A fome em cartaz

Publicado em Crônicas

Severino Francisco

No início da década de 1990, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, lançou uma campanha para combater a fome que atingia 30 milhões de brasileiros. Betinho bateu em todas as portas, mas os únicos que o acolheram foram os bicheiros. No desespero de ajudar, ele aceitou a doação, foi crucificado e fez a autocrítica pelo erro, recusando a auréola de santo.

Mas o gesto de solidariedade reverberou e mobilizou os mais diversos setores da sociedade civil para a questão. Naquele momento não haviam as divisões que cindem os brasileiros como se fossem de países distintos e longínquos.

Evidentemente, o problema não pode ser atacado apenas por ações assistencialistas; precisa ser contemplado por políticas públicas. Graças à liderança de Betinho, aos trancos e barrancos, o país superou a situação mais grave de insegurança alimentar.

De 2014 para cá, o Brasil voltou a entrar no mapa da fome, apesar de algumas excelências se jactarem do agronegócio e de o país ser um dos principais produtores de alimento para o mundo. Só se preocuparam com o problema, às vésperas da eleição, atropelando a lei.

Por isso, o Instituto Ação para a Cidadania, criado por Betinho, propõe um novo desafio: um pacto para os 15% com fome prover os 33 milhões de brasileiros que padecem de insegurança alimentar. “Quem planta não tem o que comer, quem ganha um salário mínimo, também não. A fome é inaceitável”, diz o diretor-executivo do projeto Ação pela Cidadania, Rodrigo Kiko Afonso.

Em Brasília, uma mulher morreu na fila do Centro de Referência em Assistência Social (Cras), depois de tentar ser atendida durante oito dias. O tema da fome passou batido na primeira entrevista que a candidatos à presidência da República promovido pela Rede Globo. A fome não é mais invisível, está solta nas ruas. Recolhi nos semáforos algumas frases sobre o tema inadiável da fome.

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“Estou desempregado, sou avô que cuida de cinco netos, peço ajuda de uma cesta básica ou de outra coisa que toque o seu coração”.

“Sou mãe solo, tenho três filhos e preciso de ajuda para alimentação. Me dê uma cesta básica. Aceito Pix”

“Não existe crise para quem quer vencer. Aceito Pix”

“Sou mãe solteira, tenho três filhas pequenas para criar, estou desempregada. Por favor, me ajude com uma cesta básica”

“Estou vendendo pipoca para garantir a minha sobrevivência e a de minha filha de 3 anos. Me ajude”.

“Se você quiser ser um enviando de Deus, me ajude a comprar uma cesta básica. Aceito pix.

“Minha filha está precisando de uma bicicleta para trabalhar. Se puder, ajude”

“Sou microempresário, me ajude com 10 reais para eu começar o meu negócio. Aceito pix”.

“Fome, fome, fome, fome, fome, fome”

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