Passeio pela maratona

Publicado em Crônicas

Severino Francisco

Embora tivesse vontade, não pude participar da Maratona promovida pelo Correio para celebrar os 63 anos de Brasília, depois de um hiato de 25 anos. Estou fora de forma e preferi não arriscar. Mas vários colegas da redação correram. Havia provas para todos os fôlegos, de 5 km, de 10 de 22 (com revezamento) e de 42 no individual.

Muitos quiseram testar a resistência, depois do isolamento e dos estragos na saúde provocados pela pandemia. Pelas imagens, dava para perceber gente de todas as idades e, inclusive, cadeirantes.

O clima era de festa, fez um dia de sol, mas o vento soprou, a temperatura era agradável e favoreceu os atletas. Tudo sob a trilha sonora animadora do bloco Eduardo e Mônica.

Toninho Maratonista, o Antônio Ferreira, de 61 anos, correu pela primeira vez em 1990. Naquele ano, o Correio estampou uma reportagem sobre ele. Sobreviveu a uma depressão graças à paixão pela corrida.

Roberto Fonseca, subeditor do site do Correio, torcedor incurável do Vasco, também tenta curar a depressão crônica com as derrotas do time de coração por meio das corridas. Jura que correu cinco quilômetros na maratona, mas torcedores flamenguistas da redação garantem que ele só percorreu a distância de cinco metros, superando o próprio recorde de 3 metros e meio da prova anterior.

A corrida permite curtir a cidade de uma outra perspectiva. Quase nunca é possível percorrer as vias de Brasília do ponto de vista do pedestre, com tranquilidade, sem medo de ser atropelado ou batido, apreciando a beleza dos monumentos ou do céu. É uma outra Brasília que se descortina. A subida do Eixo Monumental foi o trecho mais árduo, exigiu o esforço de quem escala uma serra de Minas Gerais.

Já contei, mas faço questão de reiterar que tenho um histórico de atleta. Quando morava na 407 Norte, corria todos os dias de lá até o Centro Olímpico da UnB e voltava, em um percurso de pouco mais de oito horas. O efeito para a saúde era muito bom. Tudo melhora quando a gente expande a respiração.

Os problemas não desaparecem, mas perdem a feição de monstros invencíveis, são reduzidos à verdadeira dimensão e ganhamos energia e coragem para enfrentá-los. A minha saúde era muito melhor naquela época. Achei que não podia mais correr, mas depois de ler uma entrevista com o doutor Drauzio Varela, me convenci que também posso.

O eminente médico começou a correr maratonas com 50 anos, tem 79 e continua viajando pelo mundo para disputar provas difíceis. O que ele disse confere com o meu histórico de atleta. Não é fácil, mas quando a gente vence o desafio, adquire mais autoconfiança para as batalhas da vida. “A corrida é um antidepressivo poderoso”, sentencia o doutor Drauzio.

Na maratona, há os são, verdadeiramente, atletas que correm para competir. Luis Barbosa, morador de Águas Claras, de 35 anos, foi o vencedor do percurso mais longo. Quem ficou em primeiro lugar, entre as mulheres, foi a mineira Iane Carvalho, de 23 anos, de Pouso Alegre. Ao longo da história, a maratona revelou o consolidou a carreira de atletas. Mas, na verdade, para além da competição, ela é uma festa para a qual todos são convidados a celebrar Brasília.

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