O colapso do Itamaraty

Publicado em Crônicas

Severino Francisco

 

Como os cientistas, nossos profetas do óbvio, previam, o sistema de saúde entrou em colapso. Todos nós estamos ameaçados. Não adianta ter plano de saúde, dinheiro para pagar a internação ou ordem judicial.

 

Ainda bem que os nossos senadores acordaram para a gravidade da situação e resolveram agir. Sessenta e cinco senadores assinaram uma carta enviada a embaixadas de países ricos pedindo socorro para o Brasil.

 

A maioria dos países disputa as vacinas, mas pode ser que o apelo encontre ressonância por uma razão nada lisonjeira: com o descontrole da pandemia, o nosso país se tornou um laboratório fértil para as mutações do vírus e, em consequência, uma ameaça global de saúde.

 

O senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) encaminhou carta à senadora e vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, solicitando uma autorização especial para a aquisição dos imunizantes. A mobilização do senado atesta de maneira cabal a falência da gestão do chanceler Ernesto Araújo no ministério das Relações Exteriores.

 

Ernesto conseguiu a façanha de provocar um enorme desgaste na imagem do Itamaraty, uma instituição brasileira ISO 9001, respeitada internacionalmente pela postura de equilíbrio. Ao seguir as orientações de subgurus da internet, Araújo só criou problemas de relações exteriores.

 

Com gracinhas pueris e infantis, atacou a China, a nossa maior parceira comercial e a principal fornecedora de insumos para a fabricação da vacina contra a covid-19. Em vez de manter uma postura distanciada, tomou partido do palhaço sinistro Trump na disputa eleitoral dos Estados Unidos e criou atritos com recém-eleito governo Biden. Hostilizou a OMS e a ONU.

 

O Itamaraty teve diplomatas da categoria do Barão do Rio Branco, de Oswaldo Aranha, de Oliveira Lima, de Guimarães Rosa, de Rubens Ricupero, entre outros. Possui um quadro com profissionais de alta qualificação e compromisso com o Brasil. A credibilidade conquistada decorreu do respeito à hierarquia de ascensão na carreira pela competência, pelo conhecimento e pela experiência.

 

O Itamaraty é um patrimônio cultural, profissional e institucional brasileiro, não pode ser dirigido por neófitos, estagiários inexperientes, fanatizados por gurus de internet. É a mesma coisa que colocar um cabo para comandar um exército ou um médico recém-formado para chefiar um hospital durante uma pandemia.

 

Não é por acaso que o chanceler erra em todas as suas apostas. O alinhamento ideológico escolhido por Ernesto Araújo só permite ao Brasil pedir vacinas para a Tanzânia.

 

Como se não bastasse, em vez de mobilizar a competência dos embaixadores do Itamaraty para conseguir vacinas, desfecha uma campanha internacional negacionista da crise brasileira, com 300 mil mortos e o colapso escancarado. Não há mais espaço para fake news na tragédia que nos assola. O chanceler Ernesto Araújo é o Eduardo Pazuello das Relações Exteriores.

 

Estamos vivendo sob o risco-Brasil, nossas vidas correm perigo, em Brasília há mais de 400 pessoas nas listas de espera das UTIs, os índices das bolsas deveriam despencar nervosamente.

 

Porque a vida do seu povo é o bem mais precioso de uma nação. Não existe ministério da Saúde, não existe ministro das Relações Exteriores, não existe governo federal. Ainda bem que os senadores assumiram a responsabilidade. Chegamos a um ponto em que só o Centrão poderá nos salvar.

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