O freio na boiada

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Severino Francisco

Na última semana, quando sai da redação, senti a alegria de ver uma legião urbana de jovens saindo da Esplanada dos Ministérios. Eles vinham da manifestação contra o pacote da destruição, concebido pelas excelências da Câmara dos Deputados, que pretende passar a boiada, aproveitando que as atenções estão concentradas na guerra da Rússia contra a Ucrânia.

A boiada da destruição inclui a liberação do uso de mais veneno na comida que comemos, a anistia para a grilagem de terras, a legalização da mineração e da agropecuária em terras indígenas, a extinção do licenciamento ambiental e a flexibilização de outras leis de fiscalização.

Artur Lira, o líder da vanguarda do atraso, afirmou que o aumento dos preços de combustíveis é “um tapa na cara dos brasileiros”. Sim, embora demogógica, pois ele nada fez, de efetivo, para que os preços baixassem, existem outras questões mais graves.

Tapa na cara dos brasileiros é o orçamento secreto, o fundão eleitoral, o silêncio em torno das campanhas negacionistas durante a pandemia e a decisão de tramitar, em caráter de urgência, um projeto de lei para permitir o garimpo em terras indígenas, em meio a uma manifestação de mais de 50 mil brasileiros em frente ao Congresso Nacional, sob a liderança de Caetano Veloso.

Lira quis mostrar força, mas revelou apenas fraqueza, ignorância e subserviência. Posa de Primeiro Ministro do orçamento secreto, mas é dócil ao governo federal e reduziu a Câmara dos Deputados a um puxadinho do Palácio do Planalto. Nunca, durante a democracia, aquela Casa foi tão servil, apática e submissa. Age não como se fosse detentora de um mandato do povo, mas, sim, como se fosse a dona do Brasil.

Mas não é; representa apenas a parte atrasada do Brasil. A resposta veio rápida. A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, constituída por grandes empresas do agronegócio, instituições financeiras, empresas de biotecnologia e de alimentos publicou uma carta em que se posiciona, claramente, contra o PL da mineração nas terras indígenas.

A nota cita estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para contestar a argumentação falaciosa de que seria imperioso explorar o território indígena para extrair o potássio necessário para a produção de fertilizantes em tempos de guerra. Na verdade, segundo o estudo, somente 11% do potássio se encontra em terras indígenas.

“A guerra entre Rússia e Ucrânia não deve ser um pretexto para a aprovação de um PL que ainda não foi adequadamente debatido pela sociedade e, sobretudo, não foi consultado com as organizações representativas dos povos indígenas, os maiores interessados no assunto”, diz a nota.

Ontem, foi a vez do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração), constituído por mais de 120 associados, responsáveis pela produção de 85% da produção mineral do Brasil, se manifestar em nota, no mesmo tom de repúdio à mineração em terras indígenas. “É importante destacar que o Ibram condena qualquer atividade de garimpo ilegal em terras indígenas, na Amazônia ou em qualquer parte do território nacional, e acredita que esta atividade deve ser rigorosamente combatida e seus promotores responsabilizados penalmente. A preservação da Amazônia é condição necessária para as discussões de todos os temas relativos à mineração no Brasil.”

Como se vê, as excelências da Câmara dos Deputados estão encerradas na bolha do orçamento secreto e legislam, em causa própria, de costas para a nação. Elas são o anti-Brasil. Guarde, com muito carinho, para as próximas eleições, os nomes dos parlamentares que votam contra o futuro do Brasil.

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