O mar reflete o céu

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MAMFIL com Circe Cunha

Fica cada vez mais difícil distinguir o comportamento e o desempenho criminoso dos indivíduos que ocupam os estamentos situados nos extremos verticais da pirâmide social. O que está em cima repete o que está em baixo e vice-versa. A diferença é, sobretudo, quanto ao volume do que é surrupiado, os métodos usados nos assaltos e as punições que cabem a cada um. Há muito se sabe que os extremos se tocam em muitos pontos e, em nosso caso, tem andado de mãos dadas, tamanha é a onda de criminalidade que vem tomando conta do país. Rouba-se de cima a baixo das mesmas vítimas de sempre. Assaltado por todos os lados, o cidadão de bem não encontra para onde recorrer. Em muitos casos, para quem pode, a saída é o aeroporto, com passagem só de ida.

A maior prova de que está definitivamente estabelecida a confusão nesta Babel Brasil pode ser comprovada na leitura dos jornais diários e na observação das fotos estampadas que ilustram cada assunto. Ao lado de políticos e empresários renomados, apanhados com as mãos e os pés nas propinas gordas, o que se vê, no mesmo formato e cores, são chefes de organizações criminosas de todo o tipo, com o sorriso cúmplice e sinistro no canto da boca.

Em alguns jornais, a confusão de personagens é de tal ordem que chega a parecer uma situação surreal. Nesses tempos sombrios, periódicos de grande visibilidade nacional estampam, na mesma edição, fotos mostrando o ex-governador Sérgio Cabral e seu fiel escudeiro Eike Batista, com a legenda afirmando que a Justiça do Rio de Janeiro pretende leiloar bens da dupla avaliados em R$ 1 bilhão para ressarcir os contribuintes e o estado à beira da falência completa.

Alguns centímetros ao lado, aparecem, nos jornais comuns, crimes, na maioria das vezes, impunes. Baralhadas as imagens e os assuntos, o que se obtém são indivíduos do mesmo calibre ético e moral, para quem as oportunidades e a impunidade favoreceram seus negócios e seus futuros. Nesses dias de revelações, o onipresente Marcelo Odebrecht ocupa as manchetes ao lado de Marcola, chefão do PCC. Curioso como até fisicamente os dois se parecem. Seriam irmão siameses separados ao nascer?

Num senso de oportunismo afinado com nosso tempo, o chefão do PCC mandou imprimir um estatuto contendo um código de direito da organização e uma cartilha, para ser lida e seguida por toda comunidade criminosa que vive às expensas da gangue. Ao fim e ao cabo, trata-se de um código de ética semelhante àqueles que os empresários são obrigados a seguir. A diferença é que as empresas do submundo não gostam de negociar com os políticos, para não ficarem em desvantagem. São, assim, os dois lados de um mesmo Brasil, que tem na população encurralada, sua vítima predileta.

A frase que foi pronunciada
“…os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. — Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: esses sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.”

Padre Antônio Vieira, in Sermão do Bom Ladrão, 1655

Carta
» Primeiro, Requião investiu em uma campanha avassaladora contra o Orestes Quércia. Tempos depois, um encontro entre os dois mudou tudo. Viraram melhores amigos. Quem lembra? Pergunta o leitor.

De olho
» Raquel Elias Dodge, subprocuradora-geral da República, sugere a mudança da equipe de Janot. Estranhas iniciativas, estranhas atitudes.

Fogo
» Novamente, entre o Cresspon e o Minas Brasília Tênis Clube, uma queimada misteriosa incomoda quem fica perto da área.

Zero fiscalização
» Rádios Comunitárias do DF, que deveriam ser sem fins lucrativos, têm mostrado ganhos pela publicidade que vai ao ar. Estranho.

Imperdível
» A morte inventada é filme que trata da alienação parental. Crianças que percebem a mentira nos pais e passam a ter a espontaneidade afetiva comprometida tendo, a partir daí, dificuldades para estabelecer vínculos com outras pessoas.

História de Brasília
Logo mais na TV Brasília, às 21h30, comentaremos o absurdo que está planejando o Ministério das Minas e Energia, querendo se mudar da Esplanada dos Ministérios para um prédio da Asa Norte, que seria comprado por 600 milhões, e não há tanta segurança em sua estrutura como é de se desejar. (Publicado em 26/9/1961)

Dinheiro sem lei

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MAMFIL com Circe Cunha

Passadas mais de duas décadas da emancipação política da capital, a população do Distrito Federal teve tempo, mais do que suficiente, para aferir os resultados do modelo. Mais do que sentir os efeitos morais nas manchetes diárias que estampam escândalos seguidos, a população pode constatar, no próprio bolso, a repercussão do sistema de gestão que amarrou políticos de variados matizes ideológicos ao dinheiro do contribuinte.A superestrutura que foi criada para acomodar os novos ocupantes eleitos nos poderes Legislativo e Executivo, antes mesmo de apresentar qualquer avanço significativo na melhora de vida da população, provocou, isso sim, uma hemorragia de tal intensidade nos recursos públicos que o DF vive hoje situação falimentar, semelhante a outras unidades da Federação. A situação só não se tornou calamitosa ainda graças aos repasses dos fundos constitucionais que a União é obrigada a fazer para cobrir a folha de pagamento da segurança, educação e saúde.Mas com o encolhimento acentuado dos recursos do contribuinte brasileiro e o aumento das despesas locais, a situação tende a piorar. Para esse ano, só para os gastos com a folha de pagamento da segurança pública serão destinados 68% dos recursos do Fundo Constitucional, o que, obviamente, afetará as áreas de saúde e de educação. A questão maior não é com o dinheiro curto do orçamento diminuído por razão da crise econômica. O problema maior continua sendo a má gestão e os desvios do dinheiro do contribuinte.

O direcionamento dos recursos públicos para a construção de verdadeiros elefantes brancos, como o Estádio Mané Garrincha e o Centro Administrativo (Buritinga), é exemplo de desperdício bilionário que, por décadas, afetará, significativamente, as finanças do Distrito Federal, seja para manutenção dessas caríssimas obras, seja para a quitação desses monumentos à gastança. O Mané Garrincha, de tão absurdo e desnecessário seu custo estimado em quase R$ 2 bilhões, ganhou longa reportagem, em horário nobre nas redes de televisão da Europa e até no mundo árabe, em que assuntos do tipo, normalmente, são escondidos do público. O que essas obras têm em comum é o fato de terem sido programadas e construídas por uma associação que uniu, de um lado, políticos espertalhões e, de outro, empresários desonestos e gananciosos.Todo o esquema bilionário contou com a participação de empresas listadas na Operação Lava-Jato e com o apoio de políticos locais. O pior é que essa montanha de dinheiro, que andou por todo lado, de bolso em bolso, não foi vista pelo grosso da Câmara Legislativa, não foi detectada pelo Tribunal de Contas local. Não foi olhado pelos órgãos de fiscalização da Secretaria da Receita. Não foi notada por ninguém por um motivo único: todos estavam , de algum modo, implicados nesaa sangria. Já, se fosse a dívi

A frase que não foi pronunciada

“Quando é que vão desarquivar a PEC da Felicidade?”
Frase solta ao vento

Novacap
» Júlio Menegotto recebeu do governador Rodrigo Rollemberg a missão de repaginar o Guará. Grama cortada, mato tirado,
meio-fio pintado e por aí vai.

Vigilância
» Observem que os ovos comprados no supermercado estampam na caixa a sugestão de armazenamento resfriado. Embora seja uma maneira mais segura de manter o produto fresco, os supermercados não gastam com refrigeração para os ovos.

Pra você
» Por falar em supermercado, as donas de casa têm elogiado muito o supermercado Pra Você da Asa Norte. É mais um concorrente ao caro Pão de Açúcar do Lago Norte.

Trânsito
» Se as barreiras eletrônicas são colocadas com o intuito de proteger os motoristas, a entrada e saída do Trecho 9, no Setor de Mansões do Lago Norte, é um ponto fundamental e necessário para se instalar o aparelho. Os carros que saem do trecho perdem a noção da velocidade dos tresloucados que não se dão conta do perigo da curva.

Ironia
» Entre as maiores contradições de nossa história, que um dia constará nos livros didáticos, está a tentativa do Partido dos Trabalhadores em implantar o comunismo em toda a América Latina, usando, para isso, os mais selvagens mecanismos do capitalismo representados por empresas como Oderbrecht e congêneres. Obviamente, um tipo de comunismo restrito apenas as massas da base da pirâmide.

Simpatia total
» Quem se superou no aniversário da cidade foi a Banca da Conceição. Atividades populares, todas com participação maciça.

História de Brasília

Os blocos 8 e 9 da Coreia não têm suas redes de esgoto e águas pluviais ligadas a qualquer encanamento na rua. As águas servidas dos apartamentos são conduzidas a fossas, já ultrapassadas de sua capacidade, e é por isto que há lama podre à entrada dos apartamentos. (Publicada em 26/9/1961)

Lições

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MAMFIL com Circe Cunha
Das muitas lições que poderão ser retiradas, a partir das confissões do modus operandi das empreiteiras sobre a estrutura do Estado, nenhuma será mais valiosa para a correção de rumos futuros do que aquela que demonstrou que o capitalismo selvagem capturou e submeteu a nossa inexperiente democracia a seus desígnios materiais.Da mesma forma, restou clarificado que a chamada política dos campeões nacionais, na qual o BNDES enterrou, a partir de 2008, dezenas de bilhões de reais em créditos subsidiados e na compra de ações para criar grandes empresas brasileiras, na prática representava a capitulação do Estado Democrático de Direito a um novo poder, parasitário e enquistado na carne da República.Jamais esse tipo de situação ocorreria num governo transparente sem que, logo nos primeiros lances, fosse detectada a presença de um corpo estranho ao país. A desenvoltura com que esses alienígenas passaram a atuar no seio do Estado foi enormemente facilitada pelo amadorismo primitivo das principais lideranças políticas do país naquela ocasião.

Para entender, em toda a sua extensão, a interação criminosa e caipira que se estabeleceu entre políticos e empresários, faltam vir a público os possíveis diálogos travados internamente nas diretorias das empresas. Como tratavam do assunto, combinavam os apelidos e comentavam sobre o apetite de cada político. Imagina-se que tão logo algum político ou emissário deixasse a sala de reuniões, as conversas ficassem mais quentes. Espantados com a desfaçatez de como esses gulosos personagens iam em busca de propina, os empresários, por certo, caíam na gargalhada.Acostumados às altas rodas de negócios, onde é possível vender a própria mãe sem se dar conta do ocorrido, os empresários manipulavam com facilidade os ambiciosos agentes do Estado. Era como vender pirulitos para crianças. Claro, o que estava em jogo era o dinheiro suado da classe trabalhadora brasileira. Aí é que estava parte da graça. A outra parte é o jeito tosco dos ladrões caipiras que enchem mochilas e ceroulas de papel-moeda e saem pela rua vibrando com a empreitada. Com esse tipo de gente, pensavam consigo mesmo, seria possível negociar, a preço de banana, até mesmo os edifícios-sedes dos poderes Executivo e Legislativo.

Os apelidos caricatos conferidos pelos empresários aos políticos corruptos denotam o desprezo e a troça que dispensavam aos vendilhões do Estado. Para arrematar, “comme il faut” os negócios subterrâneos, as empreiteiras, obviamente exigiam que o selo de segredo de Estado por 30 anos fosse pespegado aos acordos espúrios. Abduzidos pelo poder avassalador do capitalismo nacional, as principais lideranças, pela paga de tostões, acabaram por comprometer a tal ponto a qualidade da democracia do país que hoje essa situação só pode ser revertida por meio de uma assembleia constituinte que busque a refundação do Estado. De preferência, uma assembleia livre da contaminação desses personagens. Antes, porém, é necessário providenciar, com urgência, a prisão, a devolução do que foi roubado e o confisco de bens de todos esses larápios, sem o que a nação não se sentirá recompensada.

» A frase que não foi pronunciada

“Acabar com a corrupção é o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder.”
Millôr Fernandes

Ironia
» Entre as maiores contradições de nossa história, e que um dia vai constar nos livros didáticos, está a tentativa do Partido dos Trabalhadores em implantar o comunismo em toda a América Latina usando, para isso, os mais selvagens mecanismos do capitalismo representados por empresas como Odebrecht e congêneres. Obviamente, um tipo de comunismo restrito apenas as massas da base da pirâmide.

Será?
» O abandono do Setor Comercial Sul é assustador. A cada dia, menos salas e lojas funcionam. Anúncios amarelados indicam venda ou aluguel do espaço. Difícil saber, mas, se houver uma reestruturação arquitetônica e de segurança, a única saída será transformar em
Setor Habitacional e Comercial Sul.

Segurança
» Faltam mais semáforos para a travessia dos pedestres entre o Parque da Cidade e a Torre de TV. A distância é muito grande entre a saída do parque até o sinal mais próximo.

Pedestre
» Dizia o inesquecível deputado distrital Cafu que quem faz o caminho são as pessoas. Uma filmagem com drone entre a Torre e a Rodoviária daria para ver como tantas calçadas poderiam riscar o verde dando mais conforto a quem anda a pé pela cidade.

Vácuo
» No vácuo do poder aberto com as delações premiadas, com as autoridades perdendo a condição de lideranças, as facções criminosas e o crime organizado encontraram brechas até para editar e distribuir cartilhas e estatutos conclamando a luta
contra o sistema pressor do Estado.

» História de Brasília
O IAPI anunciou, há meses, que iria construir, ainda este ano, uma Escola Classe na SQ 409-410. Até hoje não foi sequer locado o terreno para essa escola. (Publicada em 26.09.1961)

Inúteis solenidades

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MAMFIL com Circe Cunha

Desvirtuadas desde logo em seus objetivos centrais, as sessões solenes em homenagens, realizadas pelos Legislativos de todo o país, de tão frequentes e inusitadas, tornaram-se folclóricas, embora representem um custo a mais para o contribuinte. Mesmo a outorga de medalhas ao mérito e outras comendas, por seu viés partidário, perderam o objetivo e, hoje, nada mais representam do que solenidades vazias e sem significado algum para a nação.Uma simples verificação da lista dos agraciados, a cada ano, poderá fornecer uma pista precisa de que as homenagens são utilizadas mais para acender um farol de atenção sobre quem as convoca do que sobre o homenageado da vez. É comum verificar também que essas homenagens e outorgas de medalhas são realizadas com o intuito claro de proselitismo político, sem qualquer relação com a realidade do momento e do lugar.Na Câmara Legislativa do Distrito Federal, as repetidas sessões em homenagens são realizadas mais para preencher o amplo vácuo no deserto de agenda de trabalho, transformando essas ocasiões em mais um dia de jornada facultativa, em que se verifica apenas a presença do autor da proposta e dos respectivos homenageados.

Para os próximos meses, estão previstas sessões solenes em homenagens ao Dia do Escoteiro, à Maria Izabel, ao líder comunitário, ao aniversário de Israel, aos comerciantes do Riacho Fundo, ao Dia da África, ao Dia do Blogueiro, ao Dia do Pastor, aos Motos Clubes, ao Vigilante, ao Dia do Quadrilheiro, à Polícia Montada, ao Orgulho Gay, ao Taxista, ao Dia Nacional de Benim, ao Dia do Padre, ao Dia Garçon, ao Dia do Feirante, ao Dia do Obreiro Universal, ao Príncipe Bertran, ao Dia do Cerrado, ao Dia do Servidor de Trânsito, ao Dia do Piauí, ao Dia Mundial do Hip Hop, ao Dia de Angola, ao Sindicato de Policiais, ao Dia das Artes Marciais, ao Dia do Síndico, ao Dia do Delegado de Polícia, ao Dia do Quiosqueiro, ao Dia Nacional do Forró. Com tantos dias a serem homenageados por suas excelências, que tal incluir também nessas sessões o Dia do Eleitor Engabelado?

Na Câmara Federal, as homenagens seguem o mesmo receituário vazio e inútil . Ali, serão realizadas sessões homenageando os sindicatos de metalúrgicos, o Dia do Contabilista, o Dia do Líder Comunitário, o Esquadrão da Fumaça, os Fundos de Pensão, a defesa da democracia na Venezuela, a tradição gaúcha, o Dia do Bumba Meu Boi, o Dia do Orgulho LGBT, entre outras excrescências do gênero.

Em Minas Gerais, na atual gestão do pluri enrolado com a justiça, Fernando Pimentel, o 21 de abril, no qual se comemora o Dia de Tiradentes e que marca os movimentos de independência do Brasil do jugo colonial, as outorgas da tradicional Medalha dos Inconfidentes, ganharam contornos políticos partidários tão descarados que fizeram com que a comenda perdesse muito de seu brilho inicial. A concessão da honraria ao conhecido bandoleiro João Pedro Stédile, chefão do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), causou revolta entre os mineiros, levando muitos dos antigos agraciados a devolverem, em protesto, a condecoração famosa. Para este ano, foram entregues medalhas a muitos envolvidos e citados na Operação Lava-Jato, numa mostra de que as homenagens se transformaram, no fundo, em louvação do que não deve ser louvado. Ainda mais sob o patrocínio do pobre contribuinte.

A frase que foi pronunciada

“A maior das homenagens que podemos prestar à verdade é utilizá-la.”

Ralph Waldo Emerson

Necessário

» Apesar das excelentes instalações, localização e o um dos maiores acervos de livros raros do Brasil, falta na Biblioteca Nacional um acessório mais do que obrigatório para o conforto básico dos que frequentam as salas de estudo: o ar-condicionado. As tubulações de ar instaladas nos tetos das salas nunca foram usadas. Talvez seja por isso que uma biblioteca de tamanha importância para a seca e quente capital permaneça pouco frequentada.

Imperícia

» Uma placa indica os milhares de reais investidos na pista de atletismo entre o Paranoá e o Itapoã. O primeiro erro é a falta de cuidado com o ambiente. Um vento e a poeirada engole o atleta. Uma pena que esteja fora dos padrões, já que aclives e declives não são recomendados nessa modalidade.

Conselho

» Declaração de Alexandre Inecco sobre Brasília: “Brasília dá frutos para quem planta nela. Faltam espaços para cultura? Sobra público. Faltam esquinas? Sobram parques. Falta cordialidade? Sobram espelhos. Brasília é uma excelente imagem para o Brasil de hoje: se você desanimar e se trancar

em casa, você vai deixar de ver o céu maisbonito do mundo”.

» E Verônica Carriço:

“Nesta cidade de todos os sotaques e todos os sabores, que vem forjando na própria multiplicidade a sua identidade cultural, a gente aprende, desde cedo, que a diversidade é linda, enriquecedora e, sobretudo, muito divertida. Adoro encher o peito e dizer com orgulho: sou candanga. Isso é bem mais do que o convencional brasiliense, porque traz embutida em seu significado a coragem dos meus pais e de tantos outros que se aventuraram no desconhecido com o sonho de construir um lugar melhor para viver e criar seus filhos”.

História de Brasília

O Iapi anunciou, há meses, que iria construir, ainda este ano, uma Escola Classe na SQS 409/410. Até hoje não foi sequer locado o terreno para esta escola. (Publicado em 26/9/1961)

Pedaço de um tempo

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MAMFIL com Circe Cunha

Naqueles longínquos dias de abril de 1964, Brasília, com apenas 4 anos, foi transformada, da noite para o dia, em uma pequena órfã, perdida e desolada na imensidão poeirenta e vermelha do Centro-Oeste. A chegada repentina dos militares ao poder, na sequência natural dos acontecimentos que marcavam a Guerra Fria, provocara uma reviravolta de tal monta na administração da cidade que, por longo tempo, todas as repartições públicas ficaram como que suspensas no ar. A própria concepção arquitetônica da cidade, espalhada pelos quatro cantos pelos novos ocupantes do Palácio do Planalto, era obra de um comunista convicto a serviço de um outro sujeito, também suspeito de nutrir simpatias com a então odiosa União Soviética. Portanto, sob o comando dos novos donos do poder, era preciso uma higienização rápida na nova capital, a começar por aqueles que ocupavam os mais altos cargos da gestão local.

Numa situação como essa, na qual a improvisação era a norma geral, ninguém sabia ao certo quem seriam os novos administradores da cidade. No longo vácuo de poder que se seguiu, nem sequer os salários do mês estavam garantidos. Em todo canto e nas rodas de conversa, o assunto era quem sobreviveria e quem seria defenestrado. Nesse impasse e sob a aparência de normalidade, a vida das pessoas mais simples seguia seu rumo. Era um tempo de muitas construções na cidade e, na vida simples de muitos operários, o tema era tratado como assunto que dizia respeito apenas à gente rica e poderosa, portanto, distante da realidade dura dos trabalhadores. No entanto, nas repartições públicas, que àquela altura estavam instaladas na nova capital, a rotina diária era discutir que rumos a revolução verde-oliva apontaria para todos. Obviamente, aqueles que tinham qualquer laço de aproximação com os chamados comunas sentiam um frio de suspense subindo pela barriga.

Naquela ocasião, para ser apontado pela alcaguetagem geral como comunista e subversivo bastava ao indivíduo possuir um exemplar dos poemas de Ho Chi Minh ou o manifesto de Marx, mesmo que jamais tivesse lido uma linha sequer. Sob esse prisma, todos eram comunistas até que provassem ao contrário. Não foram poucas as pessoas que, avisadas sobre a chegada da revolução, aproveitavam as noites escuras da cidade para incinerar às pressas qualquer prova material de simpatia com o socialismo. A avenida L2 Norte, que se estendia somente até a Quadra 405, era o caminho natural para aqueles que se dirigiam para a Universidade de Brasília (UnB), ainda parcialmente construída. Havia naquela região, próximo ao que é hoje o Hospital Universitário (HUB), o Centro Integrado de Ensino Médio (Ciem) ligado à UnB.

Naqueles dias distantes e de incertezas, uma bandeira negra estava hasteada no alto da caixad’água da instituição. Lá dentro, uma turma de estudantes se encontrava amotinada havia dias, fazendo uma espécie de resistência pacífica ao desmantelamento político que se anunciava com certa ferocidade. Eram tempos de dúvidas, movidos por um certo romantismo, com a juventude buscando imitar os movimentos vitoriosos de Guevara e Cienfuegos, sem medir as consequências que adviriam em desafiar os novos mandantes uniformizados. Lá fora, deitados no asfalto, sob a proteção improvisada dos meios-fios da estrada, uma fileira de soldados, com suas metralhadoras sob tripés, estava de prontidão para invadir o prédio a qualquer momento. O impasse da invasão iminente só restou resolvido quando chegou ao conhecimento do comando daquele destacamento que, no interior do prédio havia, entre os revoltosos muitos filhos de autoridades, in,clusive de militares. Ao menos nesse caso, o salvo-conduto para uma rendição foi feito sem feridos. A pele dos companheiros dos fidalgos estava salva. No restante da cidade, os expurgos aconteciam sem muito alarde e eram alimentados com a boataria geral.

Com medo, muita gente abandonou o emprego e resolveu desaparecer, voltando anônimo à cidade natal. Alheios a um mundo que se esfacelava sob seus pés, a gurizada naquela época aproveitava a vida como podia, tomando banho e navegando sobre os muitos tocos de árvore que boiavam no lago ou nadando no espelho d’água que circundava o Departamento de Pedagogia na UnB. A partir dessa hora, a cidade mergulhava num sono pesado, envolta num breu e num silêncio que dava medo e que aumentava com os presságios de que, na calada da noite, as tropas viriam para levar o que supunham ser insurgentes e contra o regime. De fato, a população não era contra a chegada dos militares por um simples motivo: ninguém sabia ao certo o que era o novo regime militar e muito menos o que significava. Para uma população pouco ilustrada, o que se esperava, noite após noite, era a chegada de qualquer coisa que quebrasse a rotina de uma cidade deserta.

a frase que foi pronunciada

” Brasília tem mais futuro do que passado

Adirson Vasconcelos

História de Brasília

A confusão dos preços das passagens é tão grande que o TCB bem que podia estudar dois preços para as linhas no Distrito Federal. As mais longas e as menores. Assim, não haveria a

confusão que se verifica atualmente. (Publicada em 26/9/1961)

Polícia para quem precisa

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MAMFIL com Circe Cunha

Num Estado democrático, a garantia dos direitos fundamentais dos cidadãos só pode ser plenamente alcançada e mantida com a responsabilidade de cada um de seus membros no estrito respeito às leis. Regra básica para que isso ocorra é a observância das normas, por todos e principalmente por aqueles que ocupam altos postos na hierarquia do Estado, devendo, por sua importância e relevância do cargo, servirem como exemplo e modelo irrepreensíveis para toda a sociedade. Obviamente, não é isso que ocorre no país. Pelo contrário. O que os brasileiros têm visto nestes últimos tempos é a exposição em público de extensas confissões que vão revelando pari passu os mecanismos que fizeram dessa República, em particular, um valhacouto para criminosos de várias espécies disfarçados de autoridade.

Aqueles de quem a nação poderia tomar como baluartes da ética estão sendo, um a um, postos a nu diante dos espectadores. Constrangidos, resta aos cidadãos assistir a esse desfile de zumbis políticos. Se o mau exemplo vem de cima, não chega a ser surpresa que esse tipo de comportamento venha sendo repetido também nos estamentos de baixo, transformando nosso país, cada vez mais, num caso de difícil solução. Perdida a moral e a decência, nosso Legislativo se transformou, em pouco tempo, em alvo fácil e constante de agitadores mercenários e profissionais do lobby. Desta vez, sob a fantasia de agentes da lei, um bando de cerca de mil policiais, com armas na cintura e certos da impunidade, depredaram a entrada principal do Congresso, tentando invadir o Parlamento para impor à força pauta própria.

A demonstração de brutalidade irracional desses funcionários, armados pelo Estado, tem se repetido a todo instante em diversas partes do país. A desenvoltura com a qual muitos policiais em todo o Brasil têm afrontado e ameaçado abertamente o Estado de direito revela sinais preocupantes de que alguma coisa está muito fora da ordem.

Os fatos ocorridos recentemente no Rio Grande do Norte, no Espírito Santo e em outras localidades onde a polícia entrou em greve revelam não só o despreparo de nossas forças de segurança e a falta de comando efetivo, mas sobretudo sintomático sinal de que esses servidores estão agindo por conta própria, sem receio de serem enquadrados.

Em Brasília já se tornou comum observar a polícia estacionada tranquilamente sobre calçadas, ciclofaixas ou jardins, dando mau exemplo e afrontando o cidadão. Impõe o contrário do que cobra. É comum observar ainda os carros de polícia furando sinais sem necessidade, andando acima da velocidade permitida, fazendo manobras proibidas em via pública e mesmo recebendo lanchinhos e outros brindes dos comerciantes amedrontados.

Corre sério risco o cidadão que, por ventura, se arriscar a chamar-lhes a atenção para esse comportamento inadequado. Agora mesmo foi autorizado aos agentes de trânsito portarem arma de choque elétrico conhecida como taser. Para esses servidores a arma, mesmo não letal, é fetiche que lhes empresta falsa sensação de superioridade. De armas na cintura ou não, esses indivíduos têm que ter em mente que são apenas servidores públicos e, como tais, devem se portar como todo cidadão comum: dentro da lei.

A frase que foi pronunciada
“A arte de fazer política é falar o que o povo quer ouvir, mas fazer tudo aquilo que o povo não deve saber.”
Sérgio, o Cancioneiro

Impossível
» Quem pretende passear pelas calçadas do Lago Sul, pela Quadra 25, tem dificuldades em se desvencilhar do matagal. O maior IPTU da cidade deveria dar ao cidadão contrapartida mínima.

Conivência
» Ainda pelo Lago Sul é possível ver, ao longo da pista principal, moças com geladeiras de isopor debaixo do sol com alimento de natureza desconhecida. É uma fatalidade permitir a venda de alimentos nessas condições.

Experiência
» Realmente, as instalações do Hospital Sírio Libanês, a educação dos funcionários, o valioso “ouvir” dos médicos oferecem o que a capital do país estava precisando: respeito.

História de Brasília
O Circular JK-W3 iniciou a linha com a tarifa de 10 cruzeiros. Posteriormente, alegando estender a linha pelos ministérios, foi seu preço elevado para 15 cruzeiros, sem cumprir o prometido. Agora, a empresa lança nova linha, Três Poderes-JK, com tarifa de 20 cruzeiros e está aos poucos retirando os JK-W3. (Publicada em 26.9.1961)

Contribuição à crise

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MAMFIL com Circe Cunha

Em todo tempo e lugar, povos das mais diferentes culturas atravessaram períodos de crise profunda. Tem sido assim desde que o mundo é mundo. A diferença essencial entre aquelas civilizações que sobreviveram às depressões e se fortaleceram ainda mais e aquelas que, simplesmente, sucumbiram e desapareceram para sempre é que, as primeiras, recorreram à experiência e a sabedoria dos mais velhos para encontrar uma saída racional do labirinto das crises cíclicas. O mundo está repleto de exemplos de como esses aconselhamentos lúcidos salvaram sociedades inteiras da extinção. No Brasil, não deveria ser diferente. Envolto na maior crise de toda a sua história, a nação, se desejar realmente superar esse período de instabilidade e dele retirar lições claras para o futuro, deve, antes, consultar e ouvir com atenção redobrada aqueles que podem apontar caminhos e têm o que ensinar e transmitir as novas gerações.

Nesse sentido e uma vez identificadas as origens de nossas mazelas históricas, convém destacar os ensinamentos e o receituário de Modesto Carvalhosa, um dos mais lúcidos e notáveis juristas deste país. Autor de livros, como Considerações sobre a lei anticorrupção das pessoas jurídicas, e coordenador de outras obras importantes, como O livro negro da corrupção, ex-professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Carvalhosa encabeçou diversos movimentos contra a ditadura militar, sendo, constantemente, convidado a dar entrevistas e palestras sobre as questões nacionais.

No Manifesto à nação, escrito em parceria com os também juristas Flávio Bierrenbach e José Carlos Dias, o eminente advogado e pensador enumerou diversas medidas urgentes para que o Brasil possa atravessar, sem maiores traumas, a atual fase negativa e dela tirar proveitos duradouros para amadurecer as instituições e o modelo de sociedade democrática que almejamos.

Para Modesto Carvalhosa, a Constituição de 1988, desfigurada por incontáveis emendas, já não corresponde mais à realidade do país e necessita ser refeita por uma assembleia constituinte independente, integrada por pessoas que não tenham cargos políticos, mas por políticos eleitos, exclusivamente, com esse propósito para introduzir na Carta Magna dispositivos tais como: eliminação do foro privilegiado; eliminação da desproporção de deputados por unidades da Federação; voto distrital puro, sendo os parlamentares eleitos pelo distrito eleitoral respectivo; referendo no caso de o Congresso legislar em causa própria, sob qualquer circunstância; estabelecimento do regime de consulta, com referendo ou plebiscito, para qualquer matéria constitucional relevante; nenhum parlamentar poderá exercer cargos na administração pública durante o mandato; eliminação de cargos de confiança na administração pública, devendo todos os cargos ser ocupados por servidores concursados; eliminação do Fundo Partidário e do financiamento público das eleições: serão os partidos financiados unicamente por seus próprios filiados; eliminação das emendas parlamentares que tornam os congressistas sócios do Orçamento, e não seus fiscais; criação ou aumento de impostos, somente com referendo; fim das coligações para quaisquer eleições; eliminação de efeitos de marketing das campanhas eleitorais, devendo o candidato se apresentar no horário gratuito pessoalmente, com seus programas e para rebater críticas; distribuição igual de tempo por partido no horário eleitoral gratuito para as eleições majoritárias (presidente e governador); inclusão do princípio da isonomia na Constituição, de modo que a lei estabeleça tratamento igual para todos, em complementação ao princípio vigente de que todos são iguais perante a lei; Isonomia de direitos, de obrigações e de encargos trabalhistas e previdenciários para todos os brasileiros, do setor público e do setor privado; eliminação da estabilidade no exercício de cargo público, com exceção do Poder Judiciário, do Ministério Público e das Forças Armadas, devendo os servidores públicos serem submetidos às mesmas regras do contrato trabalhista do setor privado; eliminação dos privilégios por cargo ou função (mordomias, supersalários, auxílios, benefícios etc.), devendo o valor efetivamente recebido pelo servidor estar dentro do teto previsto na Constituição.

A frase que foi pronunciada
“No Brasil, empresa privada é aquela que é controlada pelo governo, e empresa pública é aquela que ninguém controla.”

Roberto Campos

Sensacional
» Nos 100 anos de IBM no Brasil, uma parceria interessante está aproximando a população da arte por meio da tecnologia. Normalmente, nos museus uma gravação sobre as peças esclarece, mas não interage. É assim que a IBM e a Pinacoteca de São Paulo se uniram para pôr em prática o projeto A voz da arte.

Gênio
» Fabricio Barth, da IBM Watson Pina é o líder técnico da Watson para a América Latina. A proposta funciona da seguinte maneira: qualquer pergunta, por mais absurda que seja, poderá ser feita em relação à obra. Particularidades, curiosidades, contexto, história, cores, números… A pergunta é processada e a resposta é dada individualmente.

Vem
» O projeto A voz da arte é inovador e estará disponível ao público que visitar a Pinacoteca de São Paulo, na Praça da Luz, até 5 de junho. Agora, é torcer para Brasília ter o mesmo privilégio.
História de Brasília
Uma nota que publicamos, aqui, sobre a alimentação gratuita dos candangos nos Saps não tinha boa informação. Realmente, o Ministério do Trabalho está dando alimentação gratuita, mas esses candangos são fichados no Serviço de Colocação, onde, por sinal, o Sr. Edmilson Teixeira da Silva está fazendo um belo trabalho. (Publicado em 26/9/1961)

Atualidade de Nelson Rodrigues

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MAMFIL com Circe Cunha

Dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro. Transportada para a cena política em tempos de delações, a sentença do dramaturgo Nelson Rodrigues adquire atualidade e amplidão muito além da ficção. Com a deduragem generalizada e propiciada unicamente pelo medo da polícia, toda a nação comprova uma suspeita antiga: no Brasil, o dinheiro compra tudo, inclusive, o pacote fechado contendo os políticos, os índios, o debate eleitoral, os três Poderes, a confecção das leis e a interpretação das mesmas dependendo do cliente.Diante de uma realidade crua como essa, qualquer outro prognóstico sobre o país do futuro e outras balelas ufanistas caem por terra. Não temos futuro algum. Pelo menos como eleitores, cidadãos e com essa classe de políticos, dirigentes e empresários que aí está. Se todos não mudarem, apenas uma certeza permanece: continuaremos na rabeira do mundo civilizado.Brasília, com a emancipação política, passou a importar todas essas mazelas e, hoje, encontra-se na mesma situação de impasse e dilema. Não há como prosseguir, dentro do que anseiam as pessoas de bem, com essa classe dirigente nem com o atual modelo gestão da coisa pública, que permite e facilita a perpetuação desse flagelo.

O que está ocorrendo com a sociedade é justamente o que já previa o dramaturgo tempos atrás: “A bondade brasileira está se deteriorando a cada 15 minutos, aumentando o desgaste de nossa delicadeza”. É o que temos assistido, ao vivo, com a maioria dos políticos sendo hostilizada ou mesmo ameaçada de linchamento em público. A revolta não é preventiva. Os votos provam isso.Nossa classe dirigente se encontra, literalmente, em palpos de aranha. Fosse vivo hoje, Nelson Rodrigues experimentaria frustração sem par, ao verificar que a realidade do dia a dia tem se mostrado, extremamente, mais imaginosa do que qualquer ficção. Os apelidos atribuídos a cada um dos atores dessa pantomima revelam o quanto de ficção e surrealismo existe em nosso modelo de democracia. Até mesmo a atuação célere do juiz Sérgio Moro, buscando desinfetar o país, remete ao nome dado à operação policial.“Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral”, diagnosticava Nelson Rodrigues, para quem o subdesenvolvimento se resumia à questão profissional, já que alguns vivem às custas dessa “generosa abundância”. A tentativa de forçar, agora, a reforma política visando, entre outras excrescências, anistiar a todos, também foi observada de antemão pelo autor de A vida como ela é, quando afirmou: “Existem situações em que até os idiotas perdem a modéstia”.

O que todos estamos presenciando neste momento é, no antigo dizer do escritor, à “multicolorida variedade dos vigaristas”. Nossos modelos de gestão pública, previa o dramaturgo, “trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo”. Até o odioso “nós contra eles”, tão comum em tempos recentes, fez sucesso por que naquela ocasião “o sujeito preferia que lhe xingassem a mãe e não o chamassem de reacionário”.A repetição dos mesmos nomes, eleição após eleição, enganando a população há décadas, tem justificativa singela em Nelson Rodrigues: “A burrice é eterna”. Para o escritor, a explicação para a realidade ontem, hoje e sempre é que “não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos”, já que “não há nada que fazer pelo ser humano: o homem já fracassou”.

A frase que foi pronunciada

“O sorriso do Sr. Odebrecht durante a delação premiada significa que o crime (ainda) compensa.”

Qualquer telespectador atento

História de Brasília

Por essa e por outras é que precisa ter alguém no DCT, que o dirija mesmo, como seria o caso do coronel Dagoberto. (Publicada em 26/9/1961)

Fachin e faxina na política

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jornalista_aricunha@outlook.com

MAMFIL com Circe Cunha

Segue, com a divulgação da lista do ministro Fachin, o desenrolar de mais um capítulo da longa trama político-policial levada pela primeira vez ao conhecimento da opinião pública em junho 2005, com a divulgação das negociatas de bastidores envolvendo o Palácio do Planalto e boa parte dos membros do Congresso Nacional.O que, naquela ocasião, parecia ser, pela dimensão, o último grande escândalo da República e o início de novo Estado, constituiu, na verdade, apenas um prólogo do que viria na sequência com as revelações da Operação Lava-Jato. A continuidade delitiva que se estendeu por mais uma década só foi possível porque, naquela ocasião, as investigações não chegaram a atingir de fato o núcleo criminoso, e os mesmos órgãos que sempre descuidaram da fiscalização do dinheiro público continuaram inoperantes e de olhos propositadamente bem fechados.Ainda agora, à mercê das descobertas vergonhosas que vão vindo à tona, é quase certo que muitos ralos por onde escoam os recursos dos contribuintes ainda estejam escancarados. Especialistas no assunto costumam alertar para um fato importante: quando a corrupção é detectada em todas as esferas de um governo e nas principais empresas de um país, é bastante provável que grande parte do tecido social esteja também contaminado. Nesse caso, o que grande parte dos representantes eleitos pela população fazem é reproduzir, nas altas esferas de poder, o que já existe em abundância na própria base da pirâmide.

Assim no céu como na Terra. Em situações como essa, resta apenas ao Poder Judiciário e a polícia agirem para trazer de volta à normalidade jurídica e institucional. No entanto, não basta a existência de juízes eficientes e imunes àcorrupção nem leis modernas que dificultem o desvio de dinheiro público. Mais importante do que tudo isso é a mudança cultural. E é aí que a situação se complica. Mudança cultural requer tempo e persistência a longo prazo e só é atingida, de fato, a partir da educação.Há muito é conhecida a relação existente entre o alto grau de instrução de um povo e o baixo nível de corrupção. Esse fato se explica por uma razão simples: é preciso antes aprender o que é certo e o que é errado. No nosso caso, o baixo grau de informação do povo age como uma espécie de fermento para crescimento da corrupção e seu transporte para as esferas mais altas do poder por meio dos representantes legitimamente eleitos.No Brasil, a corrupção é endêmica e perpassa verticalmente toda a sociedade numa linha contínua, cortando toda a pirâmide — da base ao cume. Trata-se de fenômeno histórico, presente desde que Cabral por aqui aportou em 1500. Só agora despertamos para o combate efetivo desse câncer.

A frase que foi pronunciada

“Nada é tão admirável em política quanto uma memória curta.”
John Galbraith

Reclamação
Entre o Cresspon e o Minas Brasília Tênis Clube, há constantemente queimada de lixo. O fato incomoda demais a vizinhança.

Nova fonte
A Embrapa terá licenciamento para comercializar a tecnologia que desenvolve, e o acesso aos produtores do resultado dessas pesquisas será facilitado. A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado analisa a proposta, que permitirá o recebimento de royalties. O senador Álvaro Dias é o autor e a senadora Kátia Abreu, a relatora. O texto muda a legislação acrescentando as novas fontes de renda à Embrapa.

Ecad
Novamente em pauta as peripécias do mundo nebuloso chamado Ecad. Blindado contra investigações, o Ecad continua com cobranças abusivas e sem a transparência necessária da distribuição dos recursos arrecadados. A deputada Renata Abreu quer garantir a segurança jurídica em relatório que será votado. Quer avançar na transparência, na disponibilização das informações sobre os processos de direitos autorais e mais clareza quando os repasses não são feitos.

Algemas
Lei proibindo que mulheres durante o trabalho de parto e de pós-parto sejam algemadas foi sancionada agora pelo presidente Temer. Trata-se de um instrumento há muito reclamado pela sociedade.

Curiosidade
Com 83 facções nascidas em presídios brasileiros, vamos ver as consequências da convivência com os presos por corrupção.

História de Brasília

Quem quisesse passar um telegrama às 11h20 de ontem no Correio da W3 teria que esperar porque “o funcionário foi tomar um cafezinho e não tem quem o substitua”, segundo informação da moça ao lado. (Publicado em 23/9/1961)

É gangrena!

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jornalista_aricunha@outlook.com

MAMFIL com Circe Cunha

Ao longo de pouco mais de uma década, a Odebrecht ousou destinar meio bilhão de reais em propinas apenas para formar ampla base de políticos que passaram a atuar nas diferentes esferas de poder sob seu comando e a seu soldo.

O caso pode ser resumido de modo singelo: o eleitor vota, escolhe seu candidato, mas, ao fim ao cabo, quem vai representá-lo de fato é o apontado pela empresa.

Pelas declarações, fica depreendido também que, ao longo de todo esse tempo, as construtoras ocuparam simultaneamente os Três Poderes da República, legislando em causa própria, executando seus desígnios e julgando com base em suas necessidades.

O que se tem, com apenas parte das revelações que agora vêm ao conhecimento da nação, é um país eviscerado à luz do sol, mostrando as entranhas a todos. As delações viram, como se dizia no passado, à tripa-forra, ou seja, em grande quantidade, tal qual gigantesco dique de sujeiras que, de súbito, se rompeu.

O que se vê nessa ferida gangrenada e aberta coloca as pessoas em dúvida: salvar o paciente, cortando-lhe logo as partes apodrecidas, ou fazer um pequeno curativo e aguardar que o tempo tome a melhor decisão?

A frase que foi pronunciada

“A consciência tranquila ri-se das mentiras da fama.”
Ovídio

Deixa assim
» Loterias são verdadeiras lavanderias. Ao Coaf cabe a fiscalização. Ou compram bilhetes premiados, ou pagam pelos bilhetes mais do que a aposta. Até hoje a Caixa não tomou medidas para impedir esse tipo de roubo. Tudo seria diferente se o jogador fosse cadastrado. Mas será que há intenção de mudar as coisas?

Essa não
» Túnel sem luz no fundo. Agora até as medidas de combate à corrupção estão correndo o risco de não sair do papel. Isso porque os relatores do pacote anticorrupção estão na lista de Fachin.

Números
» Uma eterna fonte de notícias boas, a Codeplan divulga que a inflação em Brasília caiu 0,75% em fevereiro. Para as donas de casa que frequentam supermercados, há controvérsias na informação.

Teatro e música
» Artur Soares continua deixando seu rastro de brilho por onde passa. Dessa vez com o barítono Licio Bruno, a ópera Don Pasquale é uma sequência de risos. A montagem, de Janete Dornellas em homenagem ao aniversário da cidade, tem como cenário a Brasília dos anos 60. No Teatro do Sesc Gama, nos dias 15 e 16 de abril, às 19h; e no Teatro Levino de Alcântara — Escola de Música de Brasília, nos dias 29 de abril, às 19h; no dia 30, às 11h e às 19h; e no dia 1º de maio, às 19h.

Interessante
» Houve, na Câmara dos Deputados, uma discussão para apresentar substitutivo a uma lei que impede o acréscimo de gordura trans, gordura vegetal hidrogenada, em alimentos humanos. Apesar disso, a margarina continua nas prateleiras de supermercados e padarias.

Raízes
» Uma jovem aprendiz encontrou R$ 100 no chão de uma Comissão do Senado e só sossegou quando encontrou a dona. Uma copeira. A diretora do Senado, Ilana Trombka, sensibilizada com a situação, fez um belo discurso enaltecendo a ética. Ficou claro que a educação em casa é o início de tudo e bom impulso para ser honesto.

História de Brasília
Mesmo dando menos lucro, os postos deviam manter seu estoque de gasolina azul para satisfazer os fregueses, como é o caso do Atlantic do Eixo Rodoviário, perto da SQ do Banco do Brasil. (23.9.61)

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