O preço da fraude

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Severino Francisco

As fake news corrompem a democracia. Segundo pesquisa do Instituto Massachussetts (MIT), uma notícia falsa tem 70% mais de chance de ser compartilhada do que uma verdadeira. Pesquisa do Ipec mostra que 84% acreditam que as notícias falsas podem impactar as eleições. É algo estarrecedor.

E outra sondagem do instituto inglês Ipsos Mori, realizada em 2018, em 27 países, aponta que o Brasil é a nação que mais acredita em fake news. A média mundial é de 48%. Quando perguntados sobre a causa, 49% responsabilizaram os políticos. Apesar de todo o esforço do TSE, as mentiras continuam circulando de maneira frenética.

Nem o corregedor-geral da Justiça Eleitoral, Benedito Gonçalves, escapou. Em uma montagem, ele apareceu vestido com uma camiseta que estampava a figura de Lula. Não é por acaso que o jornalismo, os jornalistas e, principalmente, as jornalistas, são atacados pelos governantes extremistas, que sobrevivem apenas à custa da mentira.

De qualquer maneira, o jornalismo, ou mais precisamente, o bom jornalismo, permanece um espaço crucial de resistência à fraude e de afirmação da credibilidade. Mas, agora, os que disparam notícias falsas dispõem de uma tecnologia poderosa para e adulterar conteúdos e desinformar os eleitores: a chamada deepfake.

Com ajuda da inteligência artificial, é capaz de alterar os movimentos labiais de um programa jornalístico, deslocar trecho de uma fala, falsear o conteúdo e induzir os eleitores ao erro, com toda a aparência de verdade. O presidente da Ucrânia, Vladimir Zelenski, chegou a aparecer em um vídeo, manipulado e falso, pedindo rendição.

Na segunda-feira, o Jornal Nacional denunciou que um programa com a divulgação de pesquisa Ipec foi totalmente modificado para passar a informação mentirosa que o candidato Jair Bolsonaro havia ultrapassado o candidato Lula na intenção de votos.

Procurei na internet e não detectei nenhuma notícia de que o TSE tenha aberto investigação sobre o caso. Com certeza, esse vídeo não baixou à terra de disco voador. Bem sei que é muito difícil coibir a avalanche de notícias falsas, disparadas por que ganha muito dinheiro para fraudar a verdade.

Porém o fato é que isso é um crime, praticamente, sem castigo. Até que o TSE tome alguma providência o estrago corre pelas redes sociais e, continua se propagando, mesmo depois da ordem para não circular. Os autores precisavam ser responsabilizados. Fake news é crime. E as multas para quem forja e transmite notícias falsas estimula a impunidade.

Para mim ou para você, que somos trabalhadores, os valores implodem o orçamento. No entanto, o que são R$ 3 mil ou R$ 5 mil para partidos que acumulam milhões do Orçamento Secreto ou do Fundão Eleitoral? Eles pagam essas multas pífias sorrindo.

O fato é que não acontece praticamente nada a quem corrompe a democracia com a mentira.

Com o acirramento da disputa eleitoral, a situação vai se agravar. Não existe fake news do bem, toda fake news é do mal. Se as multas fossem mais altas e as sanções mais duras, é muito provável que os autores de fake news enfrentassem mais riscos e a fraude deixasse de ser um crime sem castigo. É possível imaginar que os autores de fake news passarão a reservar uma parcela do Fundão para pagar multas pelas notícias falsas que propagam, tomando a precaução de decretar sigilo de 100 anos sobre a informação.

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