Fora do Plano

Publicado em Crônicas

 

Severino Francisco

É, a um só tempo, um roteiro para consulta e um manual lírico, a convidar para um passeio pelas cidades-satélites ou regiões administrativas do DF. Esse é o Guia Fora do Plano, de Conceição Freitas, com fotos de Zuleika Souza. Brasília é muito mais do que a Esplanada dos Ministérios. Recentemente, passou a ocupar de terceira maior metrópole brasileira, com quase 3 milhões de habitantes, permanecendo atrás apenas de São Paulo e do Rio de Janeiro.

O Guia Fora do Plano mapeia, investiga e revela os lugares para visitar, comer e festejar nas 32 cidades-satélites ou Regiões Administrativas do DF. Para compor o livro e sondar a alma das cidades, Conceição percorreu mais de 6 mil quilômetros a bordo do seu 1.0, de satélite em satélite. Cada uma inventou a maneira de viver, de morar, de comer, de se divertir e de celebrar.

Conceição vislumbra a verdadeira utopia de Brasília na velocidade vertiginosa com que os candangos resistiram e conquistaram, com muita luta, seu espaço nas novas cidades. Em menos de quatro anos, a região onde se instalou o Distrito Federal passou de 6 mil para 100 mil habitantes.

Das paredes grafitadas da Ceilândia à Festa do Divino Espírito Santo em Planaltina, das árvores do cerrado desgrenhadas na beira do lago à Via Sacra de Planaltina, da placa anunciando mandioca sem casca em um quiosque do Núcleo Bandeirante aos horizontes abertos do Gama, das placas de sinalização do arquiteto Danilo Barbosa às festas de São João.

Vamos passear fora do Plano sob o olhar do guia, folheando as páginas, aleatoriamente. O Guará são as casinhas antigas, os sobrados de muro alto, os bloquinhos de três andares e os espigões gigantes. É o animal mais elegante do cerrado e a mais famosa feira candanga. O Jardim Botânico vive na borda de chapadas, precipícios e vales.

O Lago Norte é um Plano Piloto naútico, sem os palácios e os três poderes, mas rico em pequenos poderes urbanos. O Lago Sul é um país dentro de Brasília. É uma cidade aberta para o lago e ao mesmo tempo fechada sobre si mesma, guardada atrás de cercas vivas, muros altos e lotes imensos.

A Ceilândia é quem representa melhor o espírito candango de resistência. Se o Plano Piloto é patrimônio da humanidade, Ceilândia é patrimônio da alma candanga. Cruzeiro é a cidade do samba, um quase bairro de tão colado no Plano Piloto. Que ama mora no Gama, que, com suas árvores adultas, de copas gigantes, quebram a aridez comum à maioria das satélites. Quem chega ou quem sai do Paranoá é tomado pela paisagem: um lago de águas levemente azuladas, com o Plano Piloto ao Fundo.

No início, o Sudoeste era Sudolama. Compacto, múltiplo, rico e muito arborizado virou o Sudoca. São Sebastião é a contradição brasileira: colada no Jardim Botânico, vizinha do Lago Sul, abriga a papuda, a penitenciária de Brasília. Guarda um tesouro de histórias do Brasil profundo, da construção da capital e invento seu próprio jeito de existir e resistir. Estrutural é a cidade que venceu o lixo.

Como se vê, O Guia Fora do Plano convida a um passeio pelas cidades do DF, a um só tempo, objetivo e subjetivo, histórico e devaneante, informativo e lírico, escrito com mão de cronista e fotografado com olho de artista.

PS: O Guia Fora do Plano será lançado, hoje, a partir das 19h, no Beirute da Asa Sul (109 Sul)

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*