A barragem do Paranoá

Publicado em Crônicas
16/10/2017. Crédito: Breno Fortes/CB/D.A. Press. Brasil. Brasília – DF. Foto aérea das comportas da barragem do Lago Paranoá abertas.

Severino Francisco

A estrada de serviço da barragem do Paranoá, que liga o Plano Piloto ao Paranoá, à Itapoã e a vários condomínios, me preocupa e devia preocupar a todos. O alerta veio com o desastre de Brumadinho. Ainda bem que o Ministério Público entrou no circuito e proibiu a circulação de ônibus e caminhões a partir de 1 de março. Não sei qual será o

caminho alternativo para quem trafega pela região, mas o fato é que aquela passagem demanda cuidados da parte do governo do DF.

 

Antes mesmo de Brumadinho, imaginei, diversas vezes, a catástrofe desencadeada pelo rompimento da barragem do Paranoá. A quantidade de água é enorme. Aquela região é permeada de vales, cidades e condomínios. Seria uma tragédia humana e ambiental de magnitude inimaginável em Brasília.

Pode parecer paranoia, mas as informações que chegam se encaminham rumo à cautela e cuidados urgentes com a situação. Aquela estrada não foi planejada para receber um fluxo tão intenso de veículos, principalmente os pesados. Passo pelo trecho muitas vezes, pois temos um afilhado que mora no Paranoá. A paisagem delineada pelo lago é belíssima.

2/2/2019. Credito: Barbara Cabral/Esp.CB/DA.Press. Risco próximo às barragens.

 

Mas os sinais do perigo estão inscritos no asfalto, malcuidado, fendido por rachaduras e buracos. Com o desastre de Brumadinho, a pavimentação recebeu reparos. No entanto, isso é insuficiente, pois a estrutura é inadequada ao fluxo e ao peso dos veículos que circulam por aquelas paragens. Como já disse, não sou consultor de segurança; sou consultor de insegurança.

No entanto, pelas informações que li, a situação comporta riscos a serem evitados. Esse parece ser o entendimento do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), apesar de representante da CEB afirmar que a barragem não representa “risco estrutural grave”.

6/2/2019. Credito: Barbara Cabral/ Esp.CB/DA.Press. Brasil.  Interdição para obras na barragem do Paranoá.

 

A declaração não me tranquiliza. Seriam necessários outros estudos para avaliar com mais segurança sobre matéria de consequências tão graves para a cidade. A intervenção do MPDFT vai nesta direção. Entrou na Justiça com uma ação contra o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e a CEB para obrigar aos dois órgãos que construam uma nova ligação entre a Estrada Parque do Contorno e a Estrada Parque Dom Bosco: “A omissão dos réus é grave e deve ser prontamente corrigida pelo Poder Judiciário a fim de evitar tragédias e desastres causados pelo uso abusivo da estrada de serviço da Barragem do Paranoá”, aponta o MPDFT, em seu arrazoado.

Essa nova pista substituiria a única, precária e perigosa estrada de serviço da barragem do Paranoá. O MP recomenda também que a referida via deve ser usada exclusivamente para a manutenção da barragem, sem trânsito de veículos.

Em quase todos os desastres recentes, as autoridades asseguravam que não havia perigo. Pode ser excesso de zelo ou paranoia do MP. Mas eu prefiro a paranoia que preserva vidas do que a suposta segurança que mata. O que ocorre no Brasil não são acidentes; são tragédias anunciadas em série pela omissão.

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