Visito a mostra Entre nós – a figura humana no acervo do Masp, no CCBB. Observo as pessoas interagindo com as pinturas executadas por grandes mestres e me recordo de um texto de quinze anos atrás, onde reflito sobre a estética contemporânea
Parlamentar 1: Vossa Excelência é uma besta quadrada!
Parlamentar 2: Besta quadrada é Vossa Excelência. Vossa Excelência é um quadrúpede de 28 patas.
Se você já foi fotografado por Mila Petrillo, pode anotar: os deuses têm alguma simpatia por você. Ela escolhe sempre o ângulo mais favorável, o aspecto mais relevante, a luz mais reveladora.
O mundo fica mais alegre, agitado e delicado quando Mila chega. Ela é animada por uma afetuosidade barroca, excessiva, indiscreta, que beira o escândalo.
O Profeta Gentileza passou por Brasília nas décadas de 1970 e 1980. Em plena ditadura militar, ele trazia uma mensagem subversiva: gentileza gera amor e paz! Era possível ver e conversar com ele no Restaurante Coisas da Terra, nos semáforos ou no entorno da Rodoviária. Não era por acaso que ele veio a Brasília. Tinha plena consciência da importância da repercussão que teriam suas mensagens na capital do país. A passagem de Gentileza por Brasília está registrada no documentário A mensagem do profeta, dirigido por Marcos Orsini, com fotografia de Marcelo Coutinho.
Sempre que alguém freia o carro e pede para que eu atravesse alguma via, imagino que está inspirado pela frase do profeta: “Gentileza gera amor e paz”. O profeta Gentileza morou em Brasília na década de 1980; eu o vi diversas vezes no Restaurante Coisas da Terra, com a estampa de Cristo, os olhos alucinados e a tabuleta com o lema sagrado. Ele era uma artista conceitual, a sua frase mobilizou um movimento pela delicadeza nas relações cotidianas.
Clarice Lispector era armada de radares poderosos de intuição. Em 11 de dezembro de 1970, ela conheceu a escritora Olga Borelli, de quem se tornaria amiga para sempre. O encontro está registrado na biografia Clarice – Uma vida que se conta (Edusp), de Nádia Battella Gotlib. Mas, um detalhe chama a atenção: na terceira vez em que elas se viram, Clarice convidou Olga para uma visita a seu apartamento. Lá, Olga se surpreendeu: Clarice havia escrito uma carta para propor a amizade.
Estava ao lado de minha cama
atormentado pelas imagens
do planalto ardendo em chamas
quando tive uma alucinação
senti os pés perderem o chão
e vi os deputados federais
que venderam a alma a satanaz
para anistiar o crime do Caixa dois
se dirigindo à sala de um juiz
presos por algemas no inferno
com listras zebradas de presidiários
nos tailleurs importados e nos ternos.
Um céu que não era esperado
assim como ele foi
naquela tarde
Invasão de todos os céus
congraçamento
longitudinal espanto
formas e cores
rasgando pensamentos
Era tal, foi tal
a plenitude
que tudo quase parou
– pedestres elevaram as cabeças
motoristas desaceleraram
Como foi amplamente noticiado, a Justiça do DF suspendeu o nome Honestino Guimarães para a ponte que liga o Plano Piloto e o Lago Sul e, ao mesmo tempo, proibiu que o monumento seja chamado de Ponte Costa e Silva. A justificativa é que ambos os nomes não foram precedidos de audiências públicas. Caberá à Câmara Legislativa estabelecer o debate.
Há alguns meses, lancei nesta coluna o meu candidato: o poeta do cálculo estrutural Joaquim Cardozo.
Certa tarde de agosto, eu passava pelo Eixo Monumental, na Asa Norte, quando divisei uma aglomeração de gente em torno de um ipê florido com a cor de um amarelo incendiado. Pensei, aflito: é mais um acidente.
Com a sua avalanche de carros, quase sempre em fluxo selvagem, aquela pista costuma me despertar um estado de alerta. Aproximei-me do grupo e percebi que eles contemplavam a cena a olho nu, de binóculos ou armados de máquinas fotográficas.


