Mês: julho 2019
A chegada do oitavo mês do ano tem um significado especial de valorizar e reforçar a importância do leite materno, o melhor alimento para o início da vida. O primeiro dia do mês, nesta quinta-feira (1º/8), é o Dia Mundial da Amamentação, o que torna esta a Semana Mundial da Amamentação. No entanto, a valorização do leite materno continua pelos 31 dias do mês: instituído no Brasil desde 2017, o Agosto Dourado celebra o “alimento de ouro” para a saúde dos bebês, que traz vantagens também para as mulheres.
Mesmo assim, ainda há muitas crianças que não têm acesso ao leite da mãe, mesmo quando existem condições necessárias para amamentar. Por vezes, por simples desconhecimento. Após décadas de estudo sobre os benefícios do aleitamento materno, a Organização das Nações Unidas (ONU) espera que seus países membros elevem em 50%, até 2025, o número de bebês que recebem exclusivamente o leite materno até o sexto mês de vida. O alimento é considerado o mais completo e contém anticorpos que podem prevenir doenças. O ato de amamentar é complexo e envolve questões que perpassam a alimentação e a saúde da mãe e atingem o patamar econômico e cultural.
Eventos marcam Agosto Dourado no DF
O Hospital Santa Marta promove, na próxima segunda-feira (5/8), roda de conversa multiprofissional sobre importância da amamentação, alimentação pós-parto e psicologia aplicada no puerpério. O evento será das 14h às 17h, no auditório do Instituto Santa Marta de Ensino e Pesquisa (Ismep), no Setor E Sul, Área Especial 3, Taguatinga Sul (DF). Inscrições gratuitas pelo link. Em 21 de agosto, é a Maternidade Brasília que organiza debate com profissionais de saúde e influenciadores sobre a importância e os desafios da amamentação.
Entre os convidados estão a atriz e embaixadora da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, Maria Paula; o casal Luiza e Hilan Diener, do canal Potencial Gestante; a pediatra e coordenadora do Banco de Leite da Maternidade Brasília Sandi Sato; e a enfermeira da Maternidade e especialista em amamentação Larissa Sena. O evento será gratuito, às 18h30, no Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura do shopping Iguatemi Brasília (Lago Norte). As inscrições devem ser feitas na página.
Benefícios são para a mãe e o bebê
Entre os diversos pontos positivos do aleitamento materno estão a redução do risco de doenças cardíacas e derrame após o parto nas mulheres, segundo estudo publicado no periódico científico Journal of the American Heart Association. Durante oito anos, cerca de 290 mil mulheres chinesas foram acompanhadas por pesquisadores da Universidade Oxford, na Inglaterra, e da Academia Chinesa de Ciências Médicas, na China. Os estudos revelam que as mulheres que amamentaram teriam risco 9% menor de terem doenças cardíacas e 8% menor de derrames.
A cada seis meses adicionais de aleitamento materno, o risco diminui em até 4% as doenças cardíacas nas mulheres, e reduz em 3% os casos de derrame. O risco de doenças cardíacas é reduzido em até 18% quando a amamentação continua por dois anos ou mais. A redução do risco de doenças do coração também foi descoberta por uma pesquisa da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. Entre as mulheres com bons níveis de pressão sanguínea na gravidez, as que amamentaram por pelo menos seis meses demonstraram maiores níveis de colesterol bom (HDL) e nível menor de gorduras no sangue.
Nesse grupo, constatou-se menor espessura média da artéria carótida. Diversos estudos também comprovaram benefícios como: diminuição nas chances de ter depressão pós-parto e de desenvolvimento de diabetes tipo 2, além de proteger contra o câncer de mama e de ovário. Os bebês também são protegidos contra diabetes tipo 2, têm menor chance de sofrer com obesidade ou sobrepeso no futuro e são protegidos de anemia, alergias e infecções respiratórias.
Aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses incrementaria economia mundial
Além de trazer benefícios para mães e bebês, o aleitamento materno é a melhor opção para a economia mundial. É isso que mostra a pesquisa O custo de não amamentar, que reúne dados de mais de 100 países. De acordo com o estudo, a economia global pouparia US$ 1 bilhão (cerca de R$ 3,76 bilhões) se a totalidade das mulheres pudesse amamentar os filhos exclusivamente durante os primeiros seis meses, como recomenda a Organização Mundial de Saúde (OMS).
A pesquisa, publicada no jornal acadêmico de Políticas e Planejamento da Saúde da Universidade Oxford, no Reino Unido, fez o cruzamento entre as informações coletadas da população e os estudos publicados sobre o tema. Os resultados mostraram que 595.379 mortes de crianças entre seis meses e 5 anos por ano, atribuídas à diarreia e pneumonia, poderiam ter sido evitadas com a amamentação exclusiva no primeiro semestre de vida.
A análise também estima que 974.956 casos de obesidade infantil por ano podem ser atribuídos à ausência ou interrupção prematura da amamentação. Já para as mulheres, estima-se que a amamentação teria o potencial de prevenir anualmente 98.243 mortes por diabetes e cânceres de mama e ovário. Ao prevenir o aparecimento dessas doenças, os pesquisadores estimam que haveria uma economia anual de US$ 1,1 bilhão com os custos de saúde.
Já a perda de produtividade causada por essas mortes prematuras de mães e filhos foi estimada em US$ 53,7 bilhões por ano, de acordo com os cientistas. O maior prejuízo econômico, porém, vem das perdas cognitivas de crianças que não são amamentadas nos seis primeiros meses e não recebem nutrição adequada, o que equivaleria a menos US$ 285,4 bilhões gerados por ano na economia mundial. No total, o custo global de não amamentar exclusivamente durante os primeiros seis meses foi calculado pelos pesquisadores em US$ 341,3 bilhões por ano.
Direito de amamentar em público pode ser garantido no Congresso Nacional
Tramita no Congresso Nacional projeto de lei para penalizar, com multa, a violação do direito à amamentação em espaço público. O Senado Federal aprovou o PLS nº 514/2015 em março deste ano. O texto assegura o direito das mães de amamentar em local público ou privado sem sofrer qualquer impedimento. A matéria faz parte da pauta prioritária da bancada feminina na defesa dos direitos das mulheres e aguarda agora o parecer da relatoria na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher (CMulher) da Câmara dos Deputados, onde se tornou o PL nº 1654/2019. Em maio, a deputada Alice Portugal (PCdoB/BA) foi designada relatora do projeto. Pelo texto, atitudes voltadas a segregar, discriminar, reprimir ou constranger mãe e filho no ato da amamentação serão consideradas como ilícito civil.
A pena para quem proibir a amamentação é de multa com valor não inferior a dois salários mínimos. Alimentar os filhos em lugares públicos, como praças, pontos de ônibus, restaurantes, centros de compra ou supermercados, não deveria causar espanto ou qualquer constrangimento. Em síntese, se o espaço ou estabelecimento permite o livre trânsito de pessoas, está liberada a amamentação. É preciso entender que a amamentação é um direito da criança e da mulher que assume a responsabilidade grandiosa de propiciar o desenvolvimento sadio e afetivo do filho.
Leia amanhã
Confira nesta quinta-feira (1º/8) diversas dicas de especialistas sobre amamentação
Novas creches públicas do DF atenderão 787 crianças de 0 a 3 anos
A volta às aulas da rede pública, nesta segunda-feira (29), é marcada pela inauguração de novas creches. A Secretaria de Educação (SEE-DF) abriu 787 vagas para crianças de 0 a 3 anos nas regionais de ensino de Samambaia, São Sebastião, Núcleo Bandeirante, Sobradinho (Fercal) e Gama. O Governo do Distrito Federal (GDF) já havia anunciado que abriria mais 1.295 vagas em creches a partir de 29 de julho.
Do total, há 348 vagas em Samambaia, onde começam a funcionar dois centros educacionais de primeira infância (Cepi) para meninos e meninas de até 3 anos: o Azulão, na QN 425, e o Bambu, na Quadra 208. O restante das oportunidades será para instituições parceiras da SEE-DF, voltadas à faixa etária de 2 a 3 anos, sendo 92 vagas para a Fercal (regional de ensino de Sobradinho), 122 para o Gama, 100 para o Núcleo Bandeirante e 125 para São Sebastião.
As crianças que serão atendidas pela inauguração das novas creches serão as já inscritas e classificadas no Cadastro de Solicitação de Vagas. As famílias beneficiadas foram contatadas pela SEEDF. É possível conferir a classificação do seu filho na lista de espera para creches no link. Quem quiser se inscrever, deve fazê-lo ligando para o número 156, opção 2.
A rede pública de ensino do DF atende 459.935 mil estudantes da educação infantil à educação de Jovens e Adultos (EJA) em 678 unidades. A rede conta ainda com 111 instituições parceiras que atendem crianças de 0 a 3 anos e ganha mais seis creches com os Cepis inaugurados.
Dia dos Avós é nesta sexta-feira (26); confira sugestões de leitura para a data
O Dia dos Avós é comemorado em 26 de julho para homenagear e demonstrar afeto por esses familiares que podem ser fundamentais para as crianças, desde a mais tenra infância. A lembrança nesse dia tem origem cristã, pois a Igreja Católica considera os avós de Jesus Cristo, santa Ana e são Joaquim, os padroeiros de todos os avós. A convivência com pessoas mais velhas é muito benéfica para as crianças, que aprendem a conviver com as diferenças e a respeitar a experiência e a sabedoria dos idosos.
Para ensinar as crianças a cuidar desses parentes tão importantes, além de dar carinho e respeitar, a escritora norte-americana Jean Reagan escreveu o livro Como ser babá da vovó, recém-lançado no Brasil. Trata-se de um guia ilustrado que sugere várias formas de se divertir cuidando de uma avó ou de um avô de maneira criativa. Alguns exempos são levá-los para ver as estrelas, fazer festa do pijama dormindo na casa deles, pegar sapatos no guarda-roupa e brincar de loja, entre outras opções.
As páginas também mostram como desenvolver o relacionamento entre duas diferentes gerações, brincar e dividir bons momentos com esses ancestrais, deixando claro que cuidar també pode ser agradável. As ilustrações de Lee Wildish ajudam a dar asas à imaginação com relação às opções de atividades para fazer com os avós. Com pouco texto e grandes figuras, o livro é uma ótima opção para se tornar uma mediada também para crianças pequenas, ainda na primeira infância: pais e até avós podem ler para a garotada.
Outra opção de leitura no Dia dos Avós é o livro Vovó veio do Japão, lançado no ano passado. As páginas resgatam a trajetória, as tradições e a cultura de antepassados de descendentes de japoneses. Com mais texto, a obra é recomendada para crianças mais grandinhas.
Leia!
Como ser babá da vovó
Autora: Jean Reagan
Ilustrador: Lee Wildish
Editora: Companhia das Letrinhas
32 páginas
R$ 39,90
Este não é um livro qualquer, mas sim um verdadeiro manual de como tomar conta de uma vovó! Com ele, todas as netas e netos vão descobrir mil jeitos diferentes e únicos de se divertir muito — só é preciso um pouquinho de imaginação e, claro, uma vovó para cuidar. Cuidar de uma vovó pode ser muito divertido, como a protagonista deste livro mostra bem. Ela vai passar o fim de semana sem os pais, só tendo a avó como companhia. Com muita criatividade, as duas fazem um monte de coisa juntas — de dançar “Macarena” a tirar todos os sapatos do armário e brincar de loja —, provando que não há nada melhor do que se divertir ao lado de quem a gente mais ama.
Leia também!
Vovó veio do Japão
Autoras: Janaina Tokitaka, Raquel Matsushita, Mika Takahashi e Talita Nozomi
Editora: Companhia das Letrinhas
80 páginas
R$ 49,90
Quatro vovós imigrantes carinhosas — e cozinheiras de mão cheia! — estão prontas para participar de todas as brincadeiras das netas e ensiná-las sobre a cultura japonesa de um jeito muito divertido e delicioso. Nessas pequenas aventuras repletas de carinho, quatro meninas se divertem com suas avós, que nasceram no Japão e sabem muito bem como agradar suas netas: com brincadeiras, histórias e deliciosos quitutes. Em cada uma das narrativas, você vai conhecer um pouquinho da cultura desse país que parece tão distante, além de aprender receitas japonesas com um toque brasileiro. No fim, você vai sentir que o outro lado do mundo está muito mais perto do que imaginava. Afinal, quem nunca brincou de origami ou se divertiu comendo com palitinhos?
Livros infantis sanfonados, que podem ser lidos também de trás para frente, chegam ao mercado
Livros sanfonadas dão às crianças a possibilidade de escolher por onde começar a leitura, trazendo dinamicidade e interação. Pensando nisso, a editora Sesi-SP publicou dois novos livros no formato. Ter um patinho é útil é recomendado para crianças a partir de 6 anos; enquanto Se eu abrir esta porta agora… é indicado a partir dos 8 anos. No entanto, ambas as obras podem ser apresentadas antes caso sejam intermediadas por algum adulto. Confira detalhes:
Ter um patinho é útil
O livro mostra a jornada de uma criança que começa a brincar com o patinho de todas as maneiras, como no banho ou usando o patinho como apito, como chapéu, como cotonete e por aí vai… No fim da obra, do lado inverso do livro, a história recomeça do ponto de vista do bichinho, que elenca as inúmeras utilidades de um menino na vida de um patinho. Utilizando as mesmas ilustrações, a autora mostra que as situações podem ter pontos de vista diferentes. Premiada escritora de livros infantis, a autora e ilustradora da publicação é a argentina Marisol Misenta (Isol).
Autora: Marisol Misenta
Editora: Sesi-SP
34 páginas
R$ 59
Faixa etária: a partir de 6 anos
Se eu abrir esta porta agora…
Na hora de dormir, um quarto escuro pode guardar algumas surpresas… Você tem certeza de que a porta do guarda-roupa está fechada? Tem certeza de que não há nada dentro, ou melhor, morando no guarda-roupa? Um monstro talvez? Se eu abrir esta porta agora… faz o leitor assumir o protagonismo da história ao se colocar no lugar do personagem, abrindo sucessivas vezes a porta do guarda-roupa em um quarto escuro, sendo a cada momento conduzido a uma surpresa diferente. O autor, Alexandre Rampazo, usa o formato do próprio livro para transformá-lo em um elemento da narrativa, permitindo que imaginação e realidade se misturem em uma história que conduz o olhar do leitor a uma experiência única. Alexandre Rampazo nasceu e cresceu em São Paulo e é ilustrador, autor de livros infantis.
Autor: Alexandre Rampazo
Editora: Sesi-SP
56 páginas
R$ 44
Faixa etária: a partir de 8 anos
Escritor Tino Freitas lança livro infantil sobre violência sexual
Com Clara Lobo*
Leila, o novo livro do autor Tino Freitas e da ilustradora Thais Beltrame, aborda um tema que, à primeira vista, pode parecer muito complicado de discutir com o público infantil, seria até mesmo tabu: o assédio e a violência sexuais na infância. No entanto, é uma questão que envolve medidas urgentes mesmo na primeira infância: mais da metade dos casos desse crime ocorre até os 6 anos de idade.
Com muita delicadeza, o escritor e a ilustradora conseguem passar uma mensagem importante, que pode ajudar meninos e meninas a se defenderem desse tipo de violência, mesmo sem entender ainda direito do que se trata. O livro recém-lançado conta a história de Leila, uma baleia independente, de cabelos compridos, que adora nadar. Entretanto, em um de seus passeios, Leila encontra um vizinho estranho, o Barão. Ele a cumprimenta, a chama de “pequena”, a elogia e rouba um beijo de bom-dia. E o narrador entrega: foi como se ele tivesse roubado algo de uma criança.
A história é um ótimo instrumento para que todas as crianças entendam que ninguém pode tocá-las sem consentimento. Durante a primeira infância, as ilustrações e o texto podem ser mediados por pais ou outros adultos. “A literatura adulta reflete o que o homem é e a literatura infantil não é diferente. A violência, a morte, tudo isso também está presente no cotidiano das crianças”, reflete Tino sobre a iniciativa de escrever um livro com essa temática para crianças.
“Seria muito bom que as crianças tivessem acesso a temas complexos e sensíveis em ambientes confortáveis, como em casa ou na escola para aprenderem a lidar com os problemas”, ressalta Tino. O escritor radicado em Brasília começou a ter vontade de falar sobre assédio em 2014, quando visitou uma escola no Rio Grande do Sul e teve a sensação de que uma das crianças era vítima de violência.
O escritor comunicou o fato à professora e passou a pensar em como tratar o assunto. No ano seguinte, começou a produzir a obra, e o processo durou quatro anos. A intenção do autor é transmitir liberdade e empoderar os leitores, além de levar o assunto para dentro de casa, trazendo discussões a respeito da temática entre a família. Leila é um livro indicado para crianças a partir dos 8 anos e será lançado em 23 de julho.
Quando texto e imagem se casam
“É um livro que tem uma relação muito simbiótica entre texto e imagem. Um livro cheio de metáforas para que cada um faça a sua leitura, até mesmo as crianças”, observa o escritor. Nas páginas da obra, palavras e imagens se mesclam. Os autores assinam o projeto gráfico com a produtora editorial Lílian Teixeira e utilizam as páginas duplas como se fossem apenas uma, dando amplitude e vastidão ao mar, onde se passa a narrativa.
As imagens são indispensáveis para o fluxo da história, porque o texto verbal não diz que Leila é uma baleia e Barão um polvo, então o leitor precisa “ler as imagens” para compreender. Em sequência, os autores começam a usar apenas imagens na narrativa, fazendo com que o leitor vire o livro e o coloque na vertical, o que dá profundidade ao mar e traz uma sensação de queda, devido à tristeza que Leila desenvolve no decorrer da história.
Saiba mais sobre o lançamento
O livro será lançado em Brasília, no Sebinho Cult (comercial da 406 Norte, Bloco C) na terça-feira (23), das 19h às 22h. Confira o evento de lançamento no Facebook.
Haverá uma roda de conversa em que o escritor revelará segredos da produção do livro. Graça Ramos e Isabella Stephan participarão da conversa. Graça é jornalista, mestre em litetura e doutora em história da arte. Isabella é assistente social e atua amparando crianças e jovens vítimas de abuso ou exploração sexual infantil.
Das 19h as 20h, o bate-papo será no auditório do Sebinho (subsolo); em seguida, a sessão de autógrafos ocorrerá na área do Café (térreo).
Leia!
Leila
Autores: Tino Freitas (texto) e Thais Beltrame (ilustrações)
Editora: Abacatte
52 páginas
R$ 44 (em dinheiro ou cartão)
Leila é uma filhote de Jubarte que se cala diante do assédio e da violência do antagonista, seu vizinho. Um dia ela encontra a “sua voz” e tudo passa a ter um novo significado. Enquanto o leitor navega com Leila, ele também descobrirá outras histórias. Quem sabe, a sua. As ilustrações de Thais Beltrame (nanquim aguado e aquarela) são uma obra de arte à parte, que torna a leitura ora densa, ora leve, oferecendo ao leitor as sensações de um profundo mergulho até quase faltar o ar, ou do alívio de se chegar à superfície para um longo respiro. Sobre Leila, o escritor Leo Cunha escreveu um convite na quarta capa do livro: “Até as maiores personagens precisam encontrar sua voz. Conheça Leila e sua busca por Liberdade e Justiça. Uma busca que também é de todos nós”.
Conheça os autores
Tino Freitas mora em Brasília. Músico, escritor, contador de histórias, é também mediador de leituras. Seus livros têm como características o humor, a crítica social e o experimento com o suporte (papel/folha/livro objeto) enquanto importante elemento condutor da narrativa. Alguns receberam importantes láureas, como o Prêmio Jabuti.
Thais Beltrame reside e trabalha em São Paulo. Formada em artes plásticas pelo Columbia College Chicago, suas obras já foram expostas em diversos países. Ilustrou mais de uma dezena de livros e diversas publicações nacionais e internacionais. Também já ganhou o Prêmio Jabuti, entre outros.
Confira mais imagens do livro:
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa
Artigo: presidente de associação estudantil se posiciona contra o trabalho infantil
O dirigente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), Pedro Gorki, escreveu artigo sobre o fato de o presidente da República, Jair Bolsonaro, tersugerido em live no Facebook que o trabalho infantil não causa prejuízos .
Intitulado “O exterminador de futuros”, o texto repudia as declarações de Bolsonaro, consideradas “infelizes” e “dignas de indignação de qualquer um que realmente defenda o direito à vida e dignidade do povo brasileiro”.
Além disso, Gorki explica, no artigo, a diferença entre trabalho infantil e atividade voluntária educativa. Segundo o presidente da Ubes, “a deputada que vendeu brigadeiro para pagar aulas de tênis, o juiz que trabalhou numa loja da família e ganhava todo mês um salário mínimo” nada tem a ver com trabalho infantil. “Ele (o trabalho durante a infância) está relacionado à evasão escolar, à falta de alternativas e de futuro”, diz.
Confira o artigo na íntegra:
O exterminador de futuros
por Pedro Gorki
Vivemos um tempo de naturalização do absurdo. De retrocessos humanos e civilizacionais. É nesse contexto que o presidente do Brasil aparece como exterminador de futuros e nos faz questionar se teremos algum. Depois de décadas de grande esforço mundial para erradicar o trabalho infantil, que persiste no mundo, principalmente nas regiões mais pobres, o presidente brasileiro vem a público dizer que trabalho infantil não causa nenhum mal. E que ele teria trabalhado desde os 9 anos de idade, no que foi prontamente desmentido pelo próprio irmão. Poderíamos creditar essa declaração de Bolsonaro apenas à ignorância, não fizesse ela parte de um conjunto de declarações e medidas que levam nosso país a décadas de retrocesso.
A declaração de um presidente, por mais imbecil que seja, sempre tem muita repercussão. E depois da fala infeliz sobre a naturalidade do trabalho infantil, não faltaram depoimentos de “celebridades” atestando o quanto o “trabalho” na infância lhes fez bem. A deputada que vendeu brigadeiro para pagar aulas de tênis, o juiz que trabalhou numa loja da família e ganhava todo mês um salário mínimo, e por aí vai.
Essas pessoas não têm a menor noção do que é o trabalho infantil. O trabalho infantil é internacionalmente entendido como a atividade, onerosa ou não, inadequada ou nociva ao desenvolvimento pleno da criança e do adolescente. Conforme o marco jurídico do Brasil, o trabalho infantil é a atividade realizada pelas crianças e ou pelos adolescentes que estão abaixo da idade legal mínima permitida para figurarem como sujeitos da relação de emprego. A denominação trabalho infantil é um conceito negativo e que designa o trabalho degradante da condição humana da criança e do adolescente. Distingue-se assim entre o que é o trabalho infantil e o que é a Atividade Voluntária Educativa.
O trabalho infantil, também chamado de infantojuvenil, é o termo que serve para designar o trabalho nocivo, por se reportar à atividade prejudicial ao bem-estar e ao desenvolvimento das crianças e adolescentes. Não se trata de discutir aqui sobre o trabalho de caráter livre, cooperativo, educativo e socializador, como, por exemplo, aquele realizado pela criança ou adolescente em seu próprio lar, de forma não ostensiva, com a finalidade solidária de repartição igual e adequada das tarefas, sem afetar a sua integridade e sem comprometer negativamente a sua saúde, o tempo de estudo e de lazer. Ou seja, o que fazia a deputada que queria pagar aulas de tênis ou do ministro que ajudava na empresa da família, nada tem a ver com trabalho infantil.
O trabalho infantil a que muitas crianças e adolescentes são obrigados é o que deixa meninos e meninas com as mãos queimadas por ácido e perdem as digitais dos dedos no processo de quebra da castanha de caju, como mostrou uma reportagem do jornal Folha de São Paulo, ainda em 2013, no Rio Grande do Norte. Ele está relacionado à evasão escolar, à falta de alternativas e de futuro.
A proteção à infância é um dos direitos sociais garantidos na Constituição Federal e teve avanços importantes nesses 30 anos desde sua promulgação, no combate ao trabalho infantil. A exploração de mão de obra de crianças foi fortemente reduzida, enquanto o trabalho ilegal de adolescentes também virou alvo de ações governamentais. O novo desafio é manter o ritmo da queda, coisa que não vamos conseguir se depender das declarações do presidente.
Diz o artigo 6º da Constituição Federal: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação,o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
As infelizes declarações do Presidente da República são dignas de indignação de qualquer um que realmente defenda o direito à vida e dignidade do povo brasileiro. Num país com tamanha desigualdade é no mínimo absurdo e bizarro o Estado abrir mão da defesa do direito ao sonho, esperança e educação da juventude.
Quem realmente defende “Brasil acima de tudo” e preza pela soberania do nosso país sabe que não há soberania popular maior do que todas as crianças brasileiras terem casa pra morar, comida pra comer, escola pra estudar e sonho pra sonhar.
Lutamos para que o slogan “as crianças são o futuro do Brasil” não seja apenas discurso e sim realidade. Delas e de nossa luta depende se realmente teremos um futuro.
Três finalistas do Prêmio de Tecnologias da Fundação BB são voltados à primeira infância
Confira as tecnologias sociais certificadas relacionadas à primeira infância:
TECNOLOGIA SOCIAL |
PROPONENTE |
SITUAÇÃO
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Programa Municipal de Aleitamento Materno Pró-Mamá | Prefeitura Municipal de Osório – Osório/RS |
FINALISTA
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Programa Primeira Infância Ribeirinha (PIR)
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Fundação Amazonas Sustentável – Manaus/AM |
FINALISTA |
Visitação domiciliar na primeira infância | Secretaria de Saúde de Porto Alegre – Porto Alegre/RS |
FINALISTA |
Apoio e Estimulação ao Bebê de Risco | Associação de Reabilitação Infantil Limeirense – Limeira/SP |
CERTIFICADA
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Berço Coletivo | Casa Lar Luz do Caminho – Florianópolis/SC |
CERTIFICADA
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Grupos de Encontros Família que Acolhe
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Prefeitura Municipal de Boa Vista – Boa Vista/RR |
CERTIFICADA
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Primeira Infância Um olhar afetivo e educativo | Instituto André Franco Vive – São Paulo/SP |
CERTIFICADA |
Tecnologia Assistiva e Estimulação Sensorial de Baixo Custo para PCD
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Associação Cultural Educacional Social e Assistencial Capuava (Acesa Capuava) – Valinhos/SP |
CERTIFICADA |
Universidade da Criança | Prefeitura de Chopinzinho – Chopinzinho/PR |
CERTIFICADA |
Estatuto da Criança e do Adolescente completa 29 anos em meio a muitas violações de direitos
Neste sábado (13/7), o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 29 anos de criação. O documento é o principal instrumento de construção de políticas públicas para a promoção e a garantia de direitos de crianças e adolescentes no Brasil. Porém estudos mostram que o Brasil sofre retrocessos em relação a esses direitos desde 2015.
O levantamento, feito pelo grupo Joining Forces, revelou que o Brasil é o país com maior risco de violência contra crianças e adolescentes no mundo. Além disso, o estudo mostrou que o país tem 17,3 milhões de pessoas de até 14 anos em situação de pobreza. O direito mais violado, segundo o estudo, é o saneamento básico, comprometendo a vida de 13,3 milhões de crianças e adolescentes. Depois, está o direito à educação, com 8,8 milhões de meninos e meninas privados desse direito. O acesso à água é o terceiro mais violado, atingindo 7,6 milhões de crianças e adolescentes. Em seguida, estão direito à informação (6,8 milhões), à moradia (5,9 milhões) e à proteção do trabalho infantil (2,5 milhões).
O grupo, formado por cinco organizações não governamentais (ONGs) — Visão Mundial, Aldeias Infantis SOS Brasil, ChildFund Brasil, Federação Internacional Terre des Hommes e Plan International —, divulgou também uma pesquisa que expõe quatro temas prioritários, considerados críticos e em áreas que estão sendo gravemente violadas. São eles: acesso à educação de qualidade; convivência familiar; desigualdades, abusos e violências de gênero; e extermínio de adolescentes e jovens negros.
Projetos sociais
Apesar dos problemas, existem projetos sociais que buscam promover uma melhoria na situação de crianças e adolescentes que têm direitos violados. O Itaú Social, por exemplo, tem iniciativas por todo o Brasil que visam melhorar a educação integral e inclusão social, melhoria da aprendizagem, redução da evasão escolar, combate ao trabalho escravo e ao envolvimento com álcool e drogas, ressocialização de adolescentes em conflitos com a lei, atendimento de crianças vítimas de maus tratos e fortalecimento dos vínculos familiares.
Os projetos têm apoio por meio do edital Fundos da Infância e da Adolescência, que está com inscrições abertas até 9 de agosto. Os Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCAs) de todo o país, gestores dos fundos, podem inscrever as propostas pelo site. Em 2018, o Edital Fundos da Infância e da Adolescência selecionou 51 projetos de todas as regiões do Brasil e no total destinou R$ 11,7 milhões a esses fins.
Carta-compromisso do MEC para melhorar a educação inclui creches
Nesta quinta-feira (11), o ministro da Educação, Abraham Weintraub, e o secretário de Educação Básica, Jânio Macedo, lançaram uma “carta-compromisso” com objetivos para a educação até 2022. O objetivo é impulsionar a educação infantil, o ensino fundamental, o ensino médio e a educação para jovens e adultos e tornar o Brasil referência em educação básica na América Latina até 2030.
O documento é dividido em sete eixos: creches, ensino fundamental, novo ensino médio, educação conectada, formação de docentes, escolas cívico-militares e retorno social. Em relação às creches, a intenção é inserir 1,7 milhão de crianças nas instituições. Para isso, o Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Proinfância) será reestruturado para agilizar a conclusão de mais de 4 mil creches até 2022.
Até o momento, menos de 50% das obras do programa foram concluídas desde 2007. Ao todo, foram aprovadas 9.028 obras das quais apenas 4.047 estão concluídas. Faltam finalizar 4.981.
Entidades repudiam declaração de Bolsonaro sobre trabalho infantil
Uma transmissão ao vivo do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais, na última quinta-feira (5), gerou polêmica. O presidente sugeriu ser a favor do trabalho infantil. De acordo com o político, o “trabalho dignifica o homem, a mulher, não interessa a idade”. Bolsonaro afirmou ainda que não foi prejudicado em nada por ter trabalhado aos 9 ou 10 anos de idade. As declarações geraram repúdio por parte de entidades e especialistas da área do trabalho.
Em nota, a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), entidade representativa de cerca de 4 mil juízes do Trabalho, afirmou que o presidente da República insiste em “condenar a infância e a adolescência brasileiras ao surrado argumento do ‘ou trabalha, ou vai roubar’. Demonstra, assim, desconhecer por completo a realidade de mais de 2 milhões de crianças massacradas pelo trabalho em condições superiores às suas forças físicas e mentais, dos mais de 200 óbitos e dos mais de 40 mil crianças e jovens que sofreram mutilações e deformações decorrentes de acidentes de trabalho entre 2007 e 2017”.
A Rede Nacional Primeira Infância (RNPI), uma articulação apartidária composta por mais de 200 instituições que atuam na promoção e garantia dos direitos da primeira infância, também se manifestou contra as declarações do chefe do Executivo federal. “É lamentável que o presidente faça apologia a uma prática que traz graves consequências à saúde, à educação, ao lazer, ao presente, e ao futuro das crianças e adolescentes. E, por isso, a Rede reforça seu desagravo à declaração do presidente”, diz trecho da nota.
Em seu artigo “trabalho infantil doméstico subsiste no Brasil”, o advogado Cássio Faeddo afirma que “a proibição do trabalho precoce não é só de interesse social. Na batalha do emprego, inovação tecnológica e automação, em breve não haverá mais vagas para trabalhos sem qualificação”. De acordo com o advogado, “se o Brasil desejar despontar com força para criação de patentes, desenvolvimento de tecnologia e operação dos equipamentos gerados por essas tecnologias, deverá investir na formação e educação das crianças e jovens”.
Brasil no ranking mundial de proteção à infância
O Brasil ocupa a 99ª posição em ranking mundial de proteção à infância, de acordo com um estudo elaborado pela organização não governamental Save the Children. Estamos está atrás de países como Cuba, Chile, Argentina, Costa Rica, Uruguai, Peru, México, Equador, Coreia do Norte e Palestina. Ao todo, 176 países participam do ranking. Do ano passado para cá, o Brasil caiu de posição: em 2018, ele ocupava o 93º lugar na lista. No ranking de nações que mais melhoraram e prosperaram, ficou no 157º lugar. O país se enquadra atualmente no grupo de nações classificadas pela ONG como aqueles onde “algumas crianças estão perdendo sua infância”.
Confira nota da ANAMATRA na íntegra:
Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, entidade representativa de cerca de 4 mil juízes do Trabalho em todo o Brasil, vem a público repudiar as declarações do Sr. Presidente da República, proferidas nesta quinta-feira, 4 de julho, em defesa do trabalho infantil.
Insiste o Presidente da República em condenar a infância e a adolescência brasileiras ao surrado argumento do “ou trabalha, ou vai roubar”. Demonstra, assim, desconhecer por completo a realidade de mais de dois milhões de crianças massacradas pelo trabalho em condições superiores às suas forças físicas e mentais, dos mais de duzentos óbitos e dos mais de 40 mil crianças e jovens que sofreram mutilações e deformações decorrentes de acidentes de trabalho entre 2007 e 2017. Isso sem mencionar os traumas psicológicos advindos do amadurecimento precoce, do enfraquecimento dos laços familiares e do prejuízo ao desenvolvimento da escolaridade, e, consequentemente, das oportunidades.
O que os cidadãos brasileiros aguardam é que o Governo Federal desenvolva políticas públicas de reinserção de 45 milhões de adultos desempregados e subutilizados ao mercado de trabalho. Políticas essas que façam convergir os compromissos do País às Convenções Internacionais 138 e 182 da OIT, das quais o Brasil é signatário, bem como ao caput e o § 3º do art. 227 da Constituição Federal, que atribuem ao Estado brasileiro, que chefia, o dever incontornável de assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, os direitos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, e a oferecer proteção especial diante de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, com especial proteção às garantias trabalhistas e previdenciárias.
Criança é para estudar e brincar.
Confira a nota da RNPI na íntegra:
A Rede Nacional Primeira Infância (RNPI) vem, por meia desta nota, manifestar total desagravo com a declaração do presidente da República, Jair Bolsonaro, em defesa do trabalho infantil. Em transmissão ao vivo em sua página no Facebook, nesta quinta-feira, Bolsonaro defendeu o trabalho infantil e deu o próprio exemplo para falar que “não foi prejudicado em nada” por ter trabalhado aos nove anos colhendo milho em uma fazenda.
A fala do presidente contraria o artigo 227 da Constituição Federal de 1988 que assegura a proteção integral de crianças e adolescentes com prioridade absoluta, assim como a Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho que determina a proibição e ação imediata para eliminação das piores formas de trabalho infantil.
Apesar do Brasil ser signatário das Convenções Internacionais do Trabalho adotadas no âmbito das Nações Unidas, atualmente 2,4 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos trabalham no Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (IBGE). Número que mostra claramente a dificuldade do país para contribuir com a meta de eliminar todas as formas de trabalho infantil até 2025 como prevê os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
É lamentável que o presidente faça apologia a uma prática que traz graves consequências à saúde, à educação, ao lazer, ao presente, e ao futuro das crianças e adolescentes. E, por isso, a Rede reforça seu desagravo à declaração do presidente.
A RNPI é uma articulação apartidária composta por mais de 200 instituições, entre organizações da sociedade civil, do governo, do setor privado, de outras redes e de organizações multilaterais que atuam, direta ou indiretamente, na promoção e garantia dos direitos da Primeira Infância – sem discriminação étnico-racial, de gênero, regional, religiosa, ideológica, partidária, econômica, de orientação sexual ou de qualquer outra natureza.
Confira artigo de Cassio Faeddo, advogado, mestre em direitos fundamentais, com MBA em relações internacionais:
“Trabalho infantil domestico subsiste no Brasil
Art. 7º, XXXIII: “proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de 18 anos e de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz”. (aprendiz é o jovem de 14 a 18 anos – art. 428 da CLT)
Em uma recente intervenção do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais, foi trazido à baila novamente o tema do trabalho infantil. O presidente relatou ter trabalhado “duro” em uma fazenda aos dez anos de idade e que isto nenhum mal lhe causou.
A Constituição Brasileira, em harmonia com as Convenções da Organização do Trabalho 138 (idade mínima para o trabalho) e 182 (piores formas de trabalho infantil), proíbe o trabalho de crianças e adolescentes até 16 anos, salvo na condição de aprendiz, permitindo-se nesse caso, o trabalho a partir dos 14 anos.
Art. 7º, XXXIII: “proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de 18 anos e de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz”. (aprendiz é o jovem de 14 a 14 anos – art. 428 da CLT).
Segundo dados de 2019 da OIT, Organização Mundial do Trabalho, há no mundo 152 milhões de jovens entre 5 e 17 anos executando trabalho, das quais 73 milhões executam trabalhos perigosos. 108 milhões estão na agricultura com 75 milhões delas não remuneradas trabalhando na própria família.
Conforme números do IBGE de 2016, crianças e jovens entre 5 a 13 anos de idade, 26,0% recebiam remuneração. Com o aumento da idade, entre 14 a 17 anos 78,2% recebem alguma remuneração.
Neste ambiente é de se ressaltar a persistência do trabalho doméstico, não aquele de simples cuidados com os próprios objetos ou para secar louça, ajudando os familiares, mas verdadeiro trabalho de empregado doméstico.
A Convenção 182 da OIT, que completa 20 anos em 2019, e foi ratificada pelo Brasil, trata das Piores Formas do Trabalho Infantil, e incluiu o trabalho doméstico em rol de atividades impróprias. Infelizmente a prática ainda subsiste no país, e a declaração do presidente deu a entender que o trabalho desenvolvido em sua infância ocorreu não só em ambiente familiar como também na agricultura.
Como exemplo da prática, em recente decisão do Tribunal Regional do Trabalho, foi reconhecido vínculo de emprego entre uma jovem e seus “cuidadores”.
A notícia, extraída do site do próprio Tribunal, traz o relato “do caso de uma adolescente de 12 anos que foi levada da casa dos pais, em Araçuaí, no norte de Minas Gerais, para ser babá na cidade de Salgueiro, em Pernambuco (…). A história da adolescente teve início em 2011. Ela foi contratada por um casal do município de Salgueiro para ser cuidadora das duas filhas. Na época, uma estava com sete anos e a outra com um ano de idade. A adolescente morou na casa da família pelo período de dois anos, exercendo a função de babá das duas menores, principalmente no período da tarde, já que de manhã frequentava escola pública”.
Neste caso, a adolescente residia na casa dos empregadores, estudava em escola pública, enquanto as crianças que cuidava em escola particular.
O trabalho ocorria em troca de residência e alimentação, como demonstra o relato.
Mas não é só. No Brasil, ainda existe a servidão infantil, comumente denominada adoção à brasileira. A prática consiste na adoção de crianças nascidas em famílias pobres ou que não desejam criar um filho e entregá-las para a adoção. Ocorre que a adoção, na verdade, esconde a servidão infantil, servindo a criança para cuidar dos afazeres domésticos.
Nesse caso, a Justiça do Trabalho apenas poderá atuar para reconhecer o vínculo de emprego, ainda que o trabalho seja proibido, determinando o pagamento de verbas trabalhistas e previdenciárias. A investigação da prática criminosa caberá ao Ministério Público Estadual e Polícia Judiciária.
Investigar o trabalho infantil doméstico é muito difícil, pois este ocorre no ambiente do lar, é tido como problema do vizinho e culturalmente aceito como forma de educar a criança. Por tudo isso ainda levará tempo para ser erradicado do país.
A proibição do trabalho precoce não é só de interesse social. Na batalha do emprego, inovação tecnológica e automação, em breve não haverá mais vagas para trabalhos sem qualificação. Por isso, se o Brasil desejar despontar com força para criação de patentes, desenvolvimento de tecnologia e operação dos equipamentos gerados por essas tecnologias, deverá investir na formação e educação das crianças e jovens.”