“Falta inclusão”, afirma Beatriz Oliveira, atriz surda oralizada

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Intérprete de Pórcia na novela A infância de Romeu e Julieta, no SBT/Amazon, perdeu audição aos 17 anos

Atriz negra e periférica, Beatriz Oliveira conta com um detalhe em seu perfil: ela é portadora de deficiência auditiva. Ironicamente, esse traço de sua personalidade, que já foi obstáculo para diversos trabalhos, é justamente o que abriu portas para a paulista interpretar Pórcia na novela A infância de Romeu e Julieta, no SBT/Amazon. Surda, a personagem faz leitura labial para entender o que as pessoas dizem e se comunica em libras ou por escrito. Por sua vez, a intérprete — que foi diagnosticada com otosclerose aos 17 anos de idade, momento em que passou a perder a audição — é oralizada.

Beatriz passou a utilizar aparelho auditivo e a aprender Libras para se inserir na comunidade surda. O teste para o papel de Pórcia, para o qual concorreu com atrizes sem problemas de audição, foi realizado com bastante segurança por conhecer com muita propriedade o universo que envolve a personagem. Mas a atriz de 26 anos já está no meio artístico há oito anos e a novela do SBT/Amazon foi sua primeira chance de atuar em uma novela. “Para ser sincera, não sinto que há tanta inclusão no meio artístico. A comunidade surda existe há muitos anos, e só agora as pessoas estão começando a falar sobre tais assuntos e ainda sem saber as informações importantes. No geral, acho que há a tentativa de incluir, mas sem saber como. Inclusão não é você pegar uma pessoa surda e colocar lá para fazer um trabalho, sendo que o outro profissional não sabe como lidar, nem se comunicar com uma pessoa que fala em Libras. Existe uma dificuldade muito grande nesse meio de nos abraçar de forma verdadeira, de olhar para a nossa diferença e querer nos entender. Na verdade, a invisibilidade da comunidade surda é um problema maior. Não é apenas sobre Libras, não é só nas artes, é a comunicação como um todo nos serviços de atendimento à população, por exemplo, hospitais, delegacias etc, que não estão preparados para atender a população surda”, declarou.

Coincidentemente, a perda progressiva da audição ocorreu no momento em que Beatriz fez sua escolha de vida na arte. Ela notou a perda auditiva quando buscava uma vaga para participar do curso de formação em dança no Núcleo Luz. Beatriz passou na audição para estudar na escola apenas seguindo a vibração no chão. Para compensar esta falta da escuta, segundo a atriz, foi necessário aguçar outros sentidos, ter um olhar mais atento para si e ao redor.

Em meados de 2011, a jovem ingressou no grupo de teatro amador ABC (Arte dos Bons Companheiros), com quem apresentou espetáculos pela região da zona leste de São Paulo. Os processos criativos do grupo eram colaborativos, e neles todos atuavam, dirigiam e escreviam. Com o fim do grupo, em 2015, começou a fazer aulas de dança na Fábrica de Cultura e, em seguida, entrou para o Núcleo Luz, uma das melhores escolas de dança contemporânea e ballet clássico de São Paulo. Nessa época, a jovem também se arriscou no curso intensivo de modelo da HDA, voltado para pessoas negras. Em meados de 2020, entrou para a SP Escola de Teatro, onde se formou em 2023.

Outros trabalhos

Antes do papel em A infância de Romeu e Julieta, Beatriz fez trabalhos no cinema, em publicidade e nas plataformas de streaming. Em 2022, Beatriz viveu Rayane, uma das protagonistas do filme Escola de Quebrada, uma produção da Kondzilla em parceria com a Paramount, com direção de Kaique Alves. Em seguida, protagonizou Lapso, um curta metragem realizado em Belo Horizonte, dirigido por Carolina Cavalcanti, que recebeu diversos prêmios como, dentre outros, o de Melhor Filme Curta-metragem pelo Canal Brasil, o prêmio dos 10+ favoritos pelo júri popular, no 34º Festival Internacional de São Paulo — Curta Kinoforum, em 2023, além do Melhor Filme na Mostra Competitiva Nacional, pelo júri popular, no 25° Festival Kinoarte. Beatriz também participou da terceira temporada da série Unidade básica, da Universal TV, dirigida por Suzy Milstein, no papel de Gislaine, em que contracenou com Caco Ciocler.

Patrick Selvatti

Sabe noveleiro de carteirinha? A paixão começou ainda na infância, quando chorou na morte de Tancredo Neves porque a cobertura comeu um capítulo de A gata comeu. Fã de Gilberto Braga, ama Quatro por quatro e assiste até as que não gosta, só para comentar.

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