O que a palavra sexo significa para você? A palavrinha de quatro letras é uma das que mais atraem curiosidade, e, ao mesmo tempo vergonha. Fortes valores éticos, construíram – ao longo da história – uma sociedade ocidental que tenta, de várias formas, limitar as designações sexuais entre os indivíduos. Falar sobre sexo, frequentemente toma designação de errado e reprovável em vários contextos do cotidiano, de forma mais latente na televisão.
Talvez seja exatamente por isso que The Girlfriend Experience (escrita, produzida e dirigida por Lodge Kerrigan e Amy Seimetz) chame tanta atenção: a reprodução de uma discussão completamente sexual e erótica, que consegue chocar um público que está acostumado a lidar com a sexualidade de uma forma velada. A série chega a ser brutal de algumas formas, o ato sexual é explicitamente apresentado na telinha, sem o menor traço de censura (ou qualquer “traço de respeito ao público”, que alguns tentam afirmar como sinônimo para censura). E é claro, nada mais natural para uma produção que se predispõe a tratar sobre a prostituição.
Tecnicamente, a produção também se encontra acima da média, e o que mais impressiona nesse sentido é a forma como a trilha sonora é trabalhada. De forma quase inexistente, o recurso sonoro é aplicado dentro de um contexto “duro”, sem harmônia, o que causa forte sensação de desconforto e ajuda a construir uma narrativa brilhante à trama do pequeno canal Starz.
Na primeira temporada, acompanhamos a história da jovem Christine Reade (Riley Keough, atriz que é neta do rei do Rock n’ Roll, o lendário Elvis Presley), que em um contexto mais cliché das acompanhantes de luxo, se vê obrigada a buscar a prostituição após um período universitário sem dinheiro e solitário. Christine parece tomar o controle do que é a prostituição e decide, então, “seguir carreira”, dando vida a uma das melhores temporadas de 2016. A proposta de The Girlfriend Experience, é, acima de tudo, naturalizar um tema que teima em ser algo tão distante de uma coisa comum, como a prostituição.
Já na segunda temporada, que estreou no começo de novembro, a produção se expande para uma ousada história. Em um contexto de série antropológica, a série deixa todo o plot de Christine de lado para apresentar os desafios de Bria, Anna e Erica (Carmen Ejogo, Louisa Krause e Anna Friel, respectivamente). Neste começo (a série apresentou cinco episódios até o momento), as mulheres são representadas independentemente, com um episódio para Bria, e outro para Anna e Erica.
Os episódios de Anna e Erica são os mais interessante – em minha opinião. Anna é a prostituta que se junta a Erica para um caso de amor e poder, já que o trabalho de Erica é fazer a ligação entre empresários e deputados, e Anna tem papel fundamental para o bom funcionamento dessa “ligação”. O que mais impressiona nos episódios das duas é como o jogo de poder político é representado em um dos países mais poderosos do mundo. Como os homens de poder são baixos moralmente e não se importam com nada além de seu próprio interesse, ou seja, como uma prostituta é infinitamente mais nobre do que um parlamentar, ou um lobista.
Já a história de Bria ainda é um pouco confusa. O que sabemos até agora é que a mulher denunciou um cliente criminoso e agora está em um serviço de proteção a testemunha. O grande problema é que ela é profundamente ligada a prostituição e sente como se tivesse cometido um erro ao se afastar da atividade.
Acho que, de alguma forma, as três histórias irão se ligar até o fim da temporada, apontando para mais um ano brilhante da produção. Em síntese, a série se posiciona, como um importante pilar das produções de qualidade na televisão atualmente, com um tema ousado e uma construção eficaz.
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