O padre Lancellotti

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Severino Francisco

O padre Julio Lancellotti é o principal alvo de uma CPI articulada por um deputado paulista do União Brasil. Atentem para o crime de Lancellotti: ele presta solidariedade real à população desabrigada de São Paulo há mais de 40 anos, na condição de coordenador da Pastoral do Povo de Rua. Serve café da manhã, distribui roupas e livros para cerca de 900 pessoas por semana.

Todas as vezes em que leio alguma notícia sobre o trabalho do padre Lancellotti fico sensibilizado. Ele é um dos grandes brasileiros vivos. A sua compaixão, humanidade e coragem são comoventes porque a fome não pode esperar as imprescindíveis políticas públicas. A fome funciona com o tempo urgente do corpo. Esse é um verdadeiro cristão. Qual de nós teria a disponibilidade e a tenacidade de realizar o que o padre Lancellotti faz todo santo dia?

Felizmente, ele recebeu reconhecimento por seu trabalho misericordioso. Em 2021, ele ganhou o Prêmio Zilda Arns, instituído pela Câmara dos Deputados para agraciar pessoas e instituições que desenvolvem ações em defesa dos idosos. Mediante edital público, ganhou o Prêmio Dom Paulo Evaristo Arns, da Prefeitura de São Paulo, alcançando 15.598 votos de um total de 16.643.

Em novembro, recebeu o Colar de Honra ao Mérito da Assembleia de São Paulo pelo trabalho desenvolvido durante a pandemia da covid-19 e pela defesa dos direitos humanos. A sua ação social é tão relevante que inspirou o nome a uma lei federal que proíbe o emprego de técnicas construtivas hostis em espaços livres de uso público.

Apesar disso, ou melhor, por causa disso, o padre Lancellotti está sendo alvo de uma campanha sórdida. Em 2020, o ex-deputado paulista Arthur do Val do antigo MBL propagou a notícia de que Lancellotti teria trocado mensagens com um menor de idade, sugerindo o crime de pedofilia. Era tudo falso.

Para quem não se lembra, Arthur do Val é aquele mesmo parlamentar que pegou dinheiro público, viajou para a Ucrânia em guerra com a Rússia e gravou um vídeo com insinuações sexuais aviltantes e covardes sobre as mulheres ucranianas. O parlamentar que armou a farsa da CPI contra o padre Lancellotti pertencia ao mesmo MBL. Esses são os cristãos, os moralistas e os patriotas. Não se indignam com a pobreza, mas odeiam os pobres e aqueles que lhes prestam socorro na hora da aflição.

Gostaria de sugerir ao ilustre parlamentar autor do pedido da CPI contra o Padre Lancellotti que incluísse as seguintes pessoas e instituições como alvos das próximas comissões parlamentares de inquérito: Betinho, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, Martim Luther King, Josué de Castro, Gandi, Muhammad Yunus (Prêmio Nobel da Paz), Nelson Mandela, Cruz Vermelha, Médicos Sem Fronteira, Instituto Sou da Paz e Jesus Cristo. Todos eles se preocuparam com a fome, as desigualdades sociais, a redução da violência, a solidariedade e a paz.

Eu estava passando por um semáforo quando avistei um homem vestido em farrapos, com um cartaz de papelão, no qual era possível ler a frase escrita em caligrafia do estilo garrancho: “A fome dói, a indiferença mata, o amor salva”.

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