A mentira agradece pelos votos recebidos

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MAMFIL com Circe Cunha

Depois da Operação Drácon, que desbaratou verdadeiro formigueiro de saúvas do dinheiro público instalados na Mesa diretora da Câmara Legislativa, chega agora a vez da Operação Hemera (deusa da mentira na mitologia grega), que tem como alvos a dublê de deputada e pastora da igreja Ministério da Fé, Sandra Faraj, seu irmão Fadi Faraj, também pastor, espécie de papa daquela instituição. Há muito se sabe que misturar religião e política vai não só contra o preceito original que manda dar a Deus e a César o que pertence distintamente a cada um, mas na contramão do bom senso e da práxis da própria política.A sequência de casos mal explicados envolvendo líderes religiosos com cargos eletivos só não é maior do que a crença cega de fiéis e de eleitores que acreditam neles para a redenção de suas vidas. Sandra e o irmão são acusados pela polícia e pelo MP de crimes de corrupção, falsidade ideológica, uso de documentos falsos, ameaças e constrangimento de testemunhas, todos crimes muito comuns e já tornados típicos entre deputados da fé e pastores legislativos.Segundo as autoridades, caso esses crimes sejam confirmados, poderão render até 20 anos para essa dupla de espertalhões. A proliferação acelerada de seitas religiosas, de partidos políticos, de sindicatos e de ONGs nos últimos anos e a interpenetração deles na vida dos cidadãos comprova que ainda estamos anos-luz de atingir um grau de maturidade democrática ideal.

A frase que foi pronunciada
“Parar o Brasil é fácil! Até agora ninguém conseguiu fazê-lo andar!”
Lea Pia Justi, pedagoga paranaense

Enquadrar
» Alexandre Fortes, profissional da imagem, faz uma observação sobre os indígenas que merece registro: imagine como deve ser exigir demarcação de terra para um povo que nunca precisou de fronteiras.

Marco
» Desburocratizar o governo pode virar realidade com a criação do Selo de Desburocratização e Simplificação. A ideia está no projeto de lei do Senado, já aprovado na Comissão de Educação. A articulação para a aprovação dessa medida está sendo feita pelos senadores Antonio Anastasia, Ana Amélia, Ronaldo Caiado e a presidente da Comissão, senadora Lúcia Vânia.

História
» Parece que a senadora Gleisi Hoffmann não acompanhou o histórico dos políticos que usaram cocar na tribuna. Juarez Távora, que disputou a Presidência em 1955, posou com um cocar ao visitar Goiás e perdeu a eleição para Juscelino Kubitschek. Mário Andreazza recebeu um cocar do cacique Crumari, perdeu a convenção do PDS. Em 1984, Tancredo Neves pousou de cocar. Ganhou a eleição, mas morreu sem assumir o mandato. Ulysses Guimarães, Lula e Dilma também usaram. Na última quarta-feira, foi a vez da senadora Gleisi.

E mais
» A explicação é única. Se o pássaro morreu para que suas penas servissem de enfeite ao homem branco, o descendente dos europeus se arrependeria de ter se enfeitado às custas do sacrifício.

Identidade
» A Medida Provisória 776, que acabou de ser editada, trata do registro público obrigatório, desde o nascimento. Todos os dados das testemunhas devem constar na certidão de nascimento quando não houver assistência médica para o parto. Nascida, a criança receberá um número que a identificará para o resto da vida. Assinada por Michel Temer e Osmar Serraglio, a medida passou a vigorar a partir de 26 de abril.

Boa iniciativa
» Se existe um projeto que angaria a simpatia do povo, é o que implementou os restaurantes comunitários. A comida é farta, com preço justo e muito apreciada. Em algumas RAs mais de mil refeições são servidas diariamente. Em tempos de crise, alimentar a população, dando-lhe dignidade, é o melhor que o governo deve fazer. Gutemberg Gomes, secretário do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, está revigorando os restaurantes.

Lei ao léu
» Câmara dos Deputados envia ao Senado projeto que aumenta de 7 para 11 anos a idade permitida para crianças serem transportadas por moto. Óbvio que a lei só servirá para os grandes centros. A moto, que substituiu o jegue em todo o interior do país, leva até recém-nascido ao posto de saúde. Isso quando não vão os 4 da família na mesma moto. Detalhe: ninguém usa capacete.

História de Brasília
Estavam quase paralisadas as obras, por falta de dinheiro, e, da noite para o dia, apareceu o dinheiro, e as obras estão em ritmo bastante acelerado. Nenhum funcionário informa com precisão o que está acontecendo, dando a ideia de que tudo está sendo feito às escondidas, o que não é normal. (Publicado em 27/9/1961)

Ministério da Hemera

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Na sequência ininterrupta de escândalos protagonizada por integrantes da Câmara Legislativa (CLDF), desde sua criação, vão se tornando rotina também as operações de busca e apreensão feitas pela polícia e por membros do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) nas dependências daquela Casa.

A população já nem se surpreende mais com essas batidas. Desmoralizada e sem a credibilidade da população informada e atenta, a CLDF prossegue, a cada ano e por conta própria, cavando e ampliando a fossa que a separa dos brasilienses. Com isso, aumenta a certeza de muitos de que essa instituição representa, além de enorme e dispendioso estorvo para gestão pública, uma instância que cuida, sobretudo, dos interesses dos próprios deputados.

Escudados na ideia de que é impossível exercer a democracia sem a participação de personagens desse quilate e de seus núcleos políticos, o que eles têm conseguido de fato é constranger os cidadãos ao perpetuar seus desmandos e cometer crimes continuados de toda ordem. Servindo-se ainda do famigerado instituto de foro privilegiado, Suas Excelências têm abusado, além da conta, da paciência da sociedade. Essa mesma sociedade que lhes garantiu o voto, é bom lembrar.

A frase que foi pronunciada
“O Brasil é a república do cinismo!”
Reginaldo Marinho, cientista

Muito triste
» Dia do Perdão foi sancionado pela Presidência. Keiko Ota perdoou o sequestrador e assassino do filho de 8 anos. A senadora Simone Tebet declarou que a lei incentiva a solidariedade e a irmandade. Parece mais fácil para as autoridades contar com o perdão das vítimas do que instituir política pública efetiva e eficiente que resgate essa população vulnerável que não encontra alternativa oferecida pelo Estado, senão o crime.

O preço
» Se a greve fosse realmente para protestar contra o governo, teria sido organizada para o Dia do Trabalhador. O fato é que instituíram um dia a menos de trabalho, já que ninguém de livre e espontânea vontade sairia de casa para servir de massa de manobra. Passagem e alimentação de graça foram um estímulo a mais.

Outro lado
» Chegar a ponto de impedir passageiros de embarcar nos aeroportos despertou diferentes reações. Ao lado dos revoltados estavam as agrônomas Sandra Ferrer e Sirlene Morais. Elas aguardavam calmamente o desenrolar dos fatos e afirmaram que os grevistas agiam para defender os interesses da população, por isso, se precisassem passar mais um dia no aeroporto, ficariam de bom grado.

Humor
Meu irmão, já sobrevivemos a Garotinho, Rosinha, Cesar Maia, Conde, Dudu Paes. Se rolar um apocalipse nuclear, só sobra barata e carioca! De Raphael Pavan.

Sem vencimentos
» Por falar nisso, 200 mil servidores,entre ativos, aposentados e pensionistas, estão sem salário no Rio de Janeiro e 5 mil bolsistas da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) estão sem receber desde fevereiro.

Interatividade
» Senado cumpre importante papel perante a sociedade com a criação do portal de Educação Legislativa. Os cursos são gratuitos, on-line e disponíveis aos cidadãos. A coordenadora de Capacitação, Treinamento e Ensino do Instituto Legislativo Brasileiro, Simone Dourado, diz que é preciso aproximar cada vez mais o público dos serviços oferecidos pela Casa.

História de Brasília

Para o público, temos a informar isto: o prédio para onde se mudaria o Ministério é de propriedade da Comissão do Vale do Rio Doce, que é subordinada ao Ministério das Minas e Energia. (Publicado em 27/9/1961)

Lorotas lulistas

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MAMFIL com Circe Cunha

Em tempo de confissões inconfessáveis, a estratégia mais eficaz, que tem sido adotada por todos os arrolados nas denúncias de crimes, é a de acusar outras pessoas ao redor, criando, além de uma confusão generalizada, a falsa ideia de que todos são igualmente culpados e, portanto, passíveis de indulgência. A ideia central é fazer crer que, naturalmente, se formou, entre os poderes Legislativo e Executivo, uma espécie de Torre de Babel, onde ninguém mais se entendia e cada um acabou por induzir o outro ao erro, levando todos a cometerem falhas e deslizes primários.Empresários foram seduzidos por políticos, que, por sua vez, foram seduzidos por empresários, num desarranjo que acabou, acidentalmente, por drenar bilhões de reais dos cofres públicos, depois, displicentemente, distribuídos entre eles e branqueados pelos tribunais eleitorais. De dedos em riste, miram todos uns aos outros e, não raro, até ao juiz.A aprovação, pelos políticos enrolados, da Lei de Abuso de Autoridade é, de longe e até agora, a mais cristalina confissão dos crimes cometidos. Antigamente, era costume dizer que quem tem que se explicar está errado na saída. Dessa forma, quem tem muito que explicar muito implicado está. Lula fez seu pronunciamento, em forma de entrevista ao SBT, para explicar o inexplicável.

Chega a ser dolorido ter que assistir a um ex-presidente, a quem milhões confiaram cegamente e a quem o destino entregou a gigantesca missão de redimir o país, ter que esclarecer que não é dono do tríplex nem do sítio que mandou as empreiteiras reformarem, a peso de ouro, para si e sua família. Para não fugir à tática comum a todos, acusou o Ministério Público de ter mentido. “Se eles mentiram e não têm como sair da mentira, o problema é deles, e não meu”, afirmou Lula.Pelo que se conhece, essa é primeira vez na história republicana que um presidente tem que vir a público para dar explicações constrangedoras sobre sua conduta ética. Para quem conhece o ex-presidente de perto, esse é apenas o desdobramento natural de um comportamento persistente desde os tempos de sindicalista. “Lula, dizem, sempre levou vantagem em tudo, até nas pequenas negociações feitas entre patrões e empregados no ABC.”Esperto como sempre, Lula usou o alcance da emissora de Sílvio Santos para, no melhor estilo palanqueiro, reforçar a tese de que as acusações do Ministério Público fazem parte de um grande complô para tirá-lo da disputa em 2018. “Eu vou ter condições jurídicas de ser candidato, porque não há nenhuma razão jurídica para evitar que eu seja candidato.” Aí seria melhor eles terem coragem de dizer o seguinte: “Olha, vamos dar o segundo golpe nesse país e não haverá eleições em 2018”, afirmou o prestidigitador político de Garanhuns.

A frase que foi pronunciada

“Aqui se paga, aqui se faz!”

Conversa entre político e empreiteiro

Instigante
Quem estava perto dos índios no Congresso viu cenas pitorescas. Barbados de punho fechado defendendo os silvícolas e índios com celular assistindo tudo de uma Hylux. Há muitas entrelinhas nessas cenas.

Aprova já!
Um projeto que o governador e a população de Brasília aguarda ser votado trata da definição de critérios de medição do desempenho funcional do servidor público. O que se pretende é estabelecer regras claras para atender o que a Lei Orgânica determina e estimular o melhor desempenho do serviço público e, consequentemente, a melhoria da qualidade do atendimento prestado à população. Pergunta que não quer calar: O serviço público é composto por agente público e servidor, certo?

Bravo!
Nossa Luisa Francesconi continua brilhando. Dessa vez, na Argentina. “Inciranazione di Poppea”, no Teatro Coliseo. Sucesso de sempre.

Arrepios
Por falar em música, um estudo da Universidade de Harvard examina o cérebro de pessoas que se arrepiam com música. Só a metade da população tem essa capacidade. O trabalho científico de Matthew Sachs foi publicado em entrevista no The Guardian dada ao repórter Ian Sample.

História de Brasília
O ministro Gabriel Passos precisa ser esclarecido quanto ao que está acontecendo no seu ministério. A mudança para a Asa Norte do Ministério das Minas e Energia não deve se realizar, porque seria o desvirtuamento do Plano Piloto.(Publicado em 27/09/1961)

Grevismo e lulismo

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Nesta altura dos acontecimentos, depois de anos de uma sequência quase ininterrupta de manifestações, paralisações e greves de toda ordem, grande parte da população começa a encarar com mais prudência e desconfiança a repetição dessas estratégias de protesto que, ao fim ao cabo, tem servido, desde sempre, para atender aos interesses políticos de restritos grupos sindicais e seus partidos matrizes. Sob o argumento de protestar contra as reformas previdenciária e trabalhista em andamento no Congresso, algumas centrais sindicais, tendo a Central Única dos Trabalhadores (CUT) à frente e com o apoio de entidades como a União Nacional dos Estudantes (UNE), o Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) e outras organizações de trabalhadores prometem paralisar o país amanhã.
Obviamente que o mote da greve geral esconde a verdadeira intenção desses organismos — a defesa do ex-presidente Lula, convocado a seguir para depor diante do juiz Sérgio Moro, em Curitiba. Trata-se da materialização do exército Brancaleone prometida publicamente por seus próceres em diversas ocasiões. A falta flagrante de combatentes dispostos a defender Lula de peito aberto será contornada com a convocação de trabalhadores usados agora como massa de manobra para dar a falsa impressão de que o ex-presidente ainda conta com grande apoio popular.
O que os organizadores esperam de fato é atrair grande público para criticar e até mesmo ameaçar qualquer tentativa da Justiça de enquadrar Lula e sua turma. Os protestos contra as reformas, consideradas ainda mais amenas do que de fato seriam necessárias para tirar o país do atraso nas relações trabalhistas e de uma eminente falência do sistema previdenciário, ficarão, claro, como pano de fundo.A pista para chegar à conclusão de que a greve tem um objetivo específico de apoio ao ex-presidente vem sendo dada há alguns dias pelos próprios meios de comunicação das esquerdas radicais que, em diversas publicações que circulam pelas metrópoles brasileiras, têm afirmado, sem subterfúgios, que a intenção é tentar impedir a prisão de Lula, dada como certa por muitos juristas.Os discursos que naturalmente se seguirão diante das maiores concentrações de público poderão reforçar a tese de que se trata de fato de protesto organizado pelos que são contra as mudanças que o Brasil requer e precisam ser iniciadas já, pela extirpação total e apartidária da corrupção, que nos mantém eternamente acorrentados ao passado.

A frase que não foi pronunciada

“Há algo não podre o Reino do Brasil?”

Waldimir Marreta, na Internet

E aí?
» Por enquanto, não há mostras de que o sacrifício imposto à população do DF no que se refere ao racionamento de água tenha dado resultados. Agora é esperar o aumento da conta.

Triste
» Morre o jornalista, professor e advogado Carlos Chagas, aos 79 anos. Nosso amigo e colega. Nossa profissão perde.

Caixinha
» Por falar em conta d´água, todos concordamos que a Caesb realmente tem como missão, neste momento, economizar a água que ela não soube administrar. Se é esse mesmo o caso, qual a razão de condenar o aparelho que retira o ar do encanamento?

Vale a pena
» Portas abertas do teatro Sesc Silvio Barbato no Setor Comercial Sul. O Clube da Bossa Nova e o Sesc convidam Brasília para o dia 29, neste sábado, às 11h30. O horário é um diferencial para quem não gosta de sair à noite. Só música boa.

História de Brasília

Vejam que minha vizinha aí do lado não quer mais a rosa mais linda. Agora, é uma reivindicação de todos nós.(Publicada em 26.9.1961)

O mar reflete o céu

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Fica cada vez mais difícil distinguir o comportamento e o desempenho criminoso dos indivíduos que ocupam os estamentos situados nos extremos verticais da pirâmide social. O que está em cima repete o que está em baixo e vice-versa. A diferença é, sobretudo, quanto ao volume do que é surrupiado, os métodos usados nos assaltos e as punições que cabem a cada um. Há muito se sabe que os extremos se tocam em muitos pontos e, em nosso caso, tem andado de mãos dadas, tamanha é a onda de criminalidade que vem tomando conta do país. Rouba-se de cima a baixo das mesmas vítimas de sempre. Assaltado por todos os lados, o cidadão de bem não encontra para onde recorrer. Em muitos casos, para quem pode, a saída é o aeroporto, com passagem só de ida.

A maior prova de que está definitivamente estabelecida a confusão nesta Babel Brasil pode ser comprovada na leitura dos jornais diários e na observação das fotos estampadas que ilustram cada assunto. Ao lado de políticos e empresários renomados, apanhados com as mãos e os pés nas propinas gordas, o que se vê, no mesmo formato e cores, são chefes de organizações criminosas de todo o tipo, com o sorriso cúmplice e sinistro no canto da boca.

Em alguns jornais, a confusão de personagens é de tal ordem que chega a parecer uma situação surreal. Nesses tempos sombrios, periódicos de grande visibilidade nacional estampam, na mesma edição, fotos mostrando o ex-governador Sérgio Cabral e seu fiel escudeiro Eike Batista, com a legenda afirmando que a Justiça do Rio de Janeiro pretende leiloar bens da dupla avaliados em R$ 1 bilhão para ressarcir os contribuintes e o estado à beira da falência completa.

Alguns centímetros ao lado, aparecem, nos jornais comuns, crimes, na maioria das vezes, impunes. Baralhadas as imagens e os assuntos, o que se obtém são indivíduos do mesmo calibre ético e moral, para quem as oportunidades e a impunidade favoreceram seus negócios e seus futuros. Nesses dias de revelações, o onipresente Marcelo Odebrecht ocupa as manchetes ao lado de Marcola, chefão do PCC. Curioso como até fisicamente os dois se parecem. Seriam irmão siameses separados ao nascer?

Num senso de oportunismo afinado com nosso tempo, o chefão do PCC mandou imprimir um estatuto contendo um código de direito da organização e uma cartilha, para ser lida e seguida por toda comunidade criminosa que vive às expensas da gangue. Ao fim e ao cabo, trata-se de um código de ética semelhante àqueles que os empresários são obrigados a seguir. A diferença é que as empresas do submundo não gostam de negociar com os políticos, para não ficarem em desvantagem. São, assim, os dois lados de um mesmo Brasil, que tem na população encurralada, sua vítima predileta.

A frase que foi pronunciada
“…os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. — Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: esses sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.”

Padre Antônio Vieira, in Sermão do Bom Ladrão, 1655

Carta
» Primeiro, Requião investiu em uma campanha avassaladora contra o Orestes Quércia. Tempos depois, um encontro entre os dois mudou tudo. Viraram melhores amigos. Quem lembra? Pergunta o leitor.

De olho
» Raquel Elias Dodge, subprocuradora-geral da República, sugere a mudança da equipe de Janot. Estranhas iniciativas, estranhas atitudes.

Fogo
» Novamente, entre o Cresspon e o Minas Brasília Tênis Clube, uma queimada misteriosa incomoda quem fica perto da área.

Zero fiscalização
» Rádios Comunitárias do DF, que deveriam ser sem fins lucrativos, têm mostrado ganhos pela publicidade que vai ao ar. Estranho.

Imperdível
» A morte inventada é filme que trata da alienação parental. Crianças que percebem a mentira nos pais e passam a ter a espontaneidade afetiva comprometida tendo, a partir daí, dificuldades para estabelecer vínculos com outras pessoas.

História de Brasília
Logo mais na TV Brasília, às 21h30, comentaremos o absurdo que está planejando o Ministério das Minas e Energia, querendo se mudar da Esplanada dos Ministérios para um prédio da Asa Norte, que seria comprado por 600 milhões, e não há tanta segurança em sua estrutura como é de se desejar. (Publicado em 26/9/1961)

Dinheiro sem lei

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Passadas mais de duas décadas da emancipação política da capital, a população do Distrito Federal teve tempo, mais do que suficiente, para aferir os resultados do modelo. Mais do que sentir os efeitos morais nas manchetes diárias que estampam escândalos seguidos, a população pode constatar, no próprio bolso, a repercussão do sistema de gestão que amarrou políticos de variados matizes ideológicos ao dinheiro do contribuinte.A superestrutura que foi criada para acomodar os novos ocupantes eleitos nos poderes Legislativo e Executivo, antes mesmo de apresentar qualquer avanço significativo na melhora de vida da população, provocou, isso sim, uma hemorragia de tal intensidade nos recursos públicos que o DF vive hoje situação falimentar, semelhante a outras unidades da Federação. A situação só não se tornou calamitosa ainda graças aos repasses dos fundos constitucionais que a União é obrigada a fazer para cobrir a folha de pagamento da segurança, educação e saúde.Mas com o encolhimento acentuado dos recursos do contribuinte brasileiro e o aumento das despesas locais, a situação tende a piorar. Para esse ano, só para os gastos com a folha de pagamento da segurança pública serão destinados 68% dos recursos do Fundo Constitucional, o que, obviamente, afetará as áreas de saúde e de educação. A questão maior não é com o dinheiro curto do orçamento diminuído por razão da crise econômica. O problema maior continua sendo a má gestão e os desvios do dinheiro do contribuinte.

O direcionamento dos recursos públicos para a construção de verdadeiros elefantes brancos, como o Estádio Mané Garrincha e o Centro Administrativo (Buritinga), é exemplo de desperdício bilionário que, por décadas, afetará, significativamente, as finanças do Distrito Federal, seja para manutenção dessas caríssimas obras, seja para a quitação desses monumentos à gastança. O Mané Garrincha, de tão absurdo e desnecessário seu custo estimado em quase R$ 2 bilhões, ganhou longa reportagem, em horário nobre nas redes de televisão da Europa e até no mundo árabe, em que assuntos do tipo, normalmente, são escondidos do público. O que essas obras têm em comum é o fato de terem sido programadas e construídas por uma associação que uniu, de um lado, políticos espertalhões e, de outro, empresários desonestos e gananciosos.Todo o esquema bilionário contou com a participação de empresas listadas na Operação Lava-Jato e com o apoio de políticos locais. O pior é que essa montanha de dinheiro, que andou por todo lado, de bolso em bolso, não foi vista pelo grosso da Câmara Legislativa, não foi detectada pelo Tribunal de Contas local. Não foi olhado pelos órgãos de fiscalização da Secretaria da Receita. Não foi notada por ninguém por um motivo único: todos estavam , de algum modo, implicados nesaa sangria. Já, se fosse a dívi

A frase que não foi pronunciada

“Quando é que vão desarquivar a PEC da Felicidade?”
Frase solta ao vento

Novacap
» Júlio Menegotto recebeu do governador Rodrigo Rollemberg a missão de repaginar o Guará. Grama cortada, mato tirado,
meio-fio pintado e por aí vai.

Vigilância
» Observem que os ovos comprados no supermercado estampam na caixa a sugestão de armazenamento resfriado. Embora seja uma maneira mais segura de manter o produto fresco, os supermercados não gastam com refrigeração para os ovos.

Pra você
» Por falar em supermercado, as donas de casa têm elogiado muito o supermercado Pra Você da Asa Norte. É mais um concorrente ao caro Pão de Açúcar do Lago Norte.

Trânsito
» Se as barreiras eletrônicas são colocadas com o intuito de proteger os motoristas, a entrada e saída do Trecho 9, no Setor de Mansões do Lago Norte, é um ponto fundamental e necessário para se instalar o aparelho. Os carros que saem do trecho perdem a noção da velocidade dos tresloucados que não se dão conta do perigo da curva.

Ironia
» Entre as maiores contradições de nossa história, que um dia constará nos livros didáticos, está a tentativa do Partido dos Trabalhadores em implantar o comunismo em toda a América Latina, usando, para isso, os mais selvagens mecanismos do capitalismo representados por empresas como Oderbrecht e congêneres. Obviamente, um tipo de comunismo restrito apenas as massas da base da pirâmide.

Simpatia total
» Quem se superou no aniversário da cidade foi a Banca da Conceição. Atividades populares, todas com participação maciça.

História de Brasília

Os blocos 8 e 9 da Coreia não têm suas redes de esgoto e águas pluviais ligadas a qualquer encanamento na rua. As águas servidas dos apartamentos são conduzidas a fossas, já ultrapassadas de sua capacidade, e é por isto que há lama podre à entrada dos apartamentos. (Publicada em 26/9/1961)

Lições

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MAMFIL com Circe Cunha
Das muitas lições que poderão ser retiradas, a partir das confissões do modus operandi das empreiteiras sobre a estrutura do Estado, nenhuma será mais valiosa para a correção de rumos futuros do que aquela que demonstrou que o capitalismo selvagem capturou e submeteu a nossa inexperiente democracia a seus desígnios materiais.Da mesma forma, restou clarificado que a chamada política dos campeões nacionais, na qual o BNDES enterrou, a partir de 2008, dezenas de bilhões de reais em créditos subsidiados e na compra de ações para criar grandes empresas brasileiras, na prática representava a capitulação do Estado Democrático de Direito a um novo poder, parasitário e enquistado na carne da República.Jamais esse tipo de situação ocorreria num governo transparente sem que, logo nos primeiros lances, fosse detectada a presença de um corpo estranho ao país. A desenvoltura com que esses alienígenas passaram a atuar no seio do Estado foi enormemente facilitada pelo amadorismo primitivo das principais lideranças políticas do país naquela ocasião.

Para entender, em toda a sua extensão, a interação criminosa e caipira que se estabeleceu entre políticos e empresários, faltam vir a público os possíveis diálogos travados internamente nas diretorias das empresas. Como tratavam do assunto, combinavam os apelidos e comentavam sobre o apetite de cada político. Imagina-se que tão logo algum político ou emissário deixasse a sala de reuniões, as conversas ficassem mais quentes. Espantados com a desfaçatez de como esses gulosos personagens iam em busca de propina, os empresários, por certo, caíam na gargalhada.Acostumados às altas rodas de negócios, onde é possível vender a própria mãe sem se dar conta do ocorrido, os empresários manipulavam com facilidade os ambiciosos agentes do Estado. Era como vender pirulitos para crianças. Claro, o que estava em jogo era o dinheiro suado da classe trabalhadora brasileira. Aí é que estava parte da graça. A outra parte é o jeito tosco dos ladrões caipiras que enchem mochilas e ceroulas de papel-moeda e saem pela rua vibrando com a empreitada. Com esse tipo de gente, pensavam consigo mesmo, seria possível negociar, a preço de banana, até mesmo os edifícios-sedes dos poderes Executivo e Legislativo.

Os apelidos caricatos conferidos pelos empresários aos políticos corruptos denotam o desprezo e a troça que dispensavam aos vendilhões do Estado. Para arrematar, “comme il faut” os negócios subterrâneos, as empreiteiras, obviamente exigiam que o selo de segredo de Estado por 30 anos fosse pespegado aos acordos espúrios. Abduzidos pelo poder avassalador do capitalismo nacional, as principais lideranças, pela paga de tostões, acabaram por comprometer a tal ponto a qualidade da democracia do país que hoje essa situação só pode ser revertida por meio de uma assembleia constituinte que busque a refundação do Estado. De preferência, uma assembleia livre da contaminação desses personagens. Antes, porém, é necessário providenciar, com urgência, a prisão, a devolução do que foi roubado e o confisco de bens de todos esses larápios, sem o que a nação não se sentirá recompensada.

» A frase que não foi pronunciada

“Acabar com a corrupção é o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder.”
Millôr Fernandes

Ironia
» Entre as maiores contradições de nossa história, e que um dia vai constar nos livros didáticos, está a tentativa do Partido dos Trabalhadores em implantar o comunismo em toda a América Latina usando, para isso, os mais selvagens mecanismos do capitalismo representados por empresas como Odebrecht e congêneres. Obviamente, um tipo de comunismo restrito apenas as massas da base da pirâmide.

Será?
» O abandono do Setor Comercial Sul é assustador. A cada dia, menos salas e lojas funcionam. Anúncios amarelados indicam venda ou aluguel do espaço. Difícil saber, mas, se houver uma reestruturação arquitetônica e de segurança, a única saída será transformar em
Setor Habitacional e Comercial Sul.

Segurança
» Faltam mais semáforos para a travessia dos pedestres entre o Parque da Cidade e a Torre de TV. A distância é muito grande entre a saída do parque até o sinal mais próximo.

Pedestre
» Dizia o inesquecível deputado distrital Cafu que quem faz o caminho são as pessoas. Uma filmagem com drone entre a Torre e a Rodoviária daria para ver como tantas calçadas poderiam riscar o verde dando mais conforto a quem anda a pé pela cidade.

Vácuo
» No vácuo do poder aberto com as delações premiadas, com as autoridades perdendo a condição de lideranças, as facções criminosas e o crime organizado encontraram brechas até para editar e distribuir cartilhas e estatutos conclamando a luta
contra o sistema pressor do Estado.

» História de Brasília
O IAPI anunciou, há meses, que iria construir, ainda este ano, uma Escola Classe na SQ 409-410. Até hoje não foi sequer locado o terreno para essa escola. (Publicada em 26.09.1961)

Inúteis solenidades

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MAMFIL com Circe Cunha

Desvirtuadas desde logo em seus objetivos centrais, as sessões solenes em homenagens, realizadas pelos Legislativos de todo o país, de tão frequentes e inusitadas, tornaram-se folclóricas, embora representem um custo a mais para o contribuinte. Mesmo a outorga de medalhas ao mérito e outras comendas, por seu viés partidário, perderam o objetivo e, hoje, nada mais representam do que solenidades vazias e sem significado algum para a nação.Uma simples verificação da lista dos agraciados, a cada ano, poderá fornecer uma pista precisa de que as homenagens são utilizadas mais para acender um farol de atenção sobre quem as convoca do que sobre o homenageado da vez. É comum verificar também que essas homenagens e outorgas de medalhas são realizadas com o intuito claro de proselitismo político, sem qualquer relação com a realidade do momento e do lugar.Na Câmara Legislativa do Distrito Federal, as repetidas sessões em homenagens são realizadas mais para preencher o amplo vácuo no deserto de agenda de trabalho, transformando essas ocasiões em mais um dia de jornada facultativa, em que se verifica apenas a presença do autor da proposta e dos respectivos homenageados.

Para os próximos meses, estão previstas sessões solenes em homenagens ao Dia do Escoteiro, à Maria Izabel, ao líder comunitário, ao aniversário de Israel, aos comerciantes do Riacho Fundo, ao Dia da África, ao Dia do Blogueiro, ao Dia do Pastor, aos Motos Clubes, ao Vigilante, ao Dia do Quadrilheiro, à Polícia Montada, ao Orgulho Gay, ao Taxista, ao Dia Nacional de Benim, ao Dia do Padre, ao Dia Garçon, ao Dia do Feirante, ao Dia do Obreiro Universal, ao Príncipe Bertran, ao Dia do Cerrado, ao Dia do Servidor de Trânsito, ao Dia do Piauí, ao Dia Mundial do Hip Hop, ao Dia de Angola, ao Sindicato de Policiais, ao Dia das Artes Marciais, ao Dia do Síndico, ao Dia do Delegado de Polícia, ao Dia do Quiosqueiro, ao Dia Nacional do Forró. Com tantos dias a serem homenageados por suas excelências, que tal incluir também nessas sessões o Dia do Eleitor Engabelado?

Na Câmara Federal, as homenagens seguem o mesmo receituário vazio e inútil . Ali, serão realizadas sessões homenageando os sindicatos de metalúrgicos, o Dia do Contabilista, o Dia do Líder Comunitário, o Esquadrão da Fumaça, os Fundos de Pensão, a defesa da democracia na Venezuela, a tradição gaúcha, o Dia do Bumba Meu Boi, o Dia do Orgulho LGBT, entre outras excrescências do gênero.

Em Minas Gerais, na atual gestão do pluri enrolado com a justiça, Fernando Pimentel, o 21 de abril, no qual se comemora o Dia de Tiradentes e que marca os movimentos de independência do Brasil do jugo colonial, as outorgas da tradicional Medalha dos Inconfidentes, ganharam contornos políticos partidários tão descarados que fizeram com que a comenda perdesse muito de seu brilho inicial. A concessão da honraria ao conhecido bandoleiro João Pedro Stédile, chefão do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), causou revolta entre os mineiros, levando muitos dos antigos agraciados a devolverem, em protesto, a condecoração famosa. Para este ano, foram entregues medalhas a muitos envolvidos e citados na Operação Lava-Jato, numa mostra de que as homenagens se transformaram, no fundo, em louvação do que não deve ser louvado. Ainda mais sob o patrocínio do pobre contribuinte.

A frase que foi pronunciada

“A maior das homenagens que podemos prestar à verdade é utilizá-la.”

Ralph Waldo Emerson

Necessário

» Apesar das excelentes instalações, localização e o um dos maiores acervos de livros raros do Brasil, falta na Biblioteca Nacional um acessório mais do que obrigatório para o conforto básico dos que frequentam as salas de estudo: o ar-condicionado. As tubulações de ar instaladas nos tetos das salas nunca foram usadas. Talvez seja por isso que uma biblioteca de tamanha importância para a seca e quente capital permaneça pouco frequentada.

Imperícia

» Uma placa indica os milhares de reais investidos na pista de atletismo entre o Paranoá e o Itapoã. O primeiro erro é a falta de cuidado com o ambiente. Um vento e a poeirada engole o atleta. Uma pena que esteja fora dos padrões, já que aclives e declives não são recomendados nessa modalidade.

Conselho

» Declaração de Alexandre Inecco sobre Brasília: “Brasília dá frutos para quem planta nela. Faltam espaços para cultura? Sobra público. Faltam esquinas? Sobram parques. Falta cordialidade? Sobram espelhos. Brasília é uma excelente imagem para o Brasil de hoje: se você desanimar e se trancar

em casa, você vai deixar de ver o céu maisbonito do mundo”.

» E Verônica Carriço:

“Nesta cidade de todos os sotaques e todos os sabores, que vem forjando na própria multiplicidade a sua identidade cultural, a gente aprende, desde cedo, que a diversidade é linda, enriquecedora e, sobretudo, muito divertida. Adoro encher o peito e dizer com orgulho: sou candanga. Isso é bem mais do que o convencional brasiliense, porque traz embutida em seu significado a coragem dos meus pais e de tantos outros que se aventuraram no desconhecido com o sonho de construir um lugar melhor para viver e criar seus filhos”.

História de Brasília

O Iapi anunciou, há meses, que iria construir, ainda este ano, uma Escola Classe na SQS 409/410. Até hoje não foi sequer locado o terreno para esta escola. (Publicado em 26/9/1961)

Pedaço de um tempo

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MAMFIL com Circe Cunha

Naqueles longínquos dias de abril de 1964, Brasília, com apenas 4 anos, foi transformada, da noite para o dia, em uma pequena órfã, perdida e desolada na imensidão poeirenta e vermelha do Centro-Oeste. A chegada repentina dos militares ao poder, na sequência natural dos acontecimentos que marcavam a Guerra Fria, provocara uma reviravolta de tal monta na administração da cidade que, por longo tempo, todas as repartições públicas ficaram como que suspensas no ar. A própria concepção arquitetônica da cidade, espalhada pelos quatro cantos pelos novos ocupantes do Palácio do Planalto, era obra de um comunista convicto a serviço de um outro sujeito, também suspeito de nutrir simpatias com a então odiosa União Soviética. Portanto, sob o comando dos novos donos do poder, era preciso uma higienização rápida na nova capital, a começar por aqueles que ocupavam os mais altos cargos da gestão local.

Numa situação como essa, na qual a improvisação era a norma geral, ninguém sabia ao certo quem seriam os novos administradores da cidade. No longo vácuo de poder que se seguiu, nem sequer os salários do mês estavam garantidos. Em todo canto e nas rodas de conversa, o assunto era quem sobreviveria e quem seria defenestrado. Nesse impasse e sob a aparência de normalidade, a vida das pessoas mais simples seguia seu rumo. Era um tempo de muitas construções na cidade e, na vida simples de muitos operários, o tema era tratado como assunto que dizia respeito apenas à gente rica e poderosa, portanto, distante da realidade dura dos trabalhadores. No entanto, nas repartições públicas, que àquela altura estavam instaladas na nova capital, a rotina diária era discutir que rumos a revolução verde-oliva apontaria para todos. Obviamente, aqueles que tinham qualquer laço de aproximação com os chamados comunas sentiam um frio de suspense subindo pela barriga.

Naquela ocasião, para ser apontado pela alcaguetagem geral como comunista e subversivo bastava ao indivíduo possuir um exemplar dos poemas de Ho Chi Minh ou o manifesto de Marx, mesmo que jamais tivesse lido uma linha sequer. Sob esse prisma, todos eram comunistas até que provassem ao contrário. Não foram poucas as pessoas que, avisadas sobre a chegada da revolução, aproveitavam as noites escuras da cidade para incinerar às pressas qualquer prova material de simpatia com o socialismo. A avenida L2 Norte, que se estendia somente até a Quadra 405, era o caminho natural para aqueles que se dirigiam para a Universidade de Brasília (UnB), ainda parcialmente construída. Havia naquela região, próximo ao que é hoje o Hospital Universitário (HUB), o Centro Integrado de Ensino Médio (Ciem) ligado à UnB.

Naqueles dias distantes e de incertezas, uma bandeira negra estava hasteada no alto da caixad’água da instituição. Lá dentro, uma turma de estudantes se encontrava amotinada havia dias, fazendo uma espécie de resistência pacífica ao desmantelamento político que se anunciava com certa ferocidade. Eram tempos de dúvidas, movidos por um certo romantismo, com a juventude buscando imitar os movimentos vitoriosos de Guevara e Cienfuegos, sem medir as consequências que adviriam em desafiar os novos mandantes uniformizados. Lá fora, deitados no asfalto, sob a proteção improvisada dos meios-fios da estrada, uma fileira de soldados, com suas metralhadoras sob tripés, estava de prontidão para invadir o prédio a qualquer momento. O impasse da invasão iminente só restou resolvido quando chegou ao conhecimento do comando daquele destacamento que, no interior do prédio havia, entre os revoltosos muitos filhos de autoridades, in,clusive de militares. Ao menos nesse caso, o salvo-conduto para uma rendição foi feito sem feridos. A pele dos companheiros dos fidalgos estava salva. No restante da cidade, os expurgos aconteciam sem muito alarde e eram alimentados com a boataria geral.

Com medo, muita gente abandonou o emprego e resolveu desaparecer, voltando anônimo à cidade natal. Alheios a um mundo que se esfacelava sob seus pés, a gurizada naquela época aproveitava a vida como podia, tomando banho e navegando sobre os muitos tocos de árvore que boiavam no lago ou nadando no espelho d’água que circundava o Departamento de Pedagogia na UnB. A partir dessa hora, a cidade mergulhava num sono pesado, envolta num breu e num silêncio que dava medo e que aumentava com os presságios de que, na calada da noite, as tropas viriam para levar o que supunham ser insurgentes e contra o regime. De fato, a população não era contra a chegada dos militares por um simples motivo: ninguém sabia ao certo o que era o novo regime militar e muito menos o que significava. Para uma população pouco ilustrada, o que se esperava, noite após noite, era a chegada de qualquer coisa que quebrasse a rotina de uma cidade deserta.

a frase que foi pronunciada

” Brasília tem mais futuro do que passado

Adirson Vasconcelos

História de Brasília

A confusão dos preços das passagens é tão grande que o TCB bem que podia estudar dois preços para as linhas no Distrito Federal. As mais longas e as menores. Assim, não haveria a

confusão que se verifica atualmente. (Publicada em 26/9/1961)

Polícia para quem precisa

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jornalista_aricunha@outlook.com

MAMFIL com Circe Cunha

Num Estado democrático, a garantia dos direitos fundamentais dos cidadãos só pode ser plenamente alcançada e mantida com a responsabilidade de cada um de seus membros no estrito respeito às leis. Regra básica para que isso ocorra é a observância das normas, por todos e principalmente por aqueles que ocupam altos postos na hierarquia do Estado, devendo, por sua importância e relevância do cargo, servirem como exemplo e modelo irrepreensíveis para toda a sociedade. Obviamente, não é isso que ocorre no país. Pelo contrário. O que os brasileiros têm visto nestes últimos tempos é a exposição em público de extensas confissões que vão revelando pari passu os mecanismos que fizeram dessa República, em particular, um valhacouto para criminosos de várias espécies disfarçados de autoridade.

Aqueles de quem a nação poderia tomar como baluartes da ética estão sendo, um a um, postos a nu diante dos espectadores. Constrangidos, resta aos cidadãos assistir a esse desfile de zumbis políticos. Se o mau exemplo vem de cima, não chega a ser surpresa que esse tipo de comportamento venha sendo repetido também nos estamentos de baixo, transformando nosso país, cada vez mais, num caso de difícil solução. Perdida a moral e a decência, nosso Legislativo se transformou, em pouco tempo, em alvo fácil e constante de agitadores mercenários e profissionais do lobby. Desta vez, sob a fantasia de agentes da lei, um bando de cerca de mil policiais, com armas na cintura e certos da impunidade, depredaram a entrada principal do Congresso, tentando invadir o Parlamento para impor à força pauta própria.

A demonstração de brutalidade irracional desses funcionários, armados pelo Estado, tem se repetido a todo instante em diversas partes do país. A desenvoltura com a qual muitos policiais em todo o Brasil têm afrontado e ameaçado abertamente o Estado de direito revela sinais preocupantes de que alguma coisa está muito fora da ordem.

Os fatos ocorridos recentemente no Rio Grande do Norte, no Espírito Santo e em outras localidades onde a polícia entrou em greve revelam não só o despreparo de nossas forças de segurança e a falta de comando efetivo, mas sobretudo sintomático sinal de que esses servidores estão agindo por conta própria, sem receio de serem enquadrados.

Em Brasília já se tornou comum observar a polícia estacionada tranquilamente sobre calçadas, ciclofaixas ou jardins, dando mau exemplo e afrontando o cidadão. Impõe o contrário do que cobra. É comum observar ainda os carros de polícia furando sinais sem necessidade, andando acima da velocidade permitida, fazendo manobras proibidas em via pública e mesmo recebendo lanchinhos e outros brindes dos comerciantes amedrontados.

Corre sério risco o cidadão que, por ventura, se arriscar a chamar-lhes a atenção para esse comportamento inadequado. Agora mesmo foi autorizado aos agentes de trânsito portarem arma de choque elétrico conhecida como taser. Para esses servidores a arma, mesmo não letal, é fetiche que lhes empresta falsa sensação de superioridade. De armas na cintura ou não, esses indivíduos têm que ter em mente que são apenas servidores públicos e, como tais, devem se portar como todo cidadão comum: dentro da lei.

A frase que foi pronunciada
“A arte de fazer política é falar o que o povo quer ouvir, mas fazer tudo aquilo que o povo não deve saber.”
Sérgio, o Cancioneiro

Impossível
» Quem pretende passear pelas calçadas do Lago Sul, pela Quadra 25, tem dificuldades em se desvencilhar do matagal. O maior IPTU da cidade deveria dar ao cidadão contrapartida mínima.

Conivência
» Ainda pelo Lago Sul é possível ver, ao longo da pista principal, moças com geladeiras de isopor debaixo do sol com alimento de natureza desconhecida. É uma fatalidade permitir a venda de alimentos nessas condições.

Experiência
» Realmente, as instalações do Hospital Sírio Libanês, a educação dos funcionários, o valioso “ouvir” dos médicos oferecem o que a capital do país estava precisando: respeito.

História de Brasília
O Circular JK-W3 iniciou a linha com a tarifa de 10 cruzeiros. Posteriormente, alegando estender a linha pelos ministérios, foi seu preço elevado para 15 cruzeiros, sem cumprir o prometido. Agora, a empresa lança nova linha, Três Poderes-JK, com tarifa de 20 cruzeiros e está aos poucos retirando os JK-W3. (Publicada em 26.9.1961)