A omissão dos governantes

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Severino Francisco

Vivemos tempos dramáticos em que talvez nunca a omissão das autoridades tenha sido tão decisiva no desencadeamento dos fatos. Por isso, esta coluna fez entrevista mediúnica exclusiva com o padre Antonio Vieira, o genial autor de Os sermões. Fala, mestre!

O que é, afinal, a omissão?

A omissão é o pecado que se faz não se fazendo: e pecado que nunca é má obra, e algumas vezes pode ser obra boa; ainda os muito escrupulosos vivem muito arriscados neste pecado.

Como caracterizaria esse pecado?

A omissão é o pecado que com mais facilidade se comete e com mais dificuldade se conhece; e o que facilmente se comete e dificultosamente se conhece, raramente se emenda.

Poderia dar um exemplo?

Elias se recolheu para jejuar no deserto e, mesmo assim, foi repreendido por Deus.

Por que razão?

Porque ainda que eram boas as obras que fazia, eram melhores as que deixava de fazer. Tinha Deus feito Elias profeta do povo de Israel, tinha-lhe dado ofício público. E estar Elias contemplando o Céu, quando havia de estar emendando a Terra, era muito grande culpa.

Não há certo exagero da parte do senhor em qualificar a omissão como o mais grave dos pecados?

Uma das cousas de que se deve acusar e fazer grande escrúpulo os ministros é do pecado do tempo. Porque fizeram o mês que vem o que se havia de fazer o passado; porque fizeram depois o que se havia de fazer hoje; porque fizeram depois o que se havia de fazer agora; porque fizeram logo o que se havia de fazer já.

E a que mandamento pertencem esses pecados do tempo?

Pertencem ao sétimo: porque ao sétimo mandamento pertencem os danos que se fazem ao próximo e à república: e a uma república não se lhe pode fazer maior dano que lhe furtar instantes. Ah, omissões, vagares, ladrões de tempo.

Que recado daria aos governantes que se omitem em instantes cruciais?

Saiba cristão, sabei príncipes, sabei ministros, que se vos há de pedir estreita conta do que fizestes, mas muito mais estreita conta do que deixastes de fazer. Pelo que fizeram, se hão de condenar muitos, pelo que não fizeram, todos.

Então, a função dos governantes é um tanto perigosa?

Está o príncipe, está o ministro divertido, sem fazer má obra, sem dizer má palavra, sem ter mau nem bom pensamento; e talvez naquela mesma hora, por culpa de uma omissão, está cometendo maiores danos, maiores estragos, maiores destruições, que todos os malfeitores do mundo em muitos anos.

Por que assim é?

O salteador na charneca, com um tiro, mata um homem; o príncipe, o ministro e o governador, com uma omissão, matam de um golpe uma monarquia, uma república, um país, um estado ou um distrito. Estes são os escrúpulos de que não se fazem nenhum escrúpulo: por isso mesmo, são as omissões os mais perigosos de todos os pecados.

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