Festa para os professores

Publicado em Crônicas

Severino Francisco

Uma boa alma repassou-me um vídeo filmado com celular, que registra um instante precioso: a recepção dos alunos do Centro de Ensino Fundamental 404 de Samambaia aos professores que retornaram da greve, ontem. Os estudantes aplaudem de pé e gritam de alegria, durante alguns minutos, para celebrar a volta dos docentes. Confesso que, a cada vez que assisto ao vídeo, choro as tais lágrimas de esguicho de que falava Nelson Rodrigues.

Eu acho que esse tipo de manifestação de carinho é importante porque, de um lado, poucos defendem os direitos deles, e, de outro, se eles se levantam para pedir dignidade, os governantes jogam pesado. Não ouvem suas reivindicações e, se eles, em um recurso extremo, recorrem à greve, logo são processados e ameaçados.

Quase sempre, os magistrados declaram a greve ilegal e argumentam que a ação dos docentes prejudica especialmente os desvalidos, que não têm onde e com quem deixar as crianças quando saem para o trabalho. É verdade, mas eram precisamente os filhos da população vulnerável que estavam aplaudindo de pé os professores em greve que voltavam à escola.

Claro que a greve é um acontecimento terrível e dramático na vida dos alunos, dos pais e dos professores. É preciso registrar que, durante o movimento de paralisação, diferentemente de outras classes de trabalhadores, os docentes não gozam de ócio; eles precisam repor cada dia que ficaram parados.

Em tese, concordo com a alegação dos magistrados. Mas é preciso avaliar se houve alguma desinteligência, má administração ou injustiça grave de parte dos governantes. No caso em tela, a injustiça é flagrante, objetiva, mensurável e irrefutável.

Em ranking de 20 carreiras do serviço público no DF, os docentes ocupam a vice-lanterna em remuneração, posição desonrosa não só para eles, mas, principalmente, para os governantes, pois é reveladora do descaso para com a educação. Os governantes deveriam ser os primeiros a tomar a iniciativa de priorizar a dignidade dos professores, e não tratá-los como inimigos públicos.

Tenho visitado escolas da periferia e visto cenas pungentes do empenho com que os pais levam e acompanham as crianças nas escolas. Sim, eles sabem que a educação é a única alternativa de que dispõem para melhorar a condição de vida dentro da terrível situação de desigualdade social na qual nasceram.

Se a educação é prioridade, se ela é capaz de transformar a vida dos mais vulneráveis, se os governantes e os magistrados estão preocupados com o destino deles, então precisam priorizar a educação em todos os momentos.

Defender os desvalidos apenas no momento em que estoura uma greve é pura demagogia e covardia. Precisam lutar pela remuneração digna, condições decentes da estrutura física das escolas, segurança, contratação de professores para atender ao aumento da demanda, professores para cuidar especialmente de alunos com deficiência.

Por isso, foi muito tocante o ritual do coração que os alunos fizeram para recepcionar os professores, tão essenciais e tão massacrados quando reivindicam direitos mínimos. É uma demonstração de carinho, reconhecimento e gratidão. Vocês nunca viram greve dos funcionários do Senado, da Câmara dos Deputados ou da Presidência da República.

Se os professores fossem tratados com distinção semelhante nunca haveria paralisação. Com certeza, a greve é um acontecimento que traz muitos prejuízos e precisa ser evitado, basta conceder dignidade profissional aos professores.

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