Severino Francisco
A notícia caiu como uma bomba nas redações dos jornais e emissoras de tevê naquela manhã de outubro de 1996: ‘Renato Russo morreu!’ Nestes momentos, as redações se mobilizam para fazer a melhor cobertura possível. É quase um milagre que, em poucas horas, seja possível pesquisar, minuciosamente, a vida e a obra de um artista. No caso de Renato Russo ninguém cogitou em antecipar o trabalho, pois, em tese, a morte dele não era anunciada.
Ela foi, para a maioria das pessoas, inesperada e abrupta. A morte dele provocava um estado de choque. Mas, como me ensinou Dad Squarisi, no dia em que, sob o impacto de uma peça autobiográfica de Nelson Rodrigues, fui entrevistar Fernanda Montenegro e me faltaram as palavras de tanta emoção: “Jornalista não tem o direito de dar um branco. Pode faltar tudo, menos a palavra”.
Depois de ficar famoso, Renato fugia de jornalistas como o diabo da cruz. E, mesmo quando falava, desconversava, dissimulava, mistificava. No entanto, surgiu a confirmação de sua morte e tudo assumiu uma dimensão extremamente dramática. Seria preciso dar conta de inúmeros aspectos de sua vida e, se possível, deslindar vários mistérios em poucas horas.
Naquele dia de transe, um jornal do Rio de Janeiro convocou toda a equipe e concentrou a maioria dos repórteres na cobertura sobre a morte de Renato, prevendo a comoção popular que suscitaria. Ninguém queria ou podia ficar de fora, nem mesmo os estagiários. E a um deles coube a importante pauta de acompanhar a repercussão nas ruas.
Ocorre que, a partir de certo momento, o comando da redação perdeu o contato com o estagiário. Ligavam para o celular, mas ele estava, invariavelmente, desligado. Enquanto isso, os ponteiros dos relógios avançavam implacáveis. Resolveram telefonar para os amigos, os colegas de universidade e a família. Nada, nenhuma pista do rapaz.
De dramático, o quadro começava a ficar desesperador. Tudo pode acontecer em uma metrópole da magnitude do Rio de Janeiro, tão perigosa e tão permeada de caminhos tortuosos. O paradeiro do estagiário passou a dividir as atenções com as apostas da pauta. Em que buraco havia se metido o estagiário?
No sufoco do fechamento, sem saber mais a quem procurar, os chefes da cobertura ligaram a tevê para acompanhar o Jornal Nacional, que dedicou reportagem especial sobre Renato Russo. Uma das matérias, ao vivo, mostrava uma legião urbana de jovens no centro do Rio de Janeiro, em estado de comoção, cantando Será. E, na primeira fila, com os braços abertos, um rapaz puxava o coro, derramado em lágrimas.
Os chefes do jornal não acreditaram no que viram. Quem comandava a massa era o estagiário desertor. E, vejam só, quando publiquei a crônica, flagrei um estagiário do Correio com as mãos na cabeça, concentrado na leitura da coluna. Ao me avistar, ele fez o seguinte comentário: “Se eu estivesse lá, eu também seria um estagiário desertor”.
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