Há alguns anos, a Disney tem produzido live-action das animações que as consagrou nos anos 1990. A mais recente aposta foi a história da guerreira Mulan, narrativa representada pela primeira vez pelo estúdio em 1998. Vinte dois anos depois é a vez da personagem ser interpretada por uma atriz real, Yifei Liu, no filme homônimo que estreou em setembro nos Estados Unidos no streaming após adiamentos no cinema e chegou ao Brasil na última sexta-feira (4/12) pelo serviço Disney+.
Assim como o desenho animado, o filme é inspirado na lenda chinesa de Hua Mulan. Por ser uma versão segue caminhos narrativos diferentes, apesar do destino final semelhante. No novo longa-metragem, a história é contada pelo ponto de vista de Hua Zho (Tzi Ma), o pai de Mulan. Ele narra como a filha se transforma numa guerreira seguindo uma trajetória apontada na infância, quando ela descobre ter um chi (uma espécie de poder interior), mas precisa reprimi-lo por isso não ser algo aceitável para mulheres.
É um mérito voltar no tempo e contar a história de Mulan a partir da infância destacando como a personagem sofreu repressões para que seguisse o destino “natural” das mulheres: o de casar, “silenciando o dom”, como diz o pai da personagem em uma cena muito bonita do filme. Conhecer esse passado de Mulan dá credibilidade à decisão de assumir o lugar do patriarca quando ele convocado pelo Exército Imperial Chinês para defender a dinastia chinesa atacada pelo soldados de Rouran.
Para isso, Mulan se finge de homem e segue para o treinamento. Boa parte do filme se dedica a mostrar a personagem aprendendo os preceitos militares e se conectando com o chi. Inclusive, para falar desse “poder”, a produção insere a vilã inédita Xian Lang (Gong Li), personagem com dons parecidos com o de Mulan. Serve para explicar ao espectador o medo da família Hua de deixar a protagonista seguir o destino de guerreira. Ela seria considerada uma bruxa e desonraria o clã e a vila onde vive. A presença de Xian Ling traz a temática de inibição constante das mulheres e dá oportunidade para que o público assista embates muito bem coreografados de lutas das duas atrizes.
Falando em novidades, como já dito, Mulan tem algumas diferenças ao cânone de 1998. Aqui, a personagem tem uma irmã, Xiu (Xana Tang), o oposto dela e o orgulho da família. A adorável avó da animação não aparece em cena. Também há mudanças quando se fala nos personagens aos quais Mulan interage no Exército. Li Sang, comandante e par romântico de Mulan na animação, está de fora do live-action. Na verdade, o personagem foi dividido em dois: Honghui (Yoson An), novo recruta do Exército, e Tung (Donnie Yen), comandante do batalhão. Outra alteração é que uma fênix acompanha Mulan, em vez do dragão.
Todas as modificações soam como necessárias para a narrativa, que é bem desenvolvida. O filme se aprofunda nos dramas de Mulan e traz mensagens importantes e conectadas com o mundo atual. O longa é ainda uma produção visualmente bonita. As cenas de combate estão entre os destaques.
Pode-se dizer que, com alguns tropeços ao longo das adaptações em live-action, a Disney acertou com Mulan. A obra faz justiça a história consagrada na animação e ainda consegue ampliá-la no remake a amadurecendo.
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