Mestre Woo

Publicado em Crônicas

 

 

Severino Francisco

Se você passa pelo gramado da Entrequadra 105/106 Norte, certamente viu um venerável mestre e seus discípulos fazendo movimentos leves, rítmicos, elásticos e concentrados. É o famoso tai chi do mestre Woo. Em 1974, o mestre Woo morava na 105 Norte e começou a descer na Entrequadra para fazer o tai chi chuan, que ele pratica desde quando estava na barriga da mãe.

 

Sim, ele descende de uma família de médicos que praticavam a medicina tradicional chinesa. Veio morar em Brasília, se casou com uma mineira, teve dois filhos médicos formados pela UnB: o doutor Aristein Woo e a doutora Tissúlia Woo.

 

Quando descia, às 6 da matina, para fazer tai chi, as pessoas passaram e achavam que ele estava meio louco, lutando contra inimigos invisíveis. No entanto, aos poucos a comunidade foi se agregando a essa prática tão maravilhosa e, rapidamente, ele conquistou uma legião de discípulos.

 

Pratico tai chi há mais de 30 anos e posso dizer que é uma das coisas que me salvaram de mim mesmo. Logo que você faz o exercício, sente o benefício imediatamente. A respiração melhora, as células são oxigenadas, os órgãos internos são ativados, você sente mais alegria e mais concentração para enfrentar as batalhas da vida.

 

Qualquer um pode aprender e participar do tai chi e o chi Kung, gratuitamente, não importa a posição política ou a religião que professa. Tanto que o mestre Woo batizou o espaço com o nome de Praça da Harmonia Universal. O lema que anima as atividades é: fraternidade, harmonia e paz. Tudo do que precisamos no momento.

 

É possível imaginar que um senhor de 91 anos seja frágil e tenha os movimentos limitados. Mas o mestre Woo escapa a esse estereótipo. Continua trabalhando no consultório de medicina tradicional chinesa e, além do tai chi, faz caminhadas todos os dias. É um homem vigoroso. Aliás, a longevidade é um dos ideais do tai chi. Existe a compreensão de que a experiência humana só é completa com uma vida longa e saudável.

 

As amigos e os amigos que o visitam para conversar sobre o tai chi, a poesia oriental, a poesia brasileira ou a medicina chinesa, sempre o encontram estudando, com a mesa repleta de livros. Ele cultiva a milenar cultura chinesa. É um homem muito ilustrado e sensível, com quem é possível dialogar sobre qualquer assunto.

 

A civilização chinesa constituiu uma cultura singular, a única cultura do mundo com 5 mil anos de continuidade. No século 2, antes de Cristo, se formou o estado chinês e esse território prevalece. Chin era o imperador amarelo, por isso, essa cor, e não a branca ocidental, é usada pelos médicos ocidentais. O tai chi, todo baseado na troca de energia com a natureza, é um desses legados.

 

Os movimentos da arte marcial transformada em terapia são inspirados no vento, na abertura da asa do grou ou na luta da serpente. É um trabalho de integração cósmica, não só com a natureza, mas com a energia que cada um traz dentro de si.

 

Mestre Woo não sabe o que é feriado ou preguiça. Pratica e ensina o tai chi de domingo a domingo, das 8 às 9h. Uma vez por mês, promove um café comunitário para celebrar a convivência harmônica. Durante a pandemia, o ritual sofreu uma interrupção, mas, com o arrefecimento da crise sanitária, as atividades serão retomadas. Vamos celebrar os 91 anos do mestre Woo com toda a gratidão e reverência por tudo que fez (e faz) por Brasília.

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