Severino Francisco
A crônica sobre o bacurau norte-americano migratório, que viaja de 8 a 10 mil km para o Brasil e, mais precisamente, para Brasília, quando começa o inverno nos EUA, despertou a curiosidade de alguns leitores. Por isso, volto ao assunto com Tancredo Maia, integrante do grupo Observaves.
Seguramente, os bacuraus viajam em bando dos EUA até o Brasil. Os biólogos já fizeram a experiência de colocar GPS nas aves. É impressionante como não se perdem. Não fazem um voo aleatório. Apreciam o calor, o verão e o clima tropical. Diferentemente do urubu ou do gavião, que são planadores, pegam onda de vento e vão em frente, o bacurau bate asas o tempo todo, ensina Tancredo.
É preciso um preparo físico muito bom. Mesmo à noite, batem asas. Mas, ao mesmo tempo, param para descansar e fazem a viagem por etapas. Descem os Estados Unidos juntos, atravessam a América Central e, quando chegam à América do Sul costumam se dispersar. Uma parte sobe para a Amazônia e o Pantanal; a outra toma o rumo do Brasil Central e uma terceira tem como destino a costa marítima.
Por isso, é possível encontrar a mesma espécie de bacurau norte-americano em Brasília, no Acre ou Bahia. No verão, encontram farta alimentação nos trópicos. Os bacuraus são bichos noturnos, durante o dia eles descansam nas árvores. Tancredo e o grupo Observaves têm registrado que nos últimos quatro anos, um bacurau norte-americano ocupa a mesma árvore no Parque da Cidade.
À noite, depois das 18h, o bacurau sai para se alimentar de insetos. A migração não é uma aventura improvisada. Existe uma rota que eles fazem todos os anos. Da primeira vez, Tancredo observou um, mas, em seguida, o número de migrantes foi aumentando no Parque da Cidade. Devem ter chamado a família e os vizinhos.
Têm alimentação, o lugar é agradável, ninguém perturba. Isso é legal para fazer uma rota. Incorporam esse programa de viagem para enfrentar as mudanças de estação do ano. Quando o frio assola nos Estados Unidos, eles migram para os países tropicais. Passam a informação de geração para geração. No Brasil existem umas seis espécies de bacuraus: “Eles vem visitar os primos”, brinca Tancredo.
Acontece algo semelhante com a ave batizada de Príncipe, que vem da Argentina e também pode ser vista nos parques da cidade. Com a sua plumagem vermelha e a máscara negra, ele é impressionantemente belo e gracioso. Mas, diferentemente, do bacurau, tem hábitos diurnos. É muito fácil de ser visto. Dá um salto, pega o inseto em voo fulminante e volta ao mesmo lugar, sem perder a realeza.
One thought on “O voo do bacurau”
severino gosto de tudo que vc escreve; adoro como vc de dostoiveski e padre antonio vieira, os irmaos karamazovski marcaram minha adolescencia . pARABENS