuais. Há uma crise da democracia representativa, mas isso seria resultado de esgotamento ou de uma transição? Não sabemos até agora. O fato é que desde a Revolução Francesa, o modelo de democracia liberal representativa se sustentou em pilares como: o sufrágio universal; a separação dos poderes; o Estado de Direito, bem como as garantias dos direitos individuais.
Hoje, assistimos a uma crise de legitimidade geral, decorrente, talvez, da baixa participação política, com um aumento do desinteresse e desconfiança nas instituições; a ascensão do Judiciário como “poder moderador”, preenchendo vazios deixados por um Legislativo paralisado ou desacreditado, refém de seus próprios interesses. Além disso, assistimos a uma polarização extrema alimentada por redes sociais, dificultando o consenso democrático, insuflando mentiras e verdades na mesma proporção.
É claro, até aqui, que não podemos culpar o advento das redes sociais pelo esgotamento do modelo atual de democracia. Mas, lembrando ensinamento antigo, podemos induzir que onde todos têm direitos, ninguém tem direito algum. O fato é que a qualidade da democracia é dada diretamente pelo nível de educação de seu povo. Sem educação ou com uma baixa qualidade, sobretudo das escolas públicas, falar em democracia de qualidade, que atenda às exigências atuais, é perda de tempo. Talvez, esteja nesse ponto o calcanhar de Aquiles de muitas democracias, inclusive a nossa.
Por outro lado, vemos que a democracia parece mais um processo de “gestão de conflitos permanentes” do que uma expressão clara da vontade popular. Não se pode aqui desviar de um assunto espinhoso: a hipertrofia do Judiciário como sendo ou um poder necessário, ou ameaça total à democracia. Não é segredo para ninguém que o Judiciário vem se tornado protagonista em diversas democracias ocidentais — não apenas no Brasil, mas também nos EUA, Israel, Índia, entre outros países. Os desafios a essa tendência são diversos e complexos, a começar pelo fato prosaico de que os juízes não eleitos com poderes decisórios finais geram a sensação de uma vaga e perigosa “tecnocracia judicial”.
Mas é sabido que isso ocorre porque o Judiciário passou a governar por exclusiva omissão do Legislativo ou como dizem, por contenção de populismos autoritários. Esse fato pode criar um paradoxo democrático: a de proteger a democracia restringindo, cada vez mais a vontade popular. A tecnocracia nos leva por caminhos perigosos, criando uma tensão crescente entre a eficiência institucional e a legitimidade popular. Há ainda outro fenômeno a ser contemplado: a superpopulação, suas complexidades, versus os direitos individuais. Com a explosão populacional e a crescente complexidade social, o modelo clássico de “um homem, um voto” começa a mostrar seus limites práticos. O primeiro talvez seja o relativo às demandas sociais fragmentadas e identitárias, tornando o processo decisório lento e conflituoso.
Há ainda o problema dos direitos individuais, que, muitas vezes, colidem com o bem coletivo, especialmente em temas como meio ambiente, segurança, mobilidade e saúde pública. Aqui, surge um outro dilema: os direitos individuais devem ser absolutos em um mundo superpovoado e interconectado? Talvez, sempre talvez, seja necessária uma revisão geral do contrato social, sem abolir a liberdade, mas repensando seus contornos, possibilidades, tudo isso sem perder de vista seus princípios básicos.
Outras questões também são vitais como o que propõe distinguir a democratização ou nova tirania das massas, impulsionada pelo advento das redes sociais, que prometiam democratizar a informação. Hoje, há dúvidas sobre isso. Mas é prescindível notar que as mídias sociais deram uma nova amplidão ao conceito do que seja popular. Goste-se ou não, as mídias sociais deram vozes a todos, inclusive aos idiotas e, por um fato simples, eles também existem. Mas não se pode perder de vista que essa ampliação das vozes extremas, pode nos conduzir ou a desinformação e ao que chamam agora de tribalismo digital, criando uma espécie de”realidades paralelas” que podem muito bem, minar o debate público racional.
A frase que foi pronunciada:
“A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo.”
Peter Drucker
Direito de ir e vir
As brigas entre moradores de rua e o assédio aos transeuntes das quadras na Asa Norte têm sido a marca da pouca atenção do governo. O que se vê é a falta de iniciativa e apoio para uma morada decente tanto para os abandonados quanto para os pagadores de impostos.
História de Brasília
Depois outra notícia circulou. É que havia caído um raio na antena do aparelho, e inutilizou-o. Ninguém sabe de fato a razão ou as razões, mas sabe que o equipamento está fora de uso e os médicos não foram sequer procurados para devolver o transistor que tinham sempre ao bolso. (Publicada em 29.04.1962)
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Ao leitor, todas as vênias e direitos. Com esse mote simples, fica patente que as redações em todo o mundo e, com elas, os escribas devem, doravante, começar a considerar a atenção dada pelos leitores ao que diariamente é publicado nos periódicos daqui e d’além mar. É para eles que escrevem os jornalistas e não para as autoridades e todos aqueles que momentaneamente estão no poder. Eles se vão. Os leitores ficam.
A maior catástrofe que pode ocorrer a um jornal não é a falta de tinta ou papel, mas o abandono e a debandada dos leitores. Sem eles, todo o universo da imprensa escrita se desfaz em pó. Por isso chega a ser surpreendente que muitos periódicos, envoltos numa disputa insana contra as redes sociais, numa batalha em que quem mais irá perder é o próprio leitor, não tenha se dado ao trabalho de abrir amplos espaços para a manifestação livre dos leitores. Afinal todos tem o que dizer, todos são também fontes de notícias e de avaliação do que acontece no nosso país e no mundo.
Uma receita como essa poderia, logo de saída, fazer com que o leitor deixasse a posição de expectador passivo, adentrando como partícipe no mundo da notícia. Com isso, o que se quer deixar claro, é que os espaços reservados aos leitores, deveriam ser enormemente ampliados, abrindo oportunidades, para uma multiplicidade de assuntos, que, ao fim e ao cabo, interessam a todos. São milhares ou, talvez, milhões de jornalistas informais espalhados por todos os cantos, prontos para reportarem os fatos. Nessa leva imensa de consumidores e fornecedores de notícias, estão desde os funcionários públicos até os trabalhadores do mercado informal.
Ao contrário do que em certa ocasião afirmou um desses próceres de passagem pelo poder, as mídias sociais, incluídos aqui os periódicos, que abrem espaço para um fórum de leitores, não deram voz aos imbecis, mas àqueles que também têm o que dizer, mesmo que isso não seja do agrado de certos ouvidos áulicos. No passado, algumas redes de televisão e estações de rádio abriam espaços dentro dos noticiários para uma espécie de “povo fala”, onde a população podia falar sobre um determinado assunto de interesse geral. Nessas ocasiões, não raro, algumas observações feitas por esses entrevistados de ocasião não só resumiam tooa o fato, como ainda abriam questões que não haviam sido pensadas sobre esse assunto. Dizer que a voz do povo é a voz de Deus é um desses casos que resumem a importância desses fóruns de leitores. O fato é que a ninguém é garantido o direito sobre a verdade, já que, nesse ponto, os filósofos concordam que a verdade não é absoluta e concreta, mas, ao contrário, está dissolvida no ar, em milhões de pedaços.
Todos carregamos, nas mãos, um pedaço dessa verdade. Os periódicos, como veículos de comunicação devem se abrir para esse fato. Afinal quem mais experiencia a economia popular, um ministro da fazenda, de passagem e alijado da realidade mundana, ou uma dona de casa que todos os dias vai às compras? Outro fato a ser observado numa sociedade que evolui com o tempo é que o formato de notícias, o mesmo nos últimos dois séculos, precisa também acompanhar essas mudanças, inserindo, em seu rol de informações, os milhares de setoristas plantados em seus postos de vigilância.
Essa população subaproveitada representa uma fonte inesgotável de notícias, pois formam aquilo que poderíamos chamar de “os olheiros da notícia”. Depois da notícia em si, o que mais interessa aos leitores, não importando o meio ou a mídia em que está se informando, é a opinião daqueles que também leram essa notícia. Os comentários servem, assim, como um parâmetro dando, precisamente, a média das opiniões sobre o assunto, fornecendo uma reflexão segura sobre o que está em pauta. Aos leitores, portanto, toda a atenção. Ver, ler, ouvir e compartilhar o que eles têm a dizer é o que demais importante há que se fazer para reunir os pequenos cacos de verdade dispersos no ar.
A frase que foi pronunciada:
“Quem confere significado e utilidade ao jornal é o leitor.”
Dona Dita
Direito de ir e vir
As brigas entre moradores de rua e o assédio aos transeuntes das quadras na Asa Norte têm sido a marca da pouca atenção do governo. O que se vê é a falta de iniciativa e apoio para uma morada decente tanto para os abandonados quanto para os pagadores de impostos.
História de Brasília
Depois outra notícia circulou. É que havia caído um raio na antena do aparelho, e inutilizou-o. Ninguém sabe de fato a razão ou as razões, mas sabe que o equipamento está fora de uso e os médicos não foram sequer procurados para devolver o transistor que tinham sempre ao bolso. (Publicada em 29.04.1962)
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Muitas têm sido as análises sobre as consequências imediatas e a longo prazo das medidas adotadas pelo presidente Trump conhecidas como tarifaço. A maioria dessas análises, feita por pessoas gabaritadas, que entendem como funciona o complexo setor do comércio internacional entre países. Quase nenhum desses estudos olha para o essencial dessas medidas, que, em resumo, segue o que prometeu o então candidato Trump em sua campanha para a Casa Branca. Sendo assim, o tarifaço vem ao encontro do lema daquela campanha: “Tornar a América grande novamente.”
Com isso, endossar as tarifas implementadas por Trump não deve ser visto como um gesto simplista ou meramente protecionista, mas como uma resposta estratégica a um impasse geoeconômico estrutural: a impossibilidade de estabilidade global diante de desequilíbrios comerciais persistentes. A existência de superávits crônicos — como o da China — contrapostos a déficits igualmente crônicos — como os dos Estados Unidos — constitui terreno fértil para tensões geopolíticas latentes e, por vezes, explosivas.
Longe de configurarem uma postura hostil, tais tarifas operam como mecanismos corretivos imprescindíveis frente à lógica expansionista e hegemônica do projeto chinês. Ao erigir barreiras ao livre-comércio com Pequim, a administração Trump não apenas busca resguardar a base industrial norte-americana, mas força o Ocidente a confrontar um dilema civilizacional: ou opta-se por Trump e pela reindustrialização da maior economia liberal do Ocidente, ou alinha-se ao modelo chinês fechado de hiper acumulação de capitais, cuja contrapartida é a desindustrialização ocidental, como acenam tecnocratas globalistas sob o comando do PCC da China.
Nesse caso, há uma série de reflexões econômicas e geopolíticas relevantes sobre a dependência do Ocidente — especialmente dos EUA — em relação à China. A começar pela dependência industrial e vulnerabilidade estratégica, o que acaba por afetar a própria segurança interna dos EUA. A questão é simples. A partir do momento em que o Ocidente reconheceu a China como Economia de Mercado a coisa desandou. O Ocidente, ao permitir que a China se tornasse a “fábrica do mundo”, passou a depender intensamente da produção chinesa para itens estratégicos — de produtos eletrônicos a insumos médicos. Isso gerou, logo de saída, uma desvantagem para o Ocidente como os riscos visíveis de interrupções na cadeia de suprimentos, como foi visto na pandemia. A pouca autonomia industrial, todos sabem, compromete a soberania econômica e a segurança interna. Com isso, a China pode usar essa dependência como ferramenta de pressão geopolítica, como já demonstrado em diversas disputas comerciais anteriores. Com a entrada da China, houve, portanto, uma forte desindustrialização ocidental e concentração de renda.
Embora a terceirização da produção para a China tenha reduzido custos, num primeiro momento, essa estratégia causou uma forte desindustrialização em muitos países ocidentais, especialmente nos EUA. Milhões de fábricas fecharam as portas, inclusive no Brasil, gerando não só perda de empregos industriais de qualidade, com impacto direto na classe média. Por outro lado, passou a fortalecer o aumento da desigualdade: pois, enquanto os produtos ficaram mais baratos, os lucros se concentraram nas elites que controlam cadeias globais de suprimento. Não se enganem, esse modelo, urdido pelo Partido Comunista Chinês, favoreceu apenas lucros corporativos no curto prazo, em troca do enfraquecimento da base produtiva local assim como o poder de barganha dos trabalhadores no longo prazo.
O “truque” chinês consistiu em mostrar uma fictícia e artificial baixa na inflação, sustentada apenas por uma produção massiva de bens de consumo baratos oriundos da China. Isso beneficiou, principalmente, consumidores e investidores no Ocidente, mascarando problemas estruturais, que hoje parecem sufocar o Ocidente. Isso equivale a dizer que o consumo foi financiado por déficits comerciais crescentes, o que vem resultando num falso modelo. Também não houve incentivo para inovação ou reindustrialização interna, já que os produtos chineses eram imbatíveis em preço e em oferta. Vê-se logo que tal modelo é insustentável no longo prazo, pois o produtor (China) acumula poder e influência política ao mesmo tempo em que usa essas vantagens comerciais para reforçar seu poderio militar globalmente. Estratégias econômicas ensinam que qualquer crescimento assimétrico gera riscos geopolíticos e um prenúncio de guerra.
A frase que foi pronunciada:
“Quando olhamos para isso, precisamos reconhecer o tamanho da Apple, que vale US$ 4 trilhões em Bolsa. Isso é o PIB da Alemanha. Portanto, com quem Trump estava falando?”
Leonardo Trevisan
História de Brasília
Pois bem. Assim era no começo. Faz muito tempo que deixou de funcionar. A princípio, disseram que haviam comprado os aparelhos, mas não compraram as pilhas, que era de mercúrio. (Publicada em 29.04.1962)
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3.169 quilômetros separam Brasília de Lima, a capital do Peru. De lá, desta lonjura, chegam notícias de que mais um ex-presidente daquele país é condenado por corrupção. Nesse caso agora, Ollanta Humala, acusado de ter recebido U$ 3 milhões em contribuições ilegais. Com a condenação de Humala a 15 anos de prisão, já somam quatro ex-presidentes peruanos, condenados pelos mesmos motivos. Só pra lembrar, também condenados por corrupção foram os ex-mandatários Alejandro Toledo, Alan Garcia e Pedro Kuczynski. Garcia suicidou-se em 2019 para não ser preso.
O que esses ex-presidentes possuem em comum, além do gosto pelo dinheiro fácil? Perguntaria alguém interessado no assunto. Todos eles foram, como assim dizer, “abduzidos” pelo dinheiro oferecido aos quatro pela construtora brasileira Odebrecht, agora rebatizada de Novonor. A esposa de Toledo, refugiou-se na embaixada brasileira em Lima, de onde, graças a atuação pessoal do presidente Lula, foi acolhida como exilada política, livrando-se da cadeia junto com o marido. Curioso não só o poder sobrenatural dessa empresa que praticamente levou à ruína nada menos do que quatro presidentes peruanos. Que lábia. Que lobby.
A Odebrecht, por suas ações deletérias praticamente eliminou o presidencialismo naquela parte do continente, mostrando como comprar chefes do Executivo e outros poderes, deixando à mostra toda a fragilidade das instituições republicanas desse lado do planeta. O esquema aplicado sobre a República do Peru pela construtora se resumia a repasses ilegais e milionários para campanhas políticas destes candidatos, com vistas a adquirir, lá na frente, nacos do Estado em forma de obras superfaturadas.
O que a empresa admitiu aos procuradores nacionais foi ter “investido” em vários países da América Latina algo como US$ 800 milhões, mas, observando o estrago feito naquele período pela Odebrecht no continente, esses valores podem ser muito mais elevados. O falecido Hugo Chaves, da Venezuela aparece em algumas dessas operações, com malas de dinheiro para campanhas dos amigos, viajando por toda a América Latina à bordo de um jatinho particular, chegando e saindo sem mais alardes, sempre ajudado por políticos do mesmo lado da moeda. De fato, foi um tempo em que a Odebrecht tinha parte das repúblicas latino-americanas nas mãos. Os recursos para tamanha empreitada vinham de todos os lados, inclusive de bancos estatais.
‘ Difícil saber como essa empresa conseguia tempo para gerir grandes obras desses Estados, ao mesmo tempo em que administrava movimentação de dinheiro para o pagamento de propinas de todo o gênero. O interessante, nesse caso que se desenrola há milhares de quilômetros daqui, reverbera um assunto que muitos, aqui no Brasil, não querem nem ouvir falar. É como falar em corda na casa de enforcado.
Pelo o que se vê, lá no Peru, esses casos escandalosos envolvendo a participação de presidentes da República com o recebimento de subornos dessa famosa e internacional empreiteira, não estão ficando impunes. Um a um, esses mandatários vão sendo arrolados, condenados e presos. Por aqui, faz-se cara de paisagem para essa notícia, pois trazem lembranças de um passado que, para nós que acreditamos ainda na justiça, não passou.
A frase que foi pronunciada:
“A vaidade é um princípio de corrupção.”
Machado de Assis
Mistério
Não me pergunte a razão de um carro com a insígnia dos Comandos de Operações Especiais estava fazendo dentro do Iate Clube de Brasília às 6h30 da manhã.
História de Brasília
O Hospital Distrital, quando inaugurado, possuía um serviço de comunicações que era a última palavra. Quando uma pessoa precisava falar com um médico, e êste estivesse ausente do consultório, a telefonista chamava pelo transistor, e o aparelho que êle tinha no bolso dava um sinal. Era só procurar o telefone mais próximo, e estava feira a comunicação. (Publicada em 29.04.1962)
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Com a promessa do presidente americano, Donald Trump, de dar nova classificação aos cartéis de drogas, elevando-os à categoria de organizações terroristas, muda todo o cenário relativo às operações de combate a essas facções. A razão dessa mudança de status dessas organizações, primeiramente aquelas que têm suas bases fincadas no México, é que esses grupos representam, além de uma ameaça direta e poderosa à segurança nacional norte-americana, um prejuízo incomensurável tanto à política externa daquele país quanto à sua economia.
Os Estados Unidos têm uma longa experiência no combate direto a esses cartéis, inclusive com o emprego de suas forças armadas, bombardeando plantações e laboratórios de produção da cocaína e outros produtos entorpecentes. Lembrando ainda que o país experimenta hoje um recorde de mortes por overdose de opioides sintéticos e outras drogas.
O avanço das facções criminosas é uma realidade agora em toda a América Latina. A extensão do problema ultrapassou os limites das fronteiras, tornando-se não apenas uma questão de segurança dos EUA, como de todo o continente. Os chefões desses cartéis, cientes de que haverá um recrudescimento no combate às suas atividades criminosas, há muito cuidaram de diversificar seus negócios, investindo bilhões de recursos em atividades legais, onde lavam e escondem todo esse dinheiro sujo.
Mais uma vez, o continente está prestes a assistir ao retorno da guerra contra as drogas, protagonizada pelos militares americanos com todo o poderio que têm de destruição. A ordem executiva assinada pelo presidente Trump vale para todos os cartéis de drogas do continente, incluindo, nessa lista aberta, ao lado dos cartéis mexicanos e venezuelanos e outros, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), que atuam não só em todo o território nacional, como além das fronteiras.
O governo americano sabe, até melhor do que o próprio governo brasileiro, o que essas organizações do crime andam fazendo aqui no Brasil e em outros países. Conhece e tem informações precisas sobre a movimentação de recursos desses bandos e sabe exatamente o que que vai fazer e quando. As informações que mais preocupam as autoridades americanas são aquelas que mostram que esses criminosos há tempos vêm se preparando para eleger candidatos próprios, a fim de infiltrá-los na máquina do Estado, tanto no Legislativo quanto no Executivo, de onde poderão vir a ter maior poder ainda. A coragem
e a força do dinheiro fizeram com que essas organizações começassem a operar livremente dentro de nossas metrópoles, por meio do controle de linhas urbanas de transporte, postos de abastecimento e distribuidoras de combustíveis.
O branqueamento desses recursos vindos do crime dentro da economia formal do país é outro ponto a incomodar o governo Trump. Hoje, vai ficando cada vez mais difícil distinguir entre os cartéis de drogas mexicano e o crime organizado brasileiro, dado o poder que cada um desses grupos desfruta dentro dos respectivos governos. As autoridades brasileiras também se deram conta de que, sozinhas, não podem enfrentar o crime organizado. É consenso de que essa é uma missão e uma guerra que só as Forças Armadas podem enfrentar de igual para igual.
O fato é que o combate às organizações foi sendo considerado, por vários governos, um assunto de menor importância e, como tal, poderia ser resolvido apenas com o trabalho das polícias Civil e Militar regulares. Acontece que o crime cresceu em tamanho, poderio econômico e estratégico, elevando o número de áreas sob seu controle direto.
Lugares onde entrar sem permissão significa a morte. As ações de combate aos cartéis que estão sendo planejadas meticulosamente pelos americanos, com certeza, vão incomodar muitos governos, sobretudo aqueles que falam em soberania. A verdade é que esse é um problema que muitos governos não puderam ou quiseram resolver.
A existência do narcoestado já é uma realidade a desestabilizar a segurança de todos no continente, inclusive dos americanos. As autoridades também sabem que esses grupos operam de forma coordenada e estruturada, tendo pessoal e armas de última geração.
O Brasil, com milhares de quilômetros de fronteiras secas e com a imensa Região Amazônica fazendo vizinhança com países produtores de drogas, entra nessa lista de Trump também como um dos alvos das ações das forças de segurança americanas. Doa a quem doer.
A frase que foi pronunciada:
“O desafio do governo não é apenas enfrentar a criminalidade com inteligência e força de segurança, mas também fortalecer a resiliência das comunidades vulneráveis diante do assédio do crime organizado”
Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça
História de Brasília
Apesar de inaugurado o telefone público, os do aeroporto estão na mesma. Eram quatro. Um foi retirado, dois não funcionaram, e um funciona mal. (Publicada em 29/4/1962)
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Surpreendido pela polícia rodoviária nos Estados Unidos, por trafegar acima da velocidade permitida naquela estrada, o condutor que portava uma espécie de coleira para cães disse ao policial, que lhe pediu as documentações do veículo e do condutor, que, na verdade, ele não era humano, pois já havia se autodeclarado como cachorro e, portanto, não poderia ser responsabilizado ou penalizado por dirigir em alta velocidade; afinal, animais não podem ser multados. Ele optou por ser um cão porque era fiel, gostava de carinho e por aí vai.
O homem fardado, acostumado com bizarrices, resolveu, para confirmar tão surpreendente justificativa, consultar o parceiro que estava ao lado do cão em corpo de um humano no banco do carona. Imediatamente, seu parceiro confirmou a história, crente de que aquela desculpa iria colocar o policial em xeque-mate, resolvendo toda a questão ali mesmo. O policial que escutara toda a história surreal não esboçou nenhuma reação de surpresa, apenas fintou os ocupantes do carro com certa ironia na expressão.
Depois de pensar por um segundo como fazer valer a lei, mesmo diante de tão grandes espertalhões, sentenciou: Bom se você é um cachorro como afirma, e está vagueando em via pública, então mostre-me sua caderneta de vacinação obrigatória. Confrontado com essa cobrança, o motorista canino olhou para seu parceiro ao lado indagando o que deveria fazer agora, pois fora encurralado pelo oficial de trânsito. Seu parceiro ou dono também não tinha resposta para aquela cobrança legal.
Vendo os dois presos em suas próprias narrativas, o policial ainda emendou: Você já foi castrado, como manda a lei, para animais que andam em vias públicas? Com aquela pergunta, o motorista começou a entrar em pânico, ante a possibilidade de ser emasculado por veterinários, mas, mesmo assim, respondeu: Não sou castrado. Nesse caso, disse o policial, irei chamar a carrocinha que recolhe animais para providenciar sua transferência para uma clínica veterinária do estado, a fim de proceder o que manda a lei.
Seu dono ao lado pode lhe acompanhar se quiser. Em todo o caso, emendou, o carro e vocês ficarão detidos até a solução desse problema. Verdadeira ou não, a história acima retrata fielmente uma situação que, nesses últimos anos, vem surpreendendo as pessoas comuns em todo o planeta. O fato é que, de uns tempos para cá, pessoas em todo o mundo e aqui mesmo em nosso país vêm se autodeclarando ser o que acreditam ser ou fingem que são. O mais surpreendente é que as regras do politicamente correto, impostas pela onda woke, dizem que as pessoas que ouvem essa e outras justificativas não devem contrariar ou melindrar a pessoa, mesmo que isso pareça ser uma maluquice sem tamanho.
Em outros tempos, pessoas que insistissem nessas narrativas seriam conduzidas, diretamente, para os hospícios, onde os sedativos potentes e mesmo os eletrochoques iriam acalmar o doido. O mais estranho nessa nova onda sem sentido é que as pessoas que se autodeclaram como plantas, animais ou outra coisa qualquer, são ouvidas e até mesmo respeitadas em sua nova personalidade. Nesse caso, fica difícil distinguir quem realmente é o louco.
Na verdade, tanto quem aceita essas narrativas de personificação patológica, como quem afirma ser o que não é, estão fingindo, mesmo que não aparentem tal. O que mais assusta, nesse mundo que parece ir ladeira abaixo nas relações humanas, é que, por força de leis insensatas, redigidas especialmente para atender esse hospício geral, é que as instituições do Estado acabam embarcando nessa enxurrada amalucada, criando situações em que, francamente, a realidade se coloca de pernas para o ar, como num conto de realismo fantástico.
É o que parece ocorrer agora com a decisão esdrúxula de algumas universidades públicas em abrirem cotas para indivíduos que se autodeclaram travestis, trans ou não binários. Trata-se do que agora chamam de “política de ação afirmativa”. Para tanto, os candidatos precisam apresentar um documento do tipo “relato de vida” ou “trajetória de transição” ou “processo de afirmação da identidade de gênero”. É preciso confessar de público que, até mesmo este espaço, que já cuidou de assuntos mais complexos e sérios, surpreende-se com esse tipo de matéria. Mas como dizia também o filósofo de Mondubim: “nada do que é humano me é estranho”.
A frase que foi pronunciada:
“O que não conseguimos nos lembrar, ficará conosco como uma ação.”
Freud
Agenda
Pelo aniversário de Brasília, o Teatro da Poupex vai apresentar o projeto cultural com músicas em homenagem à cidade. Do samba à bossa nova, o repertório promete muitas emoções. Sob a direção musical de Renato Vasconcelos, o show contará com a participação da Orquestra Sinfônica da Força Aérea Brasileira. Dia 25 de abril, a partir das 20h.
História de Brasília
E a prova disto são aquelas papeletas dizendo que o bar fecha às 3 e que não aceita vales nem cheques, tôdas pregadas nos vidros do bar. (Publicada em 24.04.1962)
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Todos os meses, os brasileiros torram mais de R$ 30 bilhões em apostas de todo o tipo, sobretudo nas chamadas Bets, que são apostas em jogos de azar, geralmente nos ambientes online, onde os resultados esportivos diversos estão à disposição dos indivíduos, bastando, para isso, um toque de botão ao celular. Longe de se constituir num fenômeno positivo para a sociedade, para as famílias e para o próprio indivíduo, essas apostas vêm arruinando economicamente os cidadãos, transferindo verdadeiras montanhas de dinheiro para os donos desses negócios, sendo que parte dessa dinheirama vai parar, diretamente, nos cofres das organizações criminosas, que, segundo os jornais, usam o artifício para a lavagem de dinheiro.
É o dinheiro do povo financiando e fortalecendo legalmente o crime em nosso país. Talvez, por essa razão é que é possível deduzir que, desde que os sites de jogos e dos cassinos online se espalharam pelo país, curiosamente, tem aumentado também o poderio dessas organizações, que agora se espalham pelo Brasil, de Norte a Sul. A equação é simples: cresce o dinheiro em apostas, cresce a criminalidade ligada a eles. Em resumo, são pouquíssimos ou quase nulos os benefícios gerados pelo setor de jogos de azar. Como o próprio nome indica, o azar fica sempre para quem aposta e a sorte, invariavelmente, vai parar no bolso dos espertalhões, donos desse tipo de negócio, que não passa de mais uma jogada de malandro aplicada contra os incautos de sempre. A diferença é que, agora, o setor da jogatina passou a ser “regulamentado”, depois de sua implementação no começo deste ano.
Se juntarmos a liberação dos jogos de azar a fatores como o tradicional assistencialismo político à moda brasileira, com outros elementos como o Bolsa Família e com a conhecida e nada eficiente fiscalização dos órgãos de Estado, terá, em mãos, a receita ideal para a transferência de renda dos mais necessitados para uma casta de pessoas mal intencionadas, que se perpetuam no topo da pirâmide social. A fórmula vem desde a Roma antiga: dê-lhes pão e circo, torne-os dependentes do poder central e todo o resto seguirá como quer a classe dirigente.
Os recursos oriundos de programas sociais deveriam, dentro do bom senso e da ética, ser utilizados para a compra de alimentos, remédios e outros gastos necessários a uma vida com o mínimo de dignidade. Quando se verifica que esses recursos estão sendo gastos, não para os fins de necessidade, mas para a manutenção de vícios como os jogos de azar, a impressão que deixa no cidadão de bem, que, afinal, é quem custeia esse e outros programas assistencialistas, é que tanto o governo como aqueles que utilizam esses benefícios estão fazendo a população de trouxa.
Aqui também a questão é simples, ou pelo menos deveria ser: o Bolsa Família não pode ser utilizado para fazer apostas online. Mesmo assim, os beneficiários do Bolsa Família continuam apostando nesses sites de azar; para isso, utilizam milhares de estratégias. Somente no último mês de agosto, os beneficiados com esse programa gastaram mais de R$ 3 bilhões em sites e casas de apostas. O governo finge que não vê. As autoridades, idem. Somente os bancos, que nunca perdem dinheiro, conhecem essa realidade e passam a restringir créditos aos viciados em jogos, com medo, óbvio, de calote por inadimplência.
Já foi mencionado aqui, neste espaço, que, em muitas cidades do interior, quem fica com o cartão de benefício são os donos dos botecos mais próximos, que são vistos com frequência nas filas nos dias de pagamento. Há ainda aqueles que defendem que o governo não deveria, de forma alguma, interferir na autonomia dos beneficiados por esses programas, fazendo auditoria nesses gastos.
Já se sabe que as apostas online e outras modalidades de jogos de azar retiram recursos tanto do consumo normal como ainda geram crises e dívidas, muitas delas impagáveis. Muitos economistas chegam a dizer que as Bets estão tirando dinheiro da chamada economia real, impactando as famílias e gerando problemas generalizados de saúde. O mercado bilionário das apostas esportivas diz que tudo isso é fantasia, pois não enxerga a cor do dinheiro, venha de onde vier. A liberação desses jogos, como já era previsto, foi um enorme erro, pois a conta, até aqui, tem sido cara, principalmente para a sociedade e a economia do país. O crime organizado diz que isso é invenção. Esse setor, que nada se diferencia dos prestidigitadores que agem nas ruas, enganando os passantes, teve, segundo estimativas subdimensionadas, mais de R$ 70 bilhões de lucros nesses últimos doze meses.
Liberado desde 2018, sob a promessa de que a regulamentação definitiva viria de imediato, essa, de fato, não aconteceu. Enquanto isso, como sempre, os apostadores continuam na ilusão de ganhar alguns trocados seguindo a antiga fórmula de arruinar a própria vida mais rápido do que um raio.
A frase que foi pronunciada:
“Se você não consegue identificar o otário na primeira meia hora na mesa, então você é o otário. ”
Mike McDermott
Armadilhas
A seguir, a imagem de uma grade, talvez da rede fluvial, totalmente danificada. O resultado são transeuntes desatentos quebrando o pé ou colocando pino no braço. O ocorrido é na 214 norte.
História de Brasília
Com a inauguração do Hotel Nacional muita gente pensou numa debacle do Palace Hotel, a tradição de Brasília. Mas não houve isto. O Palace é que por conta própria está se suburbanizando. (Publicado em 29.04.1962)
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Segundo estimativas do Sindhobar, hoje, há mais de 12 mil bares e restaurantes em todo o Distrito Federal. Entre eles, aproximadamente 8 mil são bares onde são vendidos bebidas alcoólicas e tira-gostos para uma clientela crescente, que inclui desde jovens até idosos, todos apreciadores, moderados ou não, de bebidas destiladas ou fermentadas.
O que, à primeira vista, parece apenas uma recreação para a população esconde um fato nada saudável e, o que é pior, devastador para a saúde pública e para a segurança da cidade. Bebidas alcoólicas não podem, ou jamais deveriam ser, consideradas como recreação. Mesmo sabendo que esse setor do comércio responde por mais de 100 mil empregos diretos e indiretos, não é segredo nenhum que o consumo de álcool é um dos maiores responsáveis pela violência, pela desagregação familiar e por uma série de problemas que só terão solução satisfatória quando a população se conscientizar de que o que parece ser uma espécie de brincadeira, ou passatempo dos indivíduos é, na realidade, ou uma chave de cadeia, ou um prego de caixão, ou uma cama de hospital, ou de um hospício.
Se hoje os brasileiros bebem demais, os brasilienses bebem muito mais e com maior frequência. Talvez isso explique o fato de que os bares e os botecos se multipliquem como moscas em nossa cidade. O Distrito Federal experimenta uma febre de alcoolismo que não distingue os personagens, tenham eles casas para morar, ou estejam em situação de rua. Todos bebem e bebem muito. Paralelo a esses estabelecimentos, não é difícil encontrar, misturados aos consumidores, traficantes de drogas de todo o tipo e para todos os bolsos. Onde quer que existam aglomerações de bares, o sossego dos moradores é perturbado, a segurança, comprometida e toda área em torno se transforma em terra de ninguém.
Os moradores de locais próximos aos bares conhecem essa realidade de perto e não se atrevem mais a reclamar contra os proprietários desses estabelecimentos ou registrar ocorrências em delegacias. Ligar para a polícia, nesses casos, é perder tempo. Depois de encherem a cara, os beberrões saem sem rumo, urinando onde querem, brigando e fazendo arruaças sem temor algum das autoridades. Depredam o que encontram pela frente, pois tudo isso para eles é diversão. Álcool e violência generalizada têm andado de mãos dadas nesses últimos anos, aumentando as ocorrências policiais e as ocupações de leitos em hospitais.
Os estragos trazidos pelo consumo exagerado de álcool têm provocado, como não poderia ser diferente, prejuízos incontáveis à economia da capital. O GDF, que, durante muito tempo, fez cara de paisagem ante o problema, resolveu agora, diante que uma situação que escalou para o patamar de calamidade pública, tomar as primeiras providências no sentido de abrandar um problema que não para de crescer. Portaria baixada pelo governo da capital restringe o horário de funcionamento dos distribuidores de álcool em toda a região. Pelo documento, os estabelecimentos só poderão funcionar das 6h à meia-noite. Trata-se de um primeiro passo no sentido de minorar esse problema, mas ainda não é ideal.
O certo, para muitos moradores que vivem esse drama de perto, seria o fechamento dos bares juntamente com o comércio: às 18 horas. Toda essa preocupação tardia do GDF faz algum sentido quando se verifica que o Distrito Federal ocupa, hoje, o segundo lugar no ranking nacional de consumo excessivo de álcool, perdendo apenas para Salvador, na Bahia. Não apenas os adultos bebem muito, como cada vez mais esse hábito é visto também entre os jovens.
Pelos levantamentos da Secretaria de Saúde, mais de 25% dos adultos bebem regularmente, o que é considerado um índice preocupante. Outros dados mostrados no último levantamento indicam que, dos 135 homicídios ocorridos em janeiro e fevereiro deste ano, quase 25% ocorreram próximos aos estabelecimentos de venda e consumo de álcool.
Para os mais radicais, o simples fato de o consumo de álcool induzir casos de violência diversos, como homicídios, abuso sexual, uso de armas, furto, violência doméstica e tantos outros, seria suficiente para a decretação até mesmo de uma lei seca em todo o Distrito Federal, acabando com o mal pela raiz. É como dizem: “Bebida não traz felicidade, apenas traz mais dinheiro para quem vende”. Talvez o dia em que os proprietários desses estabelecimentos forem obrigados a custear o tratamento médico para seus clientes ou as custas processuais dos crimes cometidos por eles, a situação chegue a um bom termo.
A frase que foi pronunciada:
“A pior e mais devastadora doença da humanidade é o alcoolismo. A bebida, como droga lícita, é incentivada pelo marketing, glamourizada pelos meios de comunicação, pela música, e sinal de status social, em algumas culturas.”
Guto Maia
Roleta-russa
Perfeitamente perceptível que quem resolveu instalar os pardais ao longo da DF-005 não conhece a área em absoluto. Se conhece, a intenção é arrecadar. Não fazem sentido tanta variação de velocidade no percurso e imposições totalmente descabidas.
Ponto cego
Quem aguarda o ônibus na parada da plataforma superior da Rodoviária, sentido Asa Norte, é impedido de visualizar a vinda do transporte. Um totem de comercial, mal localizado, atrapalha a visão dos passageiros, forçando a chegar mais perto da pista para enxergar o próximo veículo.
História de Brasília
Há uma onda de moscas em Taguatinga. Isso é resultado da falta de higiene nos bares e restaurantes. (Publicada em 29/4/1962)
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Diferença fundamental entre o fanatismo político e a ciência é que, enquanto um se baseia na autoridade, a outra se baseia na observação e razão. O objetivo final da ciência é a verdade. O da política, é o poder. Passados anos da pandemia, vale observar as consequências desse debate que vão muito além das discussões entre paralisação e quarentena. No campo político, as oposições se manifestaram com união e sintonia para desacreditar todas as teses que tentavam segurar a crise. Pessoas foram presas porque nadavam na praia, restaurantes não recebiam clientes enquanto preparavam a comida para entrega em domicílio, desemprego, economia estagnada. Crianças respirando o ar abafado por máscaras durante horas, idosos sofriam com a solidão onde abraços plastificados, inventados por famílias criativas, amenizavam essa dor. O mundo entrava em agonia.
Diante desse cenário, um lado da sociedade apostava em provocar e disseminar a desesperança, medo, pavor, insegurança entre a população vulnerável. Obviamente que esse não era o caminho. A pandemia serviu de pano de fundo para uma disputa política que já vinha se arrastando há muito tempo e que, com essa crise, ganhou novos ingredientes. Criou-se assim uma situação esdrúxula em que a própria doença e o futuro da economia parecem ter ficado em segundo plano.
O mais preocupante é ver que, enquanto a população era distraída com uma com uma disputa que só interessava, de fato, aos políticos, principalmente aqueles cujo horizonte se estende apenas até às próximas eleições, os brasileiros, como fonte de onde todo o poder emana e em cujo nome é exercido, fica deixado de lado, numa peleja onde ele é o mais atingido.
Cria-se assim uma excentricidade em que o Estado delega, a outros planos, a sua função precípua de proteger o cidadão e se concentra numa disputa envolvendo apenas seus entes políticos e seus interesses imediatos e de curto prazo.
Para um país continental como o nosso, o tamanho do problema exigia coordenação de esforços e não disputas paroquiais. Deixando de lado razões políticas e razões científicas, até pela dimensão do problema, o caminho do meio entre a experiência sensorial dos políticos e a afirmação da razão como base da ciência médica, era preciso. A colaboração da própria imprensa e de toda a população, sem a qual, não poderia haver, nem expressão numérica para contornar uma crise desse tamanho, foi destaque.
Dessa forma, a responsabilidade de cada um e de todos conjuntamente pode fazer a diferença. Essa união de esforços parece ser a fórmula universal e que, em outras épocas, rendia frutos positivos. Cada cidadão se empenhou pelo bem da coletividade. Muitos têm dito que é nas crises profundas que a civilidade, sobretudo a empatia social, adquirem mais potência para o aprimoramento da sociedade.
Nessas horas, como não seria diferente, muitos passaram a torcer para que os bancos, o sistema financeiro e todos aqueles que sempre lucraram com o capitalismo selvagem, que fez de nosso país uma das sociedades mais desiguais do planeta, adiantassem-se e oferecessem, voluntariamente, suas contribuições para minorar os efeitos da crise. Utopia ou não, nesse rol de favorecidos e sempre superavitários, de quem se espera ajuda, incluem-se ainda as igrejas e outras instituições que sempre lucraram com isenções de impostos e o pouco controle pelos órgãos do Estado e que vem fazendo a fortuna de uma minoria por décadas.
As iniciativas que chegaram ao conhecimento do público vieram, em sua maioria, por livre vontade. Médicos, enfermeiras, técnicos de enfermagem foram os grandes heróis da pandemia. Arriscaram a própria vida para salvar muitas pessoas. Pequenos e médios empresários correram para transformar suas empresas em organizações voltadas para a produção de bens e insumos de primeira necessidade para a área de saúde. Pequenos ateliês de costura passaram a fabricar máscaras caseiras. Outros microempresários passaram a produzir máscaras de acetato e outros itens, assim como pequenos comerciantes que doaram parte de seus estoques para hospitais. Restaurantes doavam comida para os moradores de rua abandonados à própria sorte.
Paradoxalmente, o isolamento social contribuiu de uma forma ou de outra para que a sociedade conhecesse melhor quem são nossos políticos, banqueiros, donos de laboratórios, cientistas. Também pode ser visto a olho nu a gestão da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A modalidade de trabalho home office, que antes era mal vista por algumas empresas e por grande parte dos governos, não apenas ganhou um novo impulso, como tem contribuído para frear os gráficos de contaminação, desafogando o trânsito, diminuído a poluição e os gastos com deslocamento e com consumo de outros bens e serviços, indicando a força dessa nova forma de trabalho.
Iniciativas de todas as partes surgiram a cada dia, demonstrando o potencial adormecido da população em poder servir, inclusive, mostrando a capacidade de crescer com a crise. As ações espontâneas vão desde doações de bens e outros serviços, como outras que propõem a formulação de listas para o conhecimento público, com a relação daquelas empresas que contribuíram, de fato, com recursos para combater os efeitos da crise de saúde.
Dessa forma, o papel social desempenhado tanto por pessoas físicas, como por pessoas jurídicas foi destacado e, por certo, a população há de lembrar quem esteve ao seu lado nesse momento de agonia.
A frase que foi pronunciada:
“Todos os países devem ativar imediatamente seus planos de preparação para pandemia. Os países devem permanecer em alerta máximo para surtos incomuns de doenças semelhantes à gripe e pneumonia grave.”
Margaret Chan
História de Brasília
A censura no Distrito Federal passará a ser de segunda-feira em diante, trabalho do jornalista José Madeira. Termina, assim, a discutida gestão de Egberto Assunção. (Publicada em 29.04.1962)
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Durante muito tempo, acreditou-se que o jornalismo, principalmente o de caráter investigativo, representava a última trincheira avançada em defesa da liberdade de expressão, servindo como uma espécie de farol de resistência contra a tirania e a favor da verdade. Houve um tempo, inclusive, em que o jornalismo era tido, por sua capacidade de arregimentação das massas, como um quarto poder. Exemplos desse modelo de jornalismo combativo são abundantes por todo o mundo e dele emergem figuras que, por sua atuação corajosa, entraram para a história como verdadeiros combatentes, munidos apenas com as armas da palavra e da escrita.
O advento das mídias sociais, mesmo impulsionando as informações como nunca, ajudaram a retirar muito desse poder atribuído ao jornalismo tradicional fazendo com que, hoje, tanto a imprensa como a chamada busca pela verdade ficassem espalhadas e dissolvidas por todos os lugares, aumentando a impressão geral de que ninguém, em nossos dias, por mais poderoso que seja, pode ser considerado o dono da verdade.
Mas ainda assim e em meio as adversidades de um mundo em crise de identidade, é possível encontrar jornalistas com coragem suficiente para abalar as estruturas do status quo, sobretudo, quando um sistema político favorece as injustiças e privilegiam as camarilhas, os tiranos e a corrupção. É nesse sentido que o jornalismo favorece a sociedade, brindando-a com a verdade dos fatos. Por causa desse poder de transmitir a verdade, muitos profissionais do jornalismo pelo mundo, ontem e hoje, pagaram com vida por essa ousadia e coragem. A eles, muitas democracias pelo mundo são devedoras desse tipo de luta.
Nesse sentido, merece destaque aqui, neste espaço, a lembrança do nome da jornalista americana Anna Politikovskaya, nascida na América, mas criada na União Soviética. Profissional respeitada dentro e fora da Rússia, Anna era um modelo de repórter investigativa. Não precisa nem dizer que, tendo escolhido o lado investigativo da imprensa e, além disso, disposta a levar a verdade dos fatos aos leitores, Anna, desde sempre, correu sério risco de morrer, ainda mais dentro de uma Rússia, comandada, há mais de duas décadas, com mãos de ferros por Vladimir Putin. Putin é hoje conhecido em todo planeta pelas acusações de crimes de guerra, genocídios de civis e pela forma brutal como trata toda e qualquer dissidência ou oposição. A lista com os nomes daqueles que ousaram desafiá-lo é imensa, assim como sua sede de poder e seu sonho megalomaníaco de reconstituir a antiga União Soviética, com toda a sua glória passada.
Trabalhar numa situação de perpétuo confronto como essa, onde a morte espreita em cada canto, não é para qualquer um. Ainda mais sendo uma jornalista atuante, focada em direitos humanos e que via, na guerra da Chechênia, violações indescritíveis praticadas pelo exército de Putin. Por sua atuação incansável, ela acabaria se tornando uma figura emblemática dentro e fora das fronteiras da Rússia. Poucos profissionais da imprensa tiveram a coragem que Anna demonstrava ao cobrir uma série de conflitos e de guerras sangrentas comandadas por esse pequeno e ganancioso Napoleão de hospício sovietista.
Anna, em seu trabalho, sempre demonstrava a preocupação em se posicionar contrária a toda e qualquer neutralidade, sobretudo aquela que faz cara de paisagem diante das brutalidades e desrespeitos à vida. Durante o tempo em que atuou nos principais veículos de comunicação da Rússia, o medo e a repressão eram uma constante. Os assassinatos de opositores e críticos do regime russo eram comuns. Da noite para o dia, esses críticos e adversários do regime desapareciam ou eram simplesmente encontrados mortos. Putin mandava eliminar, como moscas, não só políticos ou empresários contrários ao sistema, como encomendava, também o silenciamento de jornalistas que mostravam uma ameaça aos seus desmandos.
A morte anunciada e dada como certa de Anna ocorreria em 7 de outubro de 2006, quando foi assassinada a tiros no elevador do prédio onde morava, por um desses milhares de sicários que agem para apagar os rastros de crimes desse regime brutal, o mesmo que hoje ameaça a Europa e o mundo com armas de destruição em massa. De toda a forma, a sua morte não foi em vão, tendo servido de inspiração para outros profissionais que ainda lutam dentro daquele país contra a centralização do poder e a falta de liberdade de expressão.
A frase que foi pronunciada:
“Esta linha política é totalmente neo-soviética: os seres humanos não têm existências independentes, são engrenagens na máquina cuja função é implementar sem questionamentos quaisquer escapadas políticas que aqueles no poder inventam. As engrenagens não têm direitos. Nem mesmo à dignidade na morte.”
Anna Politkovskaya
História de Brasília
Estão querendo fazer sensação em torno do julgamento do delegado João Peles. A história de ameaça de morte não é motivo para ausência de testemunha. Assunto desta classe não deve atrasar julgamento. (Publicada em 29.04.1962)