2021. Crédito: Disney Plus/Divulgação. Cultura. Cena da série Falcão

Produções com super-heróis investem em mensagens sociais

Publicado em Séries

Séries e filmes com super-heróis variam o tom e fogem da simples fantasia para aproveitar o alcance e a popularidade do gênero

Pedro Ibarra*

Um dos mais importantes e populares gêneros da era recente do audiovisual, as produções de heróis estão mais do que consolidadas nos cinemas e agora estão também dominando os serviços de streaming. As gigantes Disney +, Netflix e Amazon Prime Video vêm investindo pesado no estilo, sem contar com a HBO Max, que chega no final do mês também com muito foco nas super histórias.

Contudo, diferentemente das telonas, os seriados têm explorado um outro lado dos super-heróis. Por vezes mais profundos e críticos, em outros momentos mais violentos e sangrentos, os personagens dos quadrinhos não são apenas ação e entretenimento quando o assunto é streaming. Séries como The Boys, Watchmen, O legado de Júpiter e a animação Invencível investem em novas formas de apresentar os superpoderosos. Mais falhos, com menos caráter, perturbados pelo poder, os heróis não são mais apenas fontes para vender bonecos e camisetas, são representações de chagas da sociedade.

Essas novas histórias adaptam quadrinhos marcados por muitas críticas, violência e personagens imperfeitos. Com isso, buscam um público mais adulto, interessado em novas representações dos heróis, atualização dessas figuras em um contexto realista e cenas mais gráficas.

Para Load, especialista em quadrinhos e cultura pop e famoso nas redes sociais, é um processo natural a popularização deste estilo. “Eu gosto, parece que estamos nos anos 1990 dos quadrinhos, onde a violência era destaque junto com aquelas splash pages. Eu já cheguei a conversar com alguns amigos que esse é um caminho natural”, afirma o influencer conhecido pela página Load Comics.

Segundo ele, os seriados acabam ajudando essas histórias que não tinham tanto alcance nos quadrinhos. “Um lado positivo é que essas séries costumam melhorar muitas coisas da obra original. Além da violência, eles aprofundam mais os personagens e dão destaque para as cenas de ação”, analisa o especialista, que ainda atribui a popularização do estilo ao sucesso absoluto de Deadpool em 2016, filme que arrecadou mais de US$ 700 milhões em bilheteria mundialmente e concorreu ao Globo de Ouro. “Creio que ele foi um dos grandes responsáveis para esses filmes e séries de herói +18”, aponta.

A Marvel e o impacto social no mainstream

A Marvel é o maior nome quando se diz respeito a super-heróis nos cinemas. Por mais que divida o protagonismo nos quadrinhos com a DC, nas telonas, e agora nas telinhas, o Universo Cinematográfico Marvel (MCU) é hegemônico. A relevância e os grandes números de bilheteria dão a possibilidade dos estúdios ousarem nas histórias e linguagens das produções.

O grande marco de uma fase mais engajada do MCU foi Pantera Negra em 2018. O longa tocou em temas raciais e passou uma mensagem muito mais importante que as cenas de ação que propôs. Não à toa que concorreu a sete Oscars, incluindo o de melhor filme, e saiu da premiação com três estatuetas. O herói e rei de Wakanda abriu as portas para que os filmes do gênero pudessem ser algo além do puro entretenimento.

Nas séries, a Marvel viu uma oportunidade de ouro para aprofundar-se nos personagens e na mensagem. Com mais tempo e sem a necessidade de prender o espectador a todo momento com sequências de ação, a subsidiária da Disney investiu no discurso e ousou no formato. WandaVision teve a roupagem de sitcoms famosas, mas no plano de fundo trabalhou a morte e os estágios do luto. Falcão e o Soldado Invernal fez sua ação de física, mas questionou o o heroísmo norte-americano e o lugar do negro na sociedade e na história. A “nova” Marvel dos seriados tem heróis com ideais e passado, as motivações dos personagens são realistas e as críticas sociais são pertinentes e atualizadas.

“Creio que uma das coisas mais importantes é que nos tempos que vivemos debatendo sobre política e representatividade, mostrar a relevância disso e levar esse debate para além das redes sociais é algo muito positivo”, pontua Load sobre essa forma da Marvel de fazer séries. “Queria muito que na época que eu era adolescente esses temas estivessem em alta, seria mais fácil para eu compreender algumas coisas e discutir com amigos”, adiciona o ex-Omelete. “A Marvel colocando isso nas séries e filmes atinge um público maior ainda e que não se sentia representado nas mídias”, completa.

Para o especialista, parte do público está preparada para ver um cinema de heróis mais engajados, mas isso significa que não haverá resistência de uma parte mais conservadora dos fãs de HQs. “A galera que não gosta ou não apoia essas mudanças sempre se viu nas telas e capas de revistas. Eles se incomodam em perceber que estão perdendo espaço para um público que sempre gostou de cultura pop mas não se via nesses filmes e séries”, reflete Load. “Um pessoal chama de ‘mimimi’ ou ‘lacração’. Essas pessoas não leram e julgam antes mesmo de conferir e acabam se lacrando em suas bolhas e perdendo ótimas histórias”, acrescenta.

Loki e o futuro do MCU

Pensando no futuro do estúdio, a Marvel apresentou, na última quarta, o episódio de estreia de Loki, a primeira produção de um personagem que não é um herói do MCU. O Deus da Mentira ganha uma história que envolve viagem no tempo, universos paralelos e que já foi apontada pelo chefe de conteúdo da Disney e Marvel, Kevin Feige, como uma das histórias mais importantes para o desenrolar dos eventos que estão por vir no universo das séries e filmes.

Protagonizado por Tom Hiddleston, o seriado vai contar os fatos que sucederam a fuga de Loki em um dos passados apresentados em Vingadores ultimato. Com referências em filmes de agentes secretos, toda a magia asgardiana e o apelo irônico do personagem principal, Loki é uma aposta da Marvel e será a última produção antes do retorno do estúdio aos cinemas, após mais de um ano sem lançamentos devido à pandemia.

Com episódios todas as quartas-feiras, há uma expectativa muito grande dos fãs para que a produção responda perguntas que estão em aberto sobre o futuro do MCU e também para rever Loki, um dos mais populares personagens do universo e o principal anti-herói da Marvel até então nos cinemas.

* Estagiário sob a supervisão de Sibele Negromonte