Severino Francisco
Parece que o frio vinha para arrasar e para tornar ainda mais imperiosas e urgentes as festas de São João. Mesmo assim, que elas venham, pois serão bem-vindas. Em matéria de são-joão não perdemos para nenhuma das outras capitais. É o que mostrou a pesquisa desenvolvida pela JLeiva Cultura & Esporte, divulgada em 2018. Brasília é a capital que mais brinca no período junino. Eu já sabia, ou melhor, eu desconfiava, mas a pesquisa conferiu legitimidade científica às minhas impressões.
É festa para todos os lados. Ainda é um espaço muito democrático e o mais agregador em nosso território, mais até do que o carnaval, que se deixou contaminar pela violência. Qualquer escola, igreja ou condomínio pode se mobilizar e organizar uma.
Lembro de sair de carro muitas vezes sem roteiro e, em um átimo, encontrar alguma festa em uma superquadra para os meus filhos se divertirem. Era algo mágico, a gente tinha a certeza de que ia topar com uma em algum lugar. E, de fato, nos aproximávamos de uma quadra, ouvíamos o som do forró de longe, chegávamos mais próximo e se descortinava a fogueira e o movimento.
Não era preciso pedir autorização ou licença. Por alguns instantes, proporcionava a sensação boa de pertencimento. Brasília perdeu muito o espírito público dos tempos utópicos, mas ele ainda resiste nas festas de são-joão, que se multiplicam pelas superquadras, pelas igrejas, pelos clubes, pelas repartições e pelos condomínios.
Talvez pelo fato de morarmos em uma cidade artificial, tenhamos a necessidade de, em algum momento, cultivar ancestralidades, abandonar o mundo virtual, botar os pés no chão de voltar para a conversa olho no olho ao lado da fogueira, com forró como trilha sonora para celebrar asa coisas simples da vida.
Não gosto das megafestas, movidas a música breganeja, funk, axé ou qualquer gênero em voga. Prefiro as festinhas despretensiosas, em que qualquer um pode entrar e, de preferência, comer o que quiser, sem pagar nada. Está mais em sintonia com o espírito de comunhão que animava as festanças primitivos de agradecimento aos deuses pelas colheitas fecundas. Imagino que São João, São Pedro e Santo Antônio, patronos do folguedo, ficariam felizes com a generosidade.
A que considerei a mais simpática foi a promovida por um condomínio próximo à área onde moro. Os moradores se organizaram para oferecer tudo de graça para a comunidade. Qualquer pessoa que passasse, podia entrar, ouvir música, comer e ainda levar uns salgadinhos, um bolo ou um doce para os que ficaram em casa.
Na década de 1980, curti festas magníficas no Cresça, animadas pelo Trio Siridó, no Clube da Imprensa (animadas pelo mesmo Trio Siridó) e na Casa do Ceará (com Luiz Gonzaga). As noites frias brasilianas, cravejadas de estrelas, pedem uma festa de são-joão. Todos os condomínios promovem festanças animadas. No fim de semana, promoveremos uma festinha só para alegrar as crianças e esquentar o coração.