Aves da cidade-parque

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Credito: Tancredo Maia Filho/Divulgacao. Príncipe; ave migratória austral; migra na época fria na Argentina e chega em Brasília em abril, ficando aqui até meados de setembro. Este indivídua para na mesma área, à beira da lagoa do Parque da Cidade.
Credito: Tancredo Maia Filho/Divulgação. Príncipe; ave migratória austral; migra na época fria na Argentina e chega em Brasília em abril, ficando aqui até meados de setembro. Este indivíduo parada na mesma área, à beira da lagoa do Parque da Cidade.

 

 

Severino Francisco

 

Sou um repórter distraído, mas, mesmo assim, em minhas andanças, percebo que aumentou muito a população de aves na cidade. Pássaros visitam, diariamente, as janelas dos prédios. Alguns trinam com tanta delicadeza que poderiam se apresentar no Clube do Choro. Outros grasnam com tal contundência que fariam sucesso no Porão do Rock. Existem até grupos organizados que fazem a observação de pássaros e aves no Distrito Federal. O ambiente favorável atrai aves migratórias de outros países.

 

E, como me falta conhecimento para ditar cátedra sobre a matéria tão complexa, procurei a consultoria de Tancredo Maia Filho, do grupo Observaves, criado há 12 anos. Tancredo tem mais tempo de observação de aves do que beija-flor de voo. É acriano e cresceu no meio da natureza, dos rios e dos igarapés.

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Crédito: Gustavo Moreno/D.A. Press. Tancredo Maia sob o fundo de exposição de fotos

 

 

 

 

Com 10 anos, fazia coleção ornitológica e observação científica. Classificava os ovos de pássaros por tamanho. Tem 70 anos, é arquiteto de formação e mora em Brasília desde 1963. O Plano-Piloto é um lugar especial para as aves pela generosidade dos espaços, a diversidade das árvores, as flores, os parques e os jardins, explica Tancredo, com olhar de arquiteto: “As aves ocorrem por conta do plano urbanístico do doutor Lucio Costa. A cidade-parque, a cidade-jardim, atrai as aves, com farta oferta de alimentos”.

Credito: Tancredo Maia Filho/Divulgacao. Tesourinha.
Credito: Tancredo Maia Filho/Divulgação. Tesourinha: personagem típico do cerrado

 

 

Levanto a questão do lugar de Brasília no mapa das aves nas cidades brasileiras e Tancredo se arrisca: “Eu diria que nas áreas urbanas, se a gente comparar Rio de Janeiro, Salvador ou Curitiba, Brasília é a cidade que tem o número de aves na área urbana. Claro que o Rio tem muitas aves no Jardim Botânico, mas, em Brasília, você encontra em todos os lugares. Você encontra uma coruja buraqueira na calha da Biblioteca Demonstrativa do INL”.

 

Credito: Tancredo Maia Filho/Divulgacao. Maria- faceira.
Credito: Tancredo Maia Filho/Divulgação. Maria- faceira.

Tancredo esclarece que os pássaros são uma ordem dentro do conceito mais amplo de aves. Os periquitos e os beija-flores não são pássaros. Os bem-te-vis são pássaros (eles cantam). No Plano Piloto, as aves mais comuns e visíveis são o sabiá-laranjeira, o bem-te-vi, o quero-quero, os picapaus e os periquitos. Espécies ariscas, como é o caso da Curicaca, uma ave selvagem grande, do tamanho de uma galinha, com bico alongado, foram domesticadas e circulam pelos gramados das Asas Norte e Sul.

 

Credito: Tancredo Maia Filho/Divulgacao. Curicaca.
Credito: Tancredo Maia Filho/Divulgação. Curicaca.

 

Por outro lado, a cidade abriga aves migratórias tanto do sul quanto do norte do continente. Quando começa a fazer frio na Argentina, sua alteza imperial, o pássaro Príncipe, migra para o Parque da Cidade. Vem para o mesmo local no Parque da Cidade. Em outubro, chega um migratório da América do Norte. O bacurau norte-americano, apelidado de Gringo por Tancredo, pousa em árvore próxima ao estacionamento do Parque da Cidade.

 

Credito: Tancredo Maia Filho/Divulgacao. Bacurau norte americano, espécie migratório da América do Norte; quando começa a esfriar, viaja cerca de 9 mil quilômetros; este indivíduo faz parada em uma mesma árvore.
Credito: Tancredo Maia Filho/Divulgação. Bacurau norte americano, espécie migratório da América do Norte; quando começa a esfriar, viaja cerca de 9 mil quilômetros; este indivíduo faz parada em uma mesma árvore.

Existe algo importante na observação de aves, ensina Tancredo. Quanto mais observa, mais aves vai de descobrir. No Parque Olhos D’Água, em um território de 21 hectares, Tancredo registrou 96 aves. Comento que o colega Rubem Braga escreveu que seria triste o destino das crianças brasilienses: nunca veriam uma andorinha: “O nosso querido Rubem Braga bateu com a língua nos dentes”, se diverte Tancredo. “Temos andorinhas nos prédios, nos blocos, nos edifícios dos tribunais, nas escolas, em todo lugar”.

O brasiliense ama, cultiva, abriga e protege os pássaros, confirma Tancredo. “Não vejo ações predatórias. Tem um cidadão com um comedouro que acorda com o barulho de 30 periquitos. O acasalamento dos sabiás é um espetáculo. A consciência ecológica é um traço da população de Brasília”.

 

Credito: Tancredo Maia Filho/Divulgacao. Bem - te-vi eriça o topete amarelo quando em disputa do território ou para impressionar a fêmea quando está em cortejo nupcial.
Credito: Tancredo Maia Filho/Divulgação. Bem- te-vi eriça o topete amarelo quando em disputa do território ou para impressionar a fêmea quando está em cortejo nupcial.

 

 

 

 

4 thoughts on “Aves da cidade-parque

  1. Prezado Severino Francisco, uma honra ter sido “consultor” para sua inspirada crônica sobre aves da nossa querida cidade-parque tão magistralmente concebida pelo doutor Lúcio Costa e que você, eu e tantos outros cuidamos para preservar e conservar contra a ação deletéria de outros tantos.
    Parabéns, parceiro.
    Aguardo você para uma passarinhada nos parques e jardins de nossa cidade.

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