Dezembro Dourado: diagnóstico precoce evita 80% dos casos de cegueira infantil

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Campanha reforça importância de consultas regulares, atenção aos sinais de alerta e estímulo ao desenvolvimento visual desde os primeiros meses de vida

Cerca de 80% dos casos de cegueira infantil no mundo podem ser evitados ou tratados quando identificados precocemente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, estimativas do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) mostram que erros refrativos — como miopia, hipermetropia e astigmatismo — estão entre as alterações mais frequentes na infância, ao lado de doenças congênitas e complicações associadas à prematuridade. Esse cenário evidencia a importância da campanha Dezembro Dourado, que busca conscientizar famílias sobre o acompanhamento da saúde ocular desde o nascimento.

Para o oftalmologista Edison Geraissate, do CBV‑Hospital de Olhos e fundador da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP), o diagnóstico precoce é determinante para evitar sequelas permanentes. “Diversas condições que podem levar à cegueira infantil são preveníveis ou tratáveis quando detectadas precocemente por meio de exames oftalmológicos. Entre as principais causas estão catarata congênita, glaucoma congênito, retinopatia da prematuridade, erros refrativos não corrigidos, ambliopia, estrabismo de pequeno ângulo e infecções ou inflamações oculares. A avaliação regular permite identificar essas alterações nas primeiras semanas de vida, possibilitando intervenções rápidas e eficazes, reduzindo significativamente o risco de perda visual permanente”, afirma.

A visão passa por um período de desenvolvimento acelerado até os 7 anos, o que torna a infância uma fase decisiva para o diagnóstico. O cronograma recomendado pelos especialistas começa ainda na maternidade, com o teste do olhinho, obrigatório na rede pública e privada. Depois disso, o ideal é realizar um segundo exame entre 6 meses e 1 ano e outro entre 2 e 3 anos, seguido de acompanhamento anual na idade escolar. Em casos de risco — como prematuridade, histórico familiar de doenças oculares, síndromes genéticas ou dificuldades de aprendizagem — as consultas devem ser semestrais.

De acordo com Geraissate, muitas alterações passam despercebidas no cotidiano. “Aproximar objetos do rosto, franzir os olhos, desviar um dos olhos, demonstrar sensibilidade excessiva à luz, tropeçar com frequência, ter dificuldade para acompanhar objetos ou apresentar queda no desempenho escolar são sinais importantes. Em bebês, a ausência de contato visual e o nistagmo também merecem investigação. Ao notar qualquer um desses indícios, é fundamental procurar avaliação oftalmológica completa o quanto antes”, orienta.

Estudos recentes citados pelo CBO apontam que quase 30% das dificuldades escolares têm relação com problemas de visão não diagnosticados. Além disso, a OMS alerta para o avanço global da miopia, especialmente associado ao uso precoce e prolongado de telas.

Diagnóstico precoce melhora o prognóstico

O especialista destaca que a intervenção no momento adequado aumenta significativamente as chances de recuperação. “É possível intervir com correção óptica, terapias visuais, medicamentos ou procedimentos cirúrgicos, quando necessário. Muitas crianças recuperam parcial ou totalmente a visão quando tratadas no tempo certo”, explica. Centros especializados mostram que, quando diagnosticados até os 3 anos, alguns quadros têm taxas de sucesso que chegam a 90%, dependendo da causa.

Para Geraissate, campanhas como o Dezembro Dourado ajudam a romper barreiras de desinformação e ampliar o acesso aos cuidados. “A iniciativa reforça a importância da saúde ocular desde os primeiros dias de vida, promove ações educativas e orienta as famílias. Ela destaca sinais de alerta, incentiva consultas regulares e lembra que a atenção à visão do bebê deve começar logo após o nascimento”, observa.

Ele ressalta ainda que pequenas atitudes no dia a dia potencializam o desenvolvimento visual. Ambientes bem iluminados durante a leitura e as atividades escolares, por exemplo, ajudam a reduzir o esforço ocular. A limitação do tempo de telas também é essencial, assim como o estímulo às atividades ao ar livre, reconhecidas pela ciência como protetoras contra a progressão da miopia. A alimentação rica em vitaminas A, C e E, os cuidados para evitar traumas e a atenção à exposição solar excessiva complementam o cuidado. “São medidas simples, acessíveis e que, somadas ao acompanhamento profissional, favorecem um desenvolvimento visual muito mais saudável”, conclui o oftalmologista.

Inep publica novas regras e critérios para avaliação da alfabetização

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O texto destaca a necessidade de fortalecer a comparabilidade, a padronização e o rigor técnico das avaliações, em consonância com o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou, na última sexta-feira (28/11), as regras e critérios que passam a orientar a avaliação da alfabetização no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). A Instrução Normativa nº 2/2025 formaliza o modelo que será utilizado para monitorar os níveis de leitura e escrita de crianças dos anos iniciais, em articulação com o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada (CNCA).

O documento define diretrizes para a aplicação das provas, padronização de procedimentos e validação dos resultados. Também estabelece que estudantes da educação especial devem ser avaliados sempre que estiverem devidamente registrados no Censo Escolar dentro do prazo — pré-requisito para que seus dados sejam incluídos nos indicadores.

As escolas precisam manter as turmas e matrículas atualizadas no sistema até 6 de agosto e garantir que os alunos permaneçam vinculados até o fim da coleta do Censo. Caso contrário, os resultados não serão considerados para efeito estatístico.

Segundo o Inep, a nova normativa fortalece a comparabilidade entre redes, aumenta a precisão das análises sobre aprendizagem e amplia a transparência do processo avaliativo.

Crise climática agrava insegurança alimentar na primeira infância, alerta relatório

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Ondas de calor, eventos extremos e perda de safras elevam riscos de desnutrição, doenças e atraso no desenvolvimento infantil; Brasil tem uma em cada três crianças pequenas em insegurança alimentar

A crise climática já ultrapassou o campo da previsão científica e passou a interferir diretamente na nutrição, saúde e no desenvolvimento das crianças brasileiras, especialmente na primeira infância. É o que mostra o relatório A Primeira Infância no Centro do Enfrentamento da Crise Climática, publicado pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI) com evidências atualizadas sobre como o ambiente extremo se torna um fator adicional de risco para bebês e crianças de 0 a 6 anos.

Hoje, uma em cada três crianças brasileiras de até 4 anos vive algum grau de insegurança alimentar, segundo o documento. Ondas de calor mais intensas, secas prolongadas, enchentes e perda de biodiversidade têm afetado diretamente a produção de alimentos, ampliando custos e reduzindo a qualidade nutricional disponível para famílias vulneráveis. Esse cenário se agrava entre crianças pequenas, mais suscetíveis à desnutrição e às doenças associadas a ela.

O relatório evidencia uma cadeia de efeitos que começa no ambiente e chega à mesa: perda de safras e encarecimento de alimentos básicos, como arroz, milho, leite e hortaliças, reduzindo a diversidade e a qualidade das refeições familiares.

Secas históricas e rompimento de ciclos agrícolas, agravam a insegurança alimentar em regiões já vulneráveis, diz o relatório. Calor extremo e poluição afetam a saúde de gestantes e lactantes, reduzindo a oferta e a qualidade do cuidado. O documento aponta ainda que enchentes e desastres naturais interrompem rotinas de alimentação, amamentação e acesso a serviços de saúde.

O resultado aparece nas estatísticas: maior risco de anemia, diarreia, infecções respiratórias, atraso no crescimento, dificuldades de aprendizagem e aumento da mortalidade infantil.

Divulgação/NCPI

Primeiros anos: os mais afetados

A primeira infância é a fase da vida mais sensível à desnutrição e ao estresse ambiental. O documento destaca que bebês e crianças pequenas têm metabolismo mais acelerado, exigindo alimentação frequente e variada. Além disso, o corpo infantil perde água com mais facilidade, tornando ondas de calor perigosas.

O cérebro em desenvolvimento depende de nutrientes específicos, que podem faltar quando a alimentação se torna repetitiva ou insuficiente.

Além disso, crianças nascidas em 2020 enfrentarão 6,8 vezes mais ondas de calor, 2,8 vezes mais enchentes e 2 vezes mais incêndios florestais ao longo da vida do que aquelas nascidas em 1960.

Divulgação/NCPI

Desigualdade agrava o quadro

O relatório destaca um ponto crítico: a crise climática não atinge todas as crianças igualmente.

Entre os 18,1 milhões de brasileiros de 0 a 6 anos, mais da metade vive em famílias com renda baixa, moradias precárias, saneamento insuficiente e pouca proteção social, fatores que aumentam a vulnerabilidade aos efeitos climáticos.

Crianças negras, indígenas, ribeirinhas, quilombolas e periféricas são as mais impactadas. Em áreas urbanas densas, a formação de “ilhas de calor” eleva os riscos de desidratação, desmaios e doenças respiratórias.

Educação infantil também sofre os efeitos

A escola, muitas vezes o único espaço de alimentação adequado para crianças pequenas, também é afetada. O relatório aponta que creches e pré-escolas com pouca ventilação e sem áreas verdes tornam-se ambientes inseguros em dias de calor extremo.

Falta de água, interrupções de energia e problemas estruturais comprometem a merenda, higiene e cuidados básicos. Educadores não têm formação para lidar com eventos climáticos durante o período escolar.

O que precisa ser feito agora

O relatório lista ações prioritárias para que o país proteja bebês e crianças pequenas diante da crise climática. Entre elas:

Na alimentação e saúde:

  • ampliar programas de segurança alimentar infantil;
  • fortalecer o SUS com foco em gestantes, bebês e vulnerabilidades climáticas;
  • garantir acesso à água potável em creches e comunidades.

Na educação:

  • climatização adequada, ventilação e áreas verdes nas escolas;
  • cozinhas com estrutura para operar em eventos extremos;
  • merenda escolar baseada em alimentos frescos e locais.

Na proteção social:

  • priorização da primeira infância em políticas de adaptação climática;
  • mapeamento de áreas de risco e reassentamento digno de famílias com crianças pequenas.

Ainda segundo o relatório, o Brasil registra prejuízos anuais de cerca de R$ 13 bilhões provocados por desastres climáticos. Perdas que recaem sobre famílias pobres e comprometem o desenvolvimento de toda uma geração.

O documento reforça que as crianças não causaram a crise climática, mas estão entre as que mais sofrem seus efeitos. E, se o país não agir agora, as desigualdades que já marcam a infância brasileira se aprofundarão nas próximas décadas.

Afogamentos na infância: nova campanha nacional mira cultura de prevenção

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Com afogamento entre as principais causas de morte acidental na infância, educadoras aquáticas defendem supervisão ativa, aulas desde os 6 meses e alertas contínuos de prevenção

O Brasil terá, a partir deste ano, um mês oficial dedicado à segurança aquática. Sancionada e publicada no Diário Oficial da União no início desta semana, a nova legislação transforma novembro em um período permanente de mobilização nacional para prevenir afogamentos, uma das principais causas de morte acidental entre crianças.

A mudança reforça a urgência de transformar cuidado em cultura, segundo especialistas ouvidas pelo Blog da Primeira Infância. Para elas, prevenção não é um alerta pontual, mas uma prática diária que envolve adultos, escolas, clubes e políticas públicas.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa), o afogamento é a segunda maior causa de óbito acidental entre crianças de 1 a 14 anos, ficando atrás apenas dos acidentes de trânsito. A entidade estima que, todos os anos, milhares de crianças são atendidas em emergências por incidentes relacionados à água, e que a maioria dos casos ocorre em piscinas, rios, lagos e represas, muitas vezes na presença de adultos, mas sem supervisão ativa. Além disso, para cada morte registrada, há pelo menos quatro a cinco episódios de quase-afogamento, que podem deixar sequelas neurológicas permanentes.

Para a educadora aquática Patrícia Guggiana, a criação de um mês oficial representa mais do que uma data simbólica: é uma convocação nacional. “Significa mais visibilidade, mais campanhas educativas e mais responsabilidade compartilhada entre escolas, profissionais, famílias e gestores públicos. A pauta deixa de ser um aviso isolado e passa a ser uma política de conscientização contínua”, afirma.

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Segundo ela, o país ainda trata afogamentos como acidentes imprevisíveis, quando na verdade a maioria é totalmente evitável. “É silencioso, rápido e previsível. E, mesmo assim, negligenciado. Muitos adultos acreditam que ‘comigo não acontece’. Em poucos segundos, com um adulto por perto, o acidente já está em curso”, pontuou Guggiana.

Patrícia destaca que o maior mito entre famílias é acreditar que uma criança que sabe nadar está protegida. “Habilidade aquática não substitui supervisão. Mesmo experientes, crianças podem se desorientar, escorregar ou agir de forma impulsiva. A prevenção nasce da soma: supervisão ativa, barreiras físicas e educação aquática constante”, afirma.

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A especialista lista sinais de risco que surgem antes de uma situação grave e passam despercebidos. “Tudo começa de forma silenciosa: criança muito perto da borda, boias mal ajustadas, brincadeiras de empurrão, respiração acelerada, tentativas constantes de se equilibrar. Outro sinal é o excesso de confiança, tanto dos pais quanto das crianças”, diz.
Se pudesse dar apenas uma orientação neste mês de conscientização, Patrícia é objetiva: “Nunca tire os olhos da criança na água. Supervisão ativa, sem celular, sem distrações. É a regra número um”, orienta a educadora.

Prevenção deve começar cedo

A professora e instrutora de natação Emilly Seródio reforça que as aulas não substituem o adulto, mas ampliam as chances de resgate em caso de emergência. “Nossas aulas para bebês e pré-escolares ensinam habilidades que compram tempo. A criança aprende a reagir a uma emergência. O adulto é quem deve impedir que a emergência aconteça”, explica.

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Segundo ela, a idade ideal para iniciar a adaptação ao meio aquático é por volta dos 6 meses. “É quando o bebê já tem bom controle do pescoço e ainda mantém reflexos naturais que facilitam o aprendizado. Não é sobre natação esportiva, mas sobre familiarização, conforto e habilidades básicas de sobrevivência antes que o medo se instale”, ao apontar que nunca é tarde para iniciar a prevenção.

Para famílias com piscina em casa ou que frequentam clubes, Emilly é enfática: “o celular, o livro e as conversas de adultos são perigos quando a criança está na água. A supervisão ativa é indispensável”, reforça.

Seródio reforça três medidas práticas que ajudam a prevenir acidentes: retirar brinquedos da piscina após o uso, porque atraem a criança para a beira sem o adulto perceber; instalar cerca de isolamento e portão com fecho automático, “os dispositivos mais importantes que o dinheiro pode comprar”; tratar a aula de natação como ferramenta de proteção, não como garantia de segurança.

Professora é premiada por projeto de alfabetização de crianças autistas não verbais

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Iniciativa desenvolvida em Belém aplica estratégias baseadas em ABA e CCA para ampliar autonomia e participação escolar de alunos autistas

A educadora paraense Noah Chiavenato foi reconhecida no Prêmio Inclusão em Neuroeducação Brasil por um projeto pioneiro de alfabetização voltado a crianças autistas não verbais. A proposta, construída a partir de metodologias utilizadas mundialmente na educação de pessoas dentro do espectro, busca garantir que esses alunos tenham acesso à comunicação, ao letramento e à participação escolar.

O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) estima que entre 25% e 30% das crianças dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA) sejam não verbais ou minimamente verbais. Para Noah, esse dado revela a urgência de práticas sensíveis, estruturadas e baseadas em evidências. “Cada aluno aprende de um jeito, e a alfabetização precisa respeitar essas diferenças”, afirma.

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A iniciativa da educadora combina técnicas da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) com recursos de Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA), duas abordagens que têm ampliado a autonomia de pessoas autistas em diferentes países.

A ABA é uma metodologia que estuda como o comportamento humano é aprendido e modificado a partir das interações com o ambiente. Na educação, isso significa organizar o ensino de forma clara, previsível e estruturada, dividindo habilidades complexas em etapas menores, reforçando avanços e adaptando estratégias conforme o ritmo de cada criança.

Já a CAA reúne ferramentas que permitem que pessoas que não falam ou têm fala limitada consigam se comunicar. Esses recursos podem incluir pranchas de imagens, símbolos, gestos, teclados digitais ou aplicativos que transformam toques em palavras e frases. Na alfabetização, a CAA ajuda a criança a expressar escolhas, construir sentidos, identificar letras e sons e participar das atividades escolares, mesmo sem comunicação oral.

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“O sucesso da inclusão depende de professores preparados para compreender o funcionamento cognitivo e emocional de alunos neurodivergentes”, explica a neuropedagoga Mara Duarte da Costa, diretora da Rhema Neuroeducação. Para ela, práticas como as adotadas por Noah mostram como a ciência pode chegar à sala de aula de forma acessível e transformadora. “O conhecimento científico é a base para construir práticas realmente eficazes”, afirma.

A Rhema, responsável pela formação de mais de 90 mil educadores e gestores escolares, atua com foco em neurociência, desenvolvimento infantil e inclusão. Segundo Mara, iniciativas como o projeto de Belém reforçam a importância da formação continuada e do entendimento profundo sobre como cada criança aprende. “Nosso papel é capacitar o professor para identificar as necessidades de cada aluno e transformar desafios em oportunidades de desenvolvimento”, destaca.

O reconhecimento de Noah no Prêmio Inclusão em Neuroeducação Brasil simboliza um movimento crescente de educadores que buscam unir sensibilidade, ciência e estrutura pedagógica para garantir que crianças autistas não verbais tenham acesso pleno ao aprendizado. “Quando a ciência chega à sala de aula de forma acessível, a inclusão deixa de ser um ideal e se torna realidade”, conclui Mara.

8 livros sobre identidade, diversidade e consciência negra para ler com crianças

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No Dia da Consciência Negra, o blog da Primeira Infância selecionou livros que podem ajudar famílias e educadores a construirem conversas sensíveis e positivas com as crianças

A construção da identidade racial começa muito antes do que os adultos imaginam. Pesquisas mostram que, por volta dos três anos, as crianças já reconhecem diferenças de cor, cabelo e traços, formulam preferências e começam a interpretar o mundo a partir das referências que recebem. Na primeira infância, essas referências são decisivas para formar autoestima, pertencimento e relações mais saudáveis. E uma das formas mais naturais de introduzir essas conversas em casa e na escola é por meio dos livros.

A literatura infantil oferece algo que nenhuma explicação teórica alcança: imagens, personagens e histórias que validam quem a criança é. Quando uma criança se vê representada, ou vê outra criança diferente dela sendo valorizada, ela entende que existe beleza, potência e diversidade no mundo. A leitura abre janelas internas e externas, cria pontes com a cultura afro-brasileira e permite que temas importantes sejam vividos com leveza.

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Nos últimos anos, autores negros e obras que abordam ancestralidade, identidade e diversidade ganharam espaço no mercado editorial brasileiro, ampliando o acesso a narrativas que celebram a infância preta. No Dia da Consciência Negra, o Blog da Primeira Infância selecionou livros que podem ajudar famílias e educadores a construir conversas sensíveis e positivas com as crianças, respeitando o ritmo e a compreensão de cada faixa etária.

O cabelo de Lelê — Valéria Belém

Clássico para falar de autoestima e orgulho do cabelo crespo. Lelê descobre sua história, suas raízes e a beleza da própria identidade. É um livro que ajuda crianças a valorizarem suas características e a reconhecerem as dos colegas.

O mundo no black power de Tayó — Kiusam de Oliveira

Colorido, vibrante e cheio de identidade, apresenta a ancestralidade afro-brasileira de forma lúdica. Tayó carrega um universo inteiro em seu black power, conectando imaginação, cultura e pertencimento.

Menina bonita do laço de fita — Ana Maria Machado

Uma fábula delicada sobre beleza e diversidade. A narrativa mostra como as diferenças enriquecem as relações e como a curiosidade pode ser ponte para o carinho, sem reforçar estereótipos.

Amoras — Emicida

Com linguagem poética e afetiva, fala sobre amor-próprio, força e identidade. Funciona muito bem em leituras compartilhadas, especialmente à noite, como ritual de acolhimento.

Meu crespo é de rainha — bell hooks

Uma celebração da corporalidade e da beleza negra. O texto forte e sensível ensina que o corpo é fonte de orgulho e que o cabelo crespo carrega história e dignidade.

Os pequenos guardiões — Kiusam de Oliveira

Traz elementos da ancestralidade africana de forma acessível, lúdica e espiritual, respeitando o entendimento das crianças. Introduz tradições afro-brasileiras com cuidado e poesia.

O mar que banha a Ilha de Goré — Kiusam de Oliveira

Ideal para crianças um pouco maiores dentro da primeira infância, apresenta memória e história sem violência gráfica. Permite conversas sobre passado, resistência e humanidade.

Teté não quer ser princesa — Janaína Tokitaka

Embora não seja exclusivamente sobre raça, questiona padrões estéticos e amplia discussões sobre diversidade. Mostra que as crianças podem ser quem quiserem, sem limitar sonhos ou identidades.

 

A leitura desses livros não precisa ser acompanhada de discursos longos. As conversas surgem naturalmente quando o adulto dá espaço para a criança comentar o que vê, identificar parecidos e diferentes, e relacionar a história com sua vida. Perguntas como “O que você mais gostou nesse personagem?”, “Quem da nossa família tem esse cabelo?” ou “O que essa parte da história te lembra?” ajudam a aprofundar o diálogo sem peso. Boa leitura!

Prematuridade: o que é idade corrigida, como calcular e até quando aplicá-la

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No mês dedicado à prematuridade, a campanha Novembro Roxo alerta para cuidados que evitam comparações injustas e ajudam a avaliar o desenvolvimento de forma adequada; Ministério da Saúde alerta que cerca de 340 mil bebês nascem prematuros por ano no Brasil

 

O Dia Mundial da Prematuridade, celebrado nesta segunda-feira (17/11), reforça um alerta urgente na saúde pública: a necessidade de reconhecer, compreender e acompanhar as especificidades dos bebês prematuros. A campanha Novembro Roxo mobiliza instituições públicas e privadas a debaterem sobre cuidados fundamentais que promovam o desenvolvimento saudável dos bebês que nascem antes do tempo.

O Ministério da Saúde estima que cerca de 340 mil bebês nascem prematuros por ano no Brasil, o que corresponde a aproximadamente 10% de todos os nascimentos. No Distrito Federal, esse dado chega a 12% dos nascimentos. A terapeuta ocupacional Pabline Cavalcante, especialista em prematuridade, explica que prematuros são aqueles que nascem com menos de 37 semanas de gestação.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prematuridade é dividida em três categorias: prematuro extremo (menos de 28 semanas), prematuro moderado (28 a 32 semanas) e prematuro tardio (32 a 37 semanas). Quanto menor o tempo de gestação, maior a chance de complicações respiratórias, neurológicas e metabólicas. Com isso, aumenta também a necessidade de um acompanhamento multiprofissional cuidadoso nos primeiros anos de vida.

Esse início precoce impacta diretamente o desenvolvimento. “Por causa das semanas a menos no útero, eles (prematuros) podem demorar um pouco mais para alcançar marcos como sentar, engatinhar ou falar. Isso não significa atraso: significa que o desenvolvimento está respeitando o tempo que ainda seria de gestação”, afirma Pabline.

É nesse contexto que surge um conceito essencial para interpretar o desenvolvimento dessas crianças: a idade corrigida. Pabline esclarece que a idade corrigida é a idade que a criança teria se tivesse nascido na data provável do parto (a termo). Ou seja, com 40 semanas de gestação. Já a idade em que o bebê nasce é chamada de idade cronológica.

Corrigir a idade do bebê prematuro é uma estratégia dos especialistas para acompanhar os marcos do desenvolvimento, pois bebês nascidos antes da hora se desenvolvem em um ritmo diferente dos bebês nascidos a termo. É como se eles nascessem “em desvantagem” em relação a quem chegou ao mundo na hora prevista.

Um exemplo utilizado para facilitar a importância da idade corrigida é o de uma corrida. É como se os bebês nascidos com 37 semanas ou mais estão todos posicionados na linha de largada, enquanto os prematuros já começam a disputa alguns passos para trás. Sendo assim, é inesperado, e até injusto, esperar que eles alcancem a linha de chegada ao mesmo tempo que os que estão à frente.

Essa diferença faz sentido prático no dia a dia das famílias e na avaliação dos profissionais de saúde, educação e desenvolvimento infantil. A introdução alimentar, a linguagem, a aquisição dos marcos motores e a observação clínica só podem ser interpretadas adequadamente quando o bebê prematuro é avaliado a partir da idade corrigida, e não da idade cronológica.

Como calcular a idade corrigida?

Para saber qual a idade corrigida da criança, são necessárias duas informações: a idade gestacional em que a criança nasceu e a idade gestacional em que ela deveria ter nascido.

A idade corrigida será o resultado da idade cronológica menos as semanas que faltariam para completar as 40 semanas de gravidez. Em outras palavras, a idade corrigida do prematuro é aquela contada a partir do momento em que ele completaria 40 semanas de gestação, e não do dia em que ele realmente nasceu. o cálculo é o seguinte:

idade cronológica – 40 = idade corrigida.

Ou seja, hipoteticamente, se a criança nasceu com 36 semanas de gestação há 2 meses, ela tem 44 semanas de vida e a idade corrigida dela é 4 semanas (um mês).

Se o parto ocorreu com 32 semanas de gestação, o bebê foi considerado prematuro de 8 semanas. Então, se ele tem agora 5 meses de idade cronológica (20 semanas desde o nascimento). Porém, a idade corrigida é 3 meses. Nesse exemplo, é necessário acompanhar o crescimento e o desenvolvimento do seu bebê levando em conta que ele tem 3 meses, e não 5 meses.

A ferramenta, no entanto, não se aplica a todos os aspectos da vida da criança. Vacinas, por exemplo, seguem sempre a idade cronológica, conforme o calendário oficial. Registros, cadastros e aniversários também seguem a idade real de nascimento.

Embora seja fundamental nos primeiros meses, o cálculo não acompanha a criança por toda a infância. “A idade corrigida é útil até os dois primeiros anos de vida, quando a maior parte dos marcos do desenvolvimento neuropsicomotor já foi alcançada”, orienta Pabline. Depois desse período, a comparação entre crianças prematuras e aquelas nascidas a termo tende a se estabilizar, e as avaliações se tornam mais lineares.

Novembro Roxo

O Novembro Roxo é uma das maiores campanhas de saúde pública promovida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por entidades de diversos países. Em 2025, o tema “Garanta aos prematuros começos saudáveis para futuros brilhantes” reforça a importância de oferecer aos prematuros um início de vida com cuidado especializado e contínuo, desde os primeiros momentos após o nascimento, passando pela internação, até o seguimento dos primeiros anos de vida.

A cor roxa, símbolo da campanha, representa a sensibilidade e a individualidade características dos bebês prematuros. Também simboliza transformação e renovação, refletindo o caminho de superação dessas crianças que chegam ao mundo antes do tempo.

A campanha reforça, ano após ano, que nascer antes da hora não determina o futuro, mas exige cuidado informado, apoio contínuo e acompanhamento atento. Compreender a diferença entre idade cronológica e idade corrigida é um passo fundamental para acolher o desenvolvimento da criança com mais leveza, precisão e segurança.

 

 

COP30: crianças enviam carta a autoridades e pedem fim do silêncio imposto às infâncias

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Documento assinado por mais de 600 crianças será encaminhado a autoridades brasileiras e delegações internacionais da COP-30 e pede ações urgentes contra a crise climática

A Cúpula das Infâncias, realizada Universidade Federal do Pará, em Belém (PA), e encerrada neste sábado (16/11), terminou com um marco inédito na agenda climática brasileira: a aprovação da Carta das Infâncias, um documento escrito, discutido e votado por cerca de 600 crianças e adolescentes de diversas regiões do país e do mundo. A carta será enviada para autoridades.

Em tom direto, urgente e sem filtros, o texto reivindica participação real nas decisões sobre o clima e pede que autoridades adultas “não mandem a gente calar a boca quando tentamos falar”. As crianças denunciam o impacto da crise climática no dia a dia, desde o calor extremo às queimadas, e fazem propostas para frear a destruição ambiental. O documento será enviado a governos, instituições públicas, organismos internacionais.

“Queremos continuar vivos e vivas”

Logo no início, a carta afirma que a infância já sente no corpo as consequências do colapso ambiental. As crianças citam o “calor que sufoca”, a dificuldade de caminhar na rua sob sol intenso e a sensação de “não conseguir respirar direito”. Elas relatam tristeza ao ver queimadas, animais feridos, rios poluídos, árvores caídas e comunidades ameaçadas.

“O calor está muito forte. De verdade. Tem dia que a gente sente dor de cabeça, tontura e muito cansaço. A gente precisa de mais sombra”. A carta destaca que o clima deixou de ser um assunto distante ou abstrato e se torna parte da rotina, das brincadeiras e da possibilidade de viver a infância com dignidade.

O texto, construído ao longo de rodas de conversa, oficinas e assembleias democráticas, afirma que a preocupação não nasce de discursos adultos, mas da experiência diária. “Nós nos importamos porque a natureza é a nossa casa. E é muito mais… Nós somos natureza.”

As crianças pedem mais proteção da Amazônia, preservação de rios, florestas e animais, e afirmam que o cuidado ambiental é inseparável da saúde humana.

As propostas das crianças

A carta apresenta ações concretas:

  • Plantar mais árvores – “muitas árvores” – em todas as cidades e comunidades;
  • Proteger rios e impedir sua contaminação;
  • Cuidar da Amazônia e de outras florestas;
  • Criar parques e áreas verdes perto de escolas e de locais onde as crianças brincam;
  • Ensinar educação ambiental desde a primeira infância;
  • Oferecer condições de trabalho e formação para professoras e professores que atuam com temas climáticos;
  • Garantir que crianças e adolescentes participem das decisões sobre clima, territórios indígenas, preservação ambiental e cidades.

O pedido principal é claro:

“Os adultos precisam fazer a sua parte. Queremos continuar vivos e vivas.”

Crianças como sujeitas políticas

A elaboração do documento marca uma mudança importante na participação de crianças e adolescentes em eventos climáticos. Ao contrário de encontros em que são apenas público ou figuras simbólicas, na Cúpula das Infâncias eles conduziram as discussões e definiram, por voto aberto, o conteúdo final.

O processo ocorreu paralelamente à Cúpula dos Povos da Amazônia, também em Belém, e buscou fortalecer o protagonismo infantil e juvenil nas agendas socioambientais. As atividades reuniram participantes de diferentes cidades brasileiras e de países convidados, incluindo territórios indígenas e comunidades ribeirinhas.

“Não temos só o futuro. Temos o presente”

Ao final da carta, as crianças reafirmam que não é possível esperar até a vida adulta para serem ouvidas. “Construímos esta carta porque acreditamos que nossa voz precisa chegar ao mundo todo. A COP-30 é grande, e é nossa esperança também. Mas temos o futuro e o presente.”

Elas exigem medidas que reduzam o calor extremo, a fumaça das queimadas e as mortes de animais, além de ações para evitar que florestas e rios desapareçam.

Envio às autoridades

A Carta das Infâncias será entregue a governos locais, estaduais e federais, além de ser apresentada às delegações internacionais que compõem as discussões sobre o clima na COP-30. Organizações que acompanharam o processo afirmam que o objetivo é garantir que as demandas de crianças e adolescentes façam parte das decisões oficiais em Belém no próximo ano.

A programação da Cúpula das Infâncias, realizada entre 12 e 16 de novembro, foi organizada em três etapas: Tempo de Preparação, Tempo de Acolhimento e Tempo de Protagonismo.

No Tempo de Preparação, organizações e grupos infantis foram mobilizados para discutir os temas climáticos antes do encontro. No Tempo de Acolhimento, uma grande Ciranda Infantil reuniu cerca de 1.000 crianças, com atividades lúdicas, culturais e formativas envolvendo participantes do Brasil e de outros países. Já no Tempo de Protagonismo, cerca de 200 lideranças infantis debateram propostas e construíram coletivamente a Carta das Infâncias.

Novembro Roxo reforça alerta para a saúde ocular de bebês prematuros

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Oftalmologista destaca que diagnóstico precoce da retinopatia da prematuridade é decisivo para evitar sequelas permanentes

O mês de novembro marca a campanha Novembro Roxo, voltada à conscientização sobre os desafios enfrentados por bebês prematuros e a necessidade de cuidados contínuos nos primeiros meses de vida. Entre as complicações mais frequentes, os problemas oculares merecem atenção especial, já que o desenvolvimento da visão ocorre de forma acelerada no fim da gestação e segue após o nascimento.

A principal preocupação é a retinopatia da prematuridade, condição que pode causar perda parcial ou total da visão quando não identificada a tempo. Segundo a oftalmologista Isabela Porto, do Hospital de Olhos (CBV), o risco exige vigilância precoce. “A retinopatia ocorre quando há alterações nos vasos sanguíneos da retina. Por isso, todo bebê prematuro deve passar por avaliação oftalmológica nas primeiras semanas de vida”, explica.

O mapeamento de retina é o exame recomendado e precisa ser realizado, preferencialmente, entre a quarta e a sexta semana após o nascimento. “É um procedimento rápido, indolor e decisivo para o prognóstico visual. Quanto antes identificamos a retinopatia, maiores são as chances de evitar complicações”, orienta a médica.

Prematuros também apresentam maior probabilidade de desenvolver miopia, estrabismo e outras alterações visuais ao longo da infância. “Mesmo quando o primeiro exame não aponta problemas, o acompanhamento periódico é essencial. Muitas dificuldades surgem mais tarde, e o diagnóstico precoce faz toda a diferença”, acrescenta Isabela.

A especialista reforça que a prevenção começa ainda na UTI neonatal, com orientação adequada às famílias e às equipes de saúde. “Identificar qualquer alteração no momento certo é o que garante a esse bebê a chance de desenvolver uma visão adequada”, afirma.

Senado aprova programa de cuidado voltado a mães e pais atípicos

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O projeto apresentado pelo senador Romário era destinado apenas às mães atípicas. Porém, o substitutivo apresentado na Comissão de Direitos Humanos (CDH) ampliou o direcionamento do programa, incluindo também pais e responsáveis legais

A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado aprovou, nesta quarta-feira (12/11), o projeto que cria o programa Cuidando de Quem Cuida, destinado a oferecer suporte integral a mães, pais e responsáveis atípicos – aqueles que cuidam de crianças ou dependentes com deficiência, doenças raras, dislexia, TDAH ou outros transtornos de aprendizagem. A proposta, de autoria do senador Romário (PL-RJ), segue agora para a Câmara dos Deputados, caso não haja recurso para votação no Plenário.

A relatora, senadora Dra. Eudócia (PL-AL), deu parecer favorável ao texto. Ela destacou que o objetivo é fortalecer a saúde física e emocional desses cuidadores, ampliar políticas de acolhimento na atenção primária, garantir apoio psicológico, orientação familiar e promover ações de bem-estar e participação social. O programa também prevê rodas de conversa, atividades formativas e campanhas de sensibilização sobre maternidades e paternidades atípicas.

Em entrevista ao blog da Primeira Infância, o senador Romário afirmou que criar um programa como esse não é favor. É dever. Precisamos criar políticas públicas para cuidar de quem cuida. “Quando nasce o bebê, nasce também a mãe atípica, o pai atípico ou o responsável atípico. E eles precisam de suporte adequado justamente na fase mais frágil da vida”, disse.

Segundo dados do DataSenado citados na análise, 9% dos brasileiros se declaram cuidadores, sendo 81% mulheres. Em 88% dos casos, o cuidado é prestado a um familiar. A pesquisa mostra ainda que 55% das cuidadoras e cuidadores se sentem sobrecarregados e 83% nunca receberam qualquer tipo de treinamento. “Essa é uma atividade pouco valorizada e, muitas vezes, invisível. Há dificuldade de inserção no mercado formal e pouco tempo para o autocuidado”, afirmou a relatora.

“Essa pesquisa escancara uma realidade dura: a maioria esmagadora das cuidadoras são mulheres, e muitas estão exaustas, sem apoio emocional, financeiro ou social. O programa nasce justamente para enfrentar isso”, afirmou o senador, ao blog. 

O texto aprovado incorpora mudanças feitas na Comissão de Direitos Humanos (CDH), onde a senadora Mara Gabrilli (PSD-SP) estendeu o escopo do programa para abranger não apenas mães, mas também pais e outros responsáveis legais. A versão atualizada inclui ainda acolhimento no pós-parto imediato, reconhecendo o impacto emocional e físico do início da jornada atípica.

O projeto apresentado pelo senador Romário era destinado apenas às mães atípicas. Porém, o substitutivo apresentado na Comissão de Direitos Humanos (CDH) ampliou o direcionamento do programa, incluindo também pais e responsáveis legais. Além disso, foi acrescentado no programa o apoio pós-parto, que deve incluir acolhimento, inclusão, esclarecimentos e orientações necessárias sobre a condição da criança e suas especificidades imediatamente após o nascimento.

“Política pública boa é aquela que chega na ponta. Cada estado e município vai organizar o programa conforme sua realidade. O importante é que funcione”, explicou Romário.

Romário afirmou que o substitutivo “torna a iniciativa mais justa e mais humana”. O senador Alan Rick (União-AC) também elogiou a proposta e ressaltou a sobrecarga enfrentada por famílias atípicas no país.

 “Cuidar de quem cuida não é pauta de um partido; é pauta de humanidade. Tenho confiança de que a Câmara vai avançar com rapidez”, disse Romário. “Quando quem cuida está bem, a criança recebe um cuidado muito melhor. O programa existe para apoiar quem carrega a maior carga física e emocional, e, no fim, quem também ganha é o filho”, conclui o autor da proposta.