Desde o início da televisão, os adolescentes são uma importante fatia de público-alvo dos grandes canais. Se antes eles eram personagens-chave nas sitcoms, a partir dos anos 2000 ganharam séries próprias e até mesmo emissoras, a exemplo da CW. Naturalmente, o gênero das séries teens nunca parou de evoluir e The end of the f***ing world pode ser considerado o próximo degrau nessa escada de evolução.
A característica que deixa claro o quanto a produção está com o pé à frente de outras séries do gênero é a dificuldade em caracterizá-la como drama ou comédia. Tudo bem, muitas séries já apostam neste formato há um tempo, porém, com The end of the f***ing world, não existe a menor possibilidade de encaixe em um universo pré-determinado: ela é simplesmente… um teen adulto.
A história é de Jonathan Entwistle (originalmente pensada como HQ), produzida pelo canal britânico Channel 4 (que também fez Misfits e Skins) e conta a a relação entre James (Alex Lawther) e Alyssa (Jessica Barden), ambos com 17 anos. O garoto se autoclassifica como um psicopata e a garota tem em sua mente uma absoluta repulsa pela família e a sociedade em geral.
Alyssa decide falar com James, pois julga que ele é o garoto mais estranho na escola – e é isso o que ela gosta nele. Ele decide dar trela a garota, pois está com vontade de matar “algo maior que animais”. A amizade improvável, na verdade, reúne a incrível insatisfação dos dois jovens com o mundo ao seu redor e com suas expectativas de futuro. James e Alyssa refletem uma parcela crescente de jovens que não aguentam as perspectivas sociais, cada vez mais, vazias e superficiais e então decidem fugir em uma road trip.
A produção consegue balancear brilhantemente todos os altos e baixos dos dois adolescentes fugitivos. É muito bem escrita, bem pensada e surpreende a cada cena, o que não a deixa entediante ou enfadonha (como algumas road trips geralmente se tornam).
Tecnicamente, o Channel 4 também dá um verdadeiro show. A escolha de Lawther e Jessica para o protagonismo é a mais acertada possível – finalmente o público tem a chance de ver uma produção teen com atores com menos de 30 anos.
O roteiro consegue ultrapassar qualquer censura das morais e bons costumes (se prepare para o grande número de xingamentos, sangue e cenas absurdas), com a desculpa de escape cômico. E os golpes do destino que os dois sofrem colocam o público para refletir sobre o que realmente é aproveitar a vida ou estar apaixonado.
Como outras apostas teens da tevê britânica, The end of the f***ing world apresenta a evolução do gênero, que não se limita àqueles velhos (mas ainda bons) romances jovens e explora reflexões cada vez mais adultas.
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