Autor: Jéssica Andrade
FURG recebe primeira cuidoteca da Região Sul para apoiar estudantes com filhos
Iniciativa do governo federal vai oferecer espaço de acolhimento e cuidado infantil dentro da universidade, facilitando a permanência de mães e pais na formação superior
A Universidade Federal do Rio Grande (FURG), no Rio Grande do Sul, assinou na última quarta-feira (10/12) um acordo com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) para implantar a primeira cuidoteca da Região Sul do Brasil. O espaço vai oferecer atividades de acolhida e cuidado para crianças de 3 a 12 anos, com ou sem deficiência, dependentes de estudantes, servidores e trabalhadores da instituição, com foco em ampliar condições de estudo e trabalho para famílias universitárias.
O projeto, firmado em Brasília por meio da Secretaria Nacional da Política de Cuidados e Família, integra a Política Nacional de Cuidados e foi comemorado pelo titular do MDS, que destacou o papel da cuidoteca em fortalecer o acesso e a conclusão do ensino superior por pessoas responsáveis por crianças.
A cuidadoteca contemplará atividades lúdicas, recreativas e de cuidado, incluindo brincadeiras, contação de histórias, leitura, higiene, alimentação e descanso. O espaço será organizado com foco em acessibilidade e linguagem inclusiva.
Segundo a reitora da FURG, Suzane Gonçalves, a iniciativa representa um suporte importante para quem enfrenta dificuldades de conjugação entre rotina acadêmica e responsabilidades familiares, especialmente em turnos noturnos, quando muitas redes de cuidado usuais estão ausentes. “É garantir tanto o direito das crianças ao cuidado, quanto das suas famílias poderem estudar, concluir um curso superior e a gente desenvolver cada vez mais o nosso país”, afirmou Suzane
O projeto da FURG faz parte de um conjunto maior de cuidotecas em universidades federais brasileiras, que inclui iniciativas em instituições como a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade de Brasília (UnB), entre outras.
Mais da metade dos municípios tem filas por creches, aponta relatório
Levantamento nacional revela que 52,1% das cidades brasileiras registram filas na educação infantil e revela o desafio de transformar diagnóstico em vagas, sobretudo para crianças de 0 a 3 anos
Mais da metade dos municípios brasileiros (52,1%) registra demanda não atendida por vagas em creches, segundo o Retrato da Educação Infantil 2025, levantamento do Ministério da Educação (MEC) em parceria com o Gaepe-Brasil. O dado evidencia que, embora o país tenha avançado na identificação das crianças fora da escola, ainda enfrenta dificuldades para converter informação em acesso efetivo à educação infantil, especialmente na etapa que atende crianças de até 3 anos.
O estudo, que contou com a participação de todos os 5.570 municípios e do Distrito Federal, traz a mais ampla radiografia já realizada sobre a gestão da demanda por creches e pré-escolas no país. Entre as cidades que conseguem quantificar a fila por creche, foram registradas 826,3 mil solicitações não atendidas, número 30,6% maior do que o do ano anterior. O crescimento reflete tanto o aprimoramento dos mecanismos de registro quanto o aumento da procura das famílias.
A pressão é maior entre os bebês. A demanda por vagas para crianças de 0 a 11 meses praticamente dobrou em um ano, passando de 123 mil para 238 mil solicitações. O movimento indica maior conscientização das famílias sobre o direito à educação desde a primeira infância, mas também expõe a insuficiência da oferta pública para absorver essa procura.
Apesar do avanço na formalização das listas de espera, a gestão dessas informações ainda é frágil. Menos da metade dos municípios que mantêm fila por creche utiliza sistemas integrados para organizar a demanda, e 38,5% não divulgam publicamente as listas, o que dificulta o planejamento, o controle social e a definição de critérios claros de prioridade. O relatório destaca que a transparência é condição essencial para garantir equidade no acesso.
A desigualdade aparece de forma contundente no recorte socioeconômico. Crianças de famílias mais ricas têm probabilidade significativamente maior de frequentar creches do que aquelas pertencentes aos domicílios menos favorecidos. O levantamento aponta ainda que 64,3% dos municípios identificam crianças de 0 a 3 anos fora da creche e fora da lista de espera, indicando barreiras de informação, dificuldades de acesso ao cadastro ou ausência de busca ativa contínua.

Na pré-escola, etapa obrigatória para crianças de 4 e 5 anos, o cenário é mais positivo, mas ainda apresenta falhas. Em 2024, o Brasil atingiu 94,6% de cobertura, o maior índice histórico. Mesmo assim, 20,1% dos municípios admitem ter crianças dessa faixa etária fora da escola. A maioria não sabe informar quantas são, mas, nos casos em que houve levantamento, foram identificadas 76.948 crianças sem matrícula, com maior concentração nas regiões Norte e Nordeste.
Outro entrave apontado pelo relatório é a falta de planejamento estruturado para expansão da oferta. Apenas 40,8% dos municípios afirmam ter plano de ampliação de vagas na educação infantil, enquanto 28% reconhecem a necessidade de crescer, mas não possuem qualquer planejamento formal. Mesmo entre as cidades que contam com plano, a maioria não define periodicidade de revisão, o que resulta em ações pontuais e reativas.
O estudo também chama atenção para o impacto da migração interna e internacional sobre as redes municipais. Mais da metade dos gestores relata aumento da demanda provocado pela chegada de novas famílias, e 21,4% afirmam que esse movimento compromete de forma moderada e significativa a capacidade de atendimento, sobretudo em áreas urbanas mais vulneráveis.
Para o MEC e o Gaepe-Brasil, o Retrato da Educação Infantil 2025 deve ser usado como instrumento de gestão e cooperação federativa. Os dados integram o Compromisso Nacional pela Qualidade e Equidade na Educação Infantil, iniciativa que busca fortalecer o apoio técnico e financeiro aos entes federativos, com foco na expansão do acesso, na melhoria da qualidade e na redução das desigualdades.
O levantamento reforça que o desafio da educação infantil no Brasil vai além da abertura de novas vagas. Sem listas transparentes, busca ativa regular, critérios de prioridade baseados na vulnerabilidade social e planejamento contínuo, o país corre o risco de perpetuar um sistema em que o direito à educação desde a primeira infância segue condicionado ao território, à renda e à capacidade das famílias de acessar o poder público.
46% das crianças mostram ansiedade ligada ao uso de telas, aponta pesquisa
Levantamento revela que metade das crianças apresentam sinais de sofrimento emocional ligados ao tempo de exposição digital; especialistas alertam para impacto na rotina, no sono e no vínculo familiar
Quase metade das crianças brasileiras demonstra algum nível de ansiedade, irritabilidade ou inquietação associado ao uso de telas. O dado faz parte de uma pesquisa inédita do Projeto Brief sobre adultização e uso precoce das redes sociais no país.
O estudo ouviu 1.800 pais sobre o apoio à regulamentação das redes para assegurar um ambiente digital seguro para crianças e adolescentes. O estudo revela um cenário crescente de preocupação entre as famílias: 46% das crianças apresentam comportamentos negativos relacionados ao tempo diante de celulares, tablets, computadores e televisores.
Segundo o levantamento, a ansiedade é o sintoma mais frequente, citado por 27% dos responsáveis. Outros efeitos destacados são irritabilidade (25%), dificuldade de concentração (23%) e alterações no sono (20%). Entre os cuidadores entrevistados, 70% afirmam que gostariam de reduzir o tempo de tela dos filhos, mas têm dificuldade em ajustar a rotina, especialmente diante da sobrecarga de trabalho, da falta de espaços de lazer e do apelo constante das plataformas digitais.
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A pesquisa também aponta que 60% das crianças utilizam telas para entretenimento entre uma e três horas por dia. Ou seja, acima do recomendado por especialistas em desenvolvimento infantil. Para crianças com menos de até 5 anos, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) orienta um uso bastante restrito e sempre supervisionado; mesmo assim, entre os entrevistados, 30% das crianças nessa faixa etária passam mais de duas horas diárias conectadas.
O impacto no comportamento preocupa. Responsáveis relatam que, ao retirar o acesso digital, 44% das crianças apresentam resistência intensa, como choro, frustração exagerada ou reações agressivas. O estudo ainda mostra que 52% das famílias percebem piora na convivência doméstica quando o uso de telas aumenta, principalmente em períodos sem escola ou feriados prolongados.
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Para especialistas ouvidos pelo levantamento, o excesso de tempo online afeta habilidades essenciais do desenvolvimento, como interação social, autorregulação emocional e brincadeira livre — etapa considerada fundamental na primeira infância. Eles alertam para a necessidade de que a mediação adulta seja ativa, com regras claras, diálogo e estímulo a atividades fora do ambiente digital.
A pesquisa também investigou a percepção dos adultos sobre a própria relação com as telas. Mais da metade (56%) admite que o próprio uso de celular interfere no tempo de qualidade com os filhos, criando um ciclo em que adultos e crianças reproduzem comportamentos semelhantes.
Os dados reforçam um debate urgente: como equilibrar tecnologia e infância em um país onde a conectividade é parte central da vida cotidiana? Para os especialistas, o ponto não é proibir o acesso, mas construir hábitos saudáveis que priorizem o brincar, o descanso, a convivência e a segurança emocional.
Crianças exaustas: rotina cheia e pouco sono elevam fadiga infantil
Especialistas alertam que longas jornadas na escola, excesso de atividades dirigidas e falta de tempo livre estão deixando crianças emocional e fisicamente esgotadas
Crianças brasileiras estão mais cansadas, irritadas, chorosas e com dificuldade de lidar com o cotidiano. O comportamento, que antes era entendido como “fase”, agora aparece com consistência na fala de especialistas em desenvolvimento infantil e saúde neurológica. A rotina acelerada, marcada por longas jornadas escolares, deslocamentos extensos, estímulos constantes e pouco tempo livre, tem produzido um fenômeno silencioso: a exaustão infantil.
Para além do cansaço pontual, o desgaste aparece na forma de irritabilidade frequente, regressões comportamentais, dificuldade de autorregulação e sinais físicos de tensão. Na primeira infância, quando o cérebro está em intensa maturação, a sobrecarga diária pode alterar comportamentos, afetar o humor, prejudicar o aprendizado e reduzir a capacidade de adaptação das crianças às demandas do dia a dia.
A psicóloga infantil Júlia Silva explica que o esgotamento emocional é uma das primeiras manifestações do cansaço infantil. “Observa-se maior irritabilidade diante de frustrações cotidianas, além de episódios de choro mais frequentes, mesmo durante situações de baixa complexidade emocional. A capacidade de autorregulação diminui, fazendo com que a criança demonstre impaciência, dificuldade em tolerar pequenas esperas e menor flexibilidade frente a mudanças na rotina”, afirma.
Júlia reforça que algumas crianças parecem mais dispersas e desinteressadas em atividades que geralmente despertariam engajamento, um sinal de que o sistema emocional está sobrecarregado. “Esses comportamentos não devem ser interpretados como desobediência, mas sim como sinais de sobrecarga e necessidade de descanso e previsibilidade”.
A neuropediatra Angélica Ávila confirma que o fenômeno já aparece com frequência nos consultórios. “Crianças pequenas estão chegando mais cansadas, irritadas e com menor tolerância às demandas do dia a dia. Nos primeiros anos de vida, o cérebro está em constante maturação, aprendendo a se organizar, a lidar com emoções e a manter atenção. Quando há sobrecarga com excesso de estímulos, pouco descanso e rotinas muito cheias, o cérebro precisa trabalhar demais e o corpo começa a mostrar sinais de fadiga”.
A rotina urbana contribui para agravar o quadro. Crianças passam, em média, até 10h por dia na escola, especialmente nas famílias que dependem do período integral para trabalhar. Após isso, enfrentam deslocamentos, chegam em casa no horário mais sensível da fadiga e ainda precisam cumprir tarefas escolares. A dra. Angélica descreve esse ciclo como uma fonte de desgaste constante. “Quando a carga diária é excessiva, isso se manifesta como irritabilidade frequente, choro fácil, dificuldade de concentração, alterações no sono e até sintomas físicos, como dores de cabeça, dor na barriga ou tensão muscular. O corpo sinaliza que o cérebro está sobrecarregado”.
Ávila destaca que, muitas vezes, essas crianças são incompreendidas e rotuladas como “mimadas” ou “mal-educadas”, quando, na verdade, estão apenas exaustas. “Isso é ainda mais relevante para crianças neuroatípicas, que têm maior sensibilidade a estímulos, dificuldade com transições e necessidade de pausas estruturadas. Para elas, a exaustão chega ainda mais rápido”.
O descanso insuficiente é um dos principais fatores de risco. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda entre 10 e 13 horas de sono para crianças de 3 a 5 anos, mas a rotina real muitas vezes impede a consolidação do descanso. Segundo a neuropediatra, o impacto é profundo.
“Durante o sono, ocorrem processos críticos, como consolidação da memória, organização das redes neurais e regulação de neurotransmissores ligados à atenção e ao humor. A privação de sono causa irritabilidade, dificuldade de aprendizado, menor controle emocional, fadiga cognitiva e até alterações no crescimento físico”, diz Ávila. Ela lembra que a rotina da família influencia diretamente o padrão de sono dos pequenos. “Dificilmente uma casa em que os pais vão dormir à meia-noite vai conseguir que a criança durma às 20h”.
Contágio emocional
A psicóloga Júlia Silva observa que o estresse dos adultos está intimamente ligado ao cansaço infantil. “Crianças têm alta sensibilidade ao ambiente emocional e tendem a captar alterações no tom de voz, no ritmo da rotina, na expressão corporal e no nível de tensão familiar. Quando o adulto está sobrecarregado, a comunicação se torna mais impaciente e apressada, gerando na criança a sensação de instabilidade”.
Júlia define o processo como um “contágio emocional”, em que a criança internaliza o estado afetivo predominante do cuidador. “Comportamentos como agitação, insegurança, apego excessivo, alterações no sono e maior dificuldade de autorregulação são respostas diretas ao ambiente emocional do adulto”.
Ambientes barulhentos e imprevisíveis também colaboram para a fadiga. A dra. Angélica explica que o cérebro infantil tem dificuldade em filtrar estímulos constantes. “Ambientes com excesso de estímulos exigem esforço extra das redes neurais de atenção e regulação emocional, aumentando a fadiga cognitiva. As consequências incluem distração, irritabilidade, dificuldade de seguir regras, alterações na comunicação e menor tolerância a frustrações”.
A exaustão acumulada pode, inclusive, provocar regressões. “Quando o sistema nervoso está sobrecarregado, o cérebro responsável pelo controle emocional e comportamental fica menos eficiente. Isso pode levar a distúrbios do sono, enurese, dificuldade de separação e impulsividade”. Ela alerta que o cansaço se torna sinal de alerta quando é persistente, não melhora com descanso adequado, afeta o comportamento, provoca regressões ou vem acompanhado de sintomas físicos frequentes.
Enquanto famílias tentam preencher todas as lacunas de tempo com atividades, especialistas defendem justamente o contrário. A pediatra Ana Escobar reforça que a agenda infantil está excessivamente preenchida. “Hoje em dia, as crianças têm uma vida muito cheia de compromissos. Existe a escola, outras aulas, natação, inglês, judô, uma série de atividades. Isso acaba sobrecarregando a agenda e reduzindo o tempo livre. As crianças precisam de tempo para brincar, para pensar e até para ter tédio”.
Para Escobar, reservar períodos diários de ócio é essencial. “Na agenda das crianças deveria existir, obrigatoriamente, um tempo livre de pelo menos duas horas em que elas não farão nada. Vão brincar, ler uma revista, inventar algo. O tédio obriga a soluções criativas.” Escobar explica que a imaginação, exercitada nas brincadeiras espontâneas, é uma das funções mais importantes para a vida adulta. “A criança que imagina hoje é o adulto que encontrará soluções criativas no futuro”.
A exaustão infantil não é um detalhe da rotina, mas um sinal de que a infância está sendo vivida em ritmo incompatível com o desenvolvimento humano. Ao reconhecer e ajustar o que cansa as crianças, famílias e escolas podem devolver o que elas mais precisam: tempo, presença, descanso e a liberdade de ser o que são: crianças.
Dezembro Dourado: diagnóstico precoce evita 80% dos casos de cegueira infantil
Campanha reforça importância de consultas regulares, atenção aos sinais de alerta e estímulo ao desenvolvimento visual desde os primeiros meses de vida
Cerca de 80% dos casos de cegueira infantil no mundo podem ser evitados ou tratados quando identificados precocemente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, estimativas do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) mostram que erros refrativos — como miopia, hipermetropia e astigmatismo — estão entre as alterações mais frequentes na infância, ao lado de doenças congênitas e complicações associadas à prematuridade. Esse cenário evidencia a importância da campanha Dezembro Dourado, que busca conscientizar famílias sobre o acompanhamento da saúde ocular desde o nascimento.
Para o oftalmologista Edison Geraissate, do CBV‑Hospital de Olhos e fundador da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP), o diagnóstico precoce é determinante para evitar sequelas permanentes. “Diversas condições que podem levar à cegueira infantil são preveníveis ou tratáveis quando detectadas precocemente por meio de exames oftalmológicos. Entre as principais causas estão catarata congênita, glaucoma congênito, retinopatia da prematuridade, erros refrativos não corrigidos, ambliopia, estrabismo de pequeno ângulo e infecções ou inflamações oculares. A avaliação regular permite identificar essas alterações nas primeiras semanas de vida, possibilitando intervenções rápidas e eficazes, reduzindo significativamente o risco de perda visual permanente”, afirma.
A visão passa por um período de desenvolvimento acelerado até os 7 anos, o que torna a infância uma fase decisiva para o diagnóstico. O cronograma recomendado pelos especialistas começa ainda na maternidade, com o teste do olhinho, obrigatório na rede pública e privada. Depois disso, o ideal é realizar um segundo exame entre 6 meses e 1 ano e outro entre 2 e 3 anos, seguido de acompanhamento anual na idade escolar. Em casos de risco — como prematuridade, histórico familiar de doenças oculares, síndromes genéticas ou dificuldades de aprendizagem — as consultas devem ser semestrais.
De acordo com Geraissate, muitas alterações passam despercebidas no cotidiano. “Aproximar objetos do rosto, franzir os olhos, desviar um dos olhos, demonstrar sensibilidade excessiva à luz, tropeçar com frequência, ter dificuldade para acompanhar objetos ou apresentar queda no desempenho escolar são sinais importantes. Em bebês, a ausência de contato visual e o nistagmo também merecem investigação. Ao notar qualquer um desses indícios, é fundamental procurar avaliação oftalmológica completa o quanto antes”, orienta.
Estudos recentes citados pelo CBO apontam que quase 30% das dificuldades escolares têm relação com problemas de visão não diagnosticados. Além disso, a OMS alerta para o avanço global da miopia, especialmente associado ao uso precoce e prolongado de telas.
Diagnóstico precoce melhora o prognóstico
O especialista destaca que a intervenção no momento adequado aumenta significativamente as chances de recuperação. “É possível intervir com correção óptica, terapias visuais, medicamentos ou procedimentos cirúrgicos, quando necessário. Muitas crianças recuperam parcial ou totalmente a visão quando tratadas no tempo certo”, explica. Centros especializados mostram que, quando diagnosticados até os 3 anos, alguns quadros têm taxas de sucesso que chegam a 90%, dependendo da causa.
Para Geraissate, campanhas como o Dezembro Dourado ajudam a romper barreiras de desinformação e ampliar o acesso aos cuidados. “A iniciativa reforça a importância da saúde ocular desde os primeiros dias de vida, promove ações educativas e orienta as famílias. Ela destaca sinais de alerta, incentiva consultas regulares e lembra que a atenção à visão do bebê deve começar logo após o nascimento”, observa.
Ele ressalta ainda que pequenas atitudes no dia a dia potencializam o desenvolvimento visual. Ambientes bem iluminados durante a leitura e as atividades escolares, por exemplo, ajudam a reduzir o esforço ocular. A limitação do tempo de telas também é essencial, assim como o estímulo às atividades ao ar livre, reconhecidas pela ciência como protetoras contra a progressão da miopia. A alimentação rica em vitaminas A, C e E, os cuidados para evitar traumas e a atenção à exposição solar excessiva complementam o cuidado. “São medidas simples, acessíveis e que, somadas ao acompanhamento profissional, favorecem um desenvolvimento visual muito mais saudável”, conclui o oftalmologista.
Inep publica novas regras e critérios para avaliação da alfabetização
O texto destaca a necessidade de fortalecer a comparabilidade, a padronização e o rigor técnico das avaliações, em consonância com o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou, na última sexta-feira (28/11), as regras e critérios que passam a orientar a avaliação da alfabetização no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). A Instrução Normativa nº 2/2025 formaliza o modelo que será utilizado para monitorar os níveis de leitura e escrita de crianças dos anos iniciais, em articulação com o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada (CNCA).
O documento define diretrizes para a aplicação das provas, padronização de procedimentos e validação dos resultados. Também estabelece que estudantes da educação especial devem ser avaliados sempre que estiverem devidamente registrados no Censo Escolar dentro do prazo — pré-requisito para que seus dados sejam incluídos nos indicadores.
As escolas precisam manter as turmas e matrículas atualizadas no sistema até 6 de agosto e garantir que os alunos permaneçam vinculados até o fim da coleta do Censo. Caso contrário, os resultados não serão considerados para efeito estatístico.
Segundo o Inep, a nova normativa fortalece a comparabilidade entre redes, aumenta a precisão das análises sobre aprendizagem e amplia a transparência do processo avaliativo.
Crise climática agrava insegurança alimentar na primeira infância, alerta relatório
Ondas de calor, eventos extremos e perda de safras elevam riscos de desnutrição, doenças e atraso no desenvolvimento infantil; Brasil tem uma em cada três crianças pequenas em insegurança alimentar
A crise climática já ultrapassou o campo da previsão científica e passou a interferir diretamente na nutrição, saúde e no desenvolvimento das crianças brasileiras, especialmente na primeira infância. É o que mostra o relatório A Primeira Infância no Centro do Enfrentamento da Crise Climática, publicado pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI) com evidências atualizadas sobre como o ambiente extremo se torna um fator adicional de risco para bebês e crianças de 0 a 6 anos.
Hoje, uma em cada três crianças brasileiras de até 4 anos vive algum grau de insegurança alimentar, segundo o documento. Ondas de calor mais intensas, secas prolongadas, enchentes e perda de biodiversidade têm afetado diretamente a produção de alimentos, ampliando custos e reduzindo a qualidade nutricional disponível para famílias vulneráveis. Esse cenário se agrava entre crianças pequenas, mais suscetíveis à desnutrição e às doenças associadas a ela.
O relatório evidencia uma cadeia de efeitos que começa no ambiente e chega à mesa: perda de safras e encarecimento de alimentos básicos, como arroz, milho, leite e hortaliças, reduzindo a diversidade e a qualidade das refeições familiares.
Secas históricas e rompimento de ciclos agrícolas, agravam a insegurança alimentar em regiões já vulneráveis, diz o relatório. Calor extremo e poluição afetam a saúde de gestantes e lactantes, reduzindo a oferta e a qualidade do cuidado. O documento aponta ainda que enchentes e desastres naturais interrompem rotinas de alimentação, amamentação e acesso a serviços de saúde.
O resultado aparece nas estatísticas: maior risco de anemia, diarreia, infecções respiratórias, atraso no crescimento, dificuldades de aprendizagem e aumento da mortalidade infantil.

Primeiros anos: os mais afetados
A primeira infância é a fase da vida mais sensível à desnutrição e ao estresse ambiental. O documento destaca que bebês e crianças pequenas têm metabolismo mais acelerado, exigindo alimentação frequente e variada. Além disso, o corpo infantil perde água com mais facilidade, tornando ondas de calor perigosas.
O cérebro em desenvolvimento depende de nutrientes específicos, que podem faltar quando a alimentação se torna repetitiva ou insuficiente.
Além disso, crianças nascidas em 2020 enfrentarão 6,8 vezes mais ondas de calor, 2,8 vezes mais enchentes e 2 vezes mais incêndios florestais ao longo da vida do que aquelas nascidas em 1960.

Desigualdade agrava o quadro
O relatório destaca um ponto crítico: a crise climática não atinge todas as crianças igualmente.
Entre os 18,1 milhões de brasileiros de 0 a 6 anos, mais da metade vive em famílias com renda baixa, moradias precárias, saneamento insuficiente e pouca proteção social, fatores que aumentam a vulnerabilidade aos efeitos climáticos.
Crianças negras, indígenas, ribeirinhas, quilombolas e periféricas são as mais impactadas. Em áreas urbanas densas, a formação de “ilhas de calor” eleva os riscos de desidratação, desmaios e doenças respiratórias.
Educação infantil também sofre os efeitos
A escola, muitas vezes o único espaço de alimentação adequado para crianças pequenas, também é afetada. O relatório aponta que creches e pré-escolas com pouca ventilação e sem áreas verdes tornam-se ambientes inseguros em dias de calor extremo.
Falta de água, interrupções de energia e problemas estruturais comprometem a merenda, higiene e cuidados básicos. Educadores não têm formação para lidar com eventos climáticos durante o período escolar.
O que precisa ser feito agora
O relatório lista ações prioritárias para que o país proteja bebês e crianças pequenas diante da crise climática. Entre elas:
Na alimentação e saúde:
- ampliar programas de segurança alimentar infantil;
- fortalecer o SUS com foco em gestantes, bebês e vulnerabilidades climáticas;
- garantir acesso à água potável em creches e comunidades.
Na educação:
- climatização adequada, ventilação e áreas verdes nas escolas;
- cozinhas com estrutura para operar em eventos extremos;
- merenda escolar baseada em alimentos frescos e locais.
Na proteção social:
- priorização da primeira infância em políticas de adaptação climática;
- mapeamento de áreas de risco e reassentamento digno de famílias com crianças pequenas.
Ainda segundo o relatório, o Brasil registra prejuízos anuais de cerca de R$ 13 bilhões provocados por desastres climáticos. Perdas que recaem sobre famílias pobres e comprometem o desenvolvimento de toda uma geração.
O documento reforça que as crianças não causaram a crise climática, mas estão entre as que mais sofrem seus efeitos. E, se o país não agir agora, as desigualdades que já marcam a infância brasileira se aprofundarão nas próximas décadas.
Afogamentos na infância: nova campanha nacional mira cultura de prevenção
Com afogamento entre as principais causas de morte acidental na infância, educadoras aquáticas defendem supervisão ativa, aulas desde os 6 meses e alertas contínuos de prevenção
O Brasil terá, a partir deste ano, um mês oficial dedicado à segurança aquática. Sancionada e publicada no Diário Oficial da União no início desta semana, a nova legislação transforma novembro em um período permanente de mobilização nacional para prevenir afogamentos, uma das principais causas de morte acidental entre crianças.
A mudança reforça a urgência de transformar cuidado em cultura, segundo especialistas ouvidas pelo Blog da Primeira Infância. Para elas, prevenção não é um alerta pontual, mas uma prática diária que envolve adultos, escolas, clubes e políticas públicas.
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa), o afogamento é a segunda maior causa de óbito acidental entre crianças de 1 a 14 anos, ficando atrás apenas dos acidentes de trânsito. A entidade estima que, todos os anos, milhares de crianças são atendidas em emergências por incidentes relacionados à água, e que a maioria dos casos ocorre em piscinas, rios, lagos e represas, muitas vezes na presença de adultos, mas sem supervisão ativa. Além disso, para cada morte registrada, há pelo menos quatro a cinco episódios de quase-afogamento, que podem deixar sequelas neurológicas permanentes.
Para a educadora aquática Patrícia Guggiana, a criação de um mês oficial representa mais do que uma data simbólica: é uma convocação nacional. “Significa mais visibilidade, mais campanhas educativas e mais responsabilidade compartilhada entre escolas, profissionais, famílias e gestores públicos. A pauta deixa de ser um aviso isolado e passa a ser uma política de conscientização contínua”, afirma.
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Segundo ela, o país ainda trata afogamentos como acidentes imprevisíveis, quando na verdade a maioria é totalmente evitável. “É silencioso, rápido e previsível. E, mesmo assim, negligenciado. Muitos adultos acreditam que ‘comigo não acontece’. Em poucos segundos, com um adulto por perto, o acidente já está em curso”, pontuou Guggiana.
Patrícia destaca que o maior mito entre famílias é acreditar que uma criança que sabe nadar está protegida. “Habilidade aquática não substitui supervisão. Mesmo experientes, crianças podem se desorientar, escorregar ou agir de forma impulsiva. A prevenção nasce da soma: supervisão ativa, barreiras físicas e educação aquática constante”, afirma.
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A especialista lista sinais de risco que surgem antes de uma situação grave e passam despercebidos. “Tudo começa de forma silenciosa: criança muito perto da borda, boias mal ajustadas, brincadeiras de empurrão, respiração acelerada, tentativas constantes de se equilibrar. Outro sinal é o excesso de confiança, tanto dos pais quanto das crianças”, diz.
Se pudesse dar apenas uma orientação neste mês de conscientização, Patrícia é objetiva: “Nunca tire os olhos da criança na água. Supervisão ativa, sem celular, sem distrações. É a regra número um”, orienta a educadora.
Prevenção deve começar cedo
A professora e instrutora de natação Emilly Seródio reforça que as aulas não substituem o adulto, mas ampliam as chances de resgate em caso de emergência. “Nossas aulas para bebês e pré-escolares ensinam habilidades que compram tempo. A criança aprende a reagir a uma emergência. O adulto é quem deve impedir que a emergência aconteça”, explica.
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Segundo ela, a idade ideal para iniciar a adaptação ao meio aquático é por volta dos 6 meses. “É quando o bebê já tem bom controle do pescoço e ainda mantém reflexos naturais que facilitam o aprendizado. Não é sobre natação esportiva, mas sobre familiarização, conforto e habilidades básicas de sobrevivência antes que o medo se instale”, ao apontar que nunca é tarde para iniciar a prevenção.
Para famílias com piscina em casa ou que frequentam clubes, Emilly é enfática: “o celular, o livro e as conversas de adultos são perigos quando a criança está na água. A supervisão ativa é indispensável”, reforça.
Seródio reforça três medidas práticas que ajudam a prevenir acidentes: retirar brinquedos da piscina após o uso, porque atraem a criança para a beira sem o adulto perceber; instalar cerca de isolamento e portão com fecho automático, “os dispositivos mais importantes que o dinheiro pode comprar”; tratar a aula de natação como ferramenta de proteção, não como garantia de segurança.
Professora é premiada por projeto de alfabetização de crianças autistas não verbais
Iniciativa desenvolvida em Belém aplica estratégias baseadas em ABA e CCA para ampliar autonomia e participação escolar de alunos autistas
A educadora paraense Noah Chiavenato foi reconhecida no Prêmio Inclusão em Neuroeducação Brasil por um projeto pioneiro de alfabetização voltado a crianças autistas não verbais. A proposta, construída a partir de metodologias utilizadas mundialmente na educação de pessoas dentro do espectro, busca garantir que esses alunos tenham acesso à comunicação, ao letramento e à participação escolar.
O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) estima que entre 25% e 30% das crianças dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA) sejam não verbais ou minimamente verbais. Para Noah, esse dado revela a urgência de práticas sensíveis, estruturadas e baseadas em evidências. “Cada aluno aprende de um jeito, e a alfabetização precisa respeitar essas diferenças”, afirma.
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A iniciativa da educadora combina técnicas da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) com recursos de Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA), duas abordagens que têm ampliado a autonomia de pessoas autistas em diferentes países.
A ABA é uma metodologia que estuda como o comportamento humano é aprendido e modificado a partir das interações com o ambiente. Na educação, isso significa organizar o ensino de forma clara, previsível e estruturada, dividindo habilidades complexas em etapas menores, reforçando avanços e adaptando estratégias conforme o ritmo de cada criança.
Já a CAA reúne ferramentas que permitem que pessoas que não falam ou têm fala limitada consigam se comunicar. Esses recursos podem incluir pranchas de imagens, símbolos, gestos, teclados digitais ou aplicativos que transformam toques em palavras e frases. Na alfabetização, a CAA ajuda a criança a expressar escolhas, construir sentidos, identificar letras e sons e participar das atividades escolares, mesmo sem comunicação oral.
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“O sucesso da inclusão depende de professores preparados para compreender o funcionamento cognitivo e emocional de alunos neurodivergentes”, explica a neuropedagoga Mara Duarte da Costa, diretora da Rhema Neuroeducação. Para ela, práticas como as adotadas por Noah mostram como a ciência pode chegar à sala de aula de forma acessível e transformadora. “O conhecimento científico é a base para construir práticas realmente eficazes”, afirma.
A Rhema, responsável pela formação de mais de 90 mil educadores e gestores escolares, atua com foco em neurociência, desenvolvimento infantil e inclusão. Segundo Mara, iniciativas como o projeto de Belém reforçam a importância da formação continuada e do entendimento profundo sobre como cada criança aprende. “Nosso papel é capacitar o professor para identificar as necessidades de cada aluno e transformar desafios em oportunidades de desenvolvimento”, destaca.
O reconhecimento de Noah no Prêmio Inclusão em Neuroeducação Brasil simboliza um movimento crescente de educadores que buscam unir sensibilidade, ciência e estrutura pedagógica para garantir que crianças autistas não verbais tenham acesso pleno ao aprendizado. “Quando a ciência chega à sala de aula de forma acessível, a inclusão deixa de ser um ideal e se torna realidade”, conclui Mara.
8 livros sobre identidade, diversidade e consciência negra para ler com crianças
No Dia da Consciência Negra, o blog da Primeira Infância selecionou livros que podem ajudar famílias e educadores a construirem conversas sensíveis e positivas com as crianças
A construção da identidade racial começa muito antes do que os adultos imaginam. Pesquisas mostram que, por volta dos três anos, as crianças já reconhecem diferenças de cor, cabelo e traços, formulam preferências e começam a interpretar o mundo a partir das referências que recebem. Na primeira infância, essas referências são decisivas para formar autoestima, pertencimento e relações mais saudáveis. E uma das formas mais naturais de introduzir essas conversas em casa e na escola é por meio dos livros.
A literatura infantil oferece algo que nenhuma explicação teórica alcança: imagens, personagens e histórias que validam quem a criança é. Quando uma criança se vê representada, ou vê outra criança diferente dela sendo valorizada, ela entende que existe beleza, potência e diversidade no mundo. A leitura abre janelas internas e externas, cria pontes com a cultura afro-brasileira e permite que temas importantes sejam vividos com leveza.
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Nos últimos anos, autores negros e obras que abordam ancestralidade, identidade e diversidade ganharam espaço no mercado editorial brasileiro, ampliando o acesso a narrativas que celebram a infância preta. No Dia da Consciência Negra, o Blog da Primeira Infância selecionou livros que podem ajudar famílias e educadores a construir conversas sensíveis e positivas com as crianças, respeitando o ritmo e a compreensão de cada faixa etária.
O cabelo de Lelê — Valéria Belém
Clássico para falar de autoestima e orgulho do cabelo crespo. Lelê descobre sua história, suas raízes e a beleza da própria identidade. É um livro que ajuda crianças a valorizarem suas características e a reconhecerem as dos colegas.
O mundo no black power de Tayó — Kiusam de Oliveira
Colorido, vibrante e cheio de identidade, apresenta a ancestralidade afro-brasileira de forma lúdica. Tayó carrega um universo inteiro em seu black power, conectando imaginação, cultura e pertencimento.
Menina bonita do laço de fita — Ana Maria Machado
Uma fábula delicada sobre beleza e diversidade. A narrativa mostra como as diferenças enriquecem as relações e como a curiosidade pode ser ponte para o carinho, sem reforçar estereótipos.
Amoras — Emicida
Com linguagem poética e afetiva, fala sobre amor-próprio, força e identidade. Funciona muito bem em leituras compartilhadas, especialmente à noite, como ritual de acolhimento.
Meu crespo é de rainha — bell hooks
Uma celebração da corporalidade e da beleza negra. O texto forte e sensível ensina que o corpo é fonte de orgulho e que o cabelo crespo carrega história e dignidade.
Os pequenos guardiões — Kiusam de Oliveira
Traz elementos da ancestralidade africana de forma acessível, lúdica e espiritual, respeitando o entendimento das crianças. Introduz tradições afro-brasileiras com cuidado e poesia.
O mar que banha a Ilha de Goré — Kiusam de Oliveira
Ideal para crianças um pouco maiores dentro da primeira infância, apresenta memória e história sem violência gráfica. Permite conversas sobre passado, resistência e humanidade.
Teté não quer ser princesa — Janaína Tokitaka
Embora não seja exclusivamente sobre raça, questiona padrões estéticos e amplia discussões sobre diversidade. Mostra que as crianças podem ser quem quiserem, sem limitar sonhos ou identidades.
A leitura desses livros não precisa ser acompanhada de discursos longos. As conversas surgem naturalmente quando o adulto dá espaço para a criança comentar o que vê, identificar parecidos e diferentes, e relacionar a história com sua vida. Perguntas como “O que você mais gostou nesse personagem?”, “Quem da nossa família tem esse cabelo?” ou “O que essa parte da história te lembra?” ajudam a aprofundar o diálogo sem peso. Boa leitura!

















