A marcha da humanidade

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aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha com MAMFIL

Em tempos passados, as eleições norte-americanas não ocupavam muito espaço na mídia brasileira. Vivíamos num mundo disperso e as ideias de globalização eram ainda apenas ideias na cabeça de alguns pensadores e teóricos. Nosso interesse no grande irmão do Norte se prendia ao cinema, moda, novidades no mundo automobilístico e coisas do gênero. Com o processo de interação mundial, provocada pela globalização dos mercados, com a consequente formação de grandes blocos comerciais, a interdependência econômica entre os países se transformou numa realidade presente e inescapável. Países que, a princípio, rejeitavam a ideia de uma Aldeia Global, foram levados pela correnteza de um mundo em rápida transformação. Também a emergência de uma nova tecnologia, interligou todo o planeta de modo instantâneo, encolhendo distâncias geográficas e temporais.

Hoje, tudo interessa a todos e a todo momento. Isso porque o que ocorre a milhares de quilômetros daqui interfere no nosso dia a dia. Nesse sentido, é possível inferir que a chegada do novo presidente nos EUA, com um conjunto de promessas de campanha flagrantemente protecionista e xenófobo, e com um perfil pessoal, para dizer o mínimo, discutível, trarão consequências para o Brasil. Em primeiro lugar, porque os EUA representam o segundo mercado para as exportações brasileiras.Também é sabido que naquele país residem mais de um milhão de imigrantes brasileiros, em sua maioria, em situação irregular. De toda forma, se fôssemos estabelecer um ranking para aferir quem mais perdeu com a eleição de Donald Trump, talvez venha a ocupar o topo da lista os analistas políticos, que em sua grande maioria, e até o último minuto, acreditavam na derrota do candidato fanfarrão.

Colhidos de surpresa, muitos ainda estão zonzos, procurando uma explicação racional para o acontecimento. Ainda assim, fica evidente para muitos que dentro do ritmo constante, da sístole e diástole que leva o mundo a período de maior e menor fechamento econômico, o que se assiste parece ser um retorno às teses do protecionismo antigo, associado à uma onda crescente de xenofobia, que passa a enxergar no imigrante, principalmente aqueles vindos de países pobres, uma causa para a recessão econômica mundial e, por tabela, para o próprio processo de globalização que passa a ser repensado.

Numa coisa todos parecem concordar: não se trata de ascensão da direita no mundo, como muitos creem, já que a escolha por lideranças nacionalistas, em parte do Ocidente, foi feita livremente pela própria população desses países, cansada da política tradicional. O que parece é que o mundo começa a reagir de forma uniforme, optando por caminhos ainda pouco claros. É marcha irrefreável da humanidade por trilhas que parecem ainda obscuras. Pelo sim, pelo não, melhor acender uma vela para iluminar esses caminhos.

PEC 241

» Em conversa no corredor das Comissões, Maria Lucia Fattorelli, da Auditoria Cidadã da Dívida, colocou suas ideias sobre alguns pontos ainda obscuros para a opinião pública sobre a PEC do Teto, PEC 241. Primeiro esclareceu que a oposição ao projeto é técnica e não ideológica como tentam colocar para fechar de imediato a discussão.

Autoridade

» A ex-auditora da Receita, convidada pelo Syriza para analisar a dívida grega, esclarece que os senadores brasileiros estão votando a PEC do Teto enganados. Eles não sabem tecnicamente o que essa PEC trará como consequência. Despesa primária é a chave mestra para o entendimento. Os juros ficam de fora. O teto é apenas para as despesas primárias e juros não são despesa primária.

O que é

» Fattorelli diz ainda que essa PEC só tem um objetivo. Colocar um teto, uma amarra nas despesas primárias. Prende o nosso desenvolvimento econômico por 20 anos. É o que diz o texto que está mudando a Constituição. Infelizmente, não trata da corrupção que corrói a pouca verba que ainda existe; não trata de gestão, contrapartidas, auditorias. Ela congela o volume de recursos e permite daqui para frente será só o IPCA.

Como será

» Despesas primárias são tudo menos as despesas financeiras. Acabou investimento em ciência e tecnologia. Tudo o que o país vier a crescer só vai poder ser destinado para as despesas não primárias por 20 anos. Tudo o que a União arrecadar só vai poder ir para despesas não primárias. Nossos senadores não sabem o que estão votando, porque não entendem. Agora vai ser Constitucional destinar dinheiro para tudo isso enquanto a Saúde e Educação, Ciência e Tecnologia vão penar por falta de verbas, conclui Fattorelli

Denúncia

» Emendas para controlar os juros, limites para os juros, limites para as empresas estatais não dependentes que estão sendo criadas como uma praga pelo país. Em Porto Alegre, está sendo criada a Investe POA. A PEC deixa livre, fora do teto. Recursos para empresas estatais não dependentes. É preciso urgência na distinção de empresas estatais não dependentes legítimas, que atendem aos pressupostos do art. 173 da Constituição e das empresas fraudulentas, com maracutaias. Isso aqui é muito grave, e só estará aberto a mudanças daqui a 10 longos anos.

Sem esclarecimentos

» Essa dívida nunca foi auditada. Há centenas de denúncias de fraudes, ilegalidades e inconstitucionalidades. Sindicatos, parte do judiciário, instituições sérias estão tentando chamar a atenção das autoridades para o que está acontecendo, mas todos fomos bloqueados. A imprensa não comprou a briga. Nas audiências públicas o governo não enviou representantes, reclama a auditora.

Salários no serviço público definem nossa República

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com Circe Cunha e MAMFIL

Nos 127 anos que nos separaram da Proclamação da República, muito mudou, obviamente, mas muita coisa permanece inalterada. Pela resistência que se observa nos três Poderes do Estado, ainda vai levar um bom tempo para que tenhamos de fato uma República conforme preceituada lá nas suas origens e onde a igualdade formal dos indivíduos e o respeito à coisa pública sejam de fato acatados.

Houvesse, desde sua origem no Brasil, tomado o caminho natural da austeridade nos gastos , com a simplificação da máquina do Estado e a cessação definitiva dos privilégios herdados após um longo período de monarquia, nossa República seria modelo para o mundo Ocidental. Infelizmente enveredamos pelo caminho que parecia mais fácil e natural à nossa formação histórica.

Criamos, para desfrute das classes mais abastadas e influentes, um misto de República e monarquia, de modo a atender às pressões das elites destronadas e acomodar todo mundo na ante sala dos cofres públicos. Não é por outro motivo que ainda temos um Executivo onde os presidentes, ao longo desse tempo, sempre demonstraram um comportamento tipicamente monárquico, faltando-lhes apenas o uso do cetro e da coroa.

Blindados contra as bisbilhotices alheias pela prerrogativa de foro, nossos parlamentares vivem num mundo à parte e refutam qualquer tentativa de enquadrá-los dentro dos princípios republicanos. Também o Judiciário, principalmente aquele alojado nas altas cortes, vive em um período anterior a 1889. Pesquisa feita na folha de pagamento dos juízes dessa Corte, ainda no ano passado, mostrou magistrados recebendo salários com superligas de nióbio com as chamadas “vantagens eventuais” que chegam a R$ 700mil mensais.

Para um país com 12 milhões de desempregados, e milhões vivendo de subempregos e trabalhos eventuais, um servidor da Justiça exibir um provento dessa magnitude chega a ser pornográfico. Em regra geral, nas instâncias superiores, que deveriam ser exemplo, os salários ultrapassam o teto limite fixado pela própria Constituição, o que convenhamos, é contrário a Lei Maior do país.

Fossem adotados limites racionais para estes salários escandalosos, e dentro do que um país moderno pleiteia, o salário mais alto deveria caber aos professores-pesquisadores universitários em fim de carreira, com todos os títulos acadêmicos possíveis incorporados.

Os altíssimos salários não explicam o gasto com o funcionalismo que, só neste ano, consumirá R$ 161 bilhões e nem explicam também a crise econômica atual atravessada pelo Brasil. O que nos distancia de uma República ideal é a preguiça de mudar e os interesses em manter as coisas como estão.

A frase que não foi pronunciada

“Não!”

Possível resposta de organizadores ao aluno que perguntou: “Eu posso não querer ocupar a UnB?”

Votação

» No Gama, foram 60 votos a favor e 378 contra a ocupação nas universidades.

Vicente Pires

» Os moradores de Vicente Pires — bairro que abriga 90 mil pessoas — estão preocupados com a ameaça de desativação do único Posto de Saúde da cidade. É que a Secretaria de Saúde está há 20 meses sem pagar o aluguel do posto, os telefones estão cortados por falta de pagamento e a diretora Regina foi exonerada, além dos demais profissionais serem obrigados a prestar serviços em hospitais. A revolta é geral. Com a palavra o governador Rollemberg.

Efeito

» Alexandre Zaghetto, professor da UnB, peitou. Deu aula ao ar livre, já que as salas estavam ocupadas por quem não quer estudar. Alunos não faltaram! O mesmo aconteceu no Departamento de Música. Aulas debaixo das árvores. Pelo menos para alguma coisa esse movimento serviu! Sair da mesmice é ótimo!

Prevenção

» II Fórum Ser Homem no Brasil — Um novo olhar sobre a saúde, acesso e tratamento ao homem com câncer. O oncologista Igor Morbeck participou do encontro, representando o Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês — Unidade Brasília. O encontro foi promovido pelo Instituto Lado a Lado pela Vida. Em pauta, a prevenção de tumores masculinos. O evento teve o apoio do Senado Federal e reuniu parlamentares, governantes, representantes do Ministério da Saúde, população e profissionais da área. O evento foi realizado no auditório Senador Antônio Carlos Magalhães, Interlegis, do Senado.

História de Brasília

Veio, depois, a construção. Dois prédios, um de tevê e outro de jornal. As fiscalizações semanais. O desespero do nosso Nereu Bastos, e a preocupação do dr. Edilson Varela. (Publicado em 15/9/1961)

Panelinhas de pressão

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com Circe Cunha com MAMFIL

No jargão popular, panelinha significa grupelho fechado de pessoas que se juntam para atingir determinados objetivos e alijar aqueles que não comungam de suas ideias e intenções. Normalmente, as panelinhas se concentram e se formam em torno de alguém que possui algum grau de mando ou ocupa qualquer cargo de relevo, quer na máquina pública, quer na iniciativa privada. No mundo político as panelinhas se formam em torno daquelas lideranças mais poderosas e normalmente compõem o que chamam de base de apoio. No serviço público é denominada panelinha o ajuntamento de funcionários menos graduados em torno do chefe do setor, formando uma espécie de clube fechado, onde só é permitido entrar quem comunga das mesmas ideias e tem as mesmas intenções.

Onde quer que existam as panelinhas – e existem muitas – o objetivo é sempre o mesmo e nunca é feito dentro dos princípios da ética. No popular é chamado de roda de puxa-sacos, composta sempre de pessoas que se utilizam da proximidade de alguém influente, a quem rendem falsos salamaleques, para obter vantagens, mesmo às custas de prejudicar outras pessoas. Normalmente, as panelinhas são compostas de pessoas que, no íntimo, não acreditam na própria capacidade e talento, necessitando, para seu sucesso, de outra pessoa que é usada como simples degrau para sua escalada. Infelizmente, as panelinhas estão presentes em toda e qualquer atividade humana onde haja competição.

No mundo das artes, onde a maioria das pessoas acredita existir a paz de anjos banhados pela luz da inspiração, as panelinhas se formam com mais energia. Grupos fechados em reuniões, exposições, mostras e muita coincidência nos concursos para escolha de pinturas e esculturas com os nomes de sempre. Não é por outra razão que vemos a repetição de nomes, em todas as atividades de grande monta que são organizadas e apresentada à sociedade.

É como se existissem apenas determinados artistas, num universo que na realidade é muito mais amplo do que parece. Não por outra razão que, por toda a cidade, repetem-se, de forma monótona, obras com as mesmas assinaturas como se não houvessem muitíssimos outros talentos do mesmo calibre ou superiores. Foi uma lei do ex-senador Gim Argello que obrigou todo prédio público a dar uma oportunidade para os artistas plásticos da cidade. Mas passeando pela capital, nota-se que trata-se de uma arte padrão, contrariando a iniciativa da lei e a própria origem da arte. Criatividade, novos pensamentos, originalidade e, acima de tudo, solidariedade.

A formação de panelinhas oficiais, ao prejudicar os talentos preteridos, afasta do grande público todos aqueles que, por razões de foro íntimo, se recusam a participar de clubinhos fechados e preferem manter-se à margem dessa prática. Perde Brasília, perdem os que gostariam de viver da arte.

A frase que foi pronunciada

“A arte diz o indizível, exprime o inexprimível, traduz o intraduzível.”

Leonardo da Vinci

Retardatários

» Correria na Câmara dos Deputados para a votação da Lei de Responsabilidade Educacional. Uma lei com esse teor é uma das exigências do Plano Nacional de Educação (PNE – Lei 13.005/14). Dois anos depois de aprovada, interesses diversos não permitem que a lei seja votada.

Nova pauta — dignidade

» Antes de se preocupar com fim dos corredores para motos e legalização do Uber, os parlamentares deveriam se reunir na comissão especial da Câmara dos Deputados, que discute o novo Código de Trânsito, para proibir em todo o país que trabalhadores exerçam a profissão pendurados atrás de um caminhão, com o rosto voltado para o lixo e tendo como única segurança as mãos, nem sempre com luvas, agarradas a uma barra de ferro enquanto lutam contra o sono e contra o enjoo.

Ponteiros

» Essa história de Brasília publicada na coluna do Ari é a prova maior de que o tempo passa e os problemas não mudam. Olhem a situação de hoje e a historinha publicada há 55 anos. Comentário do amigo Felipe de Mattos.

História de Brasília

Plano de Obras. Já está pronto. Falta dinheiro para executar. Era de 17 bilhões. O sr. Jânio Quadros reduziu para 13 bilhões. Veio, depois, nova ordem para 9 bilhões. Agora, querem reduzir para sete. Com sete bilhões, mal se pagarão as dívidas da Novacap, que são de 5 bilhões. (Publicado em 17/9/1961)

Bancada do bem

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Com a ocupação de escolas do ensino médio e agora das universidades públicas pelos alunos em todo o país, vai ficando claro para toda a sociedade que o governo, por mais melindrado e preocupado que esteja com essa questão, está, literalmente, de mãos amarradas, impossibilitado de dar resposta satisfatória para os manifestantes, mesmo ciente dos enormes prejuízos que as ocupações acarretam para todos. A razão dessa imobilidade e cautela do governo tem uma explicação singela e ao mesmo tempo complexa: os estudantes, de modo geral, têm ocupado espaço que naturalmente lhes pertence e, portanto, agem dentro de território próprio. Essa espécie de imunidade extraterritorial conferida aos estabelecimentos de ensino é fundamental para o livre exercício da docência, dentro dos preceitos democráticos que arduamente perseguimos.

A escola, por sua própria definição, pertence a um mundo à parte, situada no território das ideias, da experimentação. Estado nenhum do planeta pode almejar o futuro se prescindir da preparação de seus cidadãos. Da mesma forma, todo e qualquer Estado democrático de direito que se preze tem o dever de assegurar, entre os itens que compõem as qualidades de um bom ensino, o livre pensar.

Infelizmente, as fotos publicadas na edição do CB desta semana mostraram alunos encapuzados acenando sobre o telhado da Reitoria da UnB, o que fez lembrar as imagens das muitas rebeliões de presos nas penitenciárias do país, onde os detentos sobem nas coberturas, para demonstrar que dominaram o território. É sabido que toda a manifestação é, em si, um ato político, passível, portanto, de tratamento eminentemente político.

No caso das ocupações das escolas de ensino médio e das universidades, o mote dos protestos tem sido as PECs da reforma do ensino médio e da limitação dos gastos públicos. Parece certo que o governo não tem intenção de recuar nas duas propostas, que, inclusive, contam com o apoio da maioria dos políticos. Também os alunos, principalmente nas universidades, parecem dispostos a não recuar de suas posições. Criado o impasse entre a liberdade de pensar e as imposições obrigatórias e legais que cabem ao Estado, resta à sociedade, situada nessa fronteira, assistir ao embate entre o futuro, que não se sabe ao certo como virá, e o presente, representado por um governo recém-chegado ao poder de forma pouco usual. Todo o cuidado é pouco para tratar do assunto.

O que está em cena talvez seja o primeiro e maior desafio da era Temer. Para os estudantes metidos nesse impasse político, talvez a solução esteja justamente em pelejar com as mesmas armas dos políticos, por meio — quem sabe? — da formação de uma base ampla no Congresso em favor do ensino, com a confecção de uma bancada da educação, a exemplo de outras bancadas de pressão que agem dentro do Legislativo. Se a questão é política, melhor agir no âmbito do parlamento. Enquanto isso não se concretiza, melhor liberar as escolas, perdendo uma primeira batalha, mas se preparando adequadamente para a guerra no foro próprio.

» A frase que não foi pronunciada

“Gente! Alguém sabe o que que é família?”

Pedrinho, em 2066.

Sem caráter

» Prova maior da encenação nas ocupações dos locais de ensino público são os líderes xingando e provocando os repórteres filmando com o celular em punho. Mostram descaradamente a má-fé na intenção.

Identidade

» Eliana Calmon foi homenageada pela passagem do aniversário por vários admiradores. Em conversas no cafezinho do Senado, da mesa ao lado, ouviu-se. Eliana Calmon é uma espécie de Sérgio Moro de saia.

Para todos

» Imprensa anuncia o absurdo de moradora de Samambaia que cerca a calçada impedindo o trânsito de pedestres. Mais perto da sede dos jornais, estão casas por todos os lados que fazem o mesmo e a Agefiz nunca conseguiu manter o padrão. No Lago Norte, o avanço deixou os postes no meio das calçadas. Culparam a CEB.

» História de Brasília

Ontem cedo, o general Pedro Geraldo estava no Palácio do Planalto, apresentando as despedidas que não pôde fazer no dia da renúncia. Cordial, cortês, explicou para a imprensa por que tantas vezes não foi o mesmo amigo daquela hora. Homem bom. ()Publicado em 29/8/1961

Ordem progresso

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Desde 1960

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com Circe Cunha e MAMFIL

Mudam-se os tempos ,mudam-se as vontades. Os grandes figurões da República que até ontem davam as cartas de nariz empinado vão saindo aos poucos de cena. A maioria, escoltada pela polícia que foi buscá-la em casa dormindo ou na sede de seus partidos, ainda atabalhoada ,tentando se desvencilhar das derradeiras provas comprometedoras. Neste tempo bicudo ,marcado pelo vaivém de agentes da lei, o que os brasileiros vão assistindo ao vivo e em cores é o desmanchar de um grande edifício, solapado pelo desgaste profundo de suas bases éticas. Em tempos assim, melhor não perder o que resta de compostura diante das lentes, quem sabe simulando as algemas de aço no pulso, sob o casaco de cara grife ou da estola de pele fina.Mesmo perfilado em fila indiana, com as mãos para trás feito meninos travessos, melhor escancarar os dentes para as câmeras, num sorriso que transpareça que nada demais está acontecendo. É tudo um grande engano. São apenas suspeitas infundadas. As notas oficiais, prontamente apresentadas pelos literalmente caríssimos advogados de defesa, repetem a mesma toada, tudo não passa de ilações infundadas, assacadas contra a honra desses nobilíssimos brasileiros. Em situações tão inusitadas como essas, melhor ainda é cuidar o quanto antes da construção coletiva de uma narrativa crível, capaz de seduzir o maior número possível de fiéis. Depois do golpe, a fantasia que melhor cabe vestir em público agora é a de perseguidos políticos, cassados por uma elite perversa, encastelada no Judiciário e que não tolera quem ousa se colocar ao lado dos menos favorecidos. Outra narrativa, confeccionada sob medida, que urge propagar aos quatro ventos para justificar o dilúvio, é o do fim de um ciclo virtuoso, no qual os pobres tiveram voz pela primeira vez. Esse ciclo agora, dizem em uníssono, será ocupado, novamente, pela mesma direita insensível que vem governando a América Latina e o país há séculos. Todo o Continente está sendo varrido por uma onda avassaladora composta por uma direita conservadora e pérfida. Feitas as construções das novíssimas verdades do partido, e ainda de acordo com cartilha escrita pelos donos dessas mesmas legendas, resta esperar que versões se espalhem como penas ao vento. Sem as narrativas providenciais, ditas sem pudor, todo o espetáculo pareceria o que é: o epílogo de uma história, em que a polícia chegou e acabou com a festança, prendendo todos os presentes, inclusive o sanfonista cego, que jura não ter visto nem ouvido nada.

A frase que não foi pronunciada

“Há pegadas que nos levam para um Brasil melhor.”

Pensamento do juiz Sergio Moro

Pulso firme

» Em tempos de crise, algumas pessoas se destacam pela coragem. Esse é o caso do diretor do Centro Educacional do Lago Norte, Jorge Ary Marques da Silva. Ele informou aos estudantes grevistas que a escola não seria ocupada por dois motivos: primeiro porque os alunos foram absolutamente contra a ocupação, opinião dada por meio de votação, e segundo, não podia permitir que menores de idade acampassem sem a permissão dos pais.

Lazer

»Toda quarta-feira, os moradores do CA Norte se encontram-no estacionamento próximo ao Banco do Brasil .No fim das contas, a reunião dos food trucks serve para lanchar por um preço mais atrativo e deixar o celular de lado.Uma boa opção para quem tem saudades de conversar tête-à-tête.

Conhecimento

» STF, STJ e TSE poderiam melhorar como anfitriões da sociedade. A falta de bibliotecas na cidade faz com que os órgãos públicos sejam a alternativa para os concurseiros. Infelizmente, as portas das bibliotecas das Cortes citadas só abrem para o público externo ao meio dia.

Chega!

» Se os bailes tipo pancadões e festas rave são claros ambientes de consumo de drogas ilícitas, o que está faltando para acabar com a folia? Pelos decibéis fora do padrão, o local é facilmente localizável.

Caos e perigo

»Depois de um acidente por alta velocidade no balão entre o Setor de Mansões e o Paranoá, uma placa de sinalização inscrita “Pare” foi derrubada.Meses após o ocorrido, nova placa foi instalada, mas no sentido errada da via. O resultado é que os motoristas que tinham a preferência têm que parar.

Violência é coisa nossa

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com Circe Cunha com MAMFIL

Em um país em que a cada 9 minutos uma pessoa é assassinada, não chega a ser surpresa o resultado do levantamento feito pelo Datafolha, a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostrando que 57% da população defende a afirmação “Bandido bom é bandido morto”. No quesito violência, Brasília não fica atrás, pelo contrário, lidera. De acordo com o chamado Atlas da Violência 2016, a capital registra, em média, dois assassinatos por dia. Uma taxa de 33,1 casos para cada grupo de 100 mil habitantes, acima da média nacional, que é de 29. Na região metropolitana, a violência é ainda maior, atingindo uma taxa de homicídio de 51,6 em cada 100 mil moradores.

Dados de 2014 indicam que ocorreram 950 assassinatos no Distrito Federal, ou seja, 80 mortes por mês, a maior parte por arma da fogo. A intensidade dos casos de violência nos últimos anos deu ao Brasil o título de país mais violento do mundo. De acordo com a ONG Vison of Humanity, o Brasil ocupa a 105ª posição entre 163 países pesquisados, quando o quesito é nação pacífica. Ou seja, estamos na rabeira.

Para os pesquisadores, entre os fatores que levaram nosso país a essa situação de anormalidade estão os escândalos de corrupção generalizados. Chegamos a tal ponto de desorganização do Estado que hoje é possível afirmar que de cada 10 brasileiros, seis querem a eliminação pura e simples dos bandidos. É possível que, com os atuais números dessas pesquisas, o Brasil venha, num futuro próximo, a adotar a pena de morte para criminosos. Faltando apenas consultar a população a respeito.

Para muitos especialistas, entre as principais causas no aumento da violência, estão aquelas relacionadas justamente com a corrupção que tomou conta do aparelho do Estado. Um Estado corrupto induz uma sociedade corrupta e violenta. A explicação é simples: a corrupção nos três Poderes, como frequentemente divulgado nos noticiários, ao criar um sentimento generalizado de insegurança jurídica, induz não só uma descrença no governo, como também o cometimento de atos ilegais, inclusive, atos de violência.

O exemplo, em todos os países do mundo, vem de cima, do comportamento exemplar dos membros do governo. O sonho de muito bandido pé de chinelo e vir a se tornar figurão na República, de preferência de colarinho branco, e foro privilegiado.

A frase que não foi pronunciada

“A Polícia Federal deu a dica para todos os políticos e empresários que quiserem evitar o constrangimento de uma prisão. Basta dizer não à corrupção!”

Nas entrelinhas

Navegando

» Basta sair do país para atestar o abuso das operadoras que fornecem sinais ou velocidade de Internet aqui no Brasil. Com velocidade de carregamento e de transferência sofrível e preços estratosféricos, é uma prova certa de que o brasileiro vai continuar sendo explorado enquanto for complacente com serviço de má qualidade.

Em breve

» Acabou de ser votada e aprovada pela Comissão de Segurança Pública na Câmara dos Deputados uma novidade. As penitenciárias no Brasil podem ter equipamentos de filmagem e microfones.

Release

» Vai até 7 de novembro a campanha “Bem-estar é melhor que remédio”, capitaneada por Gilcilene Chaer do Conselho Regional de Farmácia do DF (CRF-DF). Trata-se da arrecadação de lenços de cabeça que serão doados à Rede Feminina de Combate ao Câncer. Colorir e contribuir com o Dia Mundial Outubro Rosa. Entrega nas redes Drogaria Pacheco, DrogaFuji, Farmácias Pague Menos e Drogaria Rosário.

Campus Day

» Versão reduzida de evento mundial tecnológico de inovação começa em 5 de novembro em Brasília, no Centro de Convençoes Ulysses Guimarães , das 14h às 22h. Entre os destaques, estão Joseph Olin, que é um dos responsáveis pelo lançamento da franquia Tom Raider, e o professor Dado Schneider, que traz a sua aclamada palestra muda. Mais informações no site: http://campuse.ro/events/campus-day-Brasilia.

História de Brasília

Comissão de Inquérito para ouvi-lo é tolice. Ele falará de qualquer jeito, em qualquer época, e o que ele disser é o que a Câmara terá que acreditar mesmo. (Publicado em 16/9/1961)

UnB ocupada

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Sob o pretexto de marcar posição contrária à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, que limita as despesas primárias da União, os assim chamados estudantes, encabrestrados e abduzidos pelo o que ainda restou da esquerda populista e irresponsável que devastou o Brasil nos últimos anos, resolveram, por minoria irrisória e em assembleias armadas para esse propósito, paralisar totalmente o funcionamento da Universidade de Brasília, uma das maiores instituições públicas de ensino superior do país. A mobilização, que começou no início da semana, foi decidida por uma Comissão Eleitoral (cujo poderes se limitam à realização do processo eleitoral) por um quórum de 1.434 universitários presentes, na contramão do que determina algumas cláusulas contidas no próprio Estatuto do DCE, que estabelece um quórum mínimo de 1.458 estudantes.

Com isso, 48.605 estudantes, muitos em fase de conclusão de curso, ficam impedidos de assistir às aulas ou mesmo transitar livremente por algumas áreas da universidade que foram ocupadas e vigiadas por esses grupos. De acordo com o movimento intitulado Reação Universitária e que vem se posicionando contra a paralisação dos trabalhos na UnB, o próprio DCE, diante das repercussões negativas das ocupações, lavou as mãos, sob o argumento de que o movimento estudantil tem vida própria e independência legítima para agir. “O que vemos acontecer na Universidade de Brasília dizem os representantes do movimento contrário às paralisações é a imposição de uma agenda política de uma minoria raivosa que não pensa duas vezes em fazer o que for preciso — rasgar o Estatuto do DCE, constranger alunos e professores, adotar táticas de ação típicas de grupos nazifascistas — para que sua vontade prevaleça sobre toda a comunidade acadêmica. Para eles, os fins justificam os meios. Para eles, só o que importa é que se façam suas vontades, uma vez que vivem na perigosa ilusão de serem arautos da justiça social, paladinos progressistas, o que lhes confere superioridade moral que os coloca além do bem e do mal”.

Por trás dessas minorias que agem para parar a universidade, está a União Nacional dos Estudantes (UNE), outrora autêntica e independente, mas que nos últimos 13 anos, graças à fartura de dinheiro público que irriga seus cofres, se transmutou em mais uma das muitas franjas do Partido dos Trabalhadores, assim como a CUT e o MST, caladas e obedientes.

Fossem consultados os contribuintes que arcam com as despesas para manter em funcionamento esta e outras universidades públicas pelo país afora, com certeza as interrupções na vida acadêmica não seriam toleradas. Fosse pedido ainda a cada um desses nobres ocupantes que listassem numa folha branca os motivos que os levaram a decretar a paralisação da universidade, muitos, simplesmente, não preencheriam uma linha sequer, pois não saberiam escrever sobre o assunto, já que não se deram ao trabalho de pensar com inteligência e autonomia a respeito.

A frase que não foi pronunciada:

“ Nossa ideologia é rir para não chorar.”

Grupo Mamonas Assassinas traduzindo a complacência do povo brasileiro.

Por onde?

» DAJ- 0149 é a placa de uma Van tresloucada a caminho do Paranoá que passou nas barreiras eletrônicas em alta velocidade fugindo da multa pelo acostamento, quase atropelando mãe e criança. Ultrapassagens perigosas colocando em risco dezenas de vida. Por onde andava o Detran?

Agenda

» Atenção ex-alunos do Rosário. Grande encontro agendado para 10 de dezembro, entre as 16h e as 20h, lá mesmo. Camila Gomes organiza o encontrão no Centro Educacional Nossa Senhora do Rosário, fundado em 1959. “Todos juntos sempre!” é o lema levado para o WhatsApp e Facebook.

Tristeza

» Dia de Finados é sempre dia de pensar nos vivos que recebem muito dinheiro para cuidar dos mortos. O cemitério de Brasília visto no geral parece conservado. Ao se aproximar das lápides, tampos quebrados, mato por todos os lados. Cada um cuide dos seus.

Falta de pulso

» No Senado, os funcionários são obrigados a registrar a presença por ponto eletrônico. Na Câmara dos Deputados, ainda não. Nos hospitais públicos e postos de saúde também não. Falta verba?

História de Brasília

Elói Dutra, na Câmara, diz o que todos os deputados gostariam de dizer e não têm coragem. (Publicado em 29/8/1961)

O longo caminho para a democracia

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Há 2.500 anos, Buda ensinava que o percurso para a evolução de cada indivíduo deveria ser trilhado pelo caminho do meio, longe dos extremismos. Ditado antigo, mas ainda hoje corrente em Portugal, aconselha: “Nem tanta fome ao pão nem tanta sede ao vinho”. Transpostos para o mundo da política, no qual a virtude não se confunde necessariamente com a ética, temos que o ponto de equilíbrio entre a esquerda raivosa e a direita saudosista dos idos de 1964 é dado pelos partidos que orbitam o centro.

No Brasil, contudo, as legendas que pairam a meio caminho não o fazem por razões de equilíbrio ou de apaziguamento das tensões, mas por motivos puramente pragmáticos. Para onde o vento soprar é para onde as legendas neutras hão de navegar, não importando quem esteja no leme. Não é por outra razão que esses partidos vêm saindo quase incólumes das crises políticas. Para se manter nesse estado de morto-vivos, as siglas, inclusive, abriram mão de lançar candidatos à Presidência da República em muitas oportunidades, esperando tranquilamente a chegada do novo hospedeiro eleito.

Aliás, o próprio PT se distanciou tanto de suas raízes que bastou um pouco mais de uma década no poder para se desgastar a ponto de praticamente desaparecer nesta última eleição. O que mantém a legenda ainda respirando são alguns correligionários que tomaram a sigla como uma espécie de religião, em que não cabem mais análises racionais. Para esses crédulos, quem perdeu de fato nas últimas eleições não foi a legenda, mas a população. Tanto o caminho do meio quanto o caminho marginal à esquerda adotado pelo PT se revelaram uma falsa trilha rumo à democracia e explicam por que ainda é longa a estrada a percorrer até que a sociedade se veja abrigada em bom porto. De uma coisa já podemos ter absoluta certeza: precisamos de novas naus para chegarmos lá.

A frase que foi pronunciada

“É necessário cuidar da ética para não anestesiarmos a nossa consciência e começarmos a achar que tudo é normal.”

Mario Sergio Cortella

Lançamento

» Na sexta-feira, dia 4, a partir das 19h, no Carpe Diem, na 104 Sul, o coronel Reinaldo Correia Moreira vai lançar a edição revisada do livro de sua autoria: Amazônia, terrivelmente bela. A renda do evento irá para o Instituto Chamaeleon” que desde 2007 apoia o pessoal local.

Pedra funcamental

» O vice-presidente de Angola, Manuel Domingos Vicente, o ministro de Relações Exteriores de Angola, Georges Chikoti, e o embaixador de Angola, Nelson Cosme, lançaram, com a presença do governador Rodrigo Rollemberg, a pedra fundamental da Embaixada de Angola em Brasília. Durante o evento foi entregue a escritura do terreno à Secretaria de Patrimônio da União.

Oportunidade

» Imóveis residenciais, comerciais, urbanos, todos já com habite-se. Essa é uma oportunidade para quem quiser comprar os imóveis do BRB no DF, Goiás, São Paulo e Mato Grosso que serão vendidos em condições especiais. Cristiane Bukowitz, diretora de Gestão de Pessoas e Administração do BRB, declarou que tanto o banco quanto os compradores estarão em vantagem. De um lado, os preços competitivos, de outro, a desmobilização desse capital.

Santa Helena

» Caroline trabalha na triagem da emergência do Hospital Santa Helena. Uma pessoa carinhosa, técnica com o dom para a profissão. Ouve os pacientes, atende com cuidado genuíno. Quem é bom no que faz merece elogios.

Homenagem

» Foi a 10ª edição dos Parceiros da Imprensa, iniciativa da UnB para homenagear os professores que geraram notícias com o trabalho, pesquisa e dedicação. O convite veio pelas mãos de Tânia Fontenele.

No mínimo

» Muito bom Brasília sair na linha de frente, como as cidades civilizadas, educando pelo bolso com a cobrança de multas pesadas. Falta só a contrapartida. Se o Detran aumenta as multas, deveria pelo menos estar presente nas ruas do DF nos dias de chuva para orientar o trânsito.

Segurança

» Por falar em Detran, a entrada do SMLN, Trecho 9, na estrada do Paranoá, precisa urgentemente de uma barreira eletrônica. Ali sim, a multa serviria para proteger os motoristas. A curva é traiçoeira. Quem não conhece e corre derruba os postes, como aconteceu na semana passada e em outras semanas. Hora de mudar.

História de Brasília

Enquanto isso, a Câmara inicia mais uma comissão de inquérito que não terá fim, e proporcionará boas viagens ao estrangeiro a mais representantes do povo. É, inclusive infantil, o argumento de ouvir do próprio sr. Jânio Quadros a versão de sua renúncia, porque ele dirá o que bem entender, e dirá, certamente, alguma coisa que possa agradar o povo, mesmo que não corresponda à verdade. (Publicado em 16/9/1961)

Obviedade é coisa de criança

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DESDE 1960 »

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha com MAMFIL

Algumas boas sugestões, vindas de todo o país, bem que poderiam integrar o rol das 10 medidas de combate à corrupção apresentadas pelo MPF em tramitação na Câmara dos Deputados. Algumas das ideias de tão óbvias parecem saídas da cabeça de criança. Mas, se analisadas de perto, parecem conter remédio amargo e certo para esse mal secular que vem dizimando o Estado e o cidadão.

Melhor do que testar, a priori, a integridade do candidato a cargo público seria submeter o aprovado em concurso a exames periódicos para avaliar seu desempenho. Caso fique demonstrada a ineficiência para a função, o servidor, seria imediatamente afastado, sem traumas e sem delongas para o bem da qualidade dos serviços. Também em caso de o Brasil vir a adotar a descriminalização de drogas, como vem sendo feito em alguns países, todos os funcionários públicos e todos os ocupantes de cargo eletivo deveriam ser submetidos também a testes periódicos, para continuarem nos cargos.

Admitir a coleta ilegal de provas, como proposta pelo MPF, poderia servir apenas para direcionar e posicionar as investigações pela polícia embora não deva ser aceita como provas condenatórias perante a Justiça. Também a corrupção deveria, na opinião de muitos brasileiros, entrar para o rol de crimes de lesa-pátria, dado malefícios que causam para os cidadãos, com punições exemplares, inclusive com penas posteriores de desterro para o criminoso.

O combate aos desvios de dinheiro público deveria, segundo sugestões de muitos brasileiros, seguir, de modo claro e objetivo, a milenar Lei de Talião, atribuída ao sexto rei da Babilônia, Hamurabi (1772 a.C). Ao desvio comprovado de apenas R$ 1, deveria caber uma pena na mesma proporção com o confisco de R$ 1, mais uma multa também de R$1 e um dia de cadeia. Obviamente essa regra se estenderia, na mesma proporção para aqueles que se atreveram a roubar milhões do contribuinte. A cada real roubado equivaleria a um dia de cadeia.

No entanto, nenhuma dessas providências surtiriam o efeito desejado se não fossem reformados, também, todos os mecanismos políticos vigentes atualmente. A começar pela exigência de que os candidatos a presidente da República fossem escolhidos apenas entre aqueles com ficha limpa e que tivessem exercido anteriormente os principais cargos no Executivo como prefeito e governador e em ambos os cargos obtivessem, obrigatoriamente, avaliação positiva dos cidadãos. Dessa forma, deixaria de fora os aventureiros e todos os demais candidatos sem currículo e sem experiência.

Com a retirada do odioso foro privilegiado e com o recall automático de qualquer ocupante de cargo eletivo que não honrasse a função, estaria, na avaliação da população, aberto o caminho para a construção de um Estado mais justo e igualitário. Como dizia o povo no passado: o óbvio é ululante.

A frase que foi pronunciada:

“A corrupção dos governantes quase sempre começa com a corrupção dos seus princípios.”

Barão de Montesquieu

Corre-corre

» Ontem, foi encerrado o prazo para regularizar recursos não declarados no exterior na Receita Federal. Os bancos mais procurados foram os suíços.

Trânsito

» Qualquer simulação do Corpo de Bombeiros no Venâncio 2000 mostraria como está perigosa aquela entrada. Uma fileira de estacionamento foi criada na ladeira lateral, deixando em risco todo o prédio. O perigo existe inclusive no trânsito das duas mãos, que se tornaram via única.

Solução

» O recall do mandato de presidente foi ideia do senador Randolfe Rodrigues. “Convoque-se um referendo revogatório e o povo decide na urna a continuidade ou não do governo”, disse o senador que prepara um projeto de lei sobre o assunto.

Há tempos

» Desde o início do ano, o senador Renan Calheiros prega o respeito entre os Poderes. Em março, ele deu uma declaração depois de uma reunião com José Agripino, Lula e Sarney. Disse que, se um poder atropela o outro, estará agravando a crise institucional do país.

Saúde

» Ainda não saiu a CPI sobre os reajustes de Plano de Saúde, conforme o prometido. Os aumentos inexplicáveis e as restrições de atendimento continuam tirando os brasileiros do sério. Quem fez a promessa de CPI foi o senador Paulo Paim.

História de Brasília

Mas dirá o sr. Jânio Quadros, quando voltar ao Brasil: “Fui vítima de um país em grande desenvolvimento, mas sem a estrutura. Prefiro que me critiquem, agora, a não merecer mais a confiança do povo do Brasil”. (Publicado em 16/9/1961)

Escolas ocupadas, mentes desocupadas

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aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha com MAMFIL

De acordo com balanço divulgado pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), mais de mil escolas estão ocupadas hoje em todo o país. O mote para a tomada desses estabelecimentos de ensino é protestar contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 241/2016), que limita os gastos do governo, e também contra a a Medida Provisória (MP 746/2016), que propõe a reforma do ensino médio.

Não querendo entrar no mérito das duas propostas, que a maioria das pessoas com um pouco de lucidez acha oportuna, o que se tem com esses movimentos é o lado cruel da abdução indiscriminada de pessoas desinformadas para causas que dizem respeito apenas às estratégias ideológicas traçadas por determinados partidos, os mesmos que conduziram o país ao atual beco sem saída.

Ninguém discute o fato de que é do métier dos jovens estudantes lutar por um país diferente e melhor. Essa inclusive é a condição sine qua non para todo o progresso e evolução. Mas o que vem ocorrendo agora não passa da velha estratégia dos partidos de utilizar massa de manobra para outros fins, ou mais precisamente, a deflagração de um movimento crescente com vistas a desestabilizar o ainda governo provisório de Michel Temer.

Repórteres que tiveram a oportunidade de fazer entrevistas com esses alunos por todo o país puderam constatar que a maioria deles não sabia discorrer sobre o que trata exatamente essas duas mudanças propostas pelo atual governo e que motivaram a ocupação das escolas. Alguns, mais articulados, se limitavam a repetir chavões pré-elaborados pelos líderes dos movimentos, numa demonstração de que estavam ali apenas para fazer número e figuração.

Examinada de perto, a 241, mesmo propondo um novo regime fiscal para o país, não reduzirá os repasses para educação. De acordo com o governo, em 2016 a pasta contou com R$ 129,96 bilhões e, em 2017, esse valor será ajustado em 7%, passando para R$ 138,97 bilhões. Embora sejam valores significativos, especialistas em educação asseguraram que mais do que verbas, o que é preciso agora é de um correto plano nacional para racionalizar as despesas e eliminar desperdícios. O que muitos não sabem também é que a reforma do ensino médio tramita no Legislativo desde 1998 e já passou por diversas audiências públicas ao longo desse período. Mesmo assim, o governo não tem feito restrições a que esse assunto continue sob o foco dos debates.

O vigor e a disposição desses alunos em ocupar os prédios públicos poderiam ser direcionados para tarefas mais úteis, como a reforma física das escolas, tal como é feito em países como o Japão, onde os alunos participam da limpeza, pintura dos prédios e consertos em geral. Essa disposição também deveria ser direcionada à luta por escolas em tempo integral, como têm há anos a maioria dos países desenvolvidos.

A frase que foi pronunciada

“Quando se faz escolha pela interrupção, não é escolha fácil. É trágica sempre. É a escolha do possível dentro de uma situação extremamente difícil. A escolha é de qual é a menor dor.”

Cármen Lúcia, presidente do STF

Kit obstrução

» Os deputados federais já deram um nome para a atitude do Partido dos Trabalhadores nas votações de projetos que visam diminuir ou recuperar o estrago feito no país por incompetência, negligência, imperícia e esperteza.

Mais essa

» Em 2012 eram 105 prefeituras a menos comandadas pelo PSDB. Disse o deputado federal pelo DF, Izalci, que agora é o momento de arregaçar as mangas para corrigir o desemprego, a quebradeira e o deficit nominal de R$ 170 bilhões.

História de Brasília

Todas essas versões estão surgindo por causa do próprio sr. Jânio Quadros, que não deu a público as razões do seu gesto. Se isso tivesse feito, estaríamos, hoje, com a história já escrita, e deixariam de surgir as hipóteses mais absurdas, como têm surgido. (Publicado em 16/9/1961)