Carta de los años 2070

Publicado em ÍNTEGRA

ARI CUNHA

Visto, lido e ouvido

Desde 1960
colunadoaricunha@gmail.com;
com Circe Cunha e Mamfil

Charge: willianbeckmann.blogspot.com.br
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      Um texto, sem assinatura, de 16 anos, publicado na revista Cronicas de Los Tiempos, traz a realidade esperada pela negligência humana em relação às nascentes e ao mau uso da água. Uma inspiração para os cientistas, especialistas e líderes espirituais que se reúnem em Brasília, em janeiro, para discutir o desmatamento, níveis de chuva, aumento do consumo hídrico.

      Águas pela Paz espera que o Brasil lance uma aliança global pela conservação e uso consciente da água no planeta. A simplicidade do texto da Carta dos anos 2070 assusta pela forma cristalina como retrata a realidade e ao mesmo tempo mostra que, se nada for feito agora, depois será tarde demais. Segue o texto:

“Ano 2070. Acabo de completar 50 anos, mas a minha aparência é de alguém com 85. Tenho sérios problemas renais porque bebo muito pouca água. Creio que me resta pouco tempo. Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade.

Recordo quando tinha cinco anos. Tudo era muito diferente. Havia muitas árvores nos parques, as casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de um banho de chuveiro… Agora usamos toalhas de azeite mineral para limpar a pele. Antes, todas as mulheres mostravam as suas formosas cabeleiras. Agora, devemos rapar a cabeça para a manter limpa sem água.

Antes, o meu pai lavava o carro com a água que saía de uma mangueira. Hoje, os meninos não acreditam que a água se utilizava dessa forma. Recordo que havia muitos anúncios que diziam “Cuida da água”, só que ninguém lhes ligava — pensávamos que a água jamais poderia acabar. Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos aquíferos estão irreversivelmente contaminados ou esgotados.

Antes, a quantidade de água indicada como ideal para beber eram oito copos por dia por pessoa adulta. Hoje só posso beber meio copo. A roupa é descartável, o que aumenta grandemente a quantidade de lixo, e tivemos que voltar a usar os poços sépticos (fossas) como no século passado, já que as redes de esgoto não se usam por falta de água.

A aparência da população é horrorosa; corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele provocadas pelos raios ultravioletas que já não tem a capa de ozônio que os filtrava na atmosfera. Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados.

A indústria está paralisada e o desemprego é dramático. As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e pagam-nos em água potável os salários. Os assaltos por um bidão de água são comuns nas ruas desertas. A comida é 80% sintética. Pela ressequidade da pele, uma jovem de 20 anos está como se tivesse 40.

Os cientistas investigam, mas não parece haver solução possível. Não se pode fabricar água, o oxigênio também está degradado por falta de árvores e isso ajuda a diminuir o coeficiente intelectual das novas gerações. Alterou-se também a morfologia dos espermatozoides de muitos indivíduos e como consequência há muitos meninos com insuficiências, mutações e deformações.

O governo cobra-nos pelo ar que respiramos (137m³ por dia por habitante adulto). As pessoas que não podem pagar são retiradas das “zonas ventiladas”. Estas estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam à energia solar. Embora não sendo de boa qualidade, pode-se respirar. A idade média é de 35 anos.

Em alguns países existem manchas de vegetação normalmente perto de um rio, que é fortemente vigiado pelo Exército. A água tornou-se num tesouro muito cobiçado — mais do que o ouro ou os diamantes. Aqui não há árvores, porque quase nunca chove, e quando se registra precipitação, é chuva ácida. As estações do ano têm sido severamente alteradas pelos testes atômicos.

Advertiam-nos que deveríamos cuidar do meio ambiente e ninguém fez caso. Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando era jovem, descrevo como bonito eram os bosques, lhe falo da chuva, das flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a água que quisesse, o saudável que era a gente, e ela pergunta-me: “Papá! Por que se acabou a água?” Então, sinto um nó na garganta; não deixo de me sentir culpado, porque pertenço à geração que foi destruindo o meio ambiente ou simplesmente não levamos em conta tantos avisos.

Agora os nossos filhos pagam um preço alto e, sinceramente, creio que a vida na terra já não será possível dentro de muito pouco tempo porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível. Como gostaria voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreendesse isso, quando ainda podíamos fazer algo para salvar o nosso planeta Terra!”

A frase que foi pronunciada
“Como podeis vós comprar ou vender o céu, o calor, a terra? A Ideia nos parece estranha. Se nós possuímos a frescura do ar e os espelhamentos da água, de que maneira poderá V. Excia. comprá-los?”

Chefe Seatle

História de Brasília
Muito justa, neste momento, é a indicação do sr. Vasco Viana de Andrade para a diretoria da Novacap. É merecimento, é pagamento ao valor de um excelente técnico da equipe arrebanhada pelo sr. Juscelino Kubitschek para a construção de Brasília (Publicado em 11/10/1961)

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