Calendário do Athos

Publicado em Crônicas
Crédito: Ricardo Borba/CB/D.A Press. Brasil.  Athos Bulcão sob o fundo de painel no Hospital Sarah: integração inovadora de arte-arquitetura nas instituições de saúde.

 

Severino Francisco

 

As parcerias de integração arte-arquitetura de Athos Bulcão com Oscar Niemeyer e Lelé Filgueiras, só podem ser comparadas às de Pelé e Coutinho, Bebeto e Romário, Fellini e Nino Rota, Glauber Rocha e Villa-Lobos. Mas, entre várias obras-primas, eu queria destacar as que fez com Lelé Filgueiras em hospitais da Rede Sarah, tema do Calendário Athos Bulcão de 2021, que homenageia os profissionais de saúde que trabalharam e trabalham no combate ao coronavírus.

 

Athos e Lelé firmaram parceria a partir de 1962. Os dois se conheceram em 1959, durante uma grande festa promovida na superquadra 106 Sul, em que veio a Brasília um avião com toda a turma do bar Vermelhinho, para animar o grupo que construía a cidade com um pileque geral. Essa parceria tem uma unidade, oriunda dos mesmos valores modernistas de humanização dos espaços urbanos formulados pela geração de Oscar Niemeyer e Lucio Costa.

Crédito: Paulo H. Carvalho/CB/D.A Press.  As intervenções de Athos Bulcão inserem a vibração das formas e das cores da arte no ambiente interno do Hospital Sarah Kubitschek, no Lago Norte.

 

Com Lelé, Athos realizou intervenções de arte-arquitetura nos hospitais da Rede Sarah em Brasília, Salvador, Aracaju, Belo Horizonte, Natal, Vitória. Quem disse que o hospital precisa ser um ambiente sombrio, cinzento, tedioso, monótono e feio?

 

Em parceria com Athos Bulcão, Lelé concebeu espaços mais humanos e belos dentro do hospital, com painéis de colorido vibrante, arquitetura vazada, ventilação e iluminação naturais: “Ninguém se cura somente da dor física, tem de curar a dor espiritual também”, disse Lelé em depoimento à Cynara Meneses.

Crédito: Arquivo/Fundação Athos Bulção. Painel do hospital Sarah Kubistchek no Lago Norte.

 

Lelé revolucionou o uso da luz e da ventilação naturais no ambiente do hospital Sarah. Elas só não são utilizadas no centro de cirurgia e nas salas de raio X. Athos dizia que muitos arquitetos acreditam que a arte só deve entrar em um prédio depois que ele estiver pronto. Não é esta a visão de Lelé. Para ele, as intervenções de Athos não são meramente decorativas, interferem em sua concepção de arquitetura. Não são quadros que se penduram nas paredes para enfeitar o ambiente.

 

Em uma ala de quartos do Hospital Sarah, em Brasília, criou painéis constituídos por módulos coloridos, com pequenas aberturas, que entram em comunicação direta com os jardins. Na sala de espera da radiologia, utilizou as cores amarela e laranja, em fundo branco, para provocar a sensação de alegria e de bem-estar.

 

Um dos trabalhos que produziu maior prazer foi a série de bichos coloridos que Athos concebeu pensando nas crianças. O artista ficava muito feliz com a reação positiva das crianças internadas na rede Sarah. Quando passam para tomar sol, ficam envolvidas por formas leves, exuberantes, coloridas e sugestivas. Estabelecem uma relação afetiva com o espaço.

Sem essa intervenção aquele espaço seria tão cinzento quanto o da garagem de qualquer prédio. São experiências inovadoras de alcance internacional forjadas a partir de Brasília e que honram o país, principalmente neste momento em que tantos personagens e situações nos envergonham.

PS: Quem quiser mais informações sobre o Calendário Athos Bulcão 2021, pode entrar em contato pelo seguinte endereço: www.catarse.me/calendarioathosbulcao2021.

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